A NOVA RECEITA DOS GOLPES DE ESTADO MADE IN USA

Nas décadas de 60 e 70, os Estados Unidos derrubavam governos democraticamente eleitos alegando razões geopolíticas: era preciso deter o avanço soviético; hoje, o modelo é mais sofisticado; envolve protestos de ruas, campanhas nas mídias sociais e atentados contra civis, para que os governos sejam responsabilizados pelas mortes de seus próprios cidadãos; foi o que aconteceu na Ucrânia, onde atiradores ligados às forças que hoje estão no poder alvejaram civis; na Venezuela, roteiro é o mesmo e vice-presidente americano Joe Biden deu a senha para o golpe; melhor ficar em estado de alerta
9 DE MARÇO DE 2014 ÀS 20:58
247 - Às vésperas dos 50 anos do golpe militar de 1964, quando o Brasil deverá celebrar sua democracia, um fantasma ronda a América Latina, a Europa do Leste e o Oriente Médio: a volta dos golpes de Estado patrocinados pelos Estados Unidos. Só que, desta vez, com uma roupagem diferente. Regimes são derrubados, supostamente, em defesa da democracia. É o que já se fez na Ucrânia e o que também se pretende fazer na Venezuela.
No passado, as intervenções americanas em outros países assumiam diversas formas. No Irã, em 1954, o regime de Mossadegh foi derrubado depois que o presidente eleito nacionalizou a produção de petróleo. No Brasil, dez anos depois, foi a vez de João Goulart ser apeado do poder com apoio da CIA. Na década de 70, também em razão do perigo comunista, o alvo foi Salvador Allende.
Agora, os Estados Unidos estão novamente assanhados, como demonstrou o vice-presidente americano Joe Biden, em entrevista ao jornal El Mercurio, que apoio a queda de Allende. "Enfrentar manifestantes pacíficos com a força e em alguns casos com milícias armadas, limitando a liberdade de imprensa e de assembleia não está à altura dos sólidos padrões de democracia que temos na maior parte de nosso hemisfério", disse ele neste fim de semana, referindo-se à Venezuela. Em resposta, o chanceler Elias Jahua afirmou que os americanos são os maiores promotores da violência em escala global.
Na Venezuela, a receita de bolo do golpe é semelhante à que foi aplicada na Ucrânia. Ela envolve protestos de rua, campanhas nas mídias sociais e atentados contra civis, para que os governos sejam responsabilizados pelas mortes de seus próprios cidadãos. Foi assim, após a morte de civis, que o presidente eleito Vitor Yanuovich foi apeado do poder em Kiev.
No entanto, investigações independentes demonstraram que os atiradores de Kiev, na verdade, não eram ligados ao governo – mas sim às forças que hoje estão no poder. Da mesma forma, na Venezuela, o opositor Leopoldo Lopez se entregou depois de ter recebido informações do serviço secreto venezuelano de que seria assassinado para que a culpa fosse atribuída ao presidente Nicolas Maduro.
Sobre o que realmente aconteceu em Kiev, vale a pena ler texto da Rede Voltaire:
A propaganda anti-ucraniana e os misteriosos snaipers
A cadeia de televisão Russia Today publicou uma intercepção do telefone do ministro estónio dos Negócios estrangeiros, Urmas Paet, no qual ele indica que os misteriosos snaipers(atiradores-furtivos) da praça Maidan estavam ligados à oposição pró- europeia.
Sem tomar partido, o ministro liberal Urmas Paet telefona, a este propósito, à Alta- representante da União Europeia, Lady Catherine Ashton, para a informar das suas dúvidas (sobre a credibilidade do novo governo da oposição ucraniana). A autenticidade da conversação telefónica foi confirmada pelos dois protagonistas. A conversa data de há uma semana.
O ministro, indignado, explica a Lady Ashton ter tido confirmação pela Dra. Olga Bogomolets, (célebre dermatóloga envolvida nas manifestações da praça Maidan), que foram indivíduos ligados à oposição pró-europeia —e não membros das forças de segurança fiéis ao presidente Ianoukovytch— quem atirou, simultâneamente, contra a polícia ucraniana e contra os manifestantes afim de provocar a revolta, e derrubar o governo.
A administração saída do golpe de Estado lançou um mandado de captura internacional contra o presidente Viktor Ianoukovytch, acusando-o de ter ordenado disparos sobre os seus opositores e de ser o principal responsável dos confrontos da praça Maidan.
A Rede Voltaire sublinhou, desde o início dos confrontos, que a presença de misteriosos franco-atiradores que disparam, ao mesmo tempo, contra polícias e manifestantes tem caracterizado as diferentes «revoluções coloridas» e «primaveras árabes» registadas (registradas-Br) desde 1989.
