OLÉ DE DILMA NO SANTANDER REANIMA MILITÂNCIA DO PT
Tempestade perfeita na qual o banco Santander está mergulhado não tem hora para terminar; militantes do PT fazem movimento por fechamento de contas correntes; CUT aprova crítica da presidente Dilma Rousseff ao relatório do Santander que associou crescimento dela nas pesquisas ao agravamento da situação econômica; prefeito de Osasco, Jorge Lapas recebe apoio ao descredenciar banco de convênio municipal, por má prestação de serviços; ex-presidente Lula aumentou a pressão sobre banqueiro Emílio Botín; capo espanhol admitiu que responsável por relatório foi demitido porque "fez a coisa errada", deixando na mão colunistas conservadores como Merval Pereira, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino; eles se apressaram em justificar posição do banco, mas o próprio banco admitiu ter errado em prever o pior a seus clientes ricos; súditos mais realistas que o rei
29 DE JULHO DE 2014 ÀS 20:39
247 – Dos quadros mais graúdos à militância de base, o PT se agitou inteiro em torno da tempestade perfeita a que vai sendo submetido o banco Santander. A partir de uma orientação de investimentos dirigida, na sexta-feira 25, a clientes de alta renda, associando uma piora nas condições da economia ao crescimento da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas de opinião, a instituição espanhola não tem parado de sofrer. Enquanto isso, o PT experimenta uma saudável movimentação, capaz de tirar a ferrugem de suas engrenagens de características oposicionistas.
Numa expressão, o PT se revoltou contra a atitude do Santander. Um movimento pelo fechamento de contas correntes na instituição vai ganhando corpo entre os militantes do partido e seus simpatizantes. A CUT, no mesmo dia em que manifestou apoio formal à reeleição de Dilma, também destacou, pelo presidente nacional Vagner Freitas, sua concordância com a crítica ao relatório de investimentos. Citando nominalmente o banqueiro Botín, o ex-presidente também usou um palanque montado pela central sindical para, com sua linguagem típica, dizer ao "querido Botín" que o analista financeiro que, em seguida, teve sua demissão anunciada pelo banco, "não entende porra nenhuma de Brasil e de Dilma".
Na Prefeitura de Osasco, o titular Jorge Lapas teve uma reação rápida ao que considerou ser uma "tomada de posição partidária" do banco espanhol. Após receber seguidas reclamações de mau atendimento do Santander no recebimento de contas do município, Lapas cancelou um convênio mantido entre a Prefeitura e o banco.
Todas essas ações, mais uma intensa troca de informações nas redes sociais, contribuíram para dar novo fôlego à militância num momento decisivo da campanha eleitoral: o começo. Dirigentes do PT entendem que a polêmica com o banco ajudou a despertar a velha garra e poder de pressão da legenda, recolhida diante do crescimento dos ataques da oposição ao governo. Para esses líderes petistas, o caso não poderia ter acontecido em melhor hora, exatamente quando a luta começa a ficar mais renhida e decisiva.
Quem se apressou em defender o relatório do Santander como um marco da liberdade de expressão, a exemplo de colunistas do circuito Globo-Abril Merval Pereira, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino, se deu mal. Pela fala de seu próprio presidente mundial, o Santander admitiu que não é correto, do ponto de vista da orientação financeira, um analista cravar com tanta ênfase, como aconteceu, que a reeleição da presidente significaria, necessariamente, a entrada do Brasil numa crise econômica. Este tipo de previsão de futuro pós-eleitoral é simplesmente um palpite que não deveria ser repassado num canal de comunicação com a clientela. "A pessoa responsável foi demitida porque fez a coisa errada", disse um irritado Botín, no Rio de Janeiro.
