BIBLIOTECÁRIA CONTESTA EMPREGO A DIRCEU
Presidente do Conselho Nacional de Biblioteconomia, Regina Céli de Souza, divulgou nota em que contesta a oferta de emprego oferecida pelo advogado José Geraldo Grossi a José Dirceu para cuidar dos livros de sua biblioteca; "em relação a emprego oferecido a mensaleiro, informamos que o exercício da profissão de bibliotecário é privativo do bacharel em biblioteconomia, conforme a legislação vigente determina", diz ela
25 DE DEZEMBRO DE 2013 ÀS 07:59
247 - Depois de desistir do emprego no hotel St. Peter e apresentar um novo pedido para trabalhar, desta vez na biblioteca do advogado José Geraldo Grossi, o ex-ministro José Dirceu encontrou um novo obstáculo.
De acordo com nota divulgada pela presidente do Conselho Nacional de Biblioteconomia, Regina Cél de Souza, Dirceu não poderia exercer a profissão. Abaixo a nota divulgada por ela:
Em relação a emprego oferecido a mensaleiro, informamos que o exercício da profissão de bibliotecário é privativo do bacharel em biblioteconomia, conforme a legislação vigente determina.
Cabe ao conselhos estaduais e federal de biblioteconomia legislar, registrar e fiscalizar a profissão.
As infrações à legislação são passíveis de autuação, procedimentos administrativos e criminais, quando necessários, com aplicação das devidas penas.
Como se trata de profissão regulamentada, aos leigos que venham a atuar na área serão aplicadas penalidades, devido ao exercício ilegal da profissão.
SALMÃO PODE GARANTIR LIBERDADE A JEFFERSON
Assistente de Joaquim Barbosa, a juíza auxiliar da Presidência do Supremo Tribunal Federal, Rosimayre Gonçalves de Carvalho Fonseca, telefonou para as autoridades penitenciárias do Rio de Janeiro perguntando se havia condições de dar ao ex-deputado Roberto Jefferson a dieta prescrita por nutricionistas, que envolve até salmão defumado; como a resposta foi negativa, Barbosa, que nunca quis prender o delator do chamado mensalão, já tem um argumento na manga para mantê-lo solto
24 DE DEZEMBRO DE 2013 ÀS 10:05
247 - O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que nunca quis prender Roberto Jefferson, delator do chamado mensalão, já tem um motivo para mantê-lo solto, muito embora ele tenha sido condenado em regime fechado e tenha confessado ter recebido R$ 4 milhões usados pelo caixa dois do PTB.
Na sexta-feira, uma juíza auxiliar a presidência do Supremo Tribunal Federal indagou às autoridades penitenciárias do Rio de Janeiro se haveria condições de prescrever a Jefferson a dieta recomendada por seus médicos, que inclui até salmão defumado. Como a resposta foi negativa, Barbosa já tem um argumento formal para mantê-lo livre, leve e solto.
A decisão, no entanto, contrariaria recomendação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que sugeriu a prisão de Jefferson.
Abaixo, a nota publicada na coluna de Ancelmo Gois, do Globo, sobre o zelo dedicado pelo STF a Roberto Jefferson:
Se depender das autoridades penitenciárias do Rio, Roberto Jefferson vai cumprir pena em prisão domiciliar.
Sexta passada, a juíza auxiliar da presidência do STF, Rosimayre Gonçalves de Carvalho Fonseca, telefonou para o secretário da Seap, Cesar Rubens, perguntando se havia condições de dar ao ex-deputado a dieta prescrita por nutricionistas.
Segue...
Cesar Rubens respondeu que não. É que a dieta de Jefferson, que se recupera de um câncer, inclui salmão e outros produtos que não constam do cardápio da prisão.
A decisão será do STF.
Segue...
Cesar Rubens respondeu que não. É que a dieta de Jefferson, que se recupera de um câncer, inclui salmão e outros produtos que não constam do cardápio da prisão.
A decisão será do STF.
