MÍDIA TROCA AS BOLAS: FESTA NA RUA, TENSÃO EM CAMPO
No Brasil real, ocorre neste momento exatamente o contrário do que foi projetado ao público pela mídia tradicional; festa e normalidade em torno da Copa, no lugar do caos previsto, e tensão e polêmica dentro da Seleção Brasileira, que ainda não decolou como apontava o ufanismo midiático; técnico Felipão e auxiliar Parreira praticam categoria do "jornalista amigo"; depois da global Fátima Bernardes, conceito abraçou especialistas Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho e outros quatro; camaradagem; pressão sobre atletas, revelada nos choros de Neymar e seus companheiros, agrava dramaticidade da competição; Mundial já passou da metade e pouco do que foi passado ao público pelo time dos grupos de comunicação se concretizou; gol contra
2 DE JULHO DE 2014 ÀS 14:58
247 – Como as torres gêmeas, dois edifícios de informações erguidos pela mídia tradicional e familiar estão desabando lado a lado aos olhos da multidão. Um espetáculo que impressiona, tanto mais porque o que cai com estrondo são, como em Nova York, os arranha-céus mais altos, fortes e representativos do que a mídia brasileira diz saber fazer melhor: cobrir política com imparcialidade, sociedade em profundidade e esportes no padrão mais alto existente em todo o planeta. Um verdadeiro show de bola!
O problema é que nada do que saiu lá foi confirmado no dia a dia do Brasil real. Contra a realidade de festas e normalidade que se vê nas ruas, a mídia assegurava que haveria o caos. Dentro do campo, onde os jornais tradicionais e, sem exceção, todas as redes de televisão prometiam só alegria para a torcida, o que se vê é exatamente um pedaço da crise que só deveria, segundo a mesma mídia, estar existindo apenas e especialmente nas ruas. Numa expressão, o jornalismo tradicional trocou as bolas.
A torre das redações que tratam sem trégua de temas, digamos, sérios, como política e sociedade, foi a primeira a ser atingida. O rombo foi tão pesado que já demandou, por parte do chefão da Editora Abril José Roberto Guzzo, um mea culpa dúbio. "É a vida". Quer dizer, pode acontecer de novo e não se verá, de novo, problemas nisso da parte dos grandes grupos de comunicação. Algo como se a sessão de Erramos, batizada pela Folha de S. Paulo, ganhasse um apêndice esperto: Erramos – e daí? É a vida. Mais comedido, por incrível que pareça, o loquaz Arnaldo Jabor deve ainda estar esperando o apito final da última partida para professar alguma auto-crítica sobre vaticínios catastrofistas, olhando a Copa de cima do muro na espera de que lado descer.
Dentro do campo, onde a esmagadora maioria da mídia esportiva vendeu a ilusão de um Mundial que tinha o Brasil como maior favorito, o que se vê é a competição mais equilibrada de todas as Copas, com times que chegam a mudar de esquemas táticos três vezes num jogo, como a Holanda do técnico Van Gaal, e, naturalmente, bem preparados fisicamente para vencer o calor que, segundo muitos por aqui, iria derrotá-los. Na cartilha do ufanismo seguida pela imprensa esportiva desde sempre, diminuir o adversário e promover a Seleção Brasileira sempre foi a tônica. Quando as coisas dão errado, basta achar culpados e mudar o discurso.
Nesta Copa, porém, o problema da mídia esportiva é mais complexo. O que poderia parecer inevitável para uma equipe de jogadores jovens e com quase 100% de inexperiência em mundiais de seleções, passou batido na observação dos chamados especialistas. A psicóloga Suzy Fleury, escalada por Felipão para monitorar a cabeça dos jogadores, antes da Copa não entrou na pauta de estúdio de nenhum dos programas esportivos que transbordam pela televisão aberta e por assinatura. Foi preciso um mar de lágrimas entre os craques, a começar por Neymar, para que se atentasse para o aspecto psicológico do time – enquanto, na ponta da mídia política, a psicologia das massas era dissecada por dezenas de profetas de imensas manifestações de protesto, que não ocorreram.