No caso dos motins da cidade líbia de Benghazi, em 2011, 4 membros das forças especiais italianas confessaram, depois da queda de Muammar el-Kadhafi, ter sido enviados pela OTAN para aí provocar uma guerra civil, disparando sobre ambos os grupos.
http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/132600/A-nova-receita-dos-golpes-de-Estado-made-in-USA.htm
Nas décadas de 60 e 70, os Estados Unidos derrubavam governos democraticamente eleitos alegando razões geopolíticas: era preciso deter o avanço soviético; hoje, o modelo é mais sofisticado; envolve protestos de ruas, campanhas nas mídias sociais e atentados contra civis, para que os governos sejam responsabilizados pelas mortes de seus próprios cidadãos; foi o que aconteceu na Ucrânia, onde atiradores ligados às forças que hoje estão no poder alvejaram civis; na Venezuela, roteiro é o mesmo e vice-presidente americano Joe Biden deu a senha para o golpe; melhor ficar em estado de alerta
9 DE MARÇO DE 2014 ÀS 20:58
247 - Às vésperas dos 50 anos do golpe militar de 1964, quando o Brasil deverá celebrar sua democracia, um fantasma ronda a América Latina, a Europa do Leste e o Oriente Médio: a volta dos golpes de Estado patrocinados pelos Estados Unidos. Só que, desta vez, com uma roupagem diferente. Regimes são derrubados, supostamente, em defesa da democracia. É o que já se fez na Ucrânia e o que também se pretende fazer na Venezuela.
No passado, as intervenções americanas em outros países assumiam diversas formas. No Irã, em 1954, o regime de Mossadegh foi derrubado depois que o presidente eleito nacionalizou a produção de petróleo. No Brasil, dez anos depois, foi a vez de João Goulart ser apeado do poder com apoio da CIA. Na década de 70, também em razão do perigo comunista, o alvo foi Salvador Allende.
Agora, os Estados Unidos estão novamente assanhados, como demonstrou o vice-presidente americano Joe Biden, em entrevista ao jornal El Mercurio, que apoio a queda de Allende. "Enfrentar manifestantes pacíficos com a força e em alguns casos com milícias armadas, limitando a liberdade de imprensa e de assembleia não está à altura dos sólidos padrões de democracia que temos na maior parte de nosso hemisfério", disse ele neste fim de semana, referindo-se à Venezuela. Em resposta, o chanceler Elias Jahua afirmou que os americanos são os maiores promotores da violência em escala global.
Na Venezuela, a receita de bolo do golpe é semelhante à que foi aplicada na Ucrânia. Ela envolve protestos de rua, campanhas nas mídias sociais e atentados contra civis, para que os governos sejam responsabilizados pelas mortes de seus próprios cidadãos. Foi assim, após a morte de civis, que o presidente eleito Vitor Yanuovich foi apeado do poder em Kiev.
No entanto, investigações independentes demonstraram que os atiradores de Kiev, na verdade, não eram ligados ao governo – mas sim às forças que hoje estão no poder. Da mesma forma, na Venezuela, o opositor Leopoldo Lopez se entregou depois de ter recebido informações do serviço secreto venezuelano de que seria assassinado para que a culpa fosse atribuída ao presidente Nicolas Maduro.
Sobre o que realmente aconteceu em Kiev, vale a pena ler texto da Rede Voltaire:
A propaganda anti-ucraniana e os misteriosos snaipers
A cadeia de televisão Russia Today publicou uma intercepção do telefone do ministro estónio dos Negócios estrangeiros, Urmas Paet, no qual ele indica que os misteriosos snaipers(atiradores-furtivos) da praça Maidan estavam ligados à oposição pró- europeia.
Sem tomar partido, o ministro liberal Urmas Paet telefona, a este propósito, à Alta- representante da União Europeia, Lady Catherine Ashton, para a informar das suas dúvidas (sobre a credibilidade do novo governo da oposição ucraniana). A autenticidade da conversação telefónica foi confirmada pelos dois protagonistas. A conversa data de há uma semana.
O ministro, indignado, explica a Lady Ashton ter tido confirmação pela Dra. Olga Bogomolets, (célebre dermatóloga envolvida nas manifestações da praça Maidan), que foram indivíduos ligados à oposição pró-europeia —e não membros das forças de segurança fiéis ao presidente Ianoukovytch— quem atirou, simultâneamente, contra a polícia ucraniana e contra os manifestantes afim de provocar a revolta, e derrubar o governo.
A administração saída do golpe de Estado lançou um mandado de captura internacional contra o presidente Viktor Ianoukovytch, acusando-o de ter ordenado disparos sobre os seus opositores e de ser o principal responsável dos confrontos da praça Maidan.
