RUY CASTRO IRONIZA VIRA-LATAS: "NÃO IA TER COPA"
Nada deu tão errado neste ano quanto o movimento #naovaitercopa; quem diz é o jornalista Ruy Castro, autor das biografias de Nelson Rodrigues e Garrincha; "Será, está sendo, uma Copa inesquecível - na vibração dos torcedores, nos sorrisos dos visitantes e na alegria das crianças", diz ele
28 DE JUNHO DE 2014 ÀS 09:10
247 - O jornalista Ruy Castro, autor das biografias de Nelson Rodrigues ("O Anjo Pornográfico") e Garrincha ("Estrela Solitária"), publicou uma coluna neste fim de semana, em que diz que nada deu tão errado em 2014 quanto o movimento #naovaitercopa.
Na coluna Não ia ter Copa, ele reconhece os erros da imprensa nacional. "Nós, da mídia, fomos essenciais para esse pessimismo, denunciando a Fifa como Estado invasor, o fracasso na preparação da infraestrutura exigida para receber os visitantes e a diferença entre o custo estimado dos estádios e o custo real - embora não me lembre de nenhuma reportagem dizendo para onde foi o dinheiro", diz ele. "O ´Imagina na Copa´, que começou como uma brincadeira, tornou-se a sentença para a nossa inabalável vocação para o subdesenvolvimento".
No entanto, diz ele, o pessimismo foi derrotado. "Magicamente, tudo mudou. Com ou sem Fifa, governo ou manifestantes, nada deu tão errado quanto parecia e tudo está dando mais certo do que deveria", afirma. "Será, está sendo, uma Copa inesquecível - na vibração dos torcedores, nos sorrisos dos visitantes e na alegria das crianças."
DILMA E A COPA: "A IMPRENSA NACIONAL ERROU BASTANTE"
Na convenção do PCdoB, que selou apoio de mais um partido à sua candidatura, a presidente Dilma Rousseff falou sobre os erros da mídia em relação à Copa; "A imprensa nacional também errou bastante, digo isso sem nenhum ânimo belicoso", afirmou; a presidente se referiu ainda ao texto de uma colunista da Folha, Mariliz Pereira Jorge, que diz ter se arrependido por embarcar na teoria do caos na Copa; "Vi uma manifestação na internet de uma mulher que dizia que era a Copa dos arrependidos, dos que não se prepararam para usufruir o que significa essa Copa, de não ter tomado providência para participar desse clima maravilhoso"; sobrou até para o ex-jogador Ronaldo; "Estamos dando uma goleada descomunal nos pessimistas, nos que tinham complexo de vira-latas e naqueles que se envergonharam desse país maravilhoso"
28 DE JUNHO DE 2014 ÀS 07:40
247 - A presidente Dilma Rousseff aproveitou a convenção nacional do PCdoB, que ocorreu ontem em Brasília, para fazer um desabafo em relação ao comportamento da imprensa brasileira na fase que antecedeu a Copa do Mundo de 2014.
"O Brasil está dando um show. Estamos mostrando para o mundo que tem um problema aqui e o problema é o seguinte: não é só a imprensa internacional que errou. A imprensa nacional também errou bastante, digo isso sem nenhum ânimo belicoso", disse ela.
Dilma também se referiu ao artigo de uma colunista da Folha, Mariliz Pereira Jorge, que disse ter se arrependido por embarcar na onda dos que previam caos na Copa (leia mais aqui). "Vi uma manifestação na internet de um grupo, uma mulher que dizia que era a Copa dos arrependidos, dos que não se prepararam para usufruir o que significa essa Copa, de não ter tirado férias, de não ter comprado ingresso, de não ter tomado providência para ir para às festas e participar desse clima maravilhoso", disse Dilma.
No discurso, também sobrou para o ex-jogador Ronaldo, que disse ter "vergonha" do Brasil, antes do início da Copa. "Estamos dando uma goleada descomunal nos pessimistas, nos que tinham complexo de vira-latas e naqueles que se envergonharam desse país maravilhoso. É neles que demos uma goleada e agradecemos ao povo brasileiro".
Ela, no entanto, não quis fazer prognósticos para a partida de hoje, entre Brasil e Chile. "Presidente não arrisca placar. Bate na madeira, onde tem madeira?".