Num episódio que chamou atenção e, ao mesmo tempo, agravou a crise na mídia esportiva, na segunda-feira 30 um grupo de seis profissionais da mídia tradicional foi convidado para uma conversa com o técnico Luiz Felipe Scolari e o auxiliar Carlos Alberto Parreira. Praticando o conceito chamado de jornalistas amigos, eles criticaram a cobertura sobre a equipe e pediram ainda mais empenho e apoio. Estavam lá estrelas como Juca Kfouri e Paulo Vinícius Coelho. Quem não foi, como o colunista Renato Maurício Prado, disse que Felipão e Parreira haviam acabado de demonstrar que "estavam perdidos". Quem foi passou a sofrer pontas de desconfiança dos próprios colegas das inúmeras mesas redondas. Afinal, o privilégio de uma conversa especial passará a influir na opinião deles. É o que está no ar.
O conceito de jornalista amigo deixou mal, no início da Copa, a jornalista e apresentadora Fátima Bernardes. Depois de o ônibus da Seleção ter sido adesivado e chutado por alguns grevistas na saída do Rio de Janeiro para a Granja Comary, ela ouviu Felipão e Parreira. Abriu a entrevista frisando que nada ocorrera de anormal naquela primeira viagem do time, ao que o técnico virou-se para o colega e sorriu:
- Nossa, essa é amiga mesmo, ein?
http://www.brasil247.com/pt/247/247_na_copa/145447/M%C3%ADdia-troca-as-bolas-festa-na-rua-tens%C3%A3o-em-campo.htm
No Brasil real, ocorre neste momento exatamente o contrário do que foi projetado ao público pela mídia tradicional; festa e normalidade em torno da Copa, no lugar do caos previsto, e tensão e polêmica dentro da Seleção Brasileira, que ainda não decolou como apontava o ufanismo midiático; técnico Felipão e auxiliar Parreira praticam categoria do "jornalista amigo"; depois da global Fátima Bernardes, conceito abraçou especialistas Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho e outros quatro; camaradagem; pressão sobre atletas, revelada nos choros de Neymar e seus companheiros, agrava dramaticidade da competição; Mundial já passou da metade e pouco do que foi passado ao público pelo time dos grupos de comunicação se concretizou; gol contra
2 DE JULHO DE 2014 ÀS 14:58
247 – Como as torres gêmeas, dois edifícios de informações erguidos pela mídia tradicional e familiar estão desabando lado a lado aos olhos da multidão. Um espetáculo que impressiona, tanto mais porque o que cai com estrondo são, como em Nova York, os arranha-céus mais altos, fortes e representativos do que a mídia brasileira diz saber fazer melhor: cobrir política com imparcialidade, sociedade em profundidade e esportes no padrão mais alto existente em todo o planeta. Um verdadeiro show de bola!
O problema é que nada do que saiu lá foi confirmado no dia a dia do Brasil real. Contra a realidade de festas e normalidade que se vê nas ruas, a mídia assegurava que haveria o caos. Dentro do campo, onde os jornais tradicionais e, sem exceção, todas as redes de televisão prometiam só alegria para a torcida, o que se vê é exatamente um pedaço da crise que só deveria, segundo a mesma mídia, estar existindo apenas e especialmente nas ruas. Numa expressão, o jornalismo tradicional trocou as bolas.
