ELEIÇÃO ESQUENTA NA COPA: SEM TRÉGUA, TENSÃO EM ALTA
Confrontos entre candidatos se acirram; insulto no Itaquerão mexe com os brios da presidente Dilma Rousseff e acentua tintas de luta de classes à disputa; convenção do PSDB impulsiona Aécio Neves e aprofunda confronto direto com o PT; Eduardo Campos engrossa ataques contra Dilma e vê suas chances dependerem mais da vice Marina Silva; revista Veja e colunista global Merval Pereira apoiam ofensas impublicáveis contra presidente e tentam arrastar debate para os bueiros; ex-presidente Lula fala em "vingança"; em lugar de uma trégua para evento esportivo mais popular do mundo, corrida presidencial fica mais dura e feérica
14 DE JUNHO DE 2014 ÀS 16:46
247 – À medida em que jogos e gols se sucedem na Copa do Mundo, mais distante fica a chance de que o Mundial poderia ser um momento de trégua na corrida eleitoral. A disputa política, ao contrário, só fez se acirrar – e acaba de entrar um uma nova fase, bem mais dura que a anterior.
Com a presidente Dilma Rousseff assumindo o papel de torcedora número 1 da Seleção Brasileira, com seus dedos cruzados e brios desafiados pelos insultos dos quais foi vítima no estádio do Itaquerão, a torcida contra e a favor do Mundial ganhou mais um divisor de águas. Para a pré-candidata à reeleição, cresceu ainda mais a importância política de fazer do evento esportivo mais popular do planeta um momento de sucesso para a sua administração. Dilma recebeu inúmeras manifestações de solidariedade, mas houve reações extremadas na mídia tradicional.
A revista Veja, em edição desta semana, destacou e, na prática, não fez restrições éticas, como as que costuma realizar sobre os mais diferentes assuntos, ao episódio da ofensiva manifestação contra a presidente no Itaquerão. Indo mais longe – no caso, mais baixo --, o colunista global Merval Pereira dedicou uma de suas longas colunas a justificar porque os que agrediram a presidente verbalmente estavam certos em fazê-lo. Logo o jornalista de fardão, que reclamou de hostilidades recebidas por ele próprio nas ruas do Rio de Janeiro. Agora, e contra outrem, pode, liberou Merval.
Os adversários diretos de Dilma também não estão deixando escapar a escalada de classificação das seleções da Copa do Mundo para acentuar seus ataques. "Estamos aqui para dar um basta definitivo no PT", bradou Aécio Neves, mão dadas com os chefes partidários, na convenção do PSDB, neste sábado 14, que o consagrou oficialmente como candidato a presidente pela legenda.
Antes, Aécio chegou a justificar os insultos à Dilma desferidos a partir dos setores com ingressos mais caros do Itaquerão. Em seguida, porém, recuou dizendo que a pessoa e a instituição representada pela presidente não devem ser atingidos. Mas já era tarde, e na festa de seu partido mostrou que não pode abrir mão de seus alvos. "Com o PT, o Brasil se tornou o País da improvisação e do sobrepreço para todos os lados", cravou.
O presidenciável Eduardo Campos, do PSB, não deu nenhum passo atrás em seu apoio à hostilidade contra Dilma. "Colheu o que plantou", disse ele, ignorando os conselhos do ex-presidente Lula para que evite críticas definitivas ao governo. Agora que descobriu pelas pesquisas que sua pré-candidata a vice, Marina Silva, acrescenta-lhe, sim, um bom punhado de votos, é certo que Campos irá radicalizar em seu discurso. Em queda nas pesquisas de opinião, ele terá de ampliar o papel de Marina em sua campanha e acompanhar sua parceira do discurso mais ácido contra a presidente e seu governo.
As informações de que os insultos à Dilma partiram dos setores de acesso mais caro e restrito do estádio, durante a abertura da Copa do Mundo, emprestaram novas tintas ao cenário de divisão de classes que está no pano de fundo da eleição presidencial. Lula foi rápido em lembrar o fato em torno do xingamento coletivo contra Dilma, chamando de "moleques" bem nutridos e nada educados os agressores verbais da presidente. A própria Dilma agarrou-se à sua história para lembrar que já passou, enfrentou e venceu dificuldades muito maiores, referindo-se à tortura física sofrida durante o regime militar.
