REUTERS: "VEXAME DO BRASIL NA COPA NÃO MUDA ELEIÇÃO"
Especialistas ouvidos pela agência de notícias Reuters isolam influência do vexame da Seleção Brasileira na Copa do Mundo; eles afirmam que mau humor momentâneo pode até reduzir avaliação do governo agora, mas derrota da Seleção não terá qualquer efeito na eleição a médio prazo; "Se Dilma perder a eleição em outubro, será certamente por causa da economia, e não da Copa do Mundo", disse consultor de risco político João Augusto Castro Neves; três principais presidenciáveis "vestiram" a camisa verde-amarela, o que neutraliza efeitos negativos da derrota da Seleção sobre Dilma em benefício de Aécio e Campos
9 DE JULHO DE 2014 ÀS 21:14
Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - A goleada histórica sofrida pelo Brasil contra a Alemanha chocou os brasileiros e jogou um balde de água fria numa nação que estava começando a se sentir bem por sediar a Copa do Mundo, mas a derrota humilhante na semifinal não deve mudar o rumo da eleição presidencial de outubro.
Antes do massacre por 7 x 1 na terça-feira, a presidente Dilma Rousseff viu os índices de aprovação de seu governo subirem, com brasileiros animados com o avanço da seleção brasileira no torneio e, principalmente, porque os temores de fracasso do evento do ponto de vista organizacional deram lugar a elogios ao país no exterior.
A maior derrota do futebol do Brasil jogando em casa pôs a população em depressão, tirando de Dilma o que poderia ser um ponto favorável na campanha presidencial em que tenta reeleição.
Se a seleção brasileira conquistasse o hexacampeonato, Dilma se apropriaria da vitória no futebol durante a campanha.
Em vez disso, ela está de volta à realidade de inflação elevada e com a economia enfrentando o quarto ano seguido de baixo crescimento e descontentamento generalizado sobre os serviços públicos e os gastos para realização do Mundial, que resultaram em protestos de rua em junho e julho do ano passado.
"Acreditamos que a nossa visão --de que a oposição tem chance de vencer-- foi reforçada pelo que pode legitimamente ser considerado, do ponto de vista brasileiro, como uma derrota esportiva trágica", disse o economista Tony Volpon, da Nomura Securities, em nota a clientes.
Mas, ainda que alguns analistas do mercado financeiro avaliem que a derrota para a Alemanha prejudique a presidente até outubro, cientistas políticos entendem que as vitórias ou derrotas esportivas têm efeito curto nas campanhas eleitorais, mesmo uma derrota histórica como a de terça-feira.
"(A derrota para a Alemanha) não tem nada a ver com a organização da Copa. O que podia cair no colo do governo é a organização da Copa, mas nesse sentido tudo ocorreu dentro do razoável... Até onde compete à organização, a Copa está ocorrendo satisfatoriamente e acho que é isso que o atual governo vai apresentar depois", afirmou à Reuters o professor de Ciência Política da FGV-SP, Cláudio Couto.
"Mesmo que haja um mau humor momentâneo, isso não afeta a eleição. Se fizermos uma pesquisa esta semana, é capaz de a pesquisa revelar uma piora na avaliação do governo, uma queda da Dilma porque as pessoas estão de mau humor. Se fizer daqui a um mês, duvido que isso (a eliminação do Brasil) tenha algum efeito", acrescentou Couto.
Há fatores mais importantes em jogo nesta eleição no Brasil do que a Copa e o principal deles é o custo crescente de uma desaceleração da economia, avalia o consultor João Augusto Castro Neves, da consultoria de risco político Eurasia, em Washington. "Qualquer impacto da derrota terá um efeito marginal sobre as eleições daqui a quase três meses", disse ele, no mesmo tom do professor da FGV-SP.
"Se Dilma perder a eleição em outubro, será certamente por causa da economia, e não da Copa do Mundo", disse Castro Neves em entrevista por telefone.
