NO PIOR IDH DO PAÍS, A LIÇÃO DOS MÉDICOS CUBANOS
A jornalista Vera Paolani visitou Melgaço, na Ilha do Marajó, que tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano do País; lá, não há saneamento básico e a população sofre com micoses, contaminações genitais, hipertensão e gravidez precoce; essa realidade começou a mudar com a chegada de médicos cubanos, que atendem, no mínimo, 24 pessoas por dia, em consultas médias de trinta minutos; a cubana Maribel Saborit relata uma experiência: "Fomos a uma comunidade ribeirinha, fizemos travessia de barco e na casa de um senhor diabético de 86 anos ouvimos, depois do exame: quatro médicos aqui, quatro médicos me visitando em casa, meu Deus posso morrer feliz. Nunca tinha visto um médico"
28 DE DEZEMBRO DE 2013 ÀS 12:00
Por Vera Paoloni, especial para o 247
Melgaço, no Marajó.Pará, tem o pior IDH - Índice de Desenvolvimento Humano do país, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, divulgado no final de julho. São 24 mil habitantes, dos quais 12 mil não sabem ler e nem escrever, apenas 681 pessoas frequentam o ensino médio, saneamento é zero, saúde é rarefeita e internet só de vez em quando e apenas por celular. O melhor de Melgaço é o povo, as pessoas, atestam Maribel, Oyainis e Maribel as três médicas e o médico cubano Orlando que estão morando e trabalhando no município marajoara desde 21 de setembro, há pouco mais de 3 meses. Eles integram o programa audacioso e certeiro "Mais Médicos", que leva assistência e médicos a municípios carentes e vulneráveis. Ponto para o Ministério da Saúde e para a presidenta Dilma Rousseff.
Se o povo é o melhor de Melgaço, o pior é a água. Ribeirinho, Melgaço não tem água tratada e nem saneamento básico. Isso gera micoses e contaminações genitais. Há gravidez muito precoce e um índice alarmante de hipertensão que atinge muitos jovens, resume o quarteto médico cubano que atende 24 pessoas, no mínimo, todo dia em Melgaço, de segunda a sexta. Com a consulta média de 30 minutos, salvo situações mais complicadas e que exigem mais tempo. Em todas as consultas, a medicina preventiva em ação: tratar a água com hipoclorito de sódio, ferver a água, só pra citar um exemplo.
Pobreza e generosidade - Quase a metade, 48% da população de Melgaço é pobre, aponta o Mapa da Pobreza do IBGE publicado em 2003 Grande parte da população do campo tem remuneração de R$ 71,50, fazendo com que as famílias na zona rural sobrevivam, em média, com R$ 662 por mês - menos que um salário mínimo. As distâncias são grandes e se leva até 15 dias pra cruzar o espaço de mais de 6 mil quilômetros. Com toda toda essa adversidade, o povo de Melgaço é acolhedor e generoso, garantem as médicas e o médico cubanos.
Pobreza e generosidade - Quase a metade, 48% da população de Melgaço é pobre, aponta o Mapa da Pobreza do IBGE publicado em 2003 Grande parte da população do campo tem remuneração de R$ 71,50, fazendo com que as famílias na zona rural sobrevivam, em média, com R$ 662 por mês - menos que um salário mínimo. As distâncias são grandes e se leva até 15 dias pra cruzar o espaço de mais de 6 mil quilômetros. Com toda toda essa adversidade, o povo de Melgaço é acolhedor e generoso, garantem as médicas e o médico cubanos.
Rendimentos compartilhados - Afinal, o que vocês ganham de salário fica com vocês ou vai pra família, indago? "Parte fica conosco, parte vai para nossas famílias e outra parte vai para o nosso governo, para ajudar o nosso povo cubano", me diz Maribel Hernandez. "Mas o que ficamos é suficiente para nos manter, para lazer. A prefeitura de Melgaço paga nosso alojamento e esse é muito bom: tem um quarto para cada um de nós, com banheiro, cama, ar condicionando. Temos mais que suficiente", fala Maribel Saborit.
Nem açaí e nem farinha - Como a jornada de trabalho em Melgaço é de 40 horas semanais, igual a Cuba, pergunto o que fazem no final de semana pra driblar a saudade de casa, já que as famílias ficaram em Cuba. "Lavamos e passamos nossas roupas, limpamos nossos quartos, lemos, entramos na internet pra passar correio eletrônico, descansamos". E Orlando informa que em julho vão de férias a Cuba.
