POR QUE A COPA DO MUNDO DESAFIA O BRASIL?
Mídia tradicional acentuou as dificuldades existentes em preparar e organizar o País para o maior evento global já realizado entre nós, e dedicou pés de páginas para noticiar os acertos e conquistas que já estão à vista; "Esconde-se, geralmente, que 60,1% dos investimentos são para objetivos permanentes e de interesse geral, como obras viárias, aeroportos e telecomunicação", escreve o jornalista Breno Altman; "Tampouco se dá destaque que esses investimentos, durante sete anos, geraram 3,6 milhões de empregos diretos"; a aposta correta, agora, é a de que a Copa do Mundo tornou-se um sucesso, apesar do mau humor com que foi encarada pelos formadores da opinião conservadora; "Cálculos da Fundação Getúlio Vargas indicam que o torneio deve gerar negócios adicionais ao redor de R$ 142 bilhões"; às críticas de estouro orçamentário, estimado em 20%, na execução das obras, compara:"É um pouco acima da Copa do Mundo na Alemanha (14%) e bem abaixo da África do Sul (32%)"; leia a íntegra do artigo
12 DE JUNHO DE 2014 ÀS 12:41
Por Breno Altman, para o Brasil 247
Quando foi anunciado, nos idos de 2007, que o maior país dos trópicos sediaria o campeonato mundial de futebol em 2014, as ruas brasileiras se encheram de alegria e festa. Era desejo antigo e profundo: ser anfitrião da competição mais proeminente do esporte que marca a identidade nacional, quase sete décadas depois de ter sucumbido ao Uruguai na tragédia de 1950, conhecida como Maracanazo.
O estado de ânimo entre os brasileiros, naquele momento, também colaborou para o clima de euforia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no primeiro ano de seu segundo governo, liderava um projeto capaz de retirar milhões de cidadãos da miséria, impulsionar um crescimento potente da economia, reduzir a desigualdade social e afirmar o país como nação protagonista no cenário mundial.
Apesar da avaliação de que o Brasil teria de enfrentar muitos obstáculos para viabilizar o evento e já se preparar para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, as recompensas pela ousadia pareciam generosas. A Copa do Mundo poderia se configurar em ferramenta para reforçar a imagem internacional, ampliar o fluxo turístico, acelerar investimentos em infraestrutura e modernizar tanto os equipamentos esportivos quanto os sistemas de transporte.
O país abre as portas para o espetáculo, porém, tomado pelo mau humor e a desconfiança. De nacionais e estrangeiros. Por que, afinal, a felicidade de 2007 cedeu ao pessimismo de 2014? O que levou ao envenenamento da Copa do Mundo, pensada como vitrine das mudanças comandadas pelo Partido dos Trabalhadores de Lula e Dilma Rousseff desde 2003?
A primeira razão dessa guinada negativa talvez possa ser encontrada na confluência entre a perda de ritmo nos avanços sócio-econômicos a partir de 2010 e as turbulências provocadas pelo ambicioso projeto para o Mundial de Futebol.
Mesmo que o Brasil atualmente apresente uma das mais baixas taxas de desemprego, inferior a 6%, com aumento real do salário mínimo na casa dos 72,35% desde a posse do presidente Lula, muitas pessoas reclamam que as melhorias ficaram mais lentas. Aproximadamente 35 milhões de brasileiros foram retirados da miséria desde 2003, ampliando o mercado interno e alavancando o crescimento da economia, mas o freio no desenvolvimento afetou o dinamismo dos anos iniciais.
O presidente Lula, além de contar com alguns anos bastante favoráveis no cenário mundial, pode dar importantes saltos a frente com a adoção de programas sociais de amplo alcance, redirecionando recursos do Estado para as camadas mais pobres e excluídas. Seus bons resultados não foram apenas sociais, mas também econômicos: o PIB subiu uma média anual de 4% durante os oito anos do líder histórico petista.
O cenário mudou a partir da posse de Dilma Rousseff. Sem contar com os efeitos multiplicadores de políticas já implementadas e que, portanto, em sua fase de consolidação, não propiciavam mais benefícios de amplo espectro, a presidente também teve o desprazer de ser atingida pelos piores ventos da crise capitalista aberta em 2008.
A economia brasileira passou a crescer modestos 1,8% por ano, com redução relativa do orçamento governamental e, portanto, da capacidade do Estado em ampliar a expansão de direitos e serviços. O governo paga também o preço de continuar refém da política de juros altos, pressionado pelos bancos e os meios de comunicação sob influência do rentismo, que inibe ainda mais os gastos estatais e força maior dispêndio com o financiamento da dívida interna.
Estes dados cinzentos cercearam as possibilidades da administração federal, que moderou ou abandonou políticas para elevação salarial de funcionários públicos, construção de universidades, repactuação das dívidas de estados e municípios, investimentos em infraestrutura, modernização dos serviços públicos. Criou-se a base material para a insatisfação que explodiu nas manifestações de junho do ano passado.
