247 – O ex-presidente Lula tem um bom exercício a fazer na compreensão de sua situação política. Ele está disposto, como lemos em todas as suas declarações, a se manter fora da disputa presidencial. Da duvidosa importância da posição de candidato a nada, Lula será o primeiro eleitor não apenas da presidente Dilma Rousseff, mas também dos candidatos do PT a governador em todos os Estados centrais: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e, também, o Paraná.
Como candidato, inegavelmente o ex-presidente teria melhores condições para cumprir essa dura missão. De fora, para ele fazer a quina – Dilma, Padilha, Pimentel, Gleisi e Lindbergh -, pode-se dizer que já seria uma missão (quase) impossível. Coisa para super-herói.
Na prática, repita-se, sem o triunfalismo com que a vitória em primeiro turno da presidente Dilma Rousseff é considerada, e sem o sentimentalismo com que a questão é tratada até mesmo dentro do PT, o que se dá é que é bem mais fácil pedir votos para si mesmo e para "os companheiros". Do contrário, ficando de fora, como publicamente diz querer, Lula não seria ele próprio um companheiro de risco eleitoral dos "companheiros".
Se tudo der certo, na atual configuração, Dilma obtém sua reeleição, o PT perde e ganha aqui e ali nos Estados, faz boa bancada federal e todos estão salvos. Haverá muita sombra e água fresca em máquinas públicas para ocupar os melhores quadros. No pior cenário, no entanto, o projeto do partido será simplesmente dinamitado.
COMO EM WASHINGTON - Como acontece regularmente nos Estados Unidos, quando algumas dezenas de milhares de militantes dos partidos Democrata e Republicano deixam Washington, devolvendo empregos e apartamentos, diante da vitória do adversário, o PT dirá um doloroso adeus a Brasília.
Após doze anos de desfrute do poder, crescendo sem parar em número de eleitores e em bancadas parlamentares, o PT se veria, de repente e a uma só vez, totalmente desprotegido. Além da nova situação febril para esmagar o partido, especialmente caso a vitória seja do PSDB, toda a mídia tradicional e familiar estará salivando para o banquete sobre a agremiação.
Para se reerguer de derrotas nos Estados centrais, especialmente no caso de uma quebra nos plano da reeleição, quem terá de fazer o partido ficar de pé outra vez? Ainda e mais uma vez? Lula, é claro. Ele sempre assumiu o papel de chefe partidário, enquanto a presidente Dilma Rousseff manteve distância regulamentar de suas bases e, notadamente, de sua direção. Sua carreira se deu no Executivo. Sua candidatura em 2010 foi criada por Lula. Ele será apontado como principal responsável pelo resultado, para o bem e para o mal.
Hoje, à exceção de Fernando Pimentel, em Minas, os principais candidatos petistas enfrentam problemas com as pesquisas de opinião. O mesmo se dá, neste momento, com a presidente Dilma e a avaliação do governo. Caso esse quadro se torne mais dramático, com a consolidação dos riscos, para o PT, de um segundo turno no plano nacional e o fraco desempenho nos maiores Estados até aqui, Lula também vai sofrer com as novas dificuldades. Até mais que os outros.