KOTSCHO ESCREVE CARTA "AOS AMIGOS PRESOS"
Ex-porta-voz de Lula, Ricardo Kotscho publica carta endereçada a José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino; "Fora isso, vocês não estão perdendo grande coisa. Parece que o Brasil já entrou no piloto automático de fim de ano, com a rotina das notícias se repetindo irritantemente. Denúncias continuam sendo publicadas a granel em todas as latitudes, mas investigações que envolvem tucanos se arrastam a passos de tartaruga", diz ele
24 DE DEZEMBRO DE 2013 ÀS 17:36
247 - O jornalista Ricardo Kotscho, ex-porta-voz de Lula, publicou uma carta aberta aos amigos José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Confira:
Caros Delúbio, Genoino e Zé,
Nestes dias que antecedem o Natal, tenho pensado muito em vocês. Pelas voltas que a vida dá e o destino leva, como este ano não será possível dar um abraço em cada um, escrevo esta carta para contar como anda a vida por aqui.
Para não dizer que continua tudo absolutamente igual, como está aí no título, pela primeira vez na história a seleção de handebol feminino do Brasil ganhou o título mundial, com um técnico dinamarquês, jogando contra as donas da casa, em Belgrado, na Sérvia. Foi bonita a festa das meninas.
Fora isso, vocês não estão perdendo grande coisa. Parece que o Brasil já entrou no piloto automático de fim de ano, com a rotina das notícias se repetindo irritantemente. Denúncias continuam sendo publicadas a granel em todas as latitudes, mas investigações que envolvem tucanos se arrastam a passos de tartaruga. A CPI do trensalão na Assembleia Legislativa de Geraldo Alckmin, já devidamente blindada, arrasta-se a passos de tartaruga manca. Do mensalão tucano em Minas, então, nem se fala mais.
O cerco contra o Zé continua implacável. Não querem mesmo que ele trabalhe fora da cadeia, como prevê o regime semiaberto, nem para tomar conta de uma biblioteca. Para dar uma ideia do clima de intolerância e perseguição que persiste, o "Painel do Leitor" da Folha desta segunda-feira publica uma carta da presidente do Conselho Federal de Biblioteconomia, Regina Céli de Sousa, para advertir:
"Em relação a emprego oferecido a mensaleiro, informamos que o exercício da profissão de bibliotecário é privativo do bacharel em biblioteconomia, conforme a legislação determina (...) As infrações à legislação são passíveis de autuação, procedimentos administrativos e criminais, quando necessários, com aplicação das devidas penas".
Ou seja, pedem a aplicação de novas penas a quem já foi condenado, quer trabalhar e está há mais de um mês no regime fechado. A vida é dura, como costumava dizer o Zé.
Outro dia, saindo do elevador de casa na hora do almoço, um vizinho veio me interpelar sobre o que estava acontecendo com o trânsito todo parado há horas na nossa rua, provocando uma sinfonia de buzinas.
"Olha aí o que os teus amigos Haddad e Lula fizeram: esburacaram todo o nosso bairro só para a gente não poder andar". Fiquei tão perplexo com a ira do provecto senhor que nem respondi nada e fui saber o que estava acontecendo. Houve um vazamento de gás numa obra da Sabesp e a Comgas recomendou o fechamento da Ministro na esquina com a Lorena, no Jardim Paulista.
Quando vi o tal vizinho passar na rua à tarde, fui lhe dizer quem estava interditando a rua: duas companhias estaduais, que trabalham sob a responsabilidade do governador Geraldo Alckmin (ver correção no final do texto). Portanto, o atual prefeito e, muito menos, o ex-presidente não tinham nada a ver com isso. Disse-lhe para se informar melhor antes de dizer bobagens e fazer cobranças indevidas. O sujeito balançou a cabeça e continuou andando. Para quem lê nossos jornais e revistas, não importam os fatos.
Por falar em Lula, fui almoçar com ele uns dias atrás, lá no instituto, e o encontrei disposto e bem de saúde, animado com o grupo de estudos que formou para discutir propostas que preparem o país para o futuro, já de olho nas comemorações do bicentenário da Independência, em 2022. Ter projetos e fazer planos para o futuro é o que mantém a gente vivo, com ânimo para enfrentar as dificuldades do presente.