As pesquisas mostram que Dilma continua favorita para vencer as eleições de outubro, embora seus adversários venham reduzindo a distância nos últimos meses. Mesmo antes da derrota humilhante de terça-feira, as pesquisas mostravam que a eleição provavelmente será decidida no segundo turno entre Dilma e o tucano Aécio Neves, visto com bons olhos no mercado financeiro.
ECONOMIA É CRUCIAL PARA ELEIÇÃO, E NÃO FUTEBOL
O histórico recente mostra pouca correlação entre os resultados de esportes e eleições no Brasil.
Em 2002, a seleção brasileira ganhou a Copa do Mundo pela quinta vez, mas o PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso perdeu o poder. Quatro anos depois, o Brasil perdeu o Mundial, mas o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi reeleito.
Para Dilma, o maior risco de sediar a Copa nunca foi o desempenho da seleção brasileira dentro de campo, mas a capacidade do país de organizar um torneio de grande magnitude com sucesso.
Apesar dos atrasos na construção dos estádios e de falhas na infraestrutura, o torneio que recebeu seleções de 32 países tem transcorrido muito melhor do que o esperado e o futebol empolgante visto nos gramados fez com que este Mundial já seja considerado um dos melhores de todos os tempos.
A Copa levantou o humor do Brasil e melhorou as expectativas econômicas dos brasileiros em julho, dando uma impulso à popularidade de Dilma entre os eleitores, de acordo com uma pesquisa da semana passada.
O estado de espírito azedou após a goleada sofrida pela seleção e pode acabar machucando os números da presidente nas pesquisas no curto prazo, embora seja pouco provável que altere o panorama eleitoral.
O consultor Castro Neves, da Eurasia, mantém sua estimativa de chance de 70 por cento de reeleição de Dilma em outubro, mesmo após o vexame da seleção brasileira.
Torcedores no estádio Mineirão na terça-feira vaiaram a equipe brasileira e alguns xingaram Dilma, o que levou alguns a se preocuparem com a chance de a depressão nacional reacender as manifestações nas ruas.
Mas a ameaça antes da Copa de que o torneio pudesse ser interrompido por protestos nunca se materializou, os pequenos atos contra o evento fracassaram na abertura do Mundial e as tentativas esporádicas de manifestações perderam fôlego à medida que os jogos aconteciam.
Os brasileiros não foram às ruas após a derrota de terça-feira, o que torna improvável que protestos contra o governo voltem com força, agora que a Copa está terminando.
(Reportagem adicional de Alberto Alerigi Jr.)
ALCKMIN: "POVO SEPARA BEM ELEIÇÃO DO FUTEBOL"
"Claro que está todo mundo triste, mas o povo separa muito bem a questão eleitoral da questão futebolística. Quem quer misturar as coisas comete um grande equívoco", disse o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), sobre o impacto da derrota de 7 a 1 para a Alemanha nas eleições; segundo ele, 2002 é exemplo disso: "Se você for verificar, a última Copa que o Brasil ganhou foi em 2002, era o governo do presidente Fernando Henrique e o PSDB perdeu a eleição. Então não tem essa relação"
10 DE JULHO DE 2014 ÀS 05:40
247 - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), descartou a teoria de que a derrota da seleção brasileira para a Alemanha por 7 a 1 na semifinal da Copa do Mundo tenha impacto na eleição presidencial deste ano.
"Não tem nada a ver com eleição. Claro que está todo mundo triste, mas o povo separa muito bem a questão eleitoral da questão futebolística. Há um momento de ressaca e tristeza, mas a eleição é só daqui a três meses", disse. "Quem quer misturar as coisas comete um grande equívoco", acrescentou.
Ele usou o episódio de 2002 para defender sua tese: "Se você for verificar, a última Copa que o Brasil ganhou foi em 2002, era o [governo do presidente] Fernando Henrique e [o PSDB] perdeu a eleição. Então não tem essa relação. Mas todos estamos tristes, porque esperávamos um resultado melhor", acrescentou.