A torre das redações que tratam sem trégua de temas, digamos, sérios, como política e sociedade, foi a primeira a ser atingida. O rombo foi tão pesado que já demandou, por parte do chefão da Editora Abril José Roberto Guzzo, um mea culpa dúbio. "É a vida". Quer dizer, pode acontecer de novo e não se verá, de novo, problemas nisso da parte dos grandes grupos de comunicação. Algo como se a sessão de Erramos, batizada pela Folha de S. Paulo, ganhasse um apêndice esperto: Erramos – e daí? É a vida. Mais comedido, por incrível que pareça, o loquaz Arnaldo Jabor deve ainda estar esperando o apito final da última partida para professar alguma auto-crítica sobre vaticínios catastrofistas, olhando a Copa de cima do muro na espera de que lado descer.
Dentro do campo, onde a esmagadora maioria da mídia esportiva vendeu a ilusão de um Mundial que tinha o Brasil como maior favorito, o que se vê é a competição mais equilibrada de todas as Copas, com times que chegam a mudar de esquemas táticos três vezes num jogo, como a Holanda do técnico Van Gaal, e, naturalmente, bem preparados fisicamente para vencer o calor que, segundo muitos por aqui, iria derrotá-los. Na cartilha do ufanismo seguida pela imprensa esportiva desde sempre, diminuir o adversário e promover a Seleção Brasileira sempre foi a tônica. Quando as coisas dão errado, basta achar culpados e mudar o discurso.
Nesta Copa, porém, o problema da mídia esportiva é mais complexo. O que poderia parecer inevitável para uma equipe de jogadores jovens e com quase 100% de inexperiência em mundiais de seleções, passou batido na observação dos chamados especialistas. A psicóloga Suzy Fleury, escalada por Felipão para monitorar a cabeça dos jogadores, antes da Copa não entrou na pauta de estúdio de nenhum dos programas esportivos que transbordam pela televisão aberta e por assinatura. Foi preciso um mar de lágrimas entre os craques, a começar por Neymar, para que se atentasse para o aspecto psicológico do time – enquanto, na ponta da mídia política, a psicologia das massas era dissecada por dezenas de profetas de imensas manifestações de protesto, que não ocorreram.
Num episódio que chamou atenção e, ao mesmo tempo, agravou a crise na mídia esportiva, na segunda-feira 30 um grupo de seis profissionais da mídia tradicional foi convidado para uma conversa com o técnico Luiz Felipe Scolari e o auxiliar Carlos Alberto Parreira. Praticando o conceito chamado de jornalistas amigos, eles criticaram a cobertura sobre a equipe e pediram ainda mais empenho e apoio. Estavam lá estrelas como Juca Kfouri e Paulo Vinícius Coelho. Quem não foi, como o colunista Renato Maurício Prado, disse que Felipão e Parreira haviam acabado de demonstrar que "estavam perdidos". Quem foi passou a sofrer pontas de desconfiança dos próprios colegas das inúmeras mesas redondas. Afinal, o privilégio de uma conversa especial passará a influir na opinião deles. É o que está no ar.
O conceito de jornalista amigo deixou mal, no início da Copa, a jornalista e apresentadora Fátima Bernardes. Depois de o ônibus da Seleção ter sido adesivado e chutado por alguns grevistas na saída do Rio de Janeiro para a Granja Comary, ela ouviu Felipão e Parreira. Abriu a entrevista frisando que nada ocorrera de anormal naquela primeira viagem do time, ao que o técnico virou-se para o colega e sorriu:
- Nossa, essa é amiga mesmo, ein?
BLATTER RELAXA COM COPA: "ONDE ESTÁ A RAIVA SOCIAL?"
Presidente da Fifa exalta qualidade da Copa de 2014 e o fim da "raiva social" do Brasil contra o Mundial que, segundo ele, não teve "nada de errado"; "Onde está essa raiva social? Onde estão as grandes manifestações? Cumprimento o povo brasileiro. Eles aceitaram essa Copa. Eles fizeram disso um sucesso", disse Joseph Blatter; cartola admitiu erros de jogadores e árbitros, mas ressaltou que nível do futebol aumentou e que não há mais seleções dominantes; "Há surpresas. Não há mais nações dominantes. Isso acabou. Todo mundo está no mesmo nível. O nível aumentou muito"; inclusive, aparentemente, o dele
2 DE JULHO DE 2014 ÀS 12:41
247 – A "raiva social" contra a Copa do Mundo desapareceu e a população brasileira "aceitou essa Copa", celebrou nesta quarta-feira 2 o presidente da Fifa, Joseph Blatter, em discurso durante seminário organizado pela Fifa e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro. O dirigente suíço elogiou a organizou do Mundial, que segundo ele, não deu "nada de errado", e comemorou a qualidade do futebol apresentado na competição.