Ah, não sei se vocês já estão sabendo, tem uma novidade que não chega a ser bem uma novidade: José Serra desistiu da terceira candidatura à Presidência, se é que desistiu mesmo, e o Aécio Neves apresentou um esboço de programa de governo, que não agradou muito nem à imprensa amiga, com exceção daquela apartidária e isenta revista semanal. Para mim, o principal adversário da Dilma em 2014 será mesmo o Eduardo Campos, ainda mais se conseguir convencer a Marina Silva a ser a sua vice. Melhor é esperar para ver o que acontece, já que as chapas só devem ser definidas lá para março, abril.
Vida que segue. Saúde e força pra vocês neste Natal e em todos os dias de 2014.
Um forte abraço,
Ricardo Kotscho
2013, O ANO DAS GRANDES DERROTAS
MIGUEL DO ROSÁRIO
A democracia perdeu feio em 2013. Perdeu nas manifestações, quando reprimiu com violência, primeiro; e perdeu quando deixou a coisa rolar frouxa demais, em seguida
(artigo originalmente publicado noCafezinho)
Retrospectiva de um ano ultracansado
O ano de 2013 foi curioso para o Brasil. Todos saíram derrotados. A Globo perdeu audiência e foi pega sonegando imposto. O PT viu seus melhores quadros serem presos, um deles (justamente aquele mais traumatizado por quatro anos de tortura na ditadura) foi novamente preso e torturado – desta vez, psicologicamente, de forma ainda mais sádica e cruel, por sete ou oito anos. Genoíno sempre repete para os amigos que a tortura moral inflingida pela mídia é muito pior do que a tortura física da ditadura; porque vai direto na sua alma.
Os blogs também perderam. Ficaram imprensados entre um governo assustado e a loucura revolucionária (?) das ruas.
As ruas… As ruas também perderam. Depois de mostrar seus enormes pés, as ruas não conseguiram revelar uma cabeça. A lógica do espetáculo rapidamente prevaleceu. Tornou-se uma diversão de final de tarde. Os jovens na rua sem saber porque estavam na rua. Os policiais, também perdidos. E o helicóptero da Globo sobrevoando e tentando vender audiência. Ao final, incêndios, quebra quebra e audiência em alta da Globonews.
A própria Mídia Ninja, que alça os píncaros da fama e ganha ares de ferramenta revolucionária, termina desempenhando o melancólico papel de parasita do caos (ela só ganha audiência se há quebra-quebra, violências e fogo). E o Fora do Eixo, entidade por trás da Mídia Ninja, se tornou saco de pancadas de coxinhas virtuais.
A imprensa perdeu muito. As ruas foram agressivas contra as mídias tradicionais. Jornalistas eram quase linchados em meio à turba de coxinhas enfurecidos. Quer dizer, nem só coxinhas. Houve cenas épicas, como a de um sujeito que flagrou o repórter da Globo forjando um protesto contra a Dilma. O repórter pediu para uma senhora segurar uma plaqueta contra a presidente. Um homem (um sindicalista) viu a cena e protestou contra aquela fraude sem vergonha, na cara de todo mundo. Foi um boca a boca memorável, que encerrou com o repórter saindo de fininho, sob uma saraivada de xingamentos e cantorias anti-mídia. Tudo filmado por um celular.
Aliás, as manifestações de rua tiveram um caráter anti-mídia que a própria mídia, naturalmente, até hoje trata de esconder com unhas e dentes. A Globo pediu desculpas envergonhadas por ter dado “apoio editorial” à ditadura…
Houve protestos de todo o tipo. Foi algo tão grande que é difícil enxergar de perto. Ouvi muita gente caçoar do Arnaldo Jabor, que logo após as primeiras manifestações declarou que os garotos nas ruas não valiam nem 20 centavos. Dias depois, ele muda totalmente de ideia e começa a tecer loas aos protestos.
Bem, eu não critiquei o Jabor por mudar de ideia. Bem aventurados os capazes de mudar, diria o profeta. O problema está na razão pela qual mudamos, que nem sempre é louvável.
Eu mesmo me portei igual ao Arnaldo Jabor, só que às avessas. Quando ele criticou, eu elogiei. Quando ele passou a elogiar, eu passei a criticar.