As pessoas não foram às ruas, então, para reclamar de salário e emprego. Da porta para dentro de casa, no que diz respeito à renda das famílias, a curva da economia brasileira é oposta a da maioria dos países, especialmente os Estados Unidos e as nações europeias. Mas da porta para fora a insatisfação gritava: as décadas anteriores, de privatização e recessão, de redução do Estado e submissão à lógica rentista, arruinaram os serviços públicos (especialmente transporte, saúde e educação), sem que os governos petistas pudessem ter feito grande coisa para resgatá-los.
A Copa do Mundo, com seus formidáveis estádios, acabou por se transformar em mote para a indignação, contrapondo os gastos com este megaevento às restrições para a oferta de sistemas mais universais e eficazes de atendimento ao cidadão.
Além das despesas, a preparação da competição esportiva também afetava a vida de muita gente, com remoção de grupos populacionais de áreas destinadas à execução do projeto apresentado a FIFA, explosão de preços imobiliários nas cidades-sede e conturbação provocada pelas próprias obras em curso. A verdade é que, para muitos setores, o cisne acabou virando o patinho feio.
Com a coincidência entre a Copa do Mundo e as eleições presidenciais, previstas para outubro, as correntes oposicionistas e os principais veículos de informação, francamente inimigos do petismo, aproveitaram para desatar verdadeira guerra psicológica sobre o tema. O esforço teve duplo sentido: radicalizar a percepção de que a Copa do Mundo desvia dinheiro dos serviços públicos e apostar no próprio fracasso do evento.
Denuncia-se que o Estado desembolsou 83,6% dos 25,6 bilhões de reais necessários para viabilizar a competição, como se todos esses recursos fossem para a construção de arenas desportivas. Esconde-se, geralmente, que 60,1% dos investimentos são para objetivos permanentes e de interesse geral, como obras viárias, aeroportos e telecomunicação. Tampouco se dá destaque que esses investimentos, durante sete anos, geraram 3,6 milhões de empregos diretos.
O governo gastou sete bilhões de reais para a construção e a reforma de doze estádios, mais 1.5 bilhão para segurança pública durante a Copa. Isso equivale a 3% das despesas públicas anuais com educação, por exemplo. Atribuir a esses gastos as carências em infraestrutura, portanto, não tem qualquer lastro na realidade. Cálculos da Fundação Getúlio Vargas, por outro lado, indicam que o torneio deve gerar negócios adicionais ao redor de R$ 142 bilhões, além de poder quadruplicar a receita da indústria do futebol e modernizar sua estrutura.
Nem mesmo o estouro de orçamento, calculado em 20%, é algo muito grave. Mudanças nos projetos justificam boa parte dessa situação. No mais, este percentual de despesas adicionais está apenas um pouco acima da Copa do Mundo na Alemanha (14%) e bem abaixo da África do Sul (32%).
Algumas dessas obras serão entregues com atraso, pois estava prevista sua inauguração para o Mundial. Mas serão ativos importantes e úteis, mesmo assim, para melhorar a vida nas grandes cidades brasileiras. Novos aeroportos, pontes, viadutos e avenidas que ajudarão a tornar mais confortável o dia-a-dia das metrópoles.
Ainda que os fatos não justifiquem a ofensiva contra a Copa, o governo brasileiro se vê acuado na batalha midiática, dentro e fora das fronteiras. Não tanto pelos problemas concretos que podem ocorrer durante o campeonato, por erros e insuficiências, mas provavelmente porque os petistas subestimaram como seus adversários atuariam.
A comemoração de 2007 criou falsa aparência de unanimidade, que pode ter induzido lideranças da esquerda brasileira a acreditar em um cenário de paz e harmonia. Quando despontaram as primeiras contradições e crises, irrompeu onda de descontentamento estimulada a partir de setores da imprensa, nacional e internacionalmente, contra a qual o governo brasileiro se mostrou vulnerável.
Nunca antes na história do país, como tanto gosta de dizer o ex-presidente Lula, tantos dependeram tanto de tão poucos. Além de confiar que as obras garantam eficácia, segurança e conforto durante o Mundial, o humor nacional poderá depender dos onze jogadores brasileiros e seus reservas.
Talvez a beleza e os resultados do futebol brasileiro sejam a melhor vacina disponível, a essa altura do campeonato, para desfazer a narrativa catastrófica que foi deliberadamente construída para desgastar o processo político dirigido pelo PT desde o início do século.
FESTA COMEÇA COM SEGURANÇA MÁXIMA
Homens da Força Tática e da Tropa de Choque da Polícia Militar tomam, desde as primeiras horas da manhã, as imediações da Arena Corinthians, onde acontece, a partir das 15h30, a abertura da Copa do Mundo no Brasil; manifestantes tentaram protestar contra o Mundial na avenida Radial Leste, principal via de acesso ao estádio, na altura da estação Carrão do metrô, mas policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo para a dispersão; três pessoas foram detidas; duas jornalistas da rede americana CNN ficaram feridas por estilhaços; diante do estádio, centenas de torcedores já fazem a festa, com muito verde e amarelo nas roupas e acessórios; a partir das 17h, Brasil e Croácia fazem o jogo inaugural; Seleção com Neymar e Cia. vai estrear com o pé direito?