PRIVATIZAÇÃO MAL DIGERIDA - Em meio a todo o burburinho provocado pelo relatório, a presença de Botín no Brasil apenas aumentou a dimensão de repercussão da gafe. Ele veio para abrir o 3º Encontro Internacional de Reitores, sob patrocínio de seu banco, mas precisou explicar muito mais a análise estabanada do que falar sobre o evento. Além disso, Botín amargou a ausência, em protesto, de Dilma e do vice-presidente Michel Temer para o ato.
O problema, para o Santander, é que a tempestade, porque é perfeita, ainda não acabou. Na quinta-feira 31, os líderes do banco no Brasil apresentarão ao mercado os resultados do primeiro semestre – e novamente sobre eles recairão perguntas e mais perguntas sobre o episódio que irritou Dilma. Além disso, internamente os executivos do banco já começam a contabilizar os efeitos do movimento de militantes do PT pelo fechamento de contas correntes.
Desde a privatização do Banespa, no ano 2000, durante o governo Fernando Henrique, o partido não tem boas lembranças da instituição. O Santander fez uma série de demissões entre os bancários e despertou, assim, também a oposição dos sindicalistas ligados ao partidos. Eles estão aproveitando o momento para causar o maior dano possível ao banco que entrou para a categoria dos adversários do governo.
DILMA AFIADA USA ESTILO ‘BATEU, LEVOU’ EM CAMPANHA
Presidente não deixa provocação sem resposta; em entrevistas longas, como a concedida ontem, falas ligeiras ou discursos, Dilma Rousseff mostra que deixou no passado o figurino paz e amor que prevaleceu na campanha de 2010; para se desvencilhar dos ataques da oposição, agora ela aposta na sinceridade sem meias palavras; "O pessimismo pré-Copa está agora na economia", definiu sobre projeções catastrofistas do mercado financeiro; "Bancos interferirem na política é inadmissível", estabeleceu após o imbróglio da recomendação partidária e oposicionista do Santander; "O que acontece em Israel é um massacre", crava em política internacional; programa de televisão vai usar e abusar de comparações entre gestões petista e tucana; agora é 'bateu, levou'
29 DE JULHO DE 2014 ÀS 11:39
247 – A presidente Dilma Rousseff deixou no cabide o figurino de candidata vestido em 2010, quando venceu a disputa usando um modelito do melhor estilo 'paz e amor'. Protegida pelo então presidente Lula, ela não precisou entrar em bolas divididas com o adversário José Serra e flanou sobre o eleitorado enquanto seu padrinho político se encarregava de comprar suas brigas.
Agora é diferente, já se viu na longa entrevista à mídia tradicional concedida ontem pela presidente. Diante de uma certa pressão nas perguntas, o que se viu foi uma Dilma segura, objetiva e nada disposta a aceitar calada as críticas feitas ao seu governo. Ela igualmente não se incomodou em deixar, com frases curtas e palavras fortes, suas posições sobre temas do momento.
Essa Dilma que parece à vontade no chamado estilo 'bateu, levou' surge nitidamente em suas posições a respeito dos ataques desferidos, diariamente, à gestão da política econômica:
- O pessimismo da fase pré-Copa passou para a política econômica, afirma a presidente, ganhando com a frase a manchete desta terça-feira 29 do jornal Folha de S. Paulo. A se considerar o tom das últimas notícias destacadas no mesmo espaço pela publicação da família Frias, Dilma conseguiu o melhor momento para o seu governo, ali, em semanas.
A presidente também não ficou nem por um minuto quieta diante da gafe cometida pelo banco espanhol Santander no Brasil, com o relatório para clientes de alta renda com a associação nominal da presidente ao fracasso econômico futuro.
- Bancos interferirem na política é inadmissível, rebateu uma Dilma, como se diz, curta e grossa.
A ênfase de Dilma vai sendo apurada, no tocante a efeitos eleitorais, em pesquisas feitas por sua equipe de campanha. O que se sabe, inicialmente, é que pouca gente vai estranhar uma candidata que avança pela linha do 'fala o que pensa', uma vez que Dilma nunca foi dada, no governo, a floreios sobre suas posições. Em outras palavras, a Dilma 'bate, levou' combina mais com o momento atual da presidente, cercada por ataques nas frentes econômica e política, do que a Dilma 'paz e amor'.