Porque aconteceu uma coisa sinistra, que os coxinhas e os black blocs não perceberam. Em questão de dias, a mídia se adaptou à nova realidade e iniciou uma estratégia de manipulação que chegou facilmente às ruas. Se a pauta dos protestos era difusa, a Globo oferecia a solução para todos os seus problemas. O foco é a corrupção, foi o título de um post de Merval Pereira no auge dos protestos. A mídia também conseguiu transformar a PEC 37, que regulamentava o poder de investigação do Ministério Público, em alvo dos manifestantes. A PEC 33, que impunha limites ao STF, sumiu do mapa.
Com certeza, entre as primeiras e as últimas manifestações, houve reunião emergencial de barões da imprensa e caciques de oposição, provavelmente em alguma sala de luxo no instituto millenium. Eles tomaram decisões rápidas, o que é a grande vantagem de centros de comando enxutos, unificados e com orçamento infinito. Não estou falando da cúpula do partido comunista chinês, mas do grupinho de endinheirados que domina a mídia brasileira. Duas ou três famílias de banqueiros, três ou quatro famílias donas das principais infra-estruturas de mídia no país, e pronto, tem-se um bloco de poder avassalador. O STF é o mais fácil de dominar, porque são poucos, mas o neocoronelismo midiático que vivemos alcança todos os setores, com ênfase nas classes A e B, onde figura a elite do serviço público e das empresas privadas.
As ruas, os coxinhas e os black blocs também perderam. O Congresso se aproveitou da confusão das pautas e não adotou nenhuma delas. Os black blocs, depois de usados pela mídia, foram descartados.
E agora, ao final do ano, quando o Senado teria a oportunidade de introduzir pautas progressistas na reforma do Código Penal, o relator Pedro Tacques, o mesmo Pedro Tacques que tanto elogiou a rebelião das ruas – sobretudo quando enxergou nelas um sopro de oposição popular – agora lhes passa uma sórdida rasteira, ao eliminar os poucos avanços que havia no texto. Tacques removeu os avanços em relação ao aborto e às drogas.
A democracia perdeu feio em 2013. Perdeu nas manifestações, quando reprimiu com violência, primeiro; e perdeu quando deixou a coisa rolar frouxa demais, em seguida. Perdeu com o avanço do STF sobre o Legislativo. Perdeu com o bloqueio absoluto imposto pela grande imprensa ao debate sobre a democratização da mídia.
Dilma perdeu. A barbada de 2014 não é mais tão certa. Há variáveis mais complexas e instáveis em ação. Sua aprovação encerra o ano vinte ou mais pontos abaixo do que tinha em seu início.
A oposição perdeu. Aécio Neves conseguiu a incrível proeza de figurar como um príncipe na mídia e… cair nas pesquisas. Campos fez algo ainda mais extraordinário: uniu-se a uma campeã eleitoral, que entrou em seu partido e passou a lhe apoiar publicamente e… perdeu intenções de voto (aumentou na primeira pesquisa após sua união com Marina, mas começou a cair em seguida).
O trensalão, o helicóptero do pó, a máfia de fiscal da prefeitura, a coisa de repente ficou feia, em termos “éticos”, para a oposição. Seu discurso de vestais ficou ainda mais ridículo e falso do que sempre foi.
Eu também perdi algumas coisas este ano. A virgindade processual, por exemplo. Agora sou um processado por Ali Kamel, o todo-poderoso diretor de jornalismo das Organizações Globo, e se perder terei que lhe pagar R$ 41 mil.
Em novembro, sofri meio que um bullying político por parte de simpatizantes de black blocs, reunidos num auditório na UFRJ. Me puseram na mesa na condição de blogueiro famoso e “criminalizado”, por causa do processo do Kamel. A meu lado, os parlamentares Jandira Feghali e Jean Wyllys; um advogado da OAB; Mario Mugusto Jakobskind, presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa); e um professor que havia passado uns dias num presídio após a polícia lhe prender por varrer a frente da Câmara dos Vereadores.
Eu suspeitei que estava em terreno minado. Afinal, o que já dei de pancada verbal em black bloc e coxinhas, não tá no gibi. Eu sou a favor da violência: verbal. E contra violência física. Os black blocs são o contrário: são a favor da violência física, mas contra a violência verbal: ninguém pode criticá-los.
