LUIS FERNANDES: POPULAÇÃO TEM MEDO DE FESTEJAR COPA
Secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes, concorda que a maioria que quer a Copa não está festejando porque teme represálias da minoria que não quer, em entrevista ao Blog da Cidadania; pesquisa Ibope recém-divulgada mostra que 51% da população está a favor da realização da maior competição de futebol do mundo e que 42% estão contra
3 DE JUNHO DE 2014 ÀS 05:34
O programa Contraponto de junho (segunda-feira, 2 de junho) entrevistou o secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes, o segundo na hierarquia da pasta. O tema da entrevista foi a Copa do Mundo de 2014 e as controvérsias e até a comoção social que tem suscitado. Essa entrevista permite uma conclusão surpreendente, porém óbvia.
Antes de prosseguir, vale explicar, para quem não sabe, que esse programa é uma iniciativa do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé e do sindicato dos Bancários de São Paulo e vai ao ar mensalmente. Este blogueiro integra sua produção e participou, como entrevistador, de todas as suas edições, com exceção da edição de abril, que versou sobre o Dia da Mulher.
O Contraponto já entrevistou personalidades como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o jurista Dalmo de Abreu Dallari e o pré-candidato ao governo de São Paulo Alexandre Padilha. É transmitido mensalmente pela Rede Brasil atual, via streaming.
A entrevista começou pelo custo do evento, se foi usado dinheiro público destinado a saúde e educação e quanto desse tipo de recurso foi gasto. Abordou, também, a suposta ociosidade que dizem que se abaterá sobre os estádios após a competição.
Também foi discutida a questão das remoções de moradores e, por fim, a visível apatia dos brasileiros com a Copa.
Deixemos a questão principal – a que intitula o texto – para o fim. Tratemos, primeiro, do “Gasto de dinheiro público que deveria ter sido usado em Saúde e Educação”. Quanto do orçamento da Copa é composto de dinheiro público?
Em primeiro lugar, há que distinguir o que são gastos com a Copa e gastos em obras que serão usadas no cotidiano dos brasileiros e que teriam sido construídas com ou sem a realização do evento, tais como aeroportos, portos, estradas, pontes, viadutos, metrô etc.
Comecemos pelos aeroportos. Quem se lembra do “caos aéreo”? Até a eleição de 2010, o assunto não saía da mídia, que bradava pela insuficiência de nossos aeroportos…
Este que escreve tem conversado com pessoas de diferentes posições políticas que já usaram os novos terminais e aeroportos que vêm sendo inaugurados e as críticas são quase nulas, enquanto elogios abundam. Mesmo a mídia quase não tem batido nos aeroportos
Ora, o país precisava, sim, de aeroportos e a Copa praticamente os dará ao país de graça, porque o faturamento do evento, estimado por estudos encomendados pelo governo a consultoria feita em parceria entre a Fundação Getúlio Vargas e a Ernest & Young, chega 142 bilhões de reais
Essa dinheirama pagará pelos estádios. E não só. Pagará por todas as obras de mobilidade urbana que estão sendo inauguradas.
Abaixo, um vídeo que todos os que negam a quantidade de obras entregues precisam assistir. Em 5 minutos, você descobrirá o que a mídia esconde sobre onde foram empregados os recursos e sobre quantas obras de porte o Brasil edificou nos últimos sete anos.
Como se vê, essa situação caótica que a mídia pinta é menos, bem menos…
Mas quanto custou tudo isso? Entre obras de mobilidade urbana e estádios, aproximadamente 35 bilhões de reais. Porém, desse total 26 bilhões foram gastos com obras de mobilidade urbana, 8 bilhões com estádios e cerca de 600 milhões com equipamentos complementares, como portais detectores de metal etc., que só serão usados na Copa.
É justo dizer que os cerca de 35 bilhões de reais foram todos investidos exclusivamente por causa da Copa? Não é justo, não é correto, não é verdade. Dos 35 bilhões, só 8 bilhões foram gastos exclusivamente com a Copa, para construir estádios. O resto se refere a obras que as regiões em que foram executadas necessitavam.
Foi atendida a reclamação contra o “caos aéreo”, por exemplo.
Mas foram gastos 8 bilhões de reais de dinheiro público em Estádios? Não, não foram. Primeiro porque, dos 12 estádios construídos para a Copa, 9 são públicos e 3 são privados. E, dos 8 Bilhões, cerca de 4 foram financiados pelo BNDES, que cobrará os empréstimos com juros e correção, devolvendo aos seus cofres, com lucro, o que foi investido pelo banco estatal de fomento.
Dizer que o dinheiro do BNDES tem que ser usado em Saúde e Educação, é mentira. Nunca houve financiamento desse banco de fomento a essas rubricas da administração pública. O BNDES financia desde a Globo até o açougue da esquina. Financia indústrias, financia shoppings…
Mas restam os outros 4 bilhões do custo dos estádios. Esses saíram dos Estados e de grupos privados. Pode-se dizer que é dinheiro público, sim. E que os empréstimos do BNDES dos outros 4 bilhões aos Estados terão que ser pagos com dinheiro público e – em parte menor – privado.