No governo, o momento da presidente tem levado, também, à tomada de posições claras e objetivas. Depois de se fortalecer com a reunião dos Brics, realizada no Brasil, e a aproximação com a Unasul, Dilma posicionou o Brasil na linha de frente à oposição à Israel, na faixa de Gaza:
- O que há da parte de Israel não é um genocídio, e sim um massacre, atalhou a presidente diante de uma das perguntas que lhe foram dirigidas ontem. Dilma não se intimidou com a postura crítica à decisão brasileira de censurar o governo de Benjamin Netanyahu pelo "uso desproporcional" da força na faixa de Gaza.
A Dilma afiada, com respostas na ponta da língua, sem medo de devolver perguntas difíceis com respostas desconcertantes pela clareza, é que está entrando em campo para a disputa pela reeleição. Osso duro.
LULA ENDURECE COM O SANTANDER E MERVAL NÃO ABRE MÃO DE SER FEITOR DOS RICOS
DAVIS SENA FILHO
Evidentemente que o banco estrangeiro está a fazer política e, não, como afirma o colunista Merval Pereira, que o governo e lideranças, a exemplo de Lula e Dilma, tentam impedir que ele expresse sua opinião sobre a situação econômica do País
O líder trabalhista Luiz Inácio Lula da Silva mandou o recado: "Botin, é o seguinte, querido: Eu tenho consciência de que não foi você que falou, mas essa moça tua que falou não entende porra nenhuma de Brasil e não entende nada de governo Dilma! Manter uma mulher dessa em um cargo de chefia? Pode mandar embora"!
A presidenta Dilma Rousseff afirmou: "A pessoa que escreveu a mensagem {do Santander} fez isso, sim, e isso é lamentável. Isso é inadmissível para qualquer candidato. Seja eu ou qualquer outro". A mandatária prometeu tomar providências, e a primeira ação, juntamente com o vice-presidente, Michel Temer, foi não participar do 3º Encontro Internacional de Reitores Universia, evento de educação milionário e "menina dos olhos" do presidente internacional do banco espanhol Santander, Emílio Botin.
Toda essa confusão se deve à intromissão indevida de uma executiva do Santander, que, equivocada e a se achar maior do que é, resolveu se envolver com o processo político e partidário brasileiro, um dos mais duros e competitivos do mundo, que atrai a atenção da comunidade internacional, porque se trata do destino do Brasil, a sétima maior economia do mundo, País que exerce inegável liderança na América Latina e no Caribe, um dos fundadores dos Brics, do Mercosul e da Unasul e possuidor de um mercado interno fortíssimo e diversificado, com uma população de 210 milhões de habitantes.
Além disso, o Brasil efetiva uma política externa independente e autônoma, de forma que interage com todos os países associados à ONU, o que não ocorre, por exemplo, com os Estados Unidos, país que tem uma cadeira cativa no Conselho de Segurança da organização multilateral. Contudo, empresários e banqueiros nacionais e internacionais são ousados e petulantes o bastante para considerar que são capazes de empreender ações políticas e ainda pensar que tais atitudes e condutas vão ficar sem respostas. Ledo engano.
Quando a executiva sem juízo e noção do Santander elaborou um texto de caráter mequetrefe e rastaquera cujo objetivo era "orientar" seus clientes bem de vida quanto aos riscos de empregar suas fortunas no mercado brasileiro por causa de uma vitória eleitoral de Dilma Rousseff e, portanto, do PT. Evidentemente que tal banco estrangeiro está a fazer política e, não, como afirma o colunista de O Globo, Merval Pereira, que o Governo e lideranças, a exemplo de Lula e de Dilma, impeçam que o Santander expresse sua opinião sobre a situação econômica do País.