Todos falaram, inclusive eu, e ao final uma moça se ergueu para me fazer uma pergunta, pegou um bloco e passou a ler um trecho de um post meu de meses atrás.
Eu respondi da forma que pude. Houve um início de gritaria, com minhas amigas me defendendo e outras pessoas me atacando. Até que o Jakobskind pegou o microfone e determinou: “temos que cerrar fileiras em torno desse rapaz (eu), porque ele está enfrentando o maior império de todos!” Jakobskind é um jornalista íntegro e portanto anti-global, até porque ele está lutando para evitar que o candidato da Globo vença as próximas eleições da ABI.
Esse é o tipo de enrascada previsível para um blogueiro de opiniões polêmicas. Só lamento não ter dado uma resposta clara e firme à moça, porque ela atacou abaixo da cintura: ela conseguiu catar, como quem cata uma pulga, o erro mais grave que cometi, não no conteúdo, mas na forma como eu expressei uma ideia. Mas ela podia ter pego mil outros exemplos. Se há política e confronto, haverá sempre algum radical, à esquerda ou à direita, que não concorda com minhas ideias: e pode ser que ele esteja certo, e eu errado. Eu escrevo diariamente, tanta coisa, e me envolvo em linhas de pensamento sobre as quais preciso meditar com o máximo de urgência. Posso errar, portanto. Eu errei num post em que narro um episódio no dia 11 de julho, em que algumas amigas minhas se sentiram intimidadas e agredidas por black blocs. Ao final do post, eu cometo um sério deslize, ao encerrar o post com uma frase deliberadamente vulgar: “se eu vir um mascarado na minha frente sou capaz de lhe dar um murro”.
É chato. Tantos posts intelectualizados, citando latim e teorias políticas, e a pessoa cata uma frase vulgar e brutal presente num post escrito com o fígado.
Repito, sou a favor da violência verbal. Acho que a violência verbal integra esse universo maior a que alguns chamam liberdade de expressão. Este é um assunto, aliás, no qual sou absolutamente liberal. Tenho que ser, porque sem liberdade, eu serei o primeiro a me lascar, visto que, por mais que eu procure ser cuidadoso, não tenho controle total sobre meu (mau) humor e meu sarcasmo. A literatura é um vale tudo, e literatura de ficção e literatura política às vezes partilham dos mesmos anseios em termos de iconoclastia, subversão e criatividade sintática.
O ano termina, portanto, com um aspecto terrivelmente cansado, como se não tivesse transcorrido apenas um ano, mas uma década. Tenho a impressão, por isso mesmo, de que todos estão exaustos. Eu me flagrei cometendo errinhos bestas de sintaxe ou lógica em posts recentes. Esses feriados de Natal e Ano Novo serão providenciais para mim. O recesso dos poderes públicos nos dão um pouco de paz por alguns dias. Esperemos que a mídia também sossegue. O ano de 2014 promete ser tão ou mais intenso do que este. Copa do Mundo, eleições, além dos momentos finais, talvez os mais encarniçados, do debate sobre a Ação Penal 470. O calor eleitoral reviverá o tema e os esforços canhestros de setores do governo que pretendem “virar a página” darão com os burros n’água. Na verdade, é provável que os marketeteiros se mantenham no terreno das platitudes estéticas. O trabalho pesado, a desconstrução sistemática das mentiras diárias da mídia, a luta para não deixar que as injustiças da Ação Penal 470 se consolidem como “fato consumado”, ficará sob responsabilidade, como sempre, de blogueiros duros, processados, destemidos e incansáveis. A diferença é a própria luta de classes, e a dicotomia entre o capital e o trabalho, tanto que, em reunião política no Barão de Itararé, discutimos como seria negativo para o Brasil se Dilma obtivesse uma fria e calculista vitória eleitoral, feita por marketeiros, ao invés de uma apaixonada e libertadora vitória política, conduzida por intelectuais, militantes e blogueiros.