A Rede Voltaire sublinhou, desde o início dos confrontos, que a presença de misteriosos franco-atiradores que disparam, ao mesmo tempo, contra polícias e manifestantes tem caracterizado as diferentes «revoluções coloridas» e «primaveras árabes» registadas (registradas-Br) desde 1989.
No caso dos motins da cidade líbia de Benghazi, em 2011, 4 membros das forças especiais italianas confessaram, depois da queda de Muammar el-Kadhafi, ter sido enviados pela OTAN para aí provocar uma guerra civil, disparando sobre ambos os grupos.
http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/132600/A-nova-receita-dos-golpes-de-Estado-made-in-USA.htm
BIDEN DÁ A SENHA PARA O GOLPE NA VENEZUELA
"Enfrentar manifestantes pacíficos com a força e em alguns casos com milícias armadas, limitando a liberdade de imprensa e de assembleia, não está à altura dos sólidos padrões de democracia que temos na maior parte de nosso hemisfério", disse o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden; americanos planejam intervenção em nome da democracia, mas proposta foi rechaçada pela OEA por 29 votos a três; Maduro respondeu dizendo que os Estados Unidos são os maiores promotores da violência em escala global
9 DE MARÇO DE 2014 ÀS 19:52
Do Opera Mundi - O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que a "situação da Venezuela é alarmante" e que o governo tem a obrigação de "respeitar os direitos universais". Além disso, perguntando pelo diário chileno El Mercúrio sobre a possibilidade de uma "intervenção de Washington" em território venezuelano, Biden a rechaçou. Após acusar os EUA de estarem envolvidos nos recentes episódios de violência, Maduro nomeou um embaixador para Washington e instou ao diálogo, porém, não houve receptividade do lado norte-americano.
"Enfrentar manifestantes pacíficos com a força e em alguns casos com milícias armadas, limitando a liberdade de imprensa e de assembleia (...) não está à altura dos sólidos padrões de democracia que temos na maior parte de nosso hemisfério", disse em entrevista publicada neste domingo (09/03). Biden chega hoje ao Chile, em sua sétima visita à região, para assistir na terça-feira à posse da presidente eleita, a socialista Michelle Bachelet, onde também estará o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
"A situação na Venezuela me lembra o passado, quando homens fortes governavam usando a violência e a opressão; e os direitos humanos, a hiperinflação, a escassez e a extrema pobreza causavam estragos nos povos do hemisfério", afirmou. Ironicamente, a declaração, além de ter sido feita antes da visita ao Chile -- onde um golpe de Estado foi patrocinado pelo governo dos EUA, assim como em outros países da América Latina --, foi dada a um jornal que colaborou com a derrubada de Salvador Allende.
"A situação na Venezuela me lembra o passado, quando homens fortes governavam usando a violência e a opressão; e os direitos humanos, a hiperinflação, a escassez e a extrema pobreza causavam estragos nos povos do hemisfério", afirmou. Ironicamente, a declaração, além de ter sido feita antes da visita ao Chile -- onde um golpe de Estado foi patrocinado pelo governo dos EUA, assim como em outros países da América Latina --, foi dada a um jornal que colaborou com a derrubada de Salvador Allende.
Biden não poupou críticas a Maduro, dizendo que "até agora tentou distrair seu povo dos temas mais importantes que estão em jogo na Venezuela ao inventar conspirações totalmente falsas e extravagantes sobre os EUA". Em vez disso, "ele deveria escutar o povo venezuelano, e olhar o exemplo desses líderes que resistiram à opressão nas Américas, ou se arriscar a repetir as injustiças contra as que eles brigaram com tanta coragem", acrescentou.
No entanto, descartou qualquer ação que envolva uma intervenção."O presidente (Barack) Obama deixou claro que não estamos interessados em voltar às batalhas ideológicas do passado nesse hemisfério e trabalhou por um futuro de maior integração e respeito pelos direitos universais", afirmou. "Reconhecemos que há ranços da Guerra Fria, e as suspeitas fazem parte da situação. Mas a maioria das pessoas nas Américas está cansada de brigar velhas batalhas ideológicas que não ajudam em nada suas vidas cotidianas", opinou.
Após os atos oficiais da mudança de comando presidencial no Chile, os chanceleres dos países-membros da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) se reunirão em Santiago em 12 de março para tratar a situação da Venezuela. No encontro, o governo do país apresentará sua análise sobre a crise desencadeada em meados de fevereiro, quando os atos de violência.
No entanto, descartou qualquer ação que envolva uma intervenção."O presidente (Barack) Obama deixou claro que não estamos interessados em voltar às batalhas ideológicas do passado nesse hemisfério e trabalhou por um futuro de maior integração e respeito pelos direitos universais", afirmou. "Reconhecemos que há ranços da Guerra Fria, e as suspeitas fazem parte da situação. Mas a maioria das pessoas nas Américas está cansada de brigar velhas batalhas ideológicas que não ajudam em nada suas vidas cotidianas", opinou.