A eleição ganhou mais acirramento não apenas pelo avançar o calendário, mas, especialmente, por toda a tensão que cerca a Copa do Mundo no Brasil. Os protestos de rua se mostram extremamente minoritários, mas, ainda assim, exigiram nos dois primeiros dias do Mundial, em diferentes cidades-sede, a intervenção policial para serem controlados. Isso, é claro, sempre gera noticiário e tem potencial explosivo.
O que não se sabia é que a primeira grande bomba seria disparada pela chamada elite. Já se comparou que, enquanto centenas de comunidades estão em festa, pintadas com as cores verde e amarela, a torcida contra se restringe aos mais bem aquinhoado. O banqueiro André Esteves, por exemplo, dono de US$ 4,5 bilhões, anda fazendo palestras para profetizar que "a tendência é a presidente cair ainda mais", referindo-se a uma curva nas pesquisas de opinião detectada por sua turma no BTG Pactual.
Já se vê, assim, que, a começar pelo alto da pirâmide social, aglutinando desde os achincalhadores das tribunas do Itaquerão ao fardado pela Academia Brasileira de Letras Merval Pereira, passando por comunicadores de segunda linha como Marcelo Tás e Rafinha Bastos, estridência e baixarias não vão faltar nesse novo momento eleitoral.
LULA CONFORTA DILMA: "A VINGANÇA SERÁ A VITÓRIA"
Ao entregar a presidente Dilma Rousseff uma rosa branca em símbolo de paz, o ex-presidente Lula lamentou as agressões sofridas por ela durante a abertura da Copa do Mundo de 2014, em São Paulo e a confortou: “O que você sofreu não foi uma agressão à presidenta, foi uma agressão ao povo brasileiro. Nossa vingança será a vitória”, disse em ato em Recife; ele convocou os militantes do PT a sair em defesa da presidente: "Se ofender a Dilma, estará ofendendo a cada um de nós"; para o líder petista, a mídia fomentou os xingamentos, o que considerou "um ato de cretinice": "Parte da imprensa incentivou o tempo inteiro essa reação da sociedade"
14 DE JUNHO DE 2014 ÀS 09:39
247 – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou, nesta sexta-feira, os militantes do PT a sair em defesa da presidente Dilma Rousseff. "Se ofender a Dilma, estará ofendendo a cada um de nós".
Em ato político realizado em Recife (PE), que reuniu cerca de 2.500 pessoas no bairro de Benfica, Lula lamentou as agressões sofridas por Dilma durante a abertura da Copa do Mundo de 2014, em São Paulo. “O que você sofreu ontem não foi uma agressão à presidenta, foi uma agressão ao povo brasileiro”, disse Lula após entregar-lhe uma rosa branca à Dilma em símbolo de paz. Na sequência, a confortou: “Nossa vingança será a vitória”.
Segundo ele, a imprensa fomentou os xingamentos feitos à presidente nesta quinta-feira (12). "Parte da imprensa incentivou o tempo inteiro essa reação da sociedade", o que considerou "um ato de cretinice". Para Lula, faltaram respeito e educação aos que gritaram palavrões e lembrou que eles vieram da "parte bonita da sociedade". "Os que diziam que o Brasil ia passar vergonha na Copa deram o maior vexame. Respeito, educação, a gente aprende na casa da gente. Duvido que trabalhadores tivessem coragem de falar 1%" do que foi falado", disse ele.
Também presente no evento, a presidente voltou a comentar o episódio que classificou como “lamentável”. “Não está à altura do Brasil e nem do povo brasileiro”, afirmou. Mais cedo, durante inauguração do BRT, no DF, Dilma afirmou que não será atemorizada por agressões verbais.