"Onde está essa raiva social? Onde estão as grandes manifestações? Cumprimento ao povo brasileiro. Eles aceitaram essa Copa. Eles fizeram disso um sucesso. É um sucesso não só do País, mas também um sucesso do futebol", disse.
Joseph Blatter também rebateu previsões negativas de que as obras não estariam prontas e elogiou a organização da Copa. "Temos oito jogos para jogar, que seja o mesmo padrão e atmosfera. Toda a imprensa estrangeira falou. Nada foi errado, tudo está bom. Claro que não é perfeito. Os estádios não estariam prontos? Eles estão prontos. Os estádios são obras de artes", disse.
Blatter admitiu que o evento "não está perfeito", devido a "incidentes" ocorridos "porque jogadores, torcedores cometem erros. Árbitros também cometem erros", mas ressaltou o alto o nível técnico do evento. "Há surpresas. Não há mais nações dominantes. Isso acabou. Todo mundo está no mesmo nível. O nível aumentou muito", avaliou o presidente da Fifa.
O evento da FGV "Gestão Esportiva FGV FIFA Master Alumni" está na terceira edição e discute o papel e o legado dos megaeventos esportivos para o Brasil nos próximos anos. Compareceram representantes de grandes empresas, secretários de esporte, pesquisadores e acadêmicos envolvidos com o debate sobre a globalização do futebol, o esporte e a responsabilidade social, o impacto da Copa no futebol brasileiro e os desafios de se organizar um Mundial.
Nesta terça-feira, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, também comemorou o sucesso do evento durante entrevista ao programa Seleção SporTV. "Acho que, sem dúvida, é a melhor Copa do Mundo quando se fala em futebol. Mas o que estamos vendo nas ruas, nas cidades onde estão acontecendo os jogos é o que todo mundo esperava do Brasil. Esperamos algo singular, que vamos lembrar para sempre. Acho que o Brasil está no caminho para entregar tudo o que nós esperávamos", disse (leia mais).
PML ATRIBUI CHORO DA SELEÇÃO AO PESO ANTI-COPA
Segundo o colunista da Istoé Paulo Moreira Leite, time do Brasil chora de medo "do abismo entre os craques e o país, aberto pelo anti-Copa e pelo VTNC": "Pela primeira vez na história do conto de fadas do futebol, é proibido torcer a favor. É suspeito. Até hoje o anti-Copa não desistiu de ver a derrota de brasileiros em sua própria casa. Espera colher frutos em outubro. Quer o povo de cabeça baixa"
2 DE JULHO DE 2014 ÀS 07:31
247 – O colunista da Istoé Paulo Moreira Leite diz que nossa Seleção está com medo do “abismo entre os craques e o país, aberto pelo anti-Copa e pelo VTNC”. Segundo ele, “até hoje o anti Copa não desistiu de ver a derrota de brasileiros em sua própria casa. Espera colher frutos em outubro. Quer o povo de cabeça baixa”. Leia:
Choro dos craques vem do abismo entre os craques e o país, aberto pelo anti-Copa e pelo VTNC. É preciso fechá-lo
A conversa do dia é o choro dos meninos da seleção.
Nossa seleção chora de medo, um pavor profundo, um abismo, um buraco escuro na terra. Felipão, o verdadeiro, perdeu a energia e ficou desorientado. O capitão Tiago Silva sentiu medo de cobrar pênalti. Não conseguia nem olhar o chute dos outros. Chorou tanto que ninguém entendeu.