Nove anos de estudo - Nem a imensidão de água da baía do Marajó, o calor ou as travessias de barco até as comunidades assustam o quarteto médico cubano. Os quatro trabalharam em missões humanitárias na Venezuela e na Bolívia. Estudaram os nove anos da formação de medicina cubana: 6 da medicina geral e mais 3 da medicina integral, algo semelhante à residência médica brasileira, em que a especialização é feita juntamente com trabalho prático. E os quatro trabalhavam em Cuba. Maribel Saboritnoite, em Belém. Na capital, fizeram um treinamento na área de saúde e retornam segunda-feira 23, bem no período de recesso natalino. De Melgaço a Breves, uma hora de barco e de Breves a Belém, mais 14 horas. Ao todo 15 horas pra chegar em Belém, atravessando a baía do Marajó. Maribel Saborit, Oyainis Santos, Orlando Penha e Maribel Hernandez, médicas e médico cubanos se conheceram não em Cuba, país em que nasceram, estudaram, se formaram, casaram, tiveram filhos e trabalharam. Foi em solo brasileiro, em Brasília, que os quatro se encontraram pela primeira vez, em agosto. Agora trabalham em Melgaço e lá ficarão por 3 anos.
Maribel Saborit tem 21 anos de profissão. Maribel Hernanez, 19 anos. Oyanis, 8 anos e Orlando, 22 anos. Cuba orientou como critério de participação no programa Mais Médicos, o mínimo de uma missão humanitária.Orando esteve no Paquistão e Venezuela. Oyainis, na Venezuela. Maribel Saborit e Maribel Hernandez, na Venezuela e Bolívia. Além dos 9 anos de estudo, atuação em uma missão humanitária por 3 anos.
Um médico em casa? - Embora o quarteto fale num bem compreensível portunhol, indago se não falarem bem o português fez com que algum paciente deixasse de entendê-los. "De jeito nenhum diz Oyainis. A gente olha pra eles, conversa e se entende. Fazemos um amplo interrogatório, anotamos, fazemos exames físicos completos". E Maribel Saborit completa: "o povo é muito acolhedor, generoso e agradecido. Fomos a uma comunidade ribeirinha, fizemos travessia de barco e na casa de um senhor diabético de 86 anos ouvimos, depois do exame: 4 médicos aqui, quatro médicos me visitando em casa, meu Deus posso morrer feliz. Nunca tinha visto um médico"!
Sem essa de dr, dra - Fico surpresa quando me dizem que se apresentam aos pacientes como Maribel, Oyainis, Orlando. Assim, sem dr., dra, termos que aqui no Brasil são acrescidos à profissão de médicos. Maribel Saborit ri e me diz: "por que dr., dra? Somos iguais, só tivemos mais chance de estudar, ter uma graduação. Mas nossa identidade é a mesma de quando nascemos".
Um médico em casa? - Embora o quarteto fale num bem compreensível portunhol, indago se não falarem bem o português fez com que algum paciente deixasse de entendê-los. "De jeito nenhum diz Oyainis. A gente olha pra eles, conversa e se entende. Fazemos um amplo interrogatório, anotamos, fazemos exames físicos completos". E Maribel Saborit completa: "o povo é muito acolhedor, generoso e agradecido. Fomos a uma comunidade ribeirinha, fizemos travessia de barco e na casa de um senhor diabético de 86 anos ouvimos, depois do exame: 4 médicos aqui, quatro médicos me visitando em casa, meu Deus posso morrer feliz. Nunca tinha visto um médico"!
Sem essa de dr, dra - Fico surpresa quando me dizem que se apresentam aos pacientes como Maribel, Oyainis, Orlando. Assim, sem dr., dra, termos que aqui no Brasil são acrescidos à profissão de médicos. Maribel Saborit ri e me diz: "por que dr., dra? Somos iguais, só tivemos mais chance de estudar, ter uma graduação. Mas nossa identidade é a mesma de quando nascemos".
Os quatro me contam que Belém e Melgaço são "mais quente que Cuba", mas isso não atrapalha. Gostam da comida à base de peixe, frango, carne, arroz, feijão. Só açaí e farinha não faz parte do cardápio deles. "Muito forte o açaí" diz Maribel Saborit sorridente. Eu afianço a elas e ele que não sabem o que estão perdendo. E rimos todos.