DOLORIDO É O TAMANHO DO PLACAR
RIBAMAR FONSECA
O que é mais lamentável em tudo isso é que a esta altura os profetas do caos, os maus brasileiros que torceram pelo fracasso da Copa, devem estar festejando a derrota da nossa seleção
O sonho do hexa acabou. E de maneira humilhante. A Alemanha massacrou o Brasil com uma goleada de 7 x 1, a maior da história do nosso futebol. Foi fácil demais: em apenas 10 minutos a seleção alemã marcou cinco gols, já no primeiro tempo, diante de uma atônita e incrédula torcida. Os jogadores brasileiros, estranhamente apáticos e perdidos dentro do campo, praticamente se limitaram a assistir o jogo dos alemães, por pouco não comemorando os sete gols. Um vexame que abateu 200 milhões de brasileiros. Afinal, o que aconteceu?
Na verdade, não há explicação nem justificativa. A derrota é natural e faz parte do jogo, mas não com um placar tão elástico como esse, sobretudo para uma seleção pentacampeã como a brasileira. O dolorido, portanto, não é a derrota, mas o tamanho da goleada. Uma humilhação tão grande que levou até alguns jogadores alemães a pedir desculpas aos torcedores brasileiros, muito mais um deboche do que um gesto de humildade. Foi o pior resultado obtido pela seleção canarinho em 100 anos, o que, infelizmente, deixará marcados os seus integrantes e o treinador pelo resto da sua vida profissional.
Alguns comentaristas, ainda tentando entender o que efetivamente aconteceu, atribuíram a goleada a uma desastrosa escalação da equipe, alterada devido à lesão de Neymar e à suspensão de Thiago Silva. O técnico Felipão, consciente da sua responsabilidade na convocação e escalação dos jogadores, assumiu, naturalmente, a culpa pelo vexame. A sua culpa maior, no entanto, está relacionada ao fato de não ter corrigido o que parece ser o eterno defeito da nossa seleção em todos os tempos: a falta de marcação e o joguinho de bola para trás e para os lados. Os alemães jogaram à vontade, sem ser incomodados, com tranquilidade suficiente até para escolher o canto onde fizeram os gols.
É justo que se reconheça, também, a responsabilidade do atacante colombiano Zúñiga, que tirou da Copa o principal jogador brasileiro, Neymar, com uma entrada criminosa que fraturou uma de suas vértebras, sob as vistas complacentes do juiz espanhol, a omissão da CBF e a aprovação silenciosa da Fifa, que não puniu o agressor, ao contrário do que fez com o craque uruguaio Luis Suárez, afastado da competição por ter mordido um atleta italiano. Sem Neymar e Thiago Silva, este vítima da péssima arbitragem dos juízes inglês e espanhol, a seleção canarinha não foi a mesma que venceu os seus adversários nas primeiras fases do certame. Nem mesmo o golzinho de honra no final do segundo tempo conseguiu apagar a irreconhecível atuação dos jogadores brasileiros, que deixaram o país perplexo.
É forçoso que se reconheça, também, o nível do futebol alemão. Evidente que a excelente equipe de Klose tem méritos, mas não tanto para impor semelhante humilhação ao futebol brasileiro. Prova disso é que eles sofreram muito para derrotar adversários muito mais fracos e por um placar mínimo. Ninguém, portanto, nem o mais otimista dos alemães, poderia esperar que a seleção pentacampeã do mundo pudesse passar por tamanho vexame, com o pior resultado da sua história. E agora? O que a torcida pode esperar dessa seleção na disputa pelo terceiro lugar na Copa? Para atenuar a humilhação os brasileiros precisam vencer o adversário neste sábado, em Brasília. De outro modo, será muito difícil esquecer o 8 de julho de 2014.