Julio Cesar também chorou e todo mundo entendeu.
Neymar seria o primeiro a bater o pênalti. Preferiu ficar por último. Vencemos, apesar de tudo. Mas não sabemos até onde vamos caminhar. Que importância tem isso?
Nada, quem sabe.
Hoje, tudo.
Eu tinha 5 anos quando o Brasil ganhou a primeira Copa. Estava no terraço – na época não se dizia varanda – do apartamento onde morava, ali na rua Cincinato Braga, no bairro paulistano do Paraíso. Lembro do barulho do alto falante de um caminhão que passava pela rua, no volume máximo, antes de desaparecer no paralalepípedo:
--A Copa do mundo é nossa
Com o brasileiro não há quem possa...
Eeeeeeta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom, no couro
Com o brasileiro não há quem possa...
Eeeeeeta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom, no couro
Nem meus pais nem meus irmãos conheciam a música da seleção. Quem cantava era Lola, a babá, uma quase adolescente levada para trabalhar em nossa casa por Alaíde, a irmã mais velha, mais durona. Lola, que era muito mais bonita, sambava e cantarolava no terraço – quando os patrões estavam longe – com sua voz suave, o sorriso sempre nos lábios, os cabelos grandes e crespos, de um jeito que só ficaria na moda dez anos depois.
Fui bicampeão quando estava de cama, em 1962.
Fui bicampeão quando estava de cama, em 1962.
Doente, ouvi a final contra a Checoslováquia no quarto de casal dos meus pais. Lembro da voz de Fiori Gigliotti narrando cada gol pelo rádio, um Emerson num estojo de couro marron. O locutor mobilizava o país inteiro numa vibração emocionada, em que os objetos inanimados daquele quarto – o criado mudo, o abajur, as roupas dentro do armário, os cabides, os ternos do meu pai, o sapato de couro e sola de borracha do meu pai, aquelas gravatas bonitas como nunca vi igual, as bolsas que minha mãe guardava em caixas de papelão, e até o revolver 32 que meu pai manteve guardou até descobrir que os filhos estavam brincando com ele – pareciam fazer parte da torcida.
Quando a partida foi chegando ao final, eu estava tão emocionado que tive um delírio, coisa de Jorge Luís Borges. Imaginei que do outro lado do mundo, numa pequena casa na Checoslováquia, um menino ouvia o mesmo jogo ao lado do pai. Mas, na partida transmitida de rádio para aquele país, os checos é que venciam os brasileiros, também por 3 a 1. Os gols haviam sido feitos na mesma sequencia, no mesmo minuto – e lá, como na minha casa, todos estavam em festa, participando da mesma alegria única, inocente, que só o futebol permite.
Esta era minha final imaginária. Eu pulava e abraçava meu pai em São Paulo, e, no mesmo minuto, na Checoslováquia, em movimentos sincronizados e simétricos, aquele menino e seu pai também se abraçavam. Eu dava socos no ar, gritava o nome dos nossos jogadores, o menino gritava o nome dos jogadores da seleção deles, com aqueles nomes esquisitos. Aos poucos, eu via que as ruas de São Paulo e da Checoslováquia estavam ficando cheias, eram duas multidões comemorando a Copa do Mundo, sem perceber que, no país do time adversário, também havia uma grande festa, que as pessoas que falavam outra língua e usavam roupas diferentes – além de tudo, os checos eram comunistas -- também eram campeãs mundiais, porque tudo não havia passado de uma magia, de um sonho, embalado pelos locutores de rádio, onde ninguém era derrotado, e só haviam vencedores e todos podiam ficar alegres.
Antes que alguém pergunte, cinco décadas depois, eu respondo.