Só que quem faz essa conta parte do princípio de que o Brasil não lucrará nada com a Copa. Todavia, indústrias produziram equipamentos, máquinas, material de construção e operários e demais trabalhadores foram contratados. Tudo isso gerou impostos, gerou empregos, movimentou a economia.
Além disso, há o faturamento direto da Copa com turismo, com ocupação de hotéis, com lotação de restaurantes, com impostos, com venda de ingressos. E impostos e mais impostos. Há, ainda, uma infinidade de outras receitas que advirão de evento dessa magnitude.
Enfim, os cofres públicos dos Estados recuperarão com lucro cerca de R$ 6 bilhões de dinheiro público investido em estádios, frente a um orçamento federal com Saúde e Educação que, segundo o representante do Ministério do Esporte, alcança mais de R$ 800 bilhões.
E os estádios, ficarão ociosos após a Copa? O caso mais emblemático é o do estado Mané Garrincha, em Brasília. Bem, dados do representante do ministério do esporte derrubam essa tese. Esse estádio, antes da reforma, tinha ocupação anual de 300 mil pessoas e, após a reforma, o número saltou para 800 mil pessoas. E não houve Copa no Brasil nos últimos 12 meses.
Por fim, chegamos à questão das remoções de famílias das regiões próximas aos estádios que receberam obras de mobilidade urbana. Há uma forte grita contra essas “remoções”. Teriam ocorrido despejos “desumanos” de famílias para dar lugar às obras da Copa.
Em primeiro lugar, o representante do Ministério do Esporte explicou que as famílias “removidas” para construção de estádios foram muito poucas e quase todas eram de classe média. Mas onde foram feitas obras de mobilidade urbana, pessoas humildes foram “removidas”. Contudo, Fernandes garante que não houve “desumanidade” e que essas famílias não foram jogadas no meio da rua.
Aliás, ele relatou que houve até famílias que não precisavam ser “removidas” para construção das obras de mobilidade e que pediram para ser incluídas na “remoção” porque as áreas para onde os “removidos” foram levados são melhores.
Seja como for, fiquei de entrar em contato com Fernandes para mais informações. Assim, quem tiver algum questionamento sobre “remoções desumanas” que por favor informe que vou verificar com o secretário-executivo do Ministério do Esporte.
Por fim, chegamos ao fulcro do post. Todos têm lido nos jornais, ouvido ou assistido na mídia eletrônica que esta é primeira Copa do Mundo que o Brasil não pinta suas ruas de verde e amarelo, que os carros não trafegam com as bandeirinhas do Brasil ou adesivos. E é verdade.
Aos 55 anos, nunca vi este país tão desanimado com a Copa. As ruas, os carros, não estão enfeitados como sempre foi. Por que?
Pesquisa Ibope recém-divulgada mostra que 51% da população está a favor da realização da maior competição de futebol do mundo e que 42% estão contra. Ora, se a maioria dos brasileiros é a favor da Copa, por que toda essa gente não festeja?
A resposta é muito simples: medo. Este que escreve descobriu isso ao longo de semanas, quando passou a pesquisar por que pessoas que em Copas anteriores punham bandeirinhas do Brasil ou fitinhas verde-amarelas nos seus carros ou que enfeitavam suas casas e ruas com as cores do Brasil, quando a competição é realizada em nosso país mudam de comportamento.
Você também pode fazer essa pesquisa. É tão óbvio o que está acontecendo que até o representante do Ministério do Esporte concordou comigo: a maioria que quer a Copa não está festejando porque teme represálias da minoria que não quer. Ou de parte ínfima dessa minoria que não hesitaria em depredar um carro ou uma casa enfeitados com as cores do Brasil.
É duro, mas é verdade. Imaginem aquele sujeito que vai para a rua quebrar tudo por raiva da Copa passando por um veículo com uma bandeirinha do Brasil. Se estiver sozinho, pode riscar ou danificar de alguma forma aquele veículo dissimuladamente.
Se estiver em turba, pode até atacar o mesmíssimo veículo com seu (s) ocupantes (s) dentro.
O mesmo vale para uma casa enfeitada para a Copa que esteja no caminho de uma manifestação contra a Copa, por exemplo. Então escolha você, leitor, que nome se dá a grupos que impõem suas ideias pela força a quem não concorda. Eu, por exemplo, chamo-os de grupos de fascistas.