VEJA ENDOSSA INSULTO E GRITA: "EI, DILMA, VTNC"
Ao tratar como "vaia" as agressões dirigidas por parte da torcida no Itaquerão à presidente Dilma Rousseff, a revista de Giancarlo Civita (esq.), dirigida por Eurípedes Alcântara (dir.), transmite ao público a seguinte mensagem: "vocês gritaram por nós"; na reportagem interna, revista afirma que "o hino cantado a capela, as vaias em Dilma e mesmo o batismo de craque de Neymar foram os grandes momentos do jogo de abertura da Copa de 2014 no Brasil"; os barras bravas da mídia estão a postos para a campanha eleitoral
14 DE JUNHO DE 2014 ÀS 06:25
247 - "Ei, Dilma, vai tomar no c..." O insulto que se ouviu da ala Vip do Itaquerão, dirigido à presidente Dilma Rousseff, foi endossado neste fim de semana pela revista Veja, que pertence ao empresário Giancarlo Civita, herdeiro de Roberto Civita, e é dirigida pelo jornalista Eurípedes Alcântara. De acordo com a publicação, a estreia do Brasil na Copa teve três destaques: o hino cantado a capela pelos torcedores, a atuação de Neymar e a "vaia" a Dilma – uma agressão que já não é mais tratada como "vaia" nem por seus adversários políticos, nem pelos mais raivosos colunistas da torcida organizada dos jornais e revistas da mídia familiar no Brasil.
"O hino cantado a capela, as vaias em Dilma e mesmo o batismo de craque em Neymar foram os grandes momentos do jogo de abertura da Copa de 2014 no Brasil", diz o texto da reportagem de capa. Segundo a publicação, a "vaia" seria uma prova de que "a paixão pelo futebol não combina com política".
Ontem, ao discursar em Recife, o ex-presidente Lula afirmou que parte da imprensa brasileira insufla o "ódio de classes" e, de certa forma, estimulou as agressões a Dilma. A capa de Veja parece confirmar a tese e sinaliza que os barras bravas da mídia estão a postos para a campanha eleitoral.
FOLHA E REINALDO: XINGAR É MELHOR DO QUE QUEBRAR TUDO POR AÍ
"É PREFERÍVEL MANDAR UM PODEROSO TOMAR NO MONOSSÍLABO TÔNICO EM "U" A SAIR QUEBRANDO TUDO POR AÍ", diz o colunista Reinaldo Azevedo, em texto publicado na Folha. O jornal, de Otávio Frias Filho, discutiu, em editorial, qual seria o "o limite da vaia" e afirmou que a ofensa não foi uma surpresa
14 DE JUNHO DE 2014 ÀS 09:43
247 - A Folha de S. Paulo, de Otávio Frias Filho, publicou neste sábado um editorial que discute o "limite da vaia". Segundo o texto, as vaias eram previsíveis. No mesmo texto, destaca-se uma frase do colunista Reinaldo Azevedo. "É PREFERÍVEL MANDAR UM PODEROSO TOMAR NO MONOSSÍLABO TÔNICO EM "U" A SAIR QUEBRANDO TUDO POR AÍ". Estupra, mas não mata?
O limite da vaia
O comportamento da torcida que vaiou e xingou a presidente Dilma na abertura da Copa gerou uma discussão sobre a fronteira entre o insulto e o direito à crítica
DE SÃO PAULO
Quem eram os brasileiros que, com entrada VIP ou ingressos muitas vezes custando acima de R$ 1.000, xingaram a presidente Dilma Rousseff com palavrões na abertura da Copa?
Mesmo sem pesquisa na porta do Itaquerão, não parece arriscado intuir. No Datafolha, é principalmente o público com renda familiar acima de dez salários mínimos.
Com 33% de aprovação, Dilma não está numa boa fase. Em São Paulo, vai ainda pior, 23%. Na cidade, 19%. E entre os paulistanos com renda alta, 11% (aí, 2 em cada 3 acham seu governo ruim ou péssimo).
Vale xingar? Liberdade de expressão ou falta de educação? É possível discutir os limites da vaia. Só não dá para dizer que, naquele Itaquerão, a ofensa foi uma surpresa.