O que é mais lamentável em tudo isso é que a esta altura os profetas do caos, os maus brasileiros que torceram pelo fracasso da Copa, devem estar festejando a derrota da nossa seleção, convencidos de que o fim da euforia da torcida verde-amarela produzirá reflexo negativo na candidatura da presidenta Dilma Rousseff à reeleição. Como eles erraram fragorosamente na previsão de desastre na realização da competição esportiva, um sucesso reconhecido por gregos e troianos, torcem agora para que os 7 x 1 desabem sobre o Palácio do Planalto. Entre os que afirmam que o sonho acabou e que o brasileiro voltará agora à realidade do pesadelo, estão o senador Agripino Maia e o misto de cineasta e articulista Arnaldo Jabor. Para ambos, o desastre tem de acontecer a partir de agora. Como Cassandras, porém, não é muito difícil concluir que os dois são tragicômicos.
ELIANE: "PADRÃO FELIPÃO" AGORA PESA PARA DILMA
'Já que foi a própria Dilma quem fez o casamento entre o seu governo e o "padrão Felipão", estão unidos na alegria e na tristeza. Já que ela certamente tiraria louros político-eleitorais se a taça fosse nossa, a premissa contrária é igualmente verdadeira: tem agora de dividir os prejuízos da derrota vexaminosa', diz a colunista Eliane Cantanhêde sobre a vitória da Alemanha por 7 a 1 contra o Brasil
10 DE JULHO DE 2014 ÀS 05:49
247 – A colunista Eliane Cantanhêde relembra série de declarações da presidente Dilma Rousseff que comparou o padrão do seu governo ao de Felipão, técnico da seleção brasileira. Segundo ela, se Dilma ganhou quatro pontos com a Copa, tende a estacionar agora.
‘Já que foi a própria Dilma quem fez o casamento entre o seu governo e o "padrão Felipão", estão unidos na alegria e na tristeza. Já que ela certamente tiraria louros político-eleitorais se a taça fosse nossa, a premissa contrária é igualmente verdadeira: tem agora de dividir os prejuízos da derrota vexaminosa’, afirma. Ela sugere que a presidente possa se ver obrigada a entregar a taça para o capitão argentino Messi em pleno Maracanã.
“Com crescimento medíocre e indicadores destrambelhados, é óbvio que a oposição, em algum momento, mais ou menos subliminarmente, vai colar a tática, a estratégia e a preparação do governo ao "padrão Felipão". Sobretudo na economia”, afirma (leia mais).
MERVAL: TRAGÉDIA DO BRASIL VOLTA-SE CONTRA DILMA
Colunista Merval Pereira diz que presidente Dilma Rousseff nada teria a ver com o vexame protagonizado pela Seleção brasileira na tarde de ontem no Mineirão se não tivesse tentado “afoitamente se aproveitar da Copa” em benefício de sua candidatura; “tendo feito isso de caso pensado, a tragédia de ontem volta-se também contra ela”
9 DE JULHO DE 2014 ÀS 05:13
247 – O colunista do Globo Merval Pereira lista supostos erros cometidos pela presidente Dilma Rousseff que, segundo ele, hoje recaem sobre ela após a derrota do Brasil para a Alemanha.
Segundo ele, a equipe de marketing que assessora Dilma errou na dose ao imaginar que a campanha da Seleção poderia reverter seu benefício.
Ele ressalta que a presidente nada teria a ver com o vexame protagonizado pela Seleção brasileira na tarde de ontem no Mineirão se não tivesse tentado “afoitamente se aproveitar da Copa” em benefício de sua candidatura. “Tendo feito isso de caso pensado, a tragédia de ontem volta-se também contra ela”.
A lógica de Merval funciona assim. Se desse certo, o mérito não seria dela. Dando errado, a culpa é toda da presidente.