GOLDFAJN: PROJEÇÕES PRA COPA SÃO MAIS ANIMADORAS QUE O PIB
Economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn pinta quadro pessimista para o segundo trimestre, levando em consideração os indicadores para a produção industrial, a atividade do setor de serviços, a demanda por crédito e a confiança de empresários e consumidores; segundo ele, “as previsões para o resultado da competição são mais animadoras do que as econômicas, pelo menos para os que torcem pelo Brasil”
3 DE JUNHO DE 2014 ÀS 07:50
247 – O economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, acredita que o Brasil tem mais chances na Copa do Mundo do que nas projeções econômicas. Leia:
As previsões para o resultado da competição são mais animadoras do que as econômicas, pelo menos para os que torcem pelo Brasil
Melhor escrever sobre as previsões para a Copa do Mundo do que sobre o PIB. É mais divertido. Nem sempre foi assim. Em 2010, o resultado da Copa decepcionou, com a eliminação do Brasil nas quartas de final frente à Holanda, mas o PIB cresceu impressionantes 7,5%. O país parecia ter decolado, como ilustrado pela imagem do Cristo Redentor na capa da revista “The Economist” na época. Passaram-se quatro anos, e tudo mudou. A média de crescimento do PIB de 2011 a 2014 deve ter sido de apenas 1,8%, abaixo das previsões mais pessimistas. Dizem que não há entusiasmo pela Copa do Mundo, mas só se fala nisso nestes últimos dias. Quais as chances da seleção brasileira e das outras seleções?
Antes da diversão, a obrigação. A divulgação do PIB nessa sexta foi um balde de água fria. O PIB cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre de 2014. A indústria está em recessão. O investimento tem caído, e pela primeira vez o consumo também mostrou um crescimento negativo. A agropecuária tem sido o único destaque positivo do PIB.
O que preocupa, no momento, é a perspectiva para o crescimento do PIB no segundo trimestre deste ano. O sinal é inequívoco. Um conjunto amplo de indicadores coincidentes para o segundo trimestre — incluindo, entre outros, indicadores para a produção industrial, a atividade do setor de serviços, a demanda por crédito e a confiança de empresários e consumidores — aponta para uma retração da atividade econômica: projetamos queda de 0,2%.
A consequência é uma perspectiva de crescimento fraco para o ano de 2014. Com o resultado mais fraco do PIB no primeiro trimestre, aliado à perspectiva de queda do PIB para o segundo trimestre, dentro do contexto dos atuais fundamentos econômicos, acreditamos que a economia dificilmente conseguirá crescer acima de 1% em 2014.
As previsões para o resultado da Copa são mais animadoras, pelo menos para os que torcem pelo Brasil. Usando as mesmas técnicas econométricas que empregamos para projeções econômicas (temperadas com alguma dose de cultura futebolística), encontramos indicadores que ajudam a prever os resultados da Copa. São dados que estatisticamente ajudaram a prever a probabilidade de uma seleção avançar nas Copas do Mundo desde 1994 (vejam estudo “Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014: quem tem mais chances?”, no aplicativo Itaú Análises Econômicas). Os resultados passam no teste do bom senso: encontramos que, na semifinal, classificam-se Alemanha, Espanha, Argentina e Brasil.
Há três fatores que saltam aos olhos quando analisamos os resultados na Copa: a qualidade da equipe no momento, a tradição e o apoio da torcida. Uma variável objetiva de qualidade, o ranking da Fifa, que tende a resumir o desempenho recente da seleção, resulta correlacionada ao desempenho das equipes em Copas passadas. Duas variáveis de tradição se mostraram significativas para prever o desempenho das seleções na Copa: 1) o número de títulos mundiais conquistados; e 2) se o país é europeu ou latino-americano. Finalmente, as equipes que jogam em casa tendem a levar vantagem. Os resultados mostram que a tendência é esta. Basta lembrar a histórica campanha da Coreia do Sul em 2002. De fato, em seis ocasiões o país organizador venceu o torneio. Suécia e Inglaterra só conseguiram chegar à final quando sediaram o evento.
Claro que há o imponderável. Além das variáveis objetivas, vale o uso de um grau maior de subjetividade. Desde a Copa de 1990 na Itália, sempre houve uma seleção africana alcançando pelo menos as oitavas de final (Camarões, Senegal, Gana, Nigéria) e, em quase todas, uma seleção asiática (Japão, Coreia). Impusemos ao modelo que uma seleção africana e uma asiática se classificarão para as oitavas de final do torneio. Examinando o desempenho das eliminatórias nessas regiões e fazendo uma análise qualitativa dos grupos e dos times, concluímos que a Costa do Marfim e o Irã são os que têm mais chances de avançar para a fase seguinte.
Os resultados são interessantes. Na primeira fase, os grandes favoritos avançam, com exceção da Inglaterra, que sucumbe aos tradicionais Itália e Uruguai no chamado “grupo da morte”. Nas oitavas, nomes mais fortes, como Colômbia, México e Rússia, vão ficando pelo meio do caminho. Um embate apertado acontece nas quartas de final entre Itália e Espanha. A Itália, tetracampeã mundial, é uma das seleções mais tradicionais da Copa, mas, se estivermos certos, a Itália cai nas quartas de final do torneio. Prevemos que Brasil, Espanha, Argentina e Alemanha cheguem às semifinais, com seus 11 títulos mundiais e grandes rivalidades históricas.
O estudo original para na semifinal, mas, usando os dados um pouco mais além, o Brasil aparece como campeão. Tomara!