Merval Pereira, na verdade, não fala por ele, pois age como um empregado fantoche dos irmãos Marinho, família bilionária de imprensa e de todas as mídias, que, sem sombra de dúvida, é a principal porta-voz dos interesses do sistema de capitais e uma das principais responsáveis por manter o status quo quase intacto no Brasil, País que foi o último a libertar os escravos e que ainda luta para diminuir as desigualdades sociais, que envergonham a grande maioria do povo brasileiro.
O feitor dos bilionários e do establishment ainda tem tempo para dar uma de "indignado" com as ações do Governo Trabalhista que, além de reagir às mentiras e à má-fé de uma executiva que quis ser mais realista do que o rei, ainda deixou claro que ia tomar providências. Sempre em defesa dos milionários, Merval concluiu suas palavras insensatas com esta pérola: "Numa democracia capitalista como a nossa, que ainda não é um capitalismo de Estado como o chinês — embora muitos dos que estão no governo sonhem com esse dia (hahaha! – este riso é por minha conta) —, acusar um banco ou uma financeira de terrorismo eleitoral, por fazerem uma ligação óbvia entre a reeleição da presidente Dilma e dificuldades na economia, é, isso sim, exercer uma pressão indevida sobre instituições privadas".
Merval Pereira não toma jeito. Seu desespero e sua mania de perseguição são tão incontroláveis que o escriba dos Marinho enxerga fantasmas em tudo. Seria cômico se não fosse hilário. Merval deveria largar seu emprego de contador de história para a direita e tentar pelo menos ser um comediante. Não é possível que um jornalista veterano, experiente e que tem intimidade com setores do poder, a exemplo de alguns juízes do STF, políticos ligados ao DEM e ao PSDB, além de empresários, não sabe ou não perceba por um pequeno momento que lideranças populares da grandeza política e social de Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e Lula sempre foram sistematicamente combatidos, bem como foram e são alvos de manipulações, mentiras e conspirações ardilosas que descambaram para o golpe militar e, consequentemente, redundaram em mortes e exílios de três desses atores proeminentes da história do Brasil.
Lula, o quarto homem público de formação trabalhista e o terceiro que conquistou eleitoralmente a Presidência da República é até hoje, mesmo fora do poder, o principal alvo de ataques da direita hidrofóbica deste País. A direita que luta, incessantemente, sem dar trégua e água, para que o Brasil não se torne totalmente independente e o povo brasileiro não conquiste sua emancipação definitiva como cidadão. O problema da direita no Brasil e no mundo é que ela é contra a democracia e, por seu turno, inimiga da cidadania. Este é o cerne do problema. O resto é perfumaria. Quem não compreende essa questão é porque não conhece a direita e muito menos a política. Ponto!
A democracia, quando consolidada, organiza a sociedade, que passa a tolerar e a administrar suas ambigüidades, contradições e antagonismos e, por sua vez, a leva a pensar, questionar e a cobrar soluções que permitam melhorar sua condição de vida. A democracia, por intermédio do acesso ao trabalho e ao estudo, bem como por meio da politização dos entes sociais, conscientiza a sociedade e, por conseguinte, a transforma em um corpo social e econômico capaz de dizer não àqueles que manipulam a verdade, deturpam a realidade e, evidentemente, aproveitam-se desse processo draconiano para obter benefícios e privilégios. Ponto!
Por isto e por causa disto pessoas como a executiva do Santander e seu presidente, Emílio Botin, e colunistas, a exemplo de Merval Pereira, tergiversam e manipulam os fatos e tentam modificar os acontecimentos como eles o são. A verdade é que essa gente luta para manter os privilégios de uma casta que controla os meios de produção e os financeiros. São os ricos que, no fundo de suas almas, odeiam a democracia e o desenvolvimento sócio-econômico das classes sociais populares.
