Pela primeira vez em muitas décadas, o Banco Central do Brasil está fazendo uma política monetária anticíclica, ou seja, está cortando os juros na crise. No passado, em uma crise como esta, subia a taxa de juros.
Agencia Estado - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, salientou hoje o otimismo em relação à economia brasileira. "Nós já vemos sinais de recuperação importante na economia do Brasil, principalmente nas vendas do varejo", disse Meirelles. Segundo ele, "não há dúvida de que a crise é grave no mundo e atinge a todos os países, inclusive o Brasil, e o governo brasileiro está tomando todas as medidas e tomará outras medidas necessárias" para superar o problema.
Meirelles destacou durante vários momentos que a economia brasileira está estável com perspectiva positiva e alto nível de reservas. "As previsões hoje sobre a economia mundial nos próximos anos já colocam o Brasil crescendo a taxas bastante razoáveis a partir de 2010. Os mais pessimistas colocam uma taxa de crescimento para o Brasil bastante superior à média mundial a partir de 2010."
Meirelles voltou a citar o varejo como sinal importante de resistência do País às turbulências. "Essas projeções (para o desempenho brasileiro a partir de 2010) existem, sem falar na capacidade de resistência à crise que mostra o Brasil hoje. Basta ver alguns dados de vendas no varejo", disse.
Política monetária - O presidente do BC citou a política monetária como uma das iniciativas brasileiras para fazer frente à crise internacional. "Pela primeira vez em muitas décadas, o Banco Central do Brasil está fazendo uma política monetária anticíclica, ou seja, está cortando os juros na crise", afirmou.
Um dia depois da decisão do Copom de corte de 1 ponto porcentual na taxa Selic, para 10,25% ao ano, Meirelles lembrou que, "no passado, em uma crise como esta, existia um problema no balanço de pagamentos e o BC tinha que contrair a demanda doméstica visando gerar excedentes exportáveis para equilibrar a situação. E, assim, subia a taxa de juros".
Segundo o presidente do BC, de modo geral, o Brasil tem hoje a possibilidade "de fazer uma ação governamental anticíclica ancorada em uma economia com base de previsibilidade e solidez".
Eu vou repetir mais ou menos o que escrevi em janeiro e de certa forma complementar o post anterior.
A crise internacional chegou ao Brasil em outubro com uma forte contração na demanda e no crédito externo para as empresas. Esses dois fatores derrubaram as expectativas e se precipitou um ciclo de estoques. Excessivamente otimistas até o terceiro trimestre de 2008, a indústria acumulou estoques que de uma hora para outra precisou pisar no freio.
O nível de atividade que chegou a 6,8% no terceiro trimestre era considerado insustentável. A concessão de crédito estava crescendo a uma taxa de 30%, difícil de ser acompanhada pela oferta de produtos.
Como vimos no gráfico do post anterior, o Banco Central começou um novo ciclo de alta nas taxas de juros ainda em abril de 2008. O país estava bem acelerado, claramente acima de seu "PIB potencial", a inflação estava aumentando fortemente e as contas externas se deteriorando. Este é o cenário de pânico para os membros do Copom. Gostem ou não, esta é a verdade.
Naquele período, minha consultoria "Cafuringa" havia previsto uma alta da Selic até a casa dos 15%, seguido de um lento processo de afrouxamento até fins de 2009. Mas de uma forma não prevista e obviamente não desejada, a crise acabou por radicalizar o movimento de freada na economia. A política monetária, então, pode deixar de ser contracionista. Se por um lado, o ajuste a fórceps diminui o grau de previsibilidade, acelerou o processo, fazendo com que a curva de juros tenha sido mais curta, atingindo "apenas" 13,5%. A inflação voltou rapidamente para o centro da meta e as contas externas melhoraram sensivelmente.
Além disso, muitos economistas chegavam a duvidar que as políticas fiscal e monetária pudessem dar conta do aumento da demanda, provocado pela crescente formalização do emprego nos três últimos anos. A curva de juros prevista ainda em meados de 2008, certamente traria resultados fiscais bem preocupantes, com um longo período de inflação alta e juros altos. Por isso, uma visão bem otimista agora, prevê que a retomada do crescimento também possa vir antes do que o esperado e o presidente do Banco Central deixou de ser o maior vilão.
De fato, pode se criticar muito a política monetária nesses últimos seis anos e quatro meses, mas não se pode negar que os acertos foram maiores que os erros. O poder de consumo da população como um todo, se expandiu muito nesse período, garantindo hoje um poder de compra capaz de aquecer a economia, mesmo com a contração das exportações. Costumo dizer que para metade dos economistas, o BC é o responsável por tudo de ruim que acontece de neste governo. Para a outra metade, pela únicas coisas boas. Como eles nunca chegarão a um acordo e eu não gosto de simplismos, acho que o caminho está no meio.
E termino como comecei: "pela primeira vez em muitas décadas, o Banco Central do Brasil está fazendo uma política monetária anticíclica, ou seja, está cortando os juros na crise." Não é pouca coisa. Basta olhar o que está acontecendo no mundo.
Atualização às 16:30
O Banco Central costuma olhar com muita atenção (para muitos com exagerada atenção) para o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) da indústria. O Nuci mede o nível de ociosidade do parque industrial e está cerca de 7 pontos percentuais abaixo do nível anterior à crise. O Nuci costuma cair quando há uma queda na produção ou quando os investimentos estão altos, aumentando a capacidade instalada. Um nível confortável para o BC é algo em tornos dos 84%. Acima disso, ele acende o sinal amarelo.
Esse gráfico, publicado hoje no blog da Miriam leitão, talvez ajude a explicar a queda menor da Selic na reunião de ontem. Reparem como a curva tem a mesma tragetória da Selic. Acompanhando a pequena melhora no Nuci, o Copom diminuiu o ritmo de queda dos juros.
http://www.aleporto.com.br/blog.php?tema=6&post=1743