Não. Não havia mensagem nessa fantasia. Nem utopia. Era pura maravilha, dos bons contos de fada, que são belos porque não querem nos levar a lugar algum, apenas a mundos que não existem, onde vigoram ideias que nunca pensamos, sonhos que nunca tivemos.
Um pouco como acontece com o futebol, vamos reconhecer.
Em 1970, repórter esportivo, cheguei a ouvir num vestiário do time que ia para o México, de onde voltou com o tri, um comentário pavoroso: “Por que o Médici não manda dar porrada nos jornalistas que só falam mal da seleção?”
A natureza humana é crítica, os motivos para queixas existem.
A natureza humana é crítica, os motivos para queixas existem.
Sempre houve torcida mau humorada e até contra. Até quando isso era arriscado porque vivíamos numa ditadura. Esse direito é inegociável e deve ser respeitado.
Meio século depois, estamos em julho de 2014.
Mas, pela primeira vez na história do conto de fadas do futebol, é proibido torcer a favor. É suspeito. Quem sabe, corrupto. Em alguns ambientes até provoca risadinhas de malícia.
Agora há uma raiva grande contra as alegrias do povo. Há o cinismo.
Isso arranca lágrimas dos meninos. No time de 2014, não há nenhum adulto. Ninguém com autoridade para gritar, levantar a cabeça e reagir.
É um problema real, do time, mas não é só.
No começo, era chique pensar que o concreto dos estádios não era concreto. Também valia questionar estatísticas sem estatísticas. Foi daí que veio o VTNC.
Depois, vieram os estrangeiros, que nunca tiveram dificuldade para se impor sobre a multidão de vira-latas que perambulam pelo país, buscando oportunidades para o bolso em várias formas de lixo humano.
Eles projetaram detalhadamente um apocalipse final, que deixasse a todos com culpa, a todos irmanados naquele que é o sentimento mais profundo e necessário a sua visão de mundo – a vergonha de ser brasileiro. É este sentimento que leva a oferecer tudo, até nossas moças, a estrangeiros, sem o menor respeito, sem perceber que mesmo as mais humildes podem nos dar lições preciosas, ingênuas só na aparência, como fez a babá Lola naquele terraço de 1958.
Não basta ganhar. É preciso merecer. Holandês pode cavar pênalti. Brasileiro não pode.
Vamos pressionar os juízes para que, na dúvida, fiquem contra o Brasil.
É por isso que os meninos choram. Craques têm o temperamento delicado, são verdadeiros animais de raça, fáceis de assustar, a tal ponto que alguns cavalos de raça correm com viseira. Têm a sensibilidade absoluta, como grandes artistas. Sentem-se abandonados pela falta de um sonho que ninguém sonhou, pela ausência de palavras que ninguém disse. O nome disso é angustia.
E é ela que ameaça nossos craques.
O país já venceu o primeiro combate, de fazer a Copa. Não foram só os aeroportos, os estádios, as melhorias que, mesmo entregues pela metade, ou três quartos, ou 100%, ou 0%.
Quem garantiu uma grande Copa foi o povo brasileiro, com sua hospitalidade, seu humor, seu amor pelo futebol. Imagine se fosse um campeonato de críquete.
A auto crítica universal de tantos medalhões confirma que a partir de 2013 se produziu uma Escola Base. Na versão original, ocorreu uma denúncia a partir de um engano, do serviço mal feito, do exibicionismo, do sensacionalismo.
Desta vez, criou-se um ambiente negativo contra um país inteiro, que não se baseava num erro nem em vários erros – mas no oportunismo político. No quanto pior, melhor.
Até hoje o anti Copa não desistiu de ver a derrota de brasileiros em sua própria casa. Espera colher frutos em outubro. Quer o povo de cabeça baixa.
Isso abriu um abismo entre a seleção e o país. Por essa razão os craques choram, não se equilibram, sentem medo com facilidade.
Essa distância precisa ser vencida. Quem diz é o craque Tostão:
“O que salva a seleção é o envolvimento emocional dos jogadores, empurrados pela torcida e pela pressão de jogar em casa.”