É PREFERÍVEL MANDAR UM PODEROSO TOMAR NO MONOSSÍLABO TÔNICO EM "U" A SAIR QUEBRANDO TUDO POR AÍ
AO TRAZER A COPA PARA O BRASIL EM 2007, LULA NÃO CALCULOU QUE, SETE ANOS DEPOIS, AS COISAS PODERIAM ESTAR DIFERENTES
MERVAL E A AGRESSÃO: A CULPA É DA VÍTIMA
Segundo o colunista Merval Pereira, "o estádio inteiro demonstrou sua insatisfação com ela [a presidente Dillma] de maneira grosseira, porém sincera"; mais adiante, ele culpa a própria presidente Dilma e o PT pela agressão; "essa exacerbação dos sentidos não ajuda a democracia, mas é preciso salientar que esse clima de guerra permanente foi instalado pelo PT, que não sabe fazer política sem radicalização e que precisa de um inimigo para combater. A prática do “nós contra eles” acaba levando a radicalizações como a de quinta-feira"; ahn?
14 DE JUNHO DE 2014 ÀS 09:29
247 - O colunista Merval Pereira, do Globo, encontrou um modo peculiar de avaliar a agressão sofrida pela presidente Dilma Rousseff, no Itaquerão, na última quinta-feira. Para ele, a culpa é da vítima. Leia abaixo:
O sentido das coisas
Merval Pereira
Não havia apenas membros das elites brasileiras no estádio, não foram apenas as alas VIPs que xingaram a presidente, e não é nada desprezível o significado político do que aconteceu naquela tarde em São Paulo. A presidente Dilma tem um problema sério pela frente, pois é evidente a má vontade dos paulistas com seu governo e com o PT, provavelmente turbinado pela gestão medíocre do prefeito Fernando Haddad na capital paulista.
As pesquisas estão aí para mostrar que ela perde em São Paulo num hipotético segundo turno, tanto para Aécio Neves quanto para Eduardo Campos. Os xingamentos à presidente tem um lado lamentável relacionado muito mais à nossa civilidade como sociedade do que com o respeito que se deve ter a um presidente da República.
Os xingamentos tornaram-se a maneira corriqueira de expressar desagrados nos campos de futebol do país inteiro, e está longe o dia em que chamar o juiz de ladrão, ou mesmo xingar sua mãe, eram maneiras de protestar. Hoje, qualquer criança, de qualquer nível social ou econômico, tem no xingamento mais vulgar a maneira corriqueira de expressar seu descontentamento nos campos de futebol.
A banalização dos xingamentos, uma violência verbal, juntamente com a violência física, são pragas do nosso futebol que precisam ser extirpadas, e a presidente Dilma foi vítima desse hábito nada educado e rigorosamente condenável. Mas os excessos da multidão, formada por pessoas de todos os níveis sociais, não eximem a presidente de ser merecedora do repúdio expresso pelas vaias e pelos xingamentos.
Claro que o melhor seria se esses excessos verbais não tivessem existido, e que as vaias, como na abertura da Copa das Confederações do ano passado, fossem o instrumento para exprimir o sentimento que domina parcela cada vez maior da população.
Dias antes, a presidente Dilma havia se aproveitado de seu cargo para, em cadeia nacional de rádio e televisão, num abuso de poder, defender-se das críticas a seu governo, sem que houvesse possibilidade de contestação. A conta chegou no jogo de estreia do Brasil, quando a multidão presente ao estádio soube distinguir perfeitamente o que é nacionalismo real daquele patriotismo forçado pelos políticos que fez o escritor e pensador inglês do século XVIII Samuel Johnson dizer que “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.
A presidente Dilma havia mandado que sua imagem não aparecesse no telão do estádio, para não ficar exposta à ira dos torcedores. Mas, num gesto demagógico, colocaram-na no telão ao comemorar o gol de empate do Brasil, ao lado do vice Michel Temer. Foram impiedosamente vaiados.
O torcedor presente ao Itaquerão aplaudiu a bandeira do Brasil sempre que ela surgiu em campo, fosse na cerimônia de abertura ou na entrada dos times, cantou o Hino Nacional à capela num emocionante e espontâneo rasgo de patriotismo, e entoou cânticos populares exaltando o fato de ser brasileiro.
Com relação à presidente da República, auto-emudecida pela previsão de que receberia uma imensa vaia caso sua presença fosse anunciada, o estádio inteiro demonstrou sua insatisfação com ela de maneira grosseira, porém sincera.