Bem, ao menos não estamos mais totalmente sozinhos. Vários agentes políticos estão se preparando para um embate mais polarizado no ano que vem, e todos que não estarão com a Globo, estarão com a gente. Da minha parte, construí relações com vários parlamentares, representantes de movimentos sociais e sindicatos, e mesmo com jornalistas da grande imprensa. No ano que vem, estreitaremos laços com mais gente; esta é a vantagem de um ano eleitoral. Em ano eleitoral, a mídia perde o monopólio da conspiração política. Em ano eleitoral, todos viram conspiradores. Todos fazem reuniões com todo mundo. O vamos conversar de Aécio Neves é o clichê de todos os candidatos, e isso é muito bom.
Num ano em que quase todos os agentes políticos, à esquerda, à direita, na situação e na oposição, na mídia, nas ruas, nos blogs, saíram derrotados, talvez um só tenha sido vencedor. O povo? O Fluminense?
Bem, vou descansar por uns dias. Tentarei voltar para mais um post antes da virada do ano, mas desde logo lhes desejo um feriado tranquilo e votos de um novo ano cheio de realizações, saúde e felicidade.
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O NATAL NA PAPUDA E O SADISMO NA MÍDIA
EDUARDO GUIMARÃES
Se você está indignado com essa sessão interminável de tortura politicamente motivada, regozije-se: você é uma pessoa justa, humana e, acima de tudo, sã
Se só pretos, pobres, prostitutas e petistas vão para a cadeia no Brasil, o último dos quatro pês vem se mostrando um estigma ainda pior do que os outros três. Estes, sofrem porque, uma vez presos, são esquecidos; o quarto pê sofre porque não é esquecido nem quando preso.
O Judiciário brasileiro ficou de quatro para a mídia. Acata suas ordens para infernizar a vida dos condenados do julgamento do mensalão. Nega-lhes direitos como o regime semiaberto enquanto trata de esmiuçar as condições de sua prisão em busca de “regalias” a suprimir.
Os espiões que a mídia cooptou entre os agentes carcerários da penitenciária da Papuda para que informem qualquer alento que possa ser permitido aos alvos principais de sua fúria punitiva – ou seja, José Dirceu e Delúbio Soares – descobriram que eles gostam de ler.
A leitura pode ser um bálsamo para o encarcerado que a aprecie. Deveria ser estimulada, aliás. Tira a mente do que não presta. Contudo, a “regalia” que permitia que condenados do mensalão lessem à vontade foi revogada por estarem “lendo mais do que o permitido”.
A tortura psicológica costuma ser vista como até mais intensa e penosa do que a tortura física, que, após algum tempo, o torturado aprende a suportar, até por seu corpo e seus sentidos não resistirem. Já a psique humana é um parque de diversões para o sádico; permite supliciar sem limites.
Se a mídia não quer “regalias” para os condenados do mensalão tais como ler um livro, tampouco quer algum direito constitucional como o de um condenado cumprir sua pena tal como foi preconizada – e nunca de forma mais dura ou mais branda.
O objetivo que excita o sadismo midiático é o de minar o espírito dos dois petistas e o dos companheiros que partilham a dor deles não só por sabê-los condenados injustamente, mas por cumprirem uma pena mais dura do que aquela que deveriam estar cumprindo.
Sob essa sanha pervertida, os sádicos midiáticos já encontraram mais direitos a suprimir enquanto os direitos a preservar são ignorados: os condenados do mensalão poderão ficar com a luz acesa até às 24 horas do dia 24 de dezembro. E, escândalo dos escândalos, após receberem uma “ceia de natal”.
Dizem os instrumentos de tortura conformados em papel impresso que os “mensaleiros” receberão “quentinhas” contendo com arroz, feijão, carne, legumes e verduras. E o luxo é tanto que terão acesso à cantina do presídio, onde poderão comprar cigarros e refrigerante.
Esses “mensaleiros” não se emendam, não é mesmo?
As “regalias” de que desfrutrariam os petistas que atiçam a perversidade midiática, porém, não são regalias coisa alguma. Eles ainda dispõem de alguma diferenciação dos condenados ao regime fechado simplesmente porque estão padecendo sob ele ilegalmente, pois deveriam estar no regime semiaberto.
Isso em um país em que traficantes, estupradores, assassinos e até políticos corruptos conseguem ficar em liberdade contando com a sabida e consabida leniência que o dinheiro ou a influência da mídia podem comprar da Justiça.
