CRETINIZAÇÃO
CARLOS ODAS
Tática da oposição é “cretinizar” o debate político; com o auxílio luxuoso da parcela da mídia à qual se aliou
A falsa polêmica em torno do que alguns sicários da plutocracia, segundo felicíssima definição cunhada por Paulo Nogueira, chamam a “lista negra de Alberto Cantalice” me fez concluir que a cretinização do debate político é o resultado mais visível da simbiose entre partidos de oposição, sobretudo o PSDB, e a mídia familiar (Rede Globo, Editora Abril, Folha e Estadão). Escolha um tema, qualquer tema: Petrobras ou pré-sal, participação social ou democracia, meta de inflação ou crescimento do PIB, qualidade dos serviços públicos ou carga tributária, reforma política ou financiamento de campanha, políticas sociais ou investimento em infraestrutura, regulação da propriedade dos meios de comunicação ou relações exteriores, educação, saúde, segurança – qualquer tema! –, apenas escolha um e não será difícil encontrar alguma cretinice disparada pela oposição e repercutida pelos veículos que a apoiam – cada vez mais desavergonhadamente – como se fosse essa, a cretinice da vez, a única e sensata forma de tratar daquele determinado assunto ou tema.
Exemplos não faltam. Regulamenta-se a participação social em conselhos e conferências por meio de um decreto recuadíssimo e que regula – exclusivamente – a relação entre essas instâncias e a administração pública federal e, pronto!, está-se instituindo um regime “bolivariano” – quando não “bolchevique” – no Brasil. Boa oportunidade para se discutir a política, a crise de representatividade que levou milhões de jovens às ruas no ano passado, a legitimidade e os limites da atuação da sociedade civil nos grandes temas de políticas públicas, a coesão social, o papel das instituições públicas e a transparência na tomada de decisões que afetam coletivos em todos os níveis, mas, para os cretinos da “lista do Albertinho”, no entanto, trata-se de “barrar a instalação dos sovietes da Dilma e do PT”. E é essa gente que nos acusa de ter a cabeça no século passado de antes do fim da Guerra Fria!
Escolha outro tema. Economia? Crescimento do PIB? Desigualdades? Em 2013, com a economia mundial ainda sob a depressão da maior crise econômica desde o crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929, o Brasil cresceu 2,5%, segundo o IBGE; o PIB per capta teve um crescimento de 1,4%; programas como o Minha Casa, Minha Vida contribuíram decisivamente para o aumento dos investimentos no ano de 2013 e o mercado de trabalho segue com taxas de pleno emprego; segundo dados do Banco Mundial, nossa economia está entre as que mais cresceram no ano passado, consolidando a posição de sétima economia do mundo, praticamente do mesmo tamanho da do Reino Unido. Isso não significa que esteja tudo uma maravilha; não dá pra comparar as condições de agora com aquelas de antes da crise de 2008 e, portanto, deixar de reconhecer que, embora um crescimento de 2,5% no contexto atual seja um bom resultado, ele está aquém das nossas necessidades prementes; afinal, as desigualdades sociais ainda são o nosso maior desafio. É um fato que as dificuldades para mantermos um crescimento de longo prazo e aprofundarmos a distribuição de renda são imensas.
Boa oportunidade de discutir o modelo de desenvolvimento baseado no financiamento do consumo interno por meio do crédito e desoneração da produção de bens como automóveis e eletrodomésticos, não? Boa oportunidade de discutir taxas de lucro exorbitantes e taxas escorchantes de spread num dos sistemas bancários mais seguros e sólidos do mundo, não? Boa oportunidade de discutir relações trabalhistas e uma jornada mais favorável ao trabalhador e à criação e manutenção de postos de trabalho por meio da redução dessa jornada, não? Boa oportunidade de discutir não somente o crescimento econômico, mas seu sentido, não? Pois é; não se os cretinos da “lista do Albertinho” se esforçam em cretinizar o debate comparando o momento atual, com suas dificuldades, ao melhor momento econômico do Brasil em três décadas – diga-se, o período entre 2005 e 2009, sob o Governo Lula; nesse temário, aliás, a cretinice é fenomenal: recusam veementemente a comparação entre os resultados econômicos e sociais dos governos do PT e os governos tucanos, mas comparam os governos de Lula e Dilma para dizer que “já não estamos tão bem como estivemos antes”. Cretinos.
E a Copa do Mundo? Passamos pelo menos dois anos ouvindo e lendo desses cretinos fundamentais que estaríamos a essa altura com a cara enfiada na areia de tanta vergonha de nossa incompetência, que as obras dos estádios e de infraestrutura não ficariam prontas a tempo, que seria impossível a locomoção de tanta gente em um tempo tão curto – um mês – por todo o território nacional devido ao caos que se instalaria em nossos aeroportos e que sediar a Copa seria um desastre criado pela megalomania de Lula. Desnecessário mencionar mais uma vez o sucesso do Brasil na organização dessa Copa e o legado inestimável que ela nos deixa de imagem internacional do país, mas essa não seria justamente uma boa oportunidade de estarmos discutindo formas de o país se beneficiar muitos mais do que já o fez até hoje de uma de suas inescapáveis vocações, o turismo nacional e internacional? Mas aos cretinos só interessa discutir como apear o PT do governo central e mais nada.