CHEFÃO DA ABRIL: "IMPRENSA PECOU FEIO. É A VIDA"
Jornalista José Roberto Guzzo, membro do conselho editorial da Editora Abril e um dos responsáveis pela linha editorial de Veja, que previu estádios prontos apenas em 2038, reconhece a pisada de bola; "É bobagem tentar esconder ou inventar desculpas: muito melhor dizer logo de cara que a imprensa de alcance nacional pecou de novo, e pecou feio, ao prever durante meses seguidos que a Copa de 2014 ia ser um desastre sem limites. O Brasil, coitado, iria se envergonhar até o fim dos tempos com a exibição mundial da inépcia do governo", diz ele; "deu justamente o contrário", lamenta, antes de um conformado "é a vida"; de fato, a Abril perdeu de goleada ao apostar no mau humor
29 DE JUNHO DE 2014 ÀS 05:56
247 - A revista Veja deste fim de semana traz um mea culpa de um dos homens fortes da Editora Abril, o jornalista José Roberto Guzzo, que já dirigiu Veja e Exame, pertence ao conselho editorial da casa e é um dos responsáveis pelas políticas editoriais do grupo. O texto, chamado "Errando à luz do sul", confirma a tese da presidente Dilma Rousseff, que na sexta-feira, falou que a imprensa nacional errou bastante ao prever um desastre na Copa (leia maisaqui).
Sem rodeios, Guzzo vai direto ao ponto. "É bobagem tentar esconder ou inventar desculpas: muito melhor dizer logo de cara que a imprensa de alcance nacional pecou de novo, e pecou feito, ao prever durante meses seguidos que a Copa de 2014 ia ser um desastre sem limites. O Brasil, coitado, iria se envergonhar até o fim dos tempos com a exibição mundial da inépcia do governo para executar qualquer projeto desse porte, mesmo tendo sete anos para entregar o serviço", diz ele.
"Deu justamente o contrário. A Copa de 2014, até agora, foi acima de tudo o triunfo do futebol", diz ele. "Para efeitos práticos, além disso, tudo funcionou: os desatinos da organização não impediram o espetáculo, os 600 000 visitantes estrangeiros acharam o Brasil o máximo e 24 horas depois de encerrado o primeiro jogo ninguém mais se lembrava dos horrores anunciados durante os últimos meses. É a vida", lamenta.
Guzzo reconhece ainda o risco das apostas erradas, como fez Veja ao prever que os estádios só ficariam prontos em 2038. "A Copa de 2014 é uma boa oportunidade para repetir que a imprensa erra, sim - mas erra em público, à luz do sol, e se errar muito acabará morrendo por falta de leitores, ouvintes e telespectadores. Ao contrário do governo, que jamais reconhece a mínima falha em nada que faça, a imprensa não pode esconder suas responsabilidades".
Na última linha, porém, ele faz um alerta. "Esperemos, agora, a Olimpíada do Rio de Janeiro". Será que Veja vai liderar o movimento #naovaiterolimpiada?
POR QUAL MOTIVO NÃO GOSTAMOS DOS NOSSOS CRAQUES?
Blog do Fute resgata uma crônica essencial de Nelson Rodrigues, sobre o "complexo de vira-latas"; "Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo", disse o dramaturgo; relembre
28 DE JUNHO DE 2014 ÀS 08:30
Do Blog do Fute - Existe quem não goste da seleção. Ou pior, existe quem tenha amor pela canarinho mas odeie e negue Neymar, consegue não gostar do que aquele garoto mostra em campo. Muito do que acontece (em âmbitos futebolísticos e políticos) não é culpa dele.
Segue uma excepcional crônica de Nelson Rodrigues, feita antes de conquistarmos a primeira Taça do Mundo, que representa muito bem esse sentimento. Percebe-se que esse sentimento não é novo, mas sim antigo, que persiste no coração do torcedor, geração após geração, ano após ano.
Sobre Nelson Rodrigues, não recomendo apenas essa crônica, mas todo o acervo de textos esportivos escritos por ele.
Complexo de vira-latas
Nelson Rodrigues
Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: “O Brasil não vai nem se classificar!”. E, aqui, eu pergunto:
— Não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?