Eles querem a primazia, pois se consideram de uma categoria social e humana superior ao restante da população. Merval Pereira e os empresários que são politicamente contra os mandatários trabalhistas sabem que a executiva do Santander fez política e teve a intenção de apagar o incêndio com gasolina. Todos sabem dessas intenções e compreendem, sobretudo, que vai ser muito difícil para a direita vencer as eleições de 5 de outubro.
O horário eleitoral está chegando e o PT e a candidata, Dilma Rousseff, com a participação de Lula, vão poder, enfim, responder às acusações, às denúncias, muitas delas vazias, e às inverdades sobre temas como infraestrutura, corrupção, inflação, juros, programas sociais, Olimpíadas e Copa do Mundo, saúde, educação, Petrobras, PT, "mensalão", que, para mim, é o mentirão, que encarcerou lideranças petistas sem provas enquanto outros escândalos perpetrados por outros partidos nem sequer chegam às barras da Justiça e às manchetes dos jornais e revistas.
O PT tem de endurecer com seus detratores, pois há 12 anos é alvo de uma campanha sem precedentes contra uma agremiação política, que não é revolucionária, mas apenas reformista. Uma pena. Enfim. Contudo, o Partido dos Trabalhadores, juntamente com o velho PTB de Getúlio, Jango e Brizola, é o partido mais importante da história deste País e o que mais sofreu, diuturnamente, ataques de uma imprensa direitista que se transformou em um partido poderoso em busca de eleger seus "correligionários" políticos e ideológicos. Sempre foi assim. Lula está correto quando questiona o Santander, enquanto Merval Pereira exerce o papel de capataz da Casa Grande. É isso aí.
BLOGUEIROS DE VEJA DEFENDEM SANTANDER: “INTERVENCIONISMO”
Blogueiro neocon, Reinaldo Azevedo diz que governo e PT "pedem guilhotina para funcionários" do banco e faz "enorme escarcéu" sobre análise da instituição financeira; Rodrigo Constantino diz que acusação do PT de "terrorismo eleitoral" é "ridícula" e afirma que o comunicado da instituição apenas constata, para seus clientes, "o óbvio ululante"; "Não há mais independência nas empresas", avalia
29 DE JULHO DE 2014 ÀS 18:20
247 – O blogueiro neocon de Veja Reinaldo Azevedo disse que o governo e o PT pediram "guilhotina" para funcionários do Santander após informe em que o banco alertava seus clientes de alta renda no Brasil sobre o risco econômico com a reeleição da presidente Dilma Rousseff. "Um banco tem o direito de orientar seus correntistas e investidores? Tem. Mas se fez um enorme escarcéu", criticou o colunista.
Em sua opinião, não há nada de errado na avaliação do Santander, nem se trata de uma opinião "surpreendente ou exótica". "Tudo não passa de uma bobajada infernal", escreve. Demitidos perderão o emprego por terem dito "uma verdade inconveniente", diz Reinaldo Azevedo. De acordo com ele, "nas democracias mundo afora, ninguém daria a menor bola para isso".
Já para Rodrigo Constantino, que escreveu sobre o assunto no fim de semana, o caso mostra como o Brasil "já se aproxima do bolivarianismo". O Menino Maluquinho de Veja afirma ser "ridícula" a acusação do PT de "terror eleitoral" por parte do Santander e afirma que o banco tem "obrigação moral de alertar seus clientes dos riscos que enxerga". "Não há mais independência nas empresas", critica. Constantino chama a gestão de Dilma de "intervencionista e incompetente".
CASA DE MÃE JOANA?
RIBAMAR FONSECA
Será que em nosso país não existe nenhuma legislação em que a atitude do banco estrangeiro possa ser enquadrada, de modo a respaldar uma sanção legal?