Após os atos oficiais da mudança de comando presidencial no Chile, os chanceleres dos países-membros da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) se reunirão em Santiago em 12 de março para tratar a situação da Venezuela. No encontro, o governo do país apresentará sua análise sobre a crise desencadeada em meados de fevereiro, quando os atos de violência.
Leia também a resposta de Maduro:
O Governo dos Estados Unidos é o principal promotor da violência a nível mundial, um verdadeiro “expert” em invasões e bloqueios econômicos, diz em um comunicado el Governo da Venezuela.
Este documento oficial foi emitido para responder às declarações do vice-presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden, sobre o estado dos direitos humanos na Venezuela e as recentes protestos no país latino-americano.
“Enfrentar manifestantes pacíficos con a força e alguns casos com milícias armadas, limitando a liberdade de imprensa e de assembleia não está á altura dos sólidos padrões de democracia que temos na maior parte do nosso hemisfério, disse Biden.
"O Governo dos Estados Unidos, principal promotor da violência a nível mundial, “expert” en invasões, bloqueios econômicos, guerras iniciadas por interesses econômicos sob a suposição de ameaças fictícias, criador de armas letais de destruição massiva e responsável pela morte de milhares de civis ao redor do mundo, não tem moral para objetar o respeito aos Direitos Humanos na Venezuela e o esforço do Governo Bolivariano para preservar a paz em nossa nação”, diz o comunicado.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, rechaçou de maneira categórica as declarações Biden "por constituir um desrespeito à soberania venezuelana e uma agressão direta ao povo que sofreu os embates de um setor fascista que avança em uma estratégia de golpe de Estado continuado".
As autoridades de Caracas recordam que os “radicais da oposição recebem financiamento de órgãos do Governo dos Estados Unidos "que pretende gerar uma falsa imagem de guerra e repressão generalizada em todo o território venezuelano, quando em realidade se trata de focos pontuais criados pelos artífices da violência contra o povo".
O comunicado informa que "enquanto esses minúsculos grupos propiciam a violência", "Maduro fez um chamado plural a todos os setores do país para incorporar-lhes a uma Conferencia de Paz, que contou com a ampla participação de empresários, igrejas, organizações do poder popular e os setores sociais mais diversos que fazem a vida na nação, com o propósito de isolar aos fascistas que o Governo norte-americano defende, financia e apoia".
"O Governo dos Estados Unidos, principal promotor da violência a nível mundial, “expert” en invasões, bloqueios econômicos, guerras iniciadas por interesses econômicos sob a suposição de ameaças fictícias, criador de armas letais de destruição massiva e responsável pela morte de milhares de civis ao redor do mundo, não tem moral para objetar o respeito aos Direitos Humanos na Venezuela e o esforço do Governo Bolivariano para preservar a paz em nossa nação”, diz o comunicado.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, rechaçou de maneira categórica as declarações Biden "por constituir um desrespeito à soberania venezuelana e uma agressão direta ao povo que sofreu os embates de um setor fascista que avança em uma estratégia de golpe de Estado continuado".
As autoridades de Caracas recordam que os “radicais da oposição recebem financiamento de órgãos do Governo dos Estados Unidos "que pretende gerar uma falsa imagem de guerra e repressão generalizada em todo o território venezuelano, quando em realidade se trata de focos pontuais criados pelos artífices da violência contra o povo".
O comunicado informa que "enquanto esses minúsculos grupos propiciam a violência", "Maduro fez um chamado plural a todos os setores do país para incorporar-lhes a uma Conferencia de Paz, que contou com a ampla participação de empresários, igrejas, organizações do poder popular e os setores sociais mais diversos que fazem a vida na nação, com o propósito de isolar aos fascistas que o Governo norte-americano defende, financia e apoia".
"BRASIL AFASTA O FANTASMA DA SUBMISSÃO NA OEA"
Em artigo exclusivo para o 247, o jornalista Breno Altman, diretor do Opera Mundi, explica como o Brasil ajudou a barrar uma proposta de intervenção na Venezuela, liderada pelos Estados Unidos, graças à atuação decisiva do assessor especial do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia; "Os Estados Unidos tentaram aprovar resolução que lhes permitisse, sob o manto de uma comissão de investigação, interferir oficialmente na situação venezuelana", diz ele; "Caso o Brasil tivesse se portado de maneira distinta, outro poderia ser o resultado. Esse era o desejo de círculos direitistas, que agora reverberam sua frustração através da crítica insolente a Marco Aurélio Garcia"; leia a íntegra
10 DE MARÇO DE 2014 ÀS 09:36
Por Breno Altman, especial para o 247
A saraivada de artigos e editoriais contra Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência da República, tem sua razão de ser. Não foi pouca a pressão, sobre o governo brasileiro, para que capitulasse diante de uma linha intervencionista e crítica ao governo constitucional de Nicolás Maduro, na Venezuela. Mas o Palácio do Planalto manteve-se firme e o Brasil deu seu voto, na Organização dos Estados Americanos (OEA), junto com outras 28 nações, para derrotar a moção sustentada apenas por Estados Unidos, Canadá e Panamá.