Internet, problemão - O contato com a família é via e-mail, pois falar pelo celular é muito caro. Cada um tem um tablet 3G, que faz parte dos equipamentos do Mais Médicos. E eles compraram um pacote basicão da Vivo, "mas os créditos somem muito rápido", se queixam. Como falar por telefone é caro demais, sobra conversar por e-mail na internet do celular.
Internet, problemão - O contato com a família é via e-mail, pois falar pelo celular é muito caro. Cada um tem um tablet 3G, que faz parte dos equipamentos do Mais Médicos. E eles compraram um pacote basicão da Vivo, "mas os créditos somem muito rápido", se queixam. Como falar por telefone é caro demais, sobra conversar por e-mail na internet do celular.
Eu digo a elas e ele que quem mora e luta na Amazônia quando vara uma notícia pro mundo, rompe o cordão sanitário do isolamento em que nos encontramos. O acesso à internet poderia ser uma forma de ajudar a romper esse cordão, mas temos o pior acesso de todas as cinco regiões do país e no Marajó, o pior acesso do Pará. Estamos ilhados, portanto.
Oyanis completa: "a saúde em Cuba precisa da ajuda de todos nós, porque o país sofre um embargo econômico que é muito doloroso para nossa gente. Então, a ajuda precisa vir de nós, cubanos e de nossos aliados".
Faz parte da nossa formação retribuir - A conversa vai chegando ao fim, pois há várias pessoas chamando o quarteto médico cubano e querendo tirar fotos, indagar, conversar, rir junto. E eu faço a última inquirição: o que fez vocês saírem de Cuba e vir pra Melgaço? E Maribel Saborit diz": olha, faz parte da nossa formação ajudar países e pessoas mais necessitadas com nosso conhecimento que foi dado de forma coletiva e gratuita. Só estamos retribuindo".
Encerramos a conversa e eu fico matutando que grandeza é essa de Cuba e do seu povo que tanto tem a nos ensinar! Se eu conheço quantos médicos do meu país que fariam algo semelhante aqui mesmo. Em janeiro vou a Melgaço numa caravana formativa da Fetagri/CUT no Marajó. Quero rever meu novo quarteto camarada e amigo e conversar com o povo atendido pelas médicas e pelo médico cubanos. (V.P)
E só finalizando mesmo: fizemos uma pequena homenagem às 3 médicas cubanas e ao médicos cubano ontem à noite na formatura de encerramento do curso de Formação de Formadores promovido pela Escola Chico Mendes da Amazônia e da qual participamos 46 pessoas, de todas as CUTs da Amazônia.
Faz parte da nossa formação retribuir - A conversa vai chegando ao fim, pois há várias pessoas chamando o quarteto médico cubano e querendo tirar fotos, indagar, conversar, rir junto. E eu faço a última inquirição: o que fez vocês saírem de Cuba e vir pra Melgaço? E Maribel Saborit diz": olha, faz parte da nossa formação ajudar países e pessoas mais necessitadas com nosso conhecimento que foi dado de forma coletiva e gratuita. Só estamos retribuindo".
Encerramos a conversa e eu fico matutando que grandeza é essa de Cuba e do seu povo que tanto tem a nos ensinar! Se eu conheço quantos médicos do meu país que fariam algo semelhante aqui mesmo. Em janeiro vou a Melgaço numa caravana formativa da Fetagri/CUT no Marajó. Quero rever meu novo quarteto camarada e amigo e conversar com o povo atendido pelas médicas e pelo médico cubanos. (V.P)
E só finalizando mesmo: fizemos uma pequena homenagem às 3 médicas cubanas e ao médicos cubano ontem à noite na formatura de encerramento do curso de Formação de Formadores promovido pela Escola Chico Mendes da Amazônia e da qual participamos 46 pessoas, de todas as CUTs da Amazônia.