Se você está indignado com essa sessão interminável de tortura politicamente motivada, regozije-se: você é uma pessoa justa, humana e, acima de tudo, sã. Regozije-se, pois, ao não sentir prazer com o sofrimento alheio.
Deixo você com um pensamento. Há 2013 anos nascia o Maior dos injustiçados pela justiça. Hoje é Seu Aniversário. Eleve, pois, a sua prece de lamento pela perenidade daquela sanha persecutória e punitiva das turbas que tanto prazer extraiu de seu Calvário.
Que o seu Natal, leitor, seja tão feliz quanto a revolta com a perversidade humana permitir.
JOAQUIM BARBOSA, O INJUSTO, PREJUDICA OS POBRES E BENEFICIA OS RICOS
DAVIS SENA FILHO
O que se percebe é que mais uma vez o Judiciário deste País demonstra sua vocação conservadora e completamente divorciada dos interesses da maioria do povo brasileiro
Joaquim Barbosa é um dos juízes do STF. É verdade. Tal juiz mais do que magistrado é um político. Mas, não é um político qualquer. Ele é também o presidente do Supremo, e o usa da mesma forma que o juiz e igualmente político, Gilmar Mendes, que, tal qual a Joaquim Barbosa, transformou o STF em partido político conservador, de direita, bem como instrumento contundente da burguesia brasileira contra os interesses da população brasileira, além de ser um bastião em favor das hostes reacionárias contra os governantes trabalhistas que ocupam a cadeira da Presidência da República há 11 anos.
O magistrado Joaquim Barbosa todo mundo sabe quem é. Ele é aquele juiz presidente do STF que prendeu lideranças petistas sem culpabilidade comprovada, recusou-se a analisar de forma justa e isenta o caso da Visanet, além de manter ainda solto o delator do “mensalão” do PT, o ex-deputado Roberto Jefferson, bem como aparece em fotografias tiradas em eventos e solenidades do PSDB ao lado do pré-candidato tucano a presidente, o senador Aécio Neves, e do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia.
Realmente, a maioria dos juízes do STF envergonha a instituição e, consequentemente, o estado democrático de direito. E não é que Joaquim Barbosa, um homem de temperamento intempestivo atendeu ao pleito da poderosa Fiesp, representada pelo candidato do PMDB ao Governo de São Paulo, o megaempresário Paulo Skaf, atual presidente desta entidade empresarial, que historicamente defende causas antipopulares e hoje sabota a desoneração do IPTU aos mais pobres e engessa o projeto do prefeito do PT, Fernando Haddad, que ficou a ver navios porque o juiz Joaquim Barbosa manteve a liminar dos ricos e, por conseguinte, a correção do imposto proposta pelo petista foi derrotada.
São abomináveis as razões pelas quais se batem gente como Paulo Skaf e Joaquim Barbosa. O empresário multimilionário tem duas mansões em São Paulo em bairros onde moram os ricos, cujo IPTU, evidentemente, são muito altos. Por seu turno, o presidente da Fiesp é o proprietário da Skaf Participações e Administração de Bens Ltda., e da BTS Empreendimentos Imobiliários Ltda. Trata-se, então, de um embate político de ordem econômica e de interesse privado, além de propiciar, sem dúvida, a desestabilização da administração de Fernando Haddad.
O que se percebe é que mais uma vez o Judiciário deste País demonstra sua vocação conservadora e completamente divorciada dos interesses da maioria do povo brasileiro. Tal qual à imprensa de mercado, o Judiciário também é alienígena. É o STF de um mundo paralelo e das pessoas que têm patrimônio, muito dinheiro e dos indivíduos que podem mais. A atitude do juiz não surpreende a ninguém, pois sua magistratura é um apanhado de decisões propositalmente injustas, porque Joaquim Barbosa, antes de qualquer coisa, é um político, ideologicamente de direita e que atua e age de forma violenta, a ter como tribuna a presidência do Supremo Tribunal Federal.
Os interesses de Paulo Skaf e dos empresários que ele representa foram protegidos e, portanto, preservados pelo juiz elitista do STF. Enquanto isso os mais pobres ficam a dançar conforme a música. É sempre assim. Afinal, temos uma das “elites” empresariais mais egoístas e gananciosas do mundo e que, sem sombra de dúvida, são as legítimas herdeiras da escravidão. Não cedem nada, são vazias de quaisquer sentimentos de solidariedade e não compreendem, de forma alguma, as questões sociais, a história do Brasil e como se deu a formação de seu povo.