A grosseria é um problema nosso, de uma sociedade que precisa encontrar novamente o caminho da civilidade e da convivência pacífica entre os contrários.
Essa exacerbação dos sentidos não ajuda a democracia, mas é preciso salientar que esse clima de guerra permanente foi instalado pelo PT, que não sabe fazer política sem radicalização e que precisa de um inimigo para combater. A prática do “nós contra eles” acaba levando a radicalizações como a de quinta-feira.
A vaia é um problema da presidente Dilma e do PT.
MARADONA CONDENA AGRESSÃO A DILMA: "ABSURDO"
"É uma vergonha. Eu não vou assistir a mais nenhuma partida nos estádios. Eu vou ver no hotel, pela televisão", disse o craque Diego Armando Maradona, maior jogador da história do futebol argentino, após os insultos dirigidos por parte da torcida à presidente Dilma Rousseff, no Itaquerão; simpatizante da esquerda latino-americana, Maradona torceu para o Brasil, acertou o placar, mas saiu escandalizado com o comportamento da elite brasileira
14 DE JUNHO DE 2014 ÀS 06:41
247 - O craque argentino Diego Armando Maradona foi ao Itaquerão, assistiu ao jogo entre Brasil e Croácia, mas se declarou escandalizado com as agressões dirigidas por parte da torcida brasileira à presidente Dilma Rousseff por parte da torcida. "Absurdo, absurdo", afirmou à coluna da jornalista Mônica Bergamo.
Maradona, que é simpatizante da esquerda latino-americana e foi amigo pessoal de Hugo Chávez, disse que não pretende assistir a outros jogos no estádio. "É uma vergonha. Eu não vou assistir a mais nenhuma partida nos estádios. Eu vou ver no hotel, pela televisão", afirmou.
Durante a partida, ele torceu pelo Brasil e acertou o placar de 3 a 1 para a seleção canarinho.
"É ESTA GENTE SEM EDUCAÇÃO QUE QUER ASSUMIR O PODER?"
Jornalista Laura Capriglione, que já foi editora-executiva da revista Veja, questiona as ofensas proferidas ontem contra a presidente Dilma Rousseff (PT) na abertura da Copa do Mundo; em seu blog no Yahoo, ela afirmou que os torcedores que xingaram a presidente "são os mesmos endinheirados que passaram os últimos anos dizendo que o estádio não sairia e que não haveria aeroportos"
13 DE JUNHO DE 2014 ÀS 21:56
247 - A jornalista Laura Capriglione, que já foi editora-executiva da revista Veja, questiona as ofensas proferidas ontem contra a presidente Dilma Rousseff (PT) na abertura da Copa do Mundo. Em seu blog no Yahoo (aqui), ela afirmou que os torcedores que xingaram a presidente "são os mesmos endinheirados que passaram os últimos anos dizendo que o estádio não sairia". "Saiu", opõe ela.
"Há quem ache que o presidenciável Aécio Neves deve usar o linchamento verbal contra Dilma em seu horário eleitoral gratuito. Sabe de nada, inocente! Experimenta pôr a grosseria na campanha... Porque vaiar, tudo bem. Mas xingar assim é falta de educação demais, coisa de mal-agradecido traíra. E isso não se perdoa. Os marqueteiros tucanos têm de ensinar ao seu eleitorado um pouco mais de polidez. Nem que seja para aparecer na TV", diz.
Abaixo texto:
“Isso, se a senhora me permite, eu não admito”, protestou o ajudante de pedreiro Afonso de Medeiros, 48 anos, negro, evangélico, ex-dependente químico, morador na Favela do Moinho, centro de São Paulo. O homem se referia aos xingamentos contra a presidente Dilma Rousseff, durante o jogo de abertura da Copa do Mundo, no estádio de Itaquera.
“Ei, Dilma! Vai tomar no cu.”
O grito nasceu na ala vip e tomou a Arena Corinthians. Entre os mais entusiasmados estava a colunista social do jornal “O Estado de S.Paulo", que deve ter achado muito fina, elegante e sincera a modalidade de protesto. Mas é isso que é a gente que diz que quer tomar o poder?