BRASIL GOLEIA MÍDIA E REAFIRMA: “SIM, EXISTE BRASIL; CADA VEZ MAIS BRASIL”
WASHINGTON ARAÚJO
12 análises, 12 constatações, 12 motivos para assegurar que a Copa do Brasil é sucesso absoluto a contagiar o país e o mundo com sua beleza, sua organização, seus muitos feitos futebolísticos
Não preciso esperar para ouvir o apito determinar o término do jogo final no Maracanã, no próximo domingo, 13 de julho, para lhes apresentar o resultado de minhas reflexões, algumas sofridas, outras escritas com a tinta do mais festivo júbilo. Foram 12 análises, 12 constatações, 12 motivos para assegurar que a Copa do Brasil é sucesso absoluto a contagiar o país e o mundo com sua beleza, sua organização, seus muitos feitos futebolísticos. Nessas percepções tenho diante de mim a formidável tarefa de passar a limpo este meu país.
1. Que doeu, doeu. Com essa derrota para a Alemanha, nem eu, nem os brasileiros e menos ainda os alemães, esperavam. Mas que a Copa do Brasil é um sucesso inexcedível, ah, isso lá é verdade! Em meu último artigo no Brasil 247 assinalava a fragilidade física e emocional de nossos atletas se comparados à imagem robusta e um tanto férrea dos seus muitos adversários nesta Copa. E sentia um misto de orgulho com compaixão por vê-los em campo representando o país que é, por todos os motivos, o lar espiritual do futebol mundial. Mas, como milhões de brasileiros, também não sou de deixar companheiros caídos na estrada. Não, vou lá, tento recompô-los, ofereço o braço e o abraço e tento lhes ensinar a caminhar, para que possamos seguir juntos.
2. A vida é uma estrada longa, sinuosa, cheia de altos e baixos, terreno propício a solavancos. Do mesmo jeito que o futebol tem um pouco de tudo, dos sorrisos e emoções de júbilo ante o gol bem marcado ao oceano de lágrimas amargas de acachapante derrota. Sobrevivemos à Croácia, México, Chile e Colômbia, e fomos superados pela Alemanha. Mas não uma "superada" de 2 x 1, ou de 1 x 0, depois da prorrogação e nos pênaltis. Foram imensos, longos e repetitivos 7 x 1. Um jogo decisivo como este merece reflexões decisivas sobre o futebol brasileiro, sobre o Brasil e o sentimento de pertencer ao país.
3. O Brasil começou a perder da Alemanha quando Thiago Silva, ao receber o segundo cartão amarelo no jogo contra a Colômbia, ficou proibido de jogar contra os alemães. Foi o primeiro gol, involuntário, é verdade, da Alemanha sobre o Brasil. Mas o que selou o destino da Seleção brasileira foi a agressão desleal e injustificada do Zuñiga sobre a coluna do Neymar, destroçando-lhe sua terceira vértebra. O Brasil, no jogo do Mineirão, atuou sem seu artilheiro, seu jogador maior e mais carismático (Neymar) e também sem seu Capitão, autor de defesas sempre bem sucedidas e até aguerridas (Thiago Silva).
4. O Brasil confiou demasiadamente no tirocínio e no excesso de autoconfiança de seu técnico Felipe Scolari. Enquanto a grande imprensa lutava com paus e pedras contra a Copa no Brasil, atirava noite e dia contra sua organização e apostava dobrado que nem os estádios nem os aeroportos e obras de mobilidade urbana estariam concluídos até o início do Mundial, a Seleção foi deixada meio de lado, longe do escrutínio da população, seja a favor, seja contra. Felipão deixou-se dominar por seu lado truculento, respostas ríspidas e aquele intragável ar de quem tudo sabe, do dono absoluto das verdades futebolíticas. O que lhe faltou em humildade sobrou em carisma e simpatia. E ninguém avança em uma Copa do Mundo com tais predicados.
5. O Brasil precisava aprender com derrota desse porte a reconstruir, melhor, a reinventar o futebol brasileiro. E isso passa pela reforma da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), dotando-lhe de mais democracia e mais transparência, além de instrumentos assertivos de fiscalização lance a lance, negociação a negociação, investimento a investimento. A verdade é que a CBF se transformou numa grande empresa, com padrão multinacional, onde as questões esportivas foram relegadas a um secundário terceiro plano de atenção. Para a CBF o que vale mesmo são seus contratos milionários com a Nike, a TV Globo e outras empresas que se beneficiam do marketing esportivo por associação com o único futebol pentacampeão do mundo.