São “elites” fundamentalmente colonizadas e por isso não compreendem o Brasil, pois se recusam a pensá-lo para desenvolvê-lo e torná-lo definitivamente autônomo e independente. Por isso, até em questões consideradas paroquiais, a exemplo do imposto progressivo se tornam problemas de âmbito nacional. Esta “elite” corrompida pelo tempo não quer, neste caso, a justiça tributária ao tempo que implanta um impostômetro na Praça da Sé, mas jamais colocaria um sonegômetro na mesma praça, para que o povo tenha conhecimento do montante de dinheiro que os empresários sonegam e enviam para paraísos fiscais.
A “rebelião” burguesa da Fiesp teve a aquiescência de juiz que há muito tempo mostra para o que veio, que é favorecer os ricos e se aliar a partidos de direita como o PSDB e o DEM, que quando estiveram no poder fracassaram de maneira retumbante, pois quebraram o Brasil três vezes, porque foram ao FMI três vezes. Joaquim Barbosa comete, a meu ver, abuso de poder e poderia muito bem ser questionado pelo Senado, instituição que julga os desmandos de juízes de tribunal superior como o é o STF.
Muitas atitudes de Joaquim Barbosa são questionáveis, até porque o senhor Skaf tem interesses no mínimo questionáveis quando se trata de uma pessoa que tem duas mansões, uma no Morumbi e a outra no Jardim América. São os nossos ricos a instrumentalizar a política a seu favor, além de dar-lhe uma conotação judiciária. Quem não percebe que muitos dos juízes do STF permitem que grande parte dos brasileiros desconfie de suas votações e decisões em relação a assuntos que tratam diretamente do bem-estar da cidadania?
Basta-nos rememorarmos as decisões absurdas de juízes do STF no que diz respeito a casos como os de Salvatore Cacciola, Roger Abdelmassih, Regivaldo Pereira Galvão (Taradão), mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, Luiz Estevão, Daniel Dantas, Antério Mânica, poderoso agricultor acusado da chacina de Unaí (MG) quando quatro fiscais do Ministério do Trabalho foram assassinados, bem como os mensalões do DEM e do PSDB, que nunca foram julgados, além de, recentemente, os escândalos Alstom e Siemens, que abalaram as estruturas dos tucanos considerados “bons mocinhos”, conforme apregoado pela imprensa de mercado.
Dois escândalos bilionários cujos principais acusados são tucanos de alta patente e com a intenção de mudarem o jogo querem fazer crer que as acusações de corrupção contra eles são, na verdade, coisas do PT e do Governo trabalhista, que os acusam e elaboram dossiês, quando a realidade é que os tucanos de São Paulo estão comprometidos com a Alstom e a Siemens até a medula há 20 anos, além de muitos outros casos que realmente deixaram os cidadãos brasileiros e paulistas com os cabelos em pé e o queixo caído.
Paulo Skaf pediu e foi atendido pelo juiz Joaquim Barbosa. No ano que vem têm eleições e a direita não vai permitir que o PT e seus candidatos anunciem a queda do valor do IPTU, que propiciaria mais justiça social, porque sobraria mais dinheiro para que, por meio do imposto progressivo, a prefeitura paulistana pudesse melhorar os bairros pobres e da periferia por intermédio da urbanização e de serviços públicos de boa qualidade.
Certamente, e qualquer coxinha sabe disso, que as condições de vida das pessoas iriam melhorar, os índices de criminalidade decresceriam e a autoestima das pessoas fariam com que a capital bandeirante ficasse mais civilizada, porque São Paulo é um cidade violenta, desigual e por isto injusta. Contudo, o establishment ainda manda, governa e atende, sem pestanejar ou vacilar, a Casa Grande, que ainda controla setores da vida pública como o Judiciário e o Ministério Público Federal. Joaquim Barbosa mais uma vez mostrou para o que veio, porque a Fiesp existe desde os tempos de Pedro Álvares Cabral. É isso aí.