Muito dessa postura se deve a Marco Aurélio Garcia. Correntes conservadoras, incluindo aquelas que ainda dão as cartas em algumas salas do Itamaraty, gostariam de ver a presidente romper com a política internacional inaugurada por Lula e retornar à diplomacia dependente, que girava na órbita da Casa Branca. A voz mais íntegra, preparada e sólida contra essa alternativa sempre foi a do professor, como lhe chamam amigos e até alguns desafetos.
Não é surpresa para ninguém, portanto, que sobre seu lombo venha o chicote da velha mídia, comprometida visceralmente com a derrubada do governo Maduro. Marco Aurélio Garcia, além do mais, criticou abertamente a campanha de desinformação e manipulação levada a cabo por veículos tradicionais das grandes famílias burguesas do continente, envolvidos até o talo na guerra psicológica para desestabilizar, nacional e internacionalmente, o processo bolivariano.
Talvez a mensagem brasileira fosse ainda mais competente e altiva se a chancelaria estivesse sob o comando do histórico quadro petista. Mesmo sem ocupar o posto, a verdade é que Marco Aurélio funciona como lugar-tenente da presidente Dilma, na defesa dos interesses brasileiros e progressistas, quando potências ocidentais, particularmente os Estados Unidos, tentam reduzir o país a um apêndice de sua diplomacia. A imprensa dos monopólios, ao contrário, opera como quartel-general da estratégia de subalternidade.
A política internacional do país, ainda que marcada por contradições e freios, mudou a inserção do Brasil no mundo. Não apenas porque passou a ter papel relevante na luta para esvaziar a hegemonia norte-americana, imperialista e antidemocrática por natureza, mas também pela razão de ter criado novos espaços para o desenvolvimento econômico, através de múltiplos mecanismos que já não são lastrados pelo aval de Washington.
A trajetória é muito positiva. Primeiro, o projeto da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) foi soterrado, afastando ameaças maiores, de inspiração neocolonial, cujo objetivo era a integração subordinada da economia brasileira e das demais nações da região à batuta norte-americana. Depois, seguiu-se o relançamento do Mercosul, a criação da Unasul e da Celac, o desenvolvimento das relações sul-sul, o aprofundamento da interlocução com a África, a parceria entre os BRICs.
Fortaleceram-se novos blocos políticos e econômicos, particularmente na América do Sul. O subcontinente, apesar das dificuldades, vai desbravando caminho autônomo, que progressivamente lhe permite atuar nas grandes disputas geopolíticas e comerciais, e fora do esquadro que o designava como quintal da Casa Branca.
Nesta perspectiva, o ataque ao governo Maduro, no qual forças oposicionistas locais se combinam com o apoio estrangeiro, repetindo a lógica golpista de 2002, não diz respeito apenas aos venezuelanos. A interrupção da revolução bolivariana seria capítulo decisivo na narrativa de restauração da ordem continental anterior.
Este era o tema que estava em disputa na última reunião da OEA. Os Estados Unidos tentaram aprovar resolução que lhes permitisse, sob o manto de uma comissão de investigação, interferir oficialmente na situação venezuelana. A proposta foi rechaçada por esmagadora maioria, remetendo o assunto para arbítrio exclusivo da Unasul, na qual os norte-americanos não têm assento. Foi um momento histórico, que provocou a fúria conservadora.
Caso o Brasil tivesse se portado de maneira distinta, outro poderia ser o resultado. Esse era o desejo de círculos direitistas, que agora reverberam sua frustração através da crítica insolente a Marco Aurélio Garcia.
Não estava em jogo, afinal, a democracia venezuelana, muito bem defendida por suas próprias instituições. Os fatos falam por si. Qual outro país do planeta teve 19 contendas eleitorais em 15 anos, nas quais a esquerda sagrou-se vitoriosa em 18? Qual outra nação convive com uma imprensa privada que apoia abertamente levantes anticonstitucionais? Qual outro Estado assegura liberdade partidária tão plena que inclui agremiações dispostas a convocar ações violentas contra um governo legítimo? Basta imaginar qual seria o comportamento da Casa Branca se tais práticas ocorressem em seu território.