* Vera Paoloni é bancária, jornalista e secretária de comunicação da CUT/Pará
http://www.brasil247.com/pt/247/saudeebemestar/125193/No-pior-IDH-do-Pa%C3%ADs-a-li%C3%A7%C3%A3o-dos-m%C3%A9dicos-cubanos.htm
2013 FOI UM ANO MARCADO POR AVANÇOS NA SAÚDE
Mais Médicos, pesquisas, vacinas, novos tratamentos...projetos ousados se contrapõem à timidez de programas de combate a aids e outras doenças sexualmente transmissíveis
28 DE DEZEMBRO DE 2013 ÀS 11:26
Por Cida Oliveira, da Rede Brasil Atual
São Paulo – Os avanços na saúde em 2013 podem ser vistos nos resultados promissores de pesquisas em andamento para a obtenção de novas drogas, personalizadas, com alvos específicos, baseados em alterações genéticas do paciente, como no tratamento do câncer, ou aquelas em telemedicina, com a qual as telecomunicações e outras tecnologias vão permitir, por exemplo, capacitação e atualização permanentes de equipes de saúde da família das regiões mais afastadas por meio da conexão com grandes centros universitários de referência.
Avançaram também estudos para a obtenção de imagens mais precisas do cérebro, de técnicas cirúrgicas minimamente invasivas e em nanomedicina, que se utiliza de estruturas que, de tão minúsculas, poderão levar medicamentos diretamente à região do órgão doente. Isso tudo sem contar os testes com próteses e exoesqueletos, como os que o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis está desenvolvendo em seus laboratórios no Brasil e nos Estados Unidos. Por causa de seus estudos pioneiros, um jovem paraplégico deverá dar o pontapé inicial no jogo de abertura da Copa do Mundo de 2014 usando um desses aparatos.
Mais Médicos
Os resultados positivos vão além dos laboratórios e incluem políticas para o setor. Segundo especialistas, o programa federal Mais Médicos é o principal deles. Lançado em julho com o objetivo principal de suprir a falta desses profissionais nos municípios do interior do país e nas periferias das grandes cidades com a contratação de 15 mil médicos, brasileiros e estrangeiros, foi duramente criticado pelo Conselho Federal de Medicina, Federação Nacional dos Médicos e Associação Médica Brasileira. “Uma decisão política ousada, uma ação que vai além da presença do médico, dos recursos humanos, e passa pela estruturação de investimentos na atenção básica, com melhoria das unidades de atendimento. É um forte estímulo para o setor”, avalia José Noronha, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), vinculado à Fiocruz e diretor do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes).
Câncer
Em maio, a atriz Angelina Jolie anunciou a dupla mastectomia profilática. "Mais do que reduzir em perto de 80% as chances de ter câncer de mama, a atriz protagonizou um papel educativo formidável, aumentando o debate e a circulação de informações sobre o tema", avalia o oncocirurgião Ademar Lopes, vice-presidente do Hospital A.C. Camargo, de São Paulo. A decisão da atriz, conforme ressalta o especialista, só foi possível graças a avanços nas técnicas cirúrgicas, cada vez menos mutiladoras, e ao conhecimento dos genes envolvidos nos tumores. "Por meio de exames genéticos específicos, ela soube que tinha risco aumentado para o tumor mamário e ovariano."
Há exatos 60 anos, os cientistas Francis Crick e James Watson revolucionaram a ciência ao descreverem a estrutura do ácido desoxirribonucleico (DNA, da sigla em inglês). É graças à descoberta que foi possível o sequenciamento do genoma humano e o consequente conhecimento dos genes envolvidos no surgimento das doenças, inclusive o câncer. Entretanto, todo esse avanço – que não ocorre do dia pra noite – ainda não está ao alcance de todos. O diagnóstico é tardio em muitos casos e o tratamento também demora a começar, reduzindo as chances de cura. Em maio, foi aprovada lei que dá 60 dias para o SUS começar a tratar pessoas diagnosticadas com câncer. "Isso é muito positivo, mas sabemos que o país não está estruturado para garantir o cumprimento da lei", diz Lopes.
Aids
Anunciado em 1° de dezembro, o novo Protocolo Clínico de Tratamento de Adultos com HIV tem como destaque a distribuição gratuita de antirretrovirais a todos os adultos soropositivos, mesmo aqueles que ainda não têm comprometimento do sistema imunológico. "A medida, pioneira em todo o mundo, tem impacto na saúde individual ao melhorar a qualidade de vida da pessoa infectada pelo HIV, e coletivo, ao reduzir as chances de transmissão do vírus por diminuir a carga viral e a sua propagação", diz o farmacêutico Ronald Ferreira dos Santos.
Presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) e coordenador do Movimento Saúde + 10, ele destaca ainda a retomada do protagonismo social na militância do movimento por ele coordenado, que conseguiu quase 2 milhões de assinaturas em todo o país para um projeto de lei de iniciativa popular que, se aprovado no Congresso, obriga a União a investir 10% das receitas correntes brutas na saúde pública.
Fim da epidemia?
"A melhor notícia do ano é a confirmação de que a epidemia de aids pode, sim, ser controlada e a infecção e mortes pela doença podem chegar a escalas jamais imaginadas", diz Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP, integrante da Associação de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) e pesquisador em epidemiologia da aids.
Em todo o mundo avançam os testes com vacinas e drogas menos tóxicas, de efeito prolongado, mesmo em dosagens menores e houve incorporação de novas abordagens, como a profilaxia pós-exposição (PEP) – forma de prevenção da infecção com medicamentos para pessoas que possam ter entrado em contato com o vírus. Para Scheffer, é uma cesta de novidades que, se bem coordenadas, permitirão avanço considerável.
No entanto, segundo o professor, há um abismo entre as boas notícias científicas em aids e a execução das políticas, permitindo retrocessos que colocam em risco as conquistas do país no enfrentamento à doença. Desde 2006, as taxas de mortalidade voltaram a crescer em alguns segmentos, ficando próximas às do período anterior ao advento do coquetel. “Há mais de 10 anos o Brasil está estacionado. O diagnóstico é tardio. Temos hoje o ressurgimento da epidemia em alguns grupos, como homossexuais do centro da cidade de São Paulo, onde um em cada seis está infectado – quadro pior que em muitos países africanos. Sem contar a censura nas campanhas. Por pressões de lideranças religiosas, o país retrocede na abordagem preventiva, faltam campanhas para gays, os testes não chegam onde o HIV está. Nunca tivemos tantas ferramentas e a falta de condições de implementá-las", diz. "O Brasil seria capaz de lidar com isso mas não temos acompanhado as novidades."
Vetos ao Ato Médico
Em julho, a presidenta Dilma Rousseff vetou parcialmente a Lei 12.842, mais conhecida como Ato Médico. A legislação, que regulamenta o exercício da carreira médica no Brasil, causou polêmicas por restringir aos médicos prerrogativas que eram compartilhadas por outros profissionais de saúde, como a prescrição e acompanhamento do uso de próteses, calçados ortopédicos, andadores e próteses auditivas, por exemplo. Além desse dispositivo, Dilma vetou também aquele que dava exclusividade aos médicos na direção e chefia de serviços médicos, que tem sentido mais amplo. Com os vetos, podem ser compartilhadas pelos profissionais da área da saúde, além dos médicos, o atendimento a pessoas sob risco de morte iminente; a realização de exames citopatológicos e emissão de seus laudos; a coleta de material biológico para análises laboratoriais e os procedimentos feitos através de orifícios naturais, desde que não comprometam a estrutura celular. "Ficam asseguradas ações e diretrizes clínicas do Sistema Único de Saúde (SUS) e protocolos consagrados em toda a rede de saúde", disse Ronald Ferreira dos Santos, da Fenafar.
Segurança do paciente
Lançado em abril pelo Ministério da Saúde em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Fiocruz, o Programa Nacional de Segurança do Paciente reúne protocolos básicos de segurança, entre eles sobre a identificação da pessoa atendida nos serviços de atendimento ou internada; a segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos; para a cirurgia segura; prática de higiene das mãos em serviços de saúde; e a prevenção de quedas dentro dos hospitais, muito comuns. “Na saúde há muitas falhas que a mídia encobre ou tende a apontar culpados de um problema que é sistêmico. E o programa vai atuar justamente nas falhas que tornam o serviço de saúde inseguro”, diz José Noronha, da Fiocruz.
HPV
No mês passado, o Ministério da Saúde publicou portaria sobre a oferta da vacina quadrivalente contra o vírus HPV pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2014, meninas dos 11 aos 13 anos vão receber as duas primeiras doses do imunizante. A terceira dose será aplicada cinco anos depois. E a partir de 2015, a vacinação vai abranger também pré-adolescentes de nove a 11 anos. Principal causa do câncer de colo do útero, o papilomavirus humano (HPV) se divide em mais de 100 tipos diferentes, dos quais 13 podem provocar tumores e outras complicações. Esta vacina protege contra quatro tipos do HPV: 6, 11, 16, 18.