“Isso não se faz com uma mulher, nunca”, disse o pedreiro Medeiros, que assistia ao jogo em pé, diante da televisão instalada no Bar do Grappite, logo na entrada da favela. “É covardia.”
E olha que a favela do Moinho era no dia do jogo um reduto de manifestantes anti-Copa. Os “vândalos” que denunciaram os gastos excessivos com a construção de estádios escolheram a favela para assistir juntos ao jogo. Democraticamente, dividiram com torcedores fanáticos de Neymar, Fred e Oscar o chão de terra batida do Moinho (chama-se assim porque ali funcionou um antigo moinho das Indústrias Matarazzo).
Os anti-Copa, entretanto, não chegavam aos pés dos vips do estádio de Itaquera no quesito vandalismo verbal. Um garoto vestido com a camisa da Croácia, por exemplo, comemorou o gol adversário com uma adaptação do bordão “Não vai ter Copa”. Virou “Não vai ter hexa!” Foi abraçado entusiasticamente pelos demais e ficou nisso.
“Eu sou feminista, véi. Comigo não tem essa de xingar mulher, mesmo que ela seja a presidente! A gente já é xingada demais na vida: de puta, baranga, gorda, sapatona, malcomida, burra”, explicou uma ativista que havia participado de protestos naquela tarde.
Dilma sabia que ia pro sacrifício. Quem tem dinheiro para comprar os cobiçados ingressos Fifa não é o brasileiro que costuma frequentar estádio (na porta, cambistas ofereciam os últimos tickets por até R$ 2.000).
São os mesmos endinheirados que passaram os últimos anos dizendo que o estádio não sairia. Saiu.
Que não haveria aeroportos pros gringos aterrissarem. Houve.
O jornal da colunista até publicou que haveria ataques do PCC na abertura. E necas.
Eles têm de estar revoltados mesmo: muita contrariedade. O PT fundiu-lhes a cabeça.
O jeito foi extravasar nos moldes odientos consagrados pelas redes sociais.
“Ei, Dilma! Vai tomar no cu.”
Há quem ache que o presidenciável Aécio Neves deve usar o linchamento verbal contra Dilma em seu horário eleitoral gratuito. Sabe de nada, inocente!
Experimenta pôr a grosseria na campanha... Porque vaiar, tudo bem. Mas xingar assim é falta de educação demais, coisa de mal-agradecido traíra. E isso não se perdoa.
Os marqueteiros tucanos têm de ensinar ao seu eleitorado um pouco mais de polidez. Nem que seja para aparecer na TV.
TENTATIVA DE SABOTAGEM DA COPA É QUESTÃO DE TEMPO
EDUARDO GUIMARÃES
Vencido o desafio da infraestrutura, cabe ao governo Dilma o segundo desafio, o da proteção do país contra atos – criminosos – de sabotagem, sem os quais o governo federal será reconhecido por ter organizado bem o evento
A esta altura, milhões de brasileiros já começam a se perguntar onde está o “caos” que a mídia, os partidos de oposição e os grupos organizados que promovem vandalismo diziam que sobreviria nos aeroportos, nas vias públicas e nos estádios quando os turistas estrangeiros começassem a chegar para a Copa de 2014.
No terceiro dia, tudo está funcionando. Nenhum problema relevante foi detectado. A falta do que criticar é tanta que as injúrias contra Dilma Rousseff na abertura do evento, em São Paulo, e a simplicidade da cerimônia de abertura se tornaram os alvos da mídia oposicionista.
Sobre os palavrões atirados contra a presidente da República, foram um tiro no pé. Até a grande mídia e a oposição, que de início se animaram com o que fez um grupelho de endinheirados que, da área “VIP” das arquibancadas, puxou o coro obsceno contra a presidente, tiveram que voltar atrás.
Aécio Neves, por exemplo, que inicialmente atribuiu as vaias à “arrogância” de Dilma e tentou faturar em cima dos insultos de que ela foi alvo, teve que mudar o discurso e passou a “condenar” a falta de civilidade do grupelho que puxou o coro insultante de apenas uma parte do público, conforme o vídeo abaixo deixa claro.