6. O Brasil investiu alto na formação de um selecionado extremamente jovem, atletas promissores, mas ainda não craques definidos. Faltou-lhes maturidade emocional e experiência profissional de médio e longo cursos. A Seleção brasileira parecia ser a melhor representante de um futebol mirim, algo entre os "sub-20" e os "adultos imberbes". Faltava entrosamento na equipe, mas havia alto nível de amizade na equipe. Entrosamento é uma coisa, amizade entre pares é outra coisa bastante distinta. A escalação aconteceu muito em cima do Mundial. E lhes faltava o indispensável Plano B – aquele que poderia ter sido estudado e treinado em campo caso perdessem a presença do Neymar em jogo decisivo e classificatório, como aliás, ocorreu.
7. O Brasil ganhou fora dos estádios: temos os mais belos e modernos estádios jamais reunidos em um único país do mundo. Temos aeroportos de chamar a atenção por sua beleza, modernidade, comodidade e eficiência aeroportuária nos quesitos tempo de embarque/desembarque. Diversas obras de mobilidade urbana foram concluídas em diversas cidades-sedes do Brasil, muitas outras encontram-se em fase final de construção. A segurança na Copa tem sido digno de nota, reconhecida por jornais do porte do The New York Times e do Financial Times. Definitivamente o Brasil ganhou de 17 x 0 de sua mídia mais vistosa, aqueles que monopolizam o que é e o que não é notícia, enfeixadas com mão de ferro por seis abastadas famílias que se comprazem em afirmar que podem, a seu bel querer, destruir e construir governos, ministérios, empresas estatais e também elaborar e fazer aprovar leis no Congresso Nacional que lhes garantam o nefando monopolio econômico-financeiro.
8. O Brasil ganhou a Copa que mais importa: soube receber centenas de milhares de turistas de dezenas de países do mundo no mais perfeito congraçamento, trazendo em alto relevo sua hospitalidade característica. O país mostrou em grande estilo seu espírito alegre e irreverente, sua culinária suculenta e convidativa. E viu legiões de visitantes embasbacados com a beleza dos cenários paradisíacos de cidades como o Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Natal. Se alguma vez um slogan de Copa do Mundo teve sentido e pode ser cumprido à risca, essa vez aconteceu aqui no Brasil: Somos Todos Um.
9. O Brasil recebeu grande aporte de recursos financeiros em sua economia. As metas para o setor turístico, a rede hoteleria e de bares e restaurantes foram rapidamente cumpridas e superadas. Apenas em Porto Alegre, no extremo sul do país, em duas semanas de Copa do Mundo na capital gaúcha foram contabilizados acréscimo de mais de R$ 1 bilhão injetados na economia local. Nos primeiros dez dias do Mundial circularam pela internet global mais de 1,5 bilhão de imagens do Brasil transmitidas por torcedores apaixonados pela beleza do Brasil e pela qualidade dos jogos aqui disputados. Nunca antes no país ocorreu evento que lhe rendesse tanta mídia mundial e gratuita quanto ao longo desses 30 dias de Copa do Mundo.
10. O Brasil testemunhou uma Copa do Mundo singular, única. E isso se deu também pela quantidade de gols marcados: desde 1958, nenhuma outra Copa do Mundo teve tão imenso festival redes balançando. Estádios lotados em praticamente todas as partidas superaram a média de torcedores presentes em estádios registrados nas últimas Copas do mundo. Uma Copa limpa: em todos os exames antidoping nenhum jogador foi vetado. A luta contra o racismo no mundo, contra o racismo no futebol em particular, foi uma brilhante jogada acertada da FIFA.