"Há resultados positivos nos testes da vacina nonavalente, contra os tipos 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58, que amplia a proteção contra as doenças causadas por essa família de vírus", explica o médico Mauro Romero Leal Passos, professor associado e chefe do setor de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) da Universidade Federal Fluminense (UFF).
No entanto, segundo Passos, nem tudo é avanço quando o assunto é DST. Os casos de gonorreia, por exemplo, tiveram aumento no mundo todo. "Para piorar, a bactéria causadora é cada vez mais resistente aos novos antibióticos." Para o médico, a negligência é geral. A mídia não toca no assunto, os governos não investem na prevenção, no diagnóstico e tratamento, que geralmente são tardios, inadequados. O resultado pode ser o recrudescimento dessas doenças medievais que voltam a preocupar.
Alzheimer
Cientistas brasileiros de diversos centros de pesquisa, entre eles a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), descobriram neste ano que o uso de um medicamento usado no tratamento do diabetes, a liraglutida, poderá, no futuro, prevenir o mal de Alzheimer. Isso porque a degeneração cerebral que desencadeia a doença está associada a problemas na ação da insulina no cérebro. As pesquisas partiram da constatação de que as pessoas com diabete tipo 2 apresentam risco aumentado para desenvolver o Alzheimer. O estudo foi publicado no começo deste mês na revista científica Cell Metabolism.
Células-tronco
Professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias, na mesma universidade, Stevens Rehen diz que há diversos estudos promissores sendo realizados em laboratórios de todo o mundo. Um deles, divulgado em maio na revista Nature por cientistas da Universidade de Yokohama, no Japão, recriou, em laboratório, um órgão vascularizado, com as propriedades de um fígado, a partir de células-tronco reprogramadas, extraídas da pele.
Os roedores que tiveram o órgão implantado sobreviveram mais que os demais, sem o implante. Embora cedo para saber se a técnica funcionará em humanos, o resultado abre a possibilidade de novas perspectivas para pacientes que aguardam um transplante do órgão. Em outro estudo, cientistas europeus conseguiram desenvolver "minicérebros" a partir de células-tronco reprogramadas. Com isso será possível, no futuro, estudar mais profundamente o desenvolvimento de doenças cerebrais. Há também diversos estudos clínicos sendo realizados. Entre eles, um na Universidade Federal de São Paulo, coordenado pela Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. O objetivo é testar a segurança – e não ainda a eficácia – de células-tronco embrionárias no tratamento da degeneração macular, maior causa de cegueira entre as pessoas idosas.
Autismo
Conhecidas como probióticos, as bactérias benéficas que colonizam o estômago humano têm tudo para ser utilizadas em novas drogas para aliviar os sintomas de alguns espectros do autismo. É o que indicaram testes com ratos em laboratórios do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos. Os pesquisadores partiram do conhecimento de que muitos autistas têm problemas intestinais e que essas bactérias podem influenciar o comportamento emocional e social.
BRUNO A AÉCIO: BICO CALADO SOBRE O MAIS MÉDICOS
Deputado federal Bruno Araújo, que é conselheiro de Aécio Neves, acha que o partido deve parar de criticar o Mais Médicos porque o programa do governo federal já conquistou o apoio da população; o raciocínio é que para o paciente que precisa de atendimento pouco importa se o médico é cubano ou não
28 DE DEZEMBRO DE 2013 ÀS 12:09
Pernambuco 247 - O deputado federal Bruno Araújo já deu o toque no colega Aécio Neves: é melhor parar de criticar o Mais Médicos, pois o programa do governo federal tem o apoio da população. Para quem precisa de atendimento pouco importa se o médico é cubano ou não.
Veja nota de Ilimar Franco, em O Globo:
Afinando a matraca
Conselheiro do tucano Aécio Neves, o deputado Bruno Araújo (PE), quer que o partido pare de dar murro em ponta de faca. Acha, por exemplo, improdutivo criticar o Mais Médicos. Ele afirma que "o programa tem o apoio da população". Além disso, para quem é atendido na ponta o debate sobre o regime de contratação dos cubanos não importa.