O desatino de grupelhos endinheirados e de adolescentes hipnotizados por partidos políticos espertalhões autoproclamados “de esquerda”, assim como a falta de confirmação do catastrofismo midiático, tudo isso tem potencial para causar reviravolta no quadro político. Aqui e ali, já se escuta que houve exagero nas previsões de que o Brasil iria “passar vergonha”.
A aposta no “caos”, porém, foi tão grande que, se nada acontecer para dar alguma razão aos grupos de mídia e aos partidos de esquerda e direita que vêm atacando a realização da Copa no Brasil, Dilma pode sair fortalecida do processo. E, dada a disposição oposicionista para tentar alterar artificialmente o resultado das eleições deste ano, dificilmente esses grupos ficarão parados assistindo isso acontecer.
Os protestos violentos, coordenados por partidos de esquerda, não estão causando o que seus autores acharam que causariam. Até porque, a violência fez esses grupos perderem muitos adeptos, de forma que não passaram de poucas centenas os que saíram à rua dispostos a barbarizar. E, surpreendentemente, até aqui a polícia ainda não cometeu grandes excessos.
Assim sendo, caso a Copa transcorra em tranquilidade, com tudo continuando a funcionar como tem funcionado até aqui, o efeito eleitoral do evento pode ser o oposto do que os grupos políticos sem votos e os grupos de mídia pretendiam. Ora, ninguém imagina que essa gente irá se conformar com isso.
Mas o que fazer? Para Dilma ser responsabilizada por algum problema este não pode decorrer de ações como a dos black blocs. Durante anos, os brasileiros foram bombardeados com a premissa de que iríamos “passar vergonha” por problemas organizacionais, mas como nada indica que isso deverá ocorrer não é difícil supor que possam tentar sabotagem.
Entre todas as possibilidades de sabotagem existentes, a que mais atiça os instintos primitivos desses energúmenos das ruas e dos “aquários” da mídia é a possibilidade de apagão. Um estádio lotado e às escuras, talvez até com queda de transmissão pela tevê, seria a “glória” para a direita e a extrema esquerda.
O caos energético é tão almejado pelos adversários de Dilma que nas redes sociais já há grupos propondo verdadeiras loucuras, como o da página no Facebook abaixo reproduzida
Apesar da cretinice e da inviabilidade dessa ideia de jerico, em um país deste tamanho, com milhares e milhares de quilômetros de linhas de transmissão, parece praticamente impossível evitar algum atentado que deixe alguma região sem luz.
Mas essa não é a única possibilidade de sabotagem. Há outras mais graves.
Recentemente, o perfil do blogueiro no Facebook recebeu mensagem privada em que o signatário, pedindo para não ser identificado, afirmou que deixou um dos grupos que planejam protestos contra a Copa por ter ficado assustado com propostas como a de um ataque a delegações estrangeiras.
Detalhe: a proposta era para o ataque ser violento, com uso de coquetéis molotov, o que, no limite, poderia até custar vidas.
Mas não é dos grupos isolados de militontos contrários à Copa que vem a maior preocupação, pois propostas malucas são comuns entre gente assim; levá-las a cabo é outra coisa.
O que preocupa são os grupos empresariais de mídia. Estes, estão prestes a se desmoralizar caso o evento transcorra sem maiores problemas. Grupelhos de adolescentes desmiolados podem ser contidos com certa facilidade, mas empresários poderosos têm mais recursos.
A Copa de 2014 pode deixar um saldo belíssimo para o país. A boa organização do evento pode projetar internacionalmente o Brasil. O orgulho dos brasileiros ao verem seu país sediar o maior evento esportivo do mundo e tudo dar certo seguramente terá efeitos eleitorais e, como todos sabem, o lado de lá está disposto a tudo para retomar o poder.
Vencido o desafio da infraestrutura, cabe ao governo Dilma o segundo desafio, o da proteção do país contra atos – criminosos – de sabotagem, sem os quais o governo federal será reconhecido por ter organizado bem o evento. Chega a ser inverossímil que não tentem sabotar. Subestimar essa possibilidade será um grande erro.