A votação da OEA decidiu, portanto, se a América Latina se dobraria novamente ou não ao Ministério de Colônias do governo norte-americano, como já se referiu Fidel Castro acerca da entidade agonizante. A resposta foi uma rotunda negativa, à qual se somaram até mesmo governos conservadores como os da Colômbia e Chile. O Brasil, na ocasião, fez o que lhe cabia, ajudando a defenestrar o fantasma da submissão.
Breno Altman é diretor editorial do site Opera Mundi.
OS EUA CONTRA A VENEZUELA: A GUERRA FRIA ESQUENTA
NIL NIKANDROV
O governo de Maduro está fazendo tudo que pode para contrabalançar a propaganda hostil com que Washington está tentando agravar a situação na Venezuela, obtendo assim um pretexto para interferir nos assuntos internos do país
(originalmente publicado na Rede Voltaire)
Durante o recente carnaval na Venezuela, os focos isolados de protestos estudantis que ocorrem em grandes cidades desapareceram como que por magia. Ou, para ser mais preciso, eles morreram nas áreas privilegiadas das cidades. Os organizadores dos protestos contra o governo tinham assegurado ao mundo que o carnaval não aconteceria, e que a tradição de viajar para as praias caribenhas seria cancelada, desde que "a insatisfação do povo" tinha chegado um clímax. Um pouco mais e o regime iria ruir, o Presidente Nicolás Maduro e seus camaradas fugiriam para Cuba, e o país voltaria a ser uma "verdadeira democracia". Os protestos foram amplamente cobertos pelos principais canais de televisão no oeste e, agora –silêncio total. Os venezuelanos estão celebrando e relaxando.
Um papel importante na informação e guerra psicológica contra a Venezuela pertence às agências de inteligência dos EUA. Toda a presidência de Hugo Chávez transcorreu em meio a uma severa guerra de informação na qual os EUA colocaram grande ênfase a fim de comprometer a própria idéia de construir um socialismo do século XXI na Venezuela. Chavez nunca prometeu um rápido sucesso nessa jornada; mas, sua bem pensada política social alcançou muitas coisas. De acordo com as pesquisas de opinião, os venezuelanos estão entre algumas das pessoas mais felizes no hemisfério ocidental.
As conquistas da Revolução Bolivariana, em matéria de cuidados de saúde, educação e a construção de habitações, garantiram o apoio popular de Chavez. Uma sólida política interna tornou possível para Chavez combater com êxito as operações subversivas dos EEUU, não só na Venezuela mas na arena internacional também. Um dos pontos focais da guerra de informação foi a criação do canal TeleSur TV, com o apoio dos países latino-americanos aliados, e a criação subseqüente da estação de rádio RadioSur. Redes locais de rádio e televisão foram organizadas em toda a Venezuela, e um estúdio de cinema nacional foi aberto, o qual produz longa-metragens sobre temas patrióticos. Um novo filme venezuelano aparece nas telas do país quase toda semana, atraindo tantos espectadores como filmes de ação de Hollywood. Filmes documentários também são liberados, os quais expõem a política dos Estados Unidos na América Latina, incluindo a apreensão dos campos petrolíferos e a remoção dos políticos que Washington acha discordantes.
Após a morte de Chávez, a guerra de informação e propaganda contra seu sucessor – Nicolás Maduro – tornou-se ainda mais difundida. Washington decidiu que tinha chegado o momento oportuno para derrubar o regime. Isso envolveu todo o arsenal de desestabilização de Washington– de paramilitares colombianos infiltrando o país para realizar ataques terroristas, à sabotagem econômica e financeira e ao uso de sites das redes sociais na Internet.
Falando na ONU, o Ministro de Negócios Estrangeiros da Venezuela, Elias Jaua, disse que a mídia da oposição venezuelana e estrangeira está se envolvendo em uma campanha ativa para derrubar o Presidente Maduro. Jaua explicou depois que ele estava se "referindo a bem preparadas campanhas que estavam sendo implementadas através de redes de televisão influentes." Ele observou que proeminentes figuras do mundo da arte europeia e americana, "que nem sabem onde a Venezuela se localiza", estavam sendo usadas para comprometer o governo. As recentes declarações na cerimônia de entrega do prêmio Oscar, por exemplo.
Em particular, isso se refere ao canal de televisão CNN, que não está sendo usado pela CIA apenas para distribuir informações falsas sobre a Venezuela, mas também para desenvolver estereótipos negativos do governo venezuelano e do Presidente Maduro. Também tem havido cobertura tendenciosa dos protestos de rua dos estudantes, os quais a CNN descreveu como pacíficos, sem mencionar os protestos pelos grupos de estudantes militantes que bloquearam as ruas, incendiaram carros, atacaram policiais e ameaçaram a infra-estrutura urbana, incluindo o metrô. Entre outras coisas, os ativistas da oposição estão obstruindo as estradas com farpas de metal feitas de pregos, causando um aumento acentuado de acidentes de trânsito. Há também a prática de estender fios de nylon nas estradas para derrubar os chamados motorizados – motociclistas que entregam mercadorias, medicamentos, cartas e assim por diante. Esses motociclistas são geralmente leais às autoridades e são, portanto, vistos pela oposição como uma força hostil. A CNN, no entanto, não relata esses tipos de detalhes.