Eis a verdade, amigos: — desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que nos ficou dos 2 x 1. E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo passou em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros, Obdulio arrancou, de nós, o título. Eu disse “arrancou” como poderia dizer: “extraiu” de nós o título como se fosse um dente.
E hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvida: — é ainda a frustração de 50 que funciona. Gostaríamos talvez de acreditar na seleção. Mas o que nos trava é o seguinte: — o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma coisa: — se o Brasil vence na Suécia, se volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e 60 milhões de brasileiros iam acabar no hospício.
Mas vejamos: — o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades concretas? Eu poderia responder, simplesmente, “não”. Mas eis a verdade:
— eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: — sou de um patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo. Tenho visto joga dores de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros, que apanharam, aqui, do aspirante-enxertado do Flamengo. Pois bem: — não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se num Puskas. Eu contra-argumento com um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho.
A pura, a santa verdade é a seguinte: — qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma:
— temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “com plexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor: — “O que vem a ser isso?” Eu explico.
Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Por que, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo. Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: — e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: — porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos.
Eu vos digo: — o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo.
O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota.
Insisto: — para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão.
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EMOÇÃO ATÉ O ÚLTIMO SEGUNDO
Assim como na Copa, as batalhas políticas têm sido decididas só no fim do jogo – e com grandes surpresas
Em meio a uma Copa repleta de emoções, com grandes batalhas decididas nos instantes finais, os jogos da política não têm ficado para trás em emoção. Esta semana, por exemplo, começou com uma bola nas costas do PT e do PMDB. “Traída” pelo PTB, de Benito Gama e Roberto Jefferson, a chapa Dilma-Temer perdeu preciosos segundos do horário eleitoral gratuito, mas conseguiu reverter o placar, consolidando as alianças com partidos como Pros, PP, PSD e PR. Um 4 a 1 consistente, mas que só saiu depois de uma substituição polêmica: a do ministro dos Transportes, Cesar Borges, que era considerado um craque pelo Palácio do Planalto, mas perdeu a posição de titular para atender à gritaria da torcida “republicana”.
Em São Paulo, estado que sempre repercute nacionalmente, a partida também ganhou emoção, com dois jogadores encenando a peça “Quem fica com José Serra?”. Enquanto o governador defendia que Serra fosse vice de Aécio Neves, o presidenciável tucano o empurrava para a vaga no Senado do governador paulista. Alckmin pretendia escalar o ex-prefeito Gilberto Kassab, fechando assim uma ampla coalizão com PSB e PSD. Aécio, por sua vez, parecia não desejar um vice que teria excessiva fome de bola e estaria sempre afoito para entrar em campo. Atento a esses movimentos, o estrategista Kassab colocou no aquecimento o experiente Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, e depois, surpreendendo a todos, vestiu a camisa do time de Paulo Skaf, do PMDB.
No Rio, a confusão é ainda maior e a disputa virou uma pelada de rua, onde ninguém sabe mais quem joga em que time. Até recentemente, todos eram Dilma desde criancinha. Mas o governador Luiz Fernando Pezão fortaleceu o movimento “Aezão” ao fechar uma inusitada aliança com o veterano Cesar Maia. O petista Lindbergh Farias, que vinha sendo menosprezado pelo Planalto, surpreendeu a todos ao lançar a bola em profundidade para ninguém menos que o rei da pequena área – ele mesmo, Romário, que é ligado a Eduardo Campos. E o ex-governador Anthony Garotinho diagnosticou que Dilma poderia ficar isolada, enquanto o prefeito Eduardo Paes falou em “bacanal eleitoral”.
Pelo Brasil afora, caneladas, cotoveladas, mordidas e dribles sensacionais têm marcado a disputa política. No Distrito Federal, havia a expectativa de que o ex-governador José Roberto Arruda fosse julgado na última quarta-feira, num processo ligado à Operação Caixa de Pandora. Se fosse derrotado, levaria o segundo amarelo e ficaria de fora da final, mas seus advogados adiaram a decisão, livrando Arruda da posição de impedimento. No Amapá, o quase eterno José Sarney anunciou que estaria pendurando de vez as chuteiras. Mas ainda havia quem acreditasse que ele estaria apenas esperando o grito da torcida para, eventualmente, seguir em campo. Como no futebol, o jogo só acaba quando termina.