Se o tema for corrupção, além da cretinice se revelará o mais puro e profundo farisaísmo: um peso, duas medidas. Nunca vi um dos cretinos sequer cobrar investigações em casos que envolvam tucanos, como o conluio entre políticos, servidores públicos e empresas privadas com suspeitas de superfaturamento em obras de ampliação do metrô de São Paulo, por exemplo; ao menos não com as afirmações injuriosas que fazem em qualquer caso em que se mencione alguém do PT. Aliás, quando um cretino levanta sua bandeira anticorrupção, não espere dele que cobre o levantamento, investigação e punição à atuação de corruptores, em geral agentes privados com interesses dependentes da ação governamental; essa bandeira, pra eles, serve apenas ao combate político dos políticos de que não gostam. E nada além disso.
O modo como enuncio os meus exemplos, é evidente, deixa claras as minhas opções e opiniões nesses mesmos temas e debates; o problema, portanto, não é haver opiniões contrárias às minhas ou às de quem quer que seja. Os cretinos podiam fazer jornalismo de opinião, como alegam, falsamente, praticar. O que lhes falta é honestidade intelectual, imprescindível num debate público entre gente decente. Fazer o estardalhaço que tentaram fazer em torno do texto de Alberto Cantalice, forjando uma “lista negra” do PT contra jornalistas “independentes” é coisa de gente cretina e desonesta. Como é cretino e desonesto confundir regulação da propriedade dos meios de comunicação que atuam sob concessão pública com controle de conteúdo ou censura. E como é cretino e desonesto falar em “investidas do PT contra a liberdade de expressão”. Apontem uma – sem que tenham de recorrer a nenhuma falsidade ou distorção deliberada, pelo amor de Deus. A esperteza dos cretinos é acusar antes o PT de fazer exatamente o que eles fazem o tempo todo: tentar calar opiniões divergentes por meio do patrulhamento nos próprios meios em que atuam. São autorreferentes e escrevem em nome dos patrões, por isso pensam garantir no grito a versão que os fatos desmentem.
Quem fez e faz “lista negra” contra jornalistas são os cretinos de sempre; em sua lista estão Luís Nassif, Laura Capriglione, Mino Carta, Paulo Moreira Leite, Jânio de Freitas, Luiz Carlos Azenha, Bob Fernandes, o editor deste Brasil 24/7 e quantos mais não se disponham a linchar petistas por quaisquer ilações ou proteger tucanos sob qualquer evidência. Aliás, para José Trajano, bastou não concordar com as ofensas à Dilma disparadas por quem forma opinião por meio dos cretinos para que entrasse na verdadeira e única “lista negra” do jornalismo brasileiro, merecendo declaração de guerra e de ódio.
Os cretinos não ganham eleições – e sabem disso; mas não as perdem também. Estarão lá, em suas tribunas, defendendo sempre o que lhes pareça mais necessário para manter as coisas como são, as desigualdades intocadas e a transição para a democracia inacabada. São os maiores inimigos da liberdade de expressão, já que usam o espaço privilegiado de que dispõem para confundir o público e não para discutir o Brasil, seus desafios, suas potencialidades. Políticos de oposição conhecidos por suas relações com a imprensa e o hábito de pedir cabeças de jornalistas diretamente aos donos das redações apressam-se em defender esses “pobres jornalistas” da “sanha autoritária do PT”. Além de batido, o clichê é falso. A verdade é que já não escondem a aliança e a relação de compadrio que mantém. E é uma lástima porque tanto a política quanto o jornalismo, nesse caso, perdem espaço para a cretinice, agora elevada à condição de tática eleitoral – a única que lhes resta, talvez.
Carlos Odas foi Secretário Nacional de Juventude do PT e membro da Executiva Nacional do partido.
APÓS IMPLODIR ALIANÇA, SERRA QUER SER DEPUTADO
Na noite da última quinta-feira, o ex-governador José Serra foi à casa de Gilberto Kassab e dinamitou a aliança entre PSDB e PSD em São Paulo, ao dizer que era sua a vaga ao Senado; sem espaço, Kassab agiu rapidamente e selou a união com o PMDB, fazendo com que Paulo Skaf tenha mais tempo de televisão do que o próprio governador Geraldo Alckmin; agora, depois de feito o estrago, Serra diz a aliados que será candidato a deputado federal, alegando que teria pouco tempo de TV para concorrer ao Senado; vai entender...
29 DE JUNHO DE 2014 ÀS 06:28
SP 247 - Na noite da última quinta-feira, o ex-governador José Serra fez um movimento que implodiu uma construção arquitetada pelo sucessor Geraldo Alckmin durante vários meses. Foi à casa de Gilberto Kassab, exigiu a vaga ao Senado na chapa tucana e acabou empurrando um aliado que estava praticamente amarrado com o governador paulista para seu adversário Paulo Skaf (leia mais aqui).
Com essa cobrança, Serra implodiu a aliança PSDB-PSD em São Paulo, fazendo com que Skaf tenha mais tempo de televisão na disputa do que o próprio Alckmin. Consumado o estrago na costura tucana em São Paulo, o que fez José Serra? Comunicou a aliados que será candidato a deputado federal, alegando que o postulante ao Senado terá pouco tempo de televisão.
A informação foi antecipada pela colunista Sonia Racy, do Estado de S. Paulo:
Serra será candidato a deputado
Depois de muitos vais e vens, José Serra será candidato a deputado federal pelo PSDB. Quem disputará a cadeira para o Senado? Há grande possibilidade de José Anibal assumir a tarefa.