Os meios de comunicação internacionais também estão mantendo silêncio sobre os esforços do Presidente Maduro para estabelecer um diálogo pacífico na Venezuela e sua busca por um entendimento mútuo com a oposição e aqueles círculos oligárquicos do país que têm organizado, e em particular estão financiando, uma prolongada campanha de desobediência civil. A tolerância das autoridades venezuelanas cada vez mais está sendo percebida como uma fraqueza.
Como resultado da tendenciosa e às vezes até inflamatória cobertura dos eventos na Venezuela, os correspondentes da CNN foram expulsos do país. Os jornalistas da Associated Press, daAgence France-Presse, da Agência EFE, da Reuters e outros também estão dando uma interpretação tendenciosa dos acontecimentos na Venezuela. Eu não consigo pensar em um único momento em que os jornalistas ocidentais reconhecidos na Venezuela mostraram um pouco de independência discernível na sua interpretação dos fatos. Um alinhamento geral com forma de pensar de Washington, na avaliação de políticos e de eventos internacionais, é característico de quase todo o corpo de jornalistas ocidentais no país.
O governo de Maduro está fazendo tudo que pode para contrabalançar a propaganda hostil com que Washington está tentando agravar a situação na Venezuela, obtendo assim um pretexto para interferir diretamente nos assuntos internos do país. Avisos e ameaças contra o governo venezuelano têm sido emitidos repetidamente pelo governo dos Estados Unidos: foi pedido que o governo libertasse os estudantes presos durante os protestos de rua, e que o governo se sentasse para conversar com a oposição. Barak Obama mencionou isto durante uma reunião com os colegas canadenses e mexicanos emToluca (México) em 20 de fevereiro de 2014. Uma declaração do senador republicano John McCain parecia um ultimato: "Precisamos estar prontos para usar a força militar para entrar na Venezuela e estabelecer a paz lá." O Senador observou que a operação poderia envolver os soldados da Colômbia, do Peru e do Chile. Além disso, ele salientou que existem líderes democráticos na Venezuela que estão totalmente preparados para assumir a responsabilidade de governar o país com o pleno consentimento dos EEUU e dar-lhe liberdade. McCain também explicou exatamente por que Washington precisa de "democratas fantoche" na Venezuela. Primeiro e acima de tudo, para garantir a entrega rápida de hidrocarbonetos para os EUA. As entregas de petróleo do norte da África e do Oriente Médio geralmente levam 45 dias; mas, apenas cerca de 70 horas da Venezuela.
Para explicar a situação no país e a posição do governo venezuelano, o Ministro das Relações Exteriores Elias Jaua já fez uma turnê de países da América Latina e Europa, enquanto o Ministro da Energia venezuelano Rafael Ramirez reuniu-se com o presidente russo Vladimir Putin e membros do governo chinês.
A Presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner afirmou que existe uma ameaça real de um golpe de estado"brando" na Venezuela: "Eu não estou aqui para defender a Venezuela, ou o Presidente Nicolás Maduro. Estou aqui para defender o sistema democrático de um país, assim como fizemos com a Bolívia, Equador, ou com qualquer outro país na região, não importa se eles são da esquerda, da direita. A democracia não pertence à direita ou à esquerda; democracia é respeitar a vontade do povo. Seria fatal para a região, para os grandes avanços de integração que a América Latina tem feito nos últimos anos, se deixássemos que ventos estrangeiros varressem e destruissem nosso país fraterno."
Cristina Fernández lembrou também que houve 19 eleições na Venezuela durante os últimos 14 anos, das quais apenas uma foi perdida pelo partido no poder. Em conformidade com a Constituição, um referendo poderia ser realizado em 2016. Esta é a única maneira legítima de mudar o governo. A grande maioria dos líderes latino-americanos é da mesma opinião de Cristina Fernández.
Analistas políticos estão prestando atenção para o calendário dos esforços dos EUA para substituir os governos da Venezuela e da Ucrânia. Washington quer mostrar ao mundo que ainda é uma superpotência capaz de dirigir o curso dos acontecimentos em diferentes partes do mundo na direção que quiser. Obama gostaria de concluir sua presidência com vitórias espetaculares na Europa Oriental e na América Latina: transformando a Ucrânia em um Estado satélite, o que garantiria a presença militar dos Estados Unidos nas fronteiras da Rússia, e efetuando uma mudança significativa na Venezuela a fim de abortar todos os projetos independentes de integração latino-americana...