12 DE JUNHO DE 2014 ÀS 11:09
247 – A Arena Corinthians, palco de abertura da Copa do Mundo, amanheceu nesta quinta-feira com segurança reforçada nas imediações. Homens da Força Tática e da Tropa de Choque da Polícia Militar impedem ao longo da avenida Radial Leste, principal via de acesso ao estádio, manifestações contra o Mundial.
Nesta manhã, ao menos três já foram detidos em tentativas de protesto na avenida e a jornalista Barbara Arvanitidis, da rede americana CNN, ficou ferida por estilhaços na estação Carrão do metrô. Cerca de 150 homens da PM chegaram a atirar bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes que carregavam faixas e cartazes e queriam marchar pela Radial. Ao menos três pessoas foram detidas e levadas para a base da Polícia Militar.
Há ainda reforço policial nos principais pontos turísticos da cidade de São Paulo, que recebe cerca de 400 mil turistas por conta do jogo de abertura da Copa, sendo 70 mil estrangeiros. O quarteirão do hotel onde está hospedada a Seleção Brasileira está cercado com 100 homens das polícias militar, federal e do Exército para garantir a segurança da equipe e da comissão técnica.
Enquanto isso, à frente do Itaquerão, torcedores já estão em clima de festa. Vestidos principalmente de verde e amarelo, eles beijam a réplica da taça, carregam bandeiras do Brasil e compram camisetas dos vendedores ambulantes. A estação Itaquera do Metrô, próxima ao estádio, reúne torcedores de vários países desde ontem e vira cenário de fotografias por expor uma gigante Brazuca, a bola oficial da Copa.
Abaixo, reportagem da Agência Brasil sobre o confronto entre PMs e manifestantes:
Duas jornalistas da CNN são feridas em manifestação em São Paulo
Kelly Oliveira - Duas jornalistas da CNN foram feridas em confronto da Tropa de Choque da Polícia Miliar com um grupo de manifestantes que protestam contra a Copa do Mundo, em São Paulo.
Segundo a CNN, a polícia usou gás lacrimogêneo contra o grupo que tentava bloquear pistas próximas à Arena Corinthians, o Itaquerão. De acordo com a CNN, a repórter Shasta Darlington sofreu um pequeno corte no braço e a produtora Barbara Arvanitidis foi atingida no pulso.
Cerca de 200 pessoas participam do ato Sem Direitos Não Vai Ter Copa, organizado pelas redes sociais. Os policiais atiraram várias bombas de efeito moral para conter os manifestantes, que estão na Rua Apucarana, nas imediações da Estação Carrão do Metrô de São Paulo. Os policiais cercaram a estação e tentam evitar que o protesto chegue até a Avenida Radial Leste.
Defensores públicos da Comissão Especial Para a Copa do Mundo da Fifa 2014 acompanham o protesto com o objetivo de garantir o direito a manifestação. Segundo o defensor Jiancarlo Silkunas, esse direito não está sendo respeitado.
Ainda segundo a Defensoria Pública de São Paulo, a situação está mais crítica perto da estação do metrô, e a Polícia Militar já avisou que irá coibir qualquer manifestação que saia do Sindicato dos Metroviários.
A Defensoria Pública informou que, se for confirmado abuso da política nas manifestações, poderá entrar com ação individual na Justiça para pedir indenização do estado. A Defensoria Pública já entrou com uma ação civil pública em que pede à Justiça a determinação de uma série de medidas para coibir excessos por parte de policiais em manifestações públicas, como uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha. A ação também requer o pagamento de indenização por danos morais coletivos pela Fazenda do estado por causa de abusos em oito diferentes manifestações já ocorridas. Se concedida, a indenização será revertida ao Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos. A ação ainda não foi analisada pela Justiça.
*Colaborou Fernanda Cruz
BRASIL VENCEU AS ÚLTIMAS OITO ESTREIAS EM COPA
Em sete dessas partidas, no entanto, vitória foi por apenas um gol de diferença; Seleção não perde no primeiro jogo desde 1934; o último revés aconteceu na Itália, contra a Espanha, que fez 3 x 1 no Brasil
12 DE JUNHO DE 2014 ÀS 07:47
Portal da Copa - Se mantiver o retrospecto de suas últimas oito estreias da Copa do Mundo, o Brasil vencerá a Croácia nesta sexta-feira (12.06), na Arena Corinthians. Em todas essas ocasiões, os adversários da Seleção foram derrotados.
Caso a tendência se repita, porém, o placar será apertado: em sete desses jogos, as vitórias foram por um gol de diferença – inclusive contra a própria Croácia, em 2006, com gol de Kaká.
Em 19 participações em Copa do Mundo, o Brasil soma 15 vitórias, dois empates e duas derrotas em estreias.
O último revés aconteceu em 1934, na Itália. O carrasco foi a Espanha, que fez 3 x 1 na Seleção Brasileira - Leônidas da Silva marcou o gol de honra. Os dois únicos empates aconteceram em 1974 e em 1978: 0 x 0 com Iugoslávia e 1 x 1 com a Suécia, respectivamente.