Afora atitudes isoladas de desagrado, como a do vice-presidente Michel Temer, que cancelou sua presença num evento promovido pelo banco no Rio de Janeiro, até agora o governo brasileiro não adotou nenhuma sanção contra o Santander, o banco espanhol que tentou interferir nas eleições presidenciais deste ano no Brasil, advertindo os seus clientes endinheirados, através de carta, sobre o perigo que a possível reeleição da presidenta Dilma Rousseff representará para a economia. "Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas – diz textualmente a carta do Santander – um cenário de reversão pode surgir, o câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice Bovespa cairia". Ou seja, o caos econômico.
A presidenta Dilma Rousseff limitou-se, durante uma entrevista, a classificar a carta do banco espanhol de "inadmissível" e "inaceitável", sem acenar com nenhuma sanção pela interferência indébita. Será que em nosso país não existe nenhuma legislação em que a atitude do banco estrangeiro possa ser enquadrada, de modo a respaldar uma sanção legal? Se não houver, o Palácio do Planalto precisa urgentemente providenciar, junto ao Congresso Nacional, a votação de uma lei capaz de conter ações político-partidárias de instituições estrangeiras, do contrário o Brasil se transformará numa casa de mãe Joana, onde todo mundo se sente no direito de meter o bedelho.
A propósito, não deixa de ser surpreendente a posição do candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, que apoiou a atitude do Santander. Essa posição já é um prenúncio do que poderá acontecer num eventual governo tucano: os banqueiros, incluindo os estrangeiros, voltarão a mandar e desmandar em nosso país, como aconteceu no governo de FHC. Por sua vez, o colunista Merval Melo, que tem se revelado um oposicionista fanático, também aprovou a atitude do Santander. Na sua opinião, é o governo que não pode "interferir numa empresa privada, impedindo que ela expresse sua opinião sobre a situação econômica do país". Ocorre que não foi uma opinião sobre a economia, mas sobre a eleição, com evidente oposição à Presidenta. Nem houve nenhuma interferência do governo no banco.
Agora, imaginem se um banco brasileiro, com agência em Madri, tivesse a ousadia de opinar sobre as eleições espanholas, revelando sua preferência por um dos candidatos? Duvido que os espanhóis, incluindo os jornalistas, aprovassem semelhante interferência nos assuntos internos do seu país. No Brasil, no entanto, já estamos nos habituando a ver maus brasileiros, como Merval, a atuar contra o próprio país, como aconteceu no período da Copa do Mundo de futebol, quando torciam pelo fracasso do evento. Acho até que festejaram a goleada alemã sobre a nossa seleção, soltando foguetes e comendo churrasquinho, enquanto os verdadeiros brasileiros sofriam com a humilhante derrota.
O presidente do Santander, Emilio Botín, diante da repercussão negativa da carta do seu banco aos brasileiros de alta renda, pediu desculpas ao governo, responsabilizando um analista pelo fato e prometendo demiti-lo. Quem acredita nisso? A ser verdade o que disse o seu presidente o banco revela falta de organização, pois permite a um funcionário sem graduação tomar uma atitude dessas, em nome da instituição e de tamanha repercussão dentro e fora do país, sem o conhecimento dos seus chefes. O estrago, no entanto, já foi feito, com prejuízos para o próprio banco: o prefeito de Osasco, São Paulo, suspendeu o convênio que credenciava o banco espanhol a recolher os tributos e taxas do município, no montante de R$ 1,9 bilhão anual.
De qualquer modo, olhando pelo lado positivo, a atitude do Santander serviu para desnudar a sua verdadeira cara em relação ao governo da presidenta Dilma Rousseff (até então o presidente do banco espanhol posava de amigo em suas visitas ao Planalto) e, também, a posição do candidato tucano Aécio Neves em relação aos banqueiros. Parece não haver mais dúvidas de que, no caso de um eventual governo tucano, os banqueiros voltarão a ser a classe mais privilegiada deste país, onde somente a partir da gestão de Lula os pobres começaram a receber atenção. E graças a esse episódio do Santander não ficou difícil perceber que todos os recursos estão sendo utilizados pelos adversários da Presidenta para impedir a sua permanência no Planalto.