COM MUITO ORGULHO, COM MUITO AMOR
LELÊ TELES
Um dia, pelo menos um dia, uma minoria branca e endinheirada conseguiu fazer com que todos nós sentíssemos vergonha de sermos brasileiros
Um dia, uma mulher ousou enfrentar os militares, um bando de valentões covardes e torturadores que espancavam adolescentes e mulheres, e assassinavam compatriotas a sangue frio.
Ela lutou pela democracia contra os milicos sem voto, os que surrupiaram o poder
Uma minoria reacionária, viúvas dos milicos que tocaram o terror, a chama de terrorista.
Uma minoria reacionária, viúvas dos milicos que tocaram o terror, a chama de terrorista.
Um dia, essa mulher que foi presa e torturada pelos valentões covardes, saiu da prisão e lutou pelos seus ideais. Forte e determinada, decidiu, um dia, que uma mulher poderia, sim, ser presidenta da república e cuidar do destino da nação.
Ganhou no voto, numa democracia que ela lutou para implantar.
Até hoje, uma minoria abjeta, obtusa, delirante, paranoica e oligofrênica a acusa de tentar implantar uma ditadura comunista no Brasil.
Um dia, essa presidenta, ao enxergar a grandeza deste país e deste povo, procurando levantar a autoestima de sua gente, resolve mostrar ao país que finalmente, desde que chegaram aqui as caravelas, a nação começou a ter mobilidade social.
Uma minoria de ventríloquos midiotas e reacionários passou a papagaiar que trata-se de populismo assistencialista e que tem gente parindo filho só pra receber benefícios do estado.
Um dia, essa presidenta resolve enfrentar os factóides e as fofocas desinformativas da mídia familiar e bilionária, e mostra que milhões de brasileiros ascenderam economicamente, tiveram acesso ao ensino superior, a empregos, a melhores salários, a casa própria, automóvel...
Uma minoria de sabotadores do progresso, os que há séculos escravizam o povo negro, subjugam as mulheres, sonegam impostos, expatriam nossas riquezas e sentem vergonha do país que eles envergonham, disse que tudo isso é manipulação e que o governo é corrupto, sem dizer que não existe corrupto sem corruptor, sem dizer que eles, os ricos, são os corruptores incuráveis.
Um dia, essa presidenta acreditou que era chegada a hora dessa imensa maioria de brasileiros, que segundo pesquisas, é uma das mais felizes do mundo e uma das que mais acreditam no futuro, abrir os braços para receber o mundo, como quem abre as portas de casa para receber a visita de amigos.
Uma minoria de urubólogos previu o caos, se dizia envergonhada de ser brasileira, que éramos feios e sujos, incompetentes e corruptos, e tentou, essa minoria, sabotar a grande festa.
Mas deram com os burros n'água. Há festa e quem é de alegria está alegre, quem é de felicidade está feliz e o mundo está encantado com a nossa beleza sorridente.
Mas nesse primeiro dia, quando a presidenta abriu as portas da nação para que o mundo entrasse, uma minoria ridícula, branca e endinheirada, a plenos pulmões, xingou a chefe da nação diante de mais de 3 bilhões de pessoas mundo afora.
Uma minoria revoltada porque lhe tiraram das mãos as rédeas e os chicotes e só lhes resta como açoite a língua.
Uma dia, uma presidenta foi achincalhada por uma minoria branca e endinheirada, uma gente que não sentiu vergonha em xingar uma mulher na frente de uma multidão.
Um dia, pelo menos um dia, essa minoria conseguiu fazer com que todos nós sentíssemos vergonha de sermos brasileiros.
Mas no dia seguinte, já estávamos felizes e orgulhosos novamente, para o desespero de uma minoria midiota, branca e endinheirada; escravagista e machista, paranoica e oligofrênica, demofóbica e deslocada.