11. O Brasil entrou em campo para destroçar esse impertinente complexo de vira lata que vem ao longo de décadas lhe infernizando a vida. E conseguiu. Que ninguém mais se atreva a dizer que não somos capazes de realizar todo o potencial de que fomos dotados. Lutar contra as forças poderosas – midiáticas, econômicas e políticas – que se aglomeraram em verdadeiro complô contra o país não foi nada fácil. A união de pesos pesados como a TV Globo, Editora Abril e Grupo Folha com o Banco Itaú e partidos de oposição ao governo federal mostrou-se coeso: conseguiam potencializar os mínimos atrasos na entrega de obras para a Copa; orquestraram e potencializaram xingamentos à presidenta da República no jogo inaugural no Itaquerão paulista; levaram ao extremo da leviandade campanhas institucionais fracassadas como as "imagina na Copa" e "não vai ter Copa"; difundiram de forma intensiva e excessiva imagens dos black blocs, baderneiros, marginais e coxinhas das mais variadas extrações sociais e partidárias. Tinham um único e mesmo objetivo: desgastar e derrubar o governo. Fracassaram logo na primeira fase da Copa, assim como fracassaram nos estádios as seleções campeãs do mundo Itália, Espanha, Inglaterra e Uruguai.
12. O Brasil viu em campo e fora de campo o exercício da solidariedade e dos melhores atributos que embelezam o caráter humano. No jogo do Brasil com a Colômbia foi emocionante ver David Luiz consolando o craque Jamez Rodrigues, imerso em lágrimas pela desclassificação de seu país. David trocou de camisa com ele, abraçou-o e pediu à multidão que aplaudia o Brasil ao fim do jogo para que aplaudisse o jovem craque colombiano. O alemão Lukas Podolski vem se destacando na Copa do Mundo não apenas pelo futebol, mas pelas demonstrações de carinho e amor ao Brasil e suas belezas naturais. Desta vez, no entanto, o jogador da seleção alemã, mandou uma mensagem de força aos jogadores da seleção brasileira, que foi derrotada nesta terça-feira, por 7 a pela Alemanha de Podolski. "Respeite a amaelinha com sua história e tradição. O mundo do futebol deve muito ao futebol brasileiro, que é e sempre será o país do futebol", ressaltou Podolski em mensagem publicada em seu Twitter oficial. O jogador, dono da camisa 10 da Alemanha, publicou a mensagem em português, como vem fazendo para elogiar as belezas das praias brasileiras. A mensagem veio acompanhada pelos destaques "Levante a cabeça e Brasil te amo" e teve direito até a um coração após a assinatura de Podolski.
JANIO: MÍDIA PRECISA DE MUDANÇA COMO O FUTEBOL
Colunista Jânio de Freitas diz que ‘os mal denominados meios de comunicação têm uma parcela nas causas do que está chamado de "humilhação, catástrofe e vergonha"’, em referência à derrota do Brasil para a Alemanha; segundo ele, o nível médio da franqueza foi muito baixo nos comentários sobre a seleção: “O jornalismo brasileiro está precisando de uma reviravolta mais ou menos como a pedida para o futebol”
10 DE JULHO DE 2014 ÀS 06:22
247 – O colunista Janio de Freitas atribuiu à mídia brasileira responsabilidade no impacto da derrota do Brasil para a Alemanha. Segundo ele, assim como o futebol, a imprensa precisa mudar.
“É preciso dizer que os mal denominados meios de comunicação têm uma parcela --de difícil mensuração, mas não pequena-- nas causas do que está chamado de "humilhação, catástrofe e vergonha". E parcela maior no choque emotivo das pessoas em geral, reação que corresponde à expectativa esperançosa de que estiveram imbuídas”, diz.
Segundo ele, antes e depois de iniciada a Copa, o nível médio da franqueza foi muito baixo nos comentários sobre a seleção, em contraste com a crítica, em âmbito privado, de muitos dos mesmos autores profissionais. “O jornalismo brasileiro está precisando de uma reviravolta mais ou menos como a pedida para o futebol” (leia mais).