Tradução
Marisa Choguill
Marisa Choguill
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/132623/Os-EUA-contra-a-Venezuela-a-Guerra-Fria-esquenta.htm
ALÔ, ELIANE E ESTADÃO: PLACAR FOI 29 A 3
Em textos ácidos, a colunista Eliane Cantanhêde e o jornal Estado de S. Paulo condenam a posição brasileira de não ingerência na Venezuela, defendida pelo assessor especial Marco Aurélio Garcia; Eliane e o Estadão só não mencionam que a posição brasileira teve 29 votos na OEA, contra apenas três dos países que defendiam a intervenção externa: Estados Unidos, Canadá e Panamá; quem tem razão?
9 DE MARÇO DE 2014 ÀS 07:39
247 - Num duro editorial publicado neste domingo, o jornal Estado de S. Paulo ataca o "vergonhoso apoio a Maduro", dado pelo Brasil. Na Folha, a colunista Eliane Cantanhêde fala de um "Itamaraty à sombra". Nos dois textos, o alvo principal é o assessor especial Marco Aurélio Garcia, que liderou a posição brasileira de não ingerência na Venezuela. Posição, diga-se de passagem, vitoriosa na Organização dos Estados Americanos, onde uma iniciativa de intervenção dos Estados Unidos foi barrada por 29 votos a 3 – ao lado dos Estados Unidos, só o Panamá e o Canadá.
Embora a posição de Garcia tenha prevalecido, ele não escapou das críticas. Abaixo, o editorial do Estado:
O ESTADO DE S. PAULO - 09/03
Em vez de assumir suas responsabilidades e pressionar o governo da Venezuela a dialogar com a oposição para superar a violenta crise no país, o governo brasileiro prefere fazer de conta que nada está acontecendo. O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, esteve recentemente na Venezuela e disse que há uma "valorização midiática" dos confrontos. "O país não parou, as coisas estão funcionando", afirmou Garcia. Não se trata de autismo, mas de uma estudada farsa, cujo objetivo é fazer crer que Nicolás Maduro tem a situação sob controle e que as manifestações só são consideradas importantes pelos 'Veículos de comunicação internacionais'".
Desse modo, o governo petista continua a seguir a estratégia de desmerecer os protestos contra o chavismo, como se estes fossem mero alarido de quem foi derrotado nas urnas, e não uma legítima expressão de descontentamento com os rumos que o país tomou nos últimos anos. Essa política explica por que o Brasil aceitou subscrever a indecente nota do Merco-sul que criminalizou os oposicionistas venezuelanos.
Enquanto Garcia finge que tudo não passa de invenção da imprensa - segundo ele, Maduro vai se encontrar com jornalistas estrangeiros para "aclarar os fatos" -, a situação na Venezuela se deteriora a cada dia. Um dos mais importantes sinais de que a desestabilização pode estar se espalhando inclusive entre os militares foi a destituição de três coronéis da Guarda Nacional Bolivariana. Eles são acusados de criticar a repressão aos manifestantes.
Além disso, em inegável tom de confronto, Maduro ordenou, durante um desfile militar, que as milícias chavistas dissolvessem barricadas erguidas por manifestantes. Esses grupos paramilitares, que agem impunemente à margem da lei, são justamente a vanguarda da repressão oficial aos manifestantes. O número de mortos em um mês de protestos já chega a 20, e há inúmeras denúncias de violações de direitos humanos por parte das forças governistas.
Foi diante desse quadro que um grupo de ex-presidentes latino-americanos, entre os quais Fernando Henrique Cardoso, decidiu publicar uma carta na qual critica a "repressão desmedida" contra "manifestações estudantis de protesto pacífico" e cita, com preocupação, os testemunhos de "tortura e tratamento desumano e degradante por parte de autoridades". A mensagem exorta Maduro a, "sem demora", criar condições para o diálogo com a oposição, pedindo o "fim imediato" da perseguição a estudantes e dirigentes oposicionistas, o fim da hostilidade à imprensa independente e a libertação dos detidos nos protestos, em especial do líder Leopoldo Ló-pez - acusado pelo governo de ser o principal articulador dos protestos.
Era essa a mensagem que deveria constar das manifestações da diplomacia brasileira em relação à crise venezuelana, e não o cinismo de quem acha que nada está acontecendo. Mas o governo petista prefere endossar a beligerância de Maduro - que rompeu relações com o Panamá apenas porque esse país sugeriu uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) para discutir a situação. A OEA, como se sabe, é para os chavistas o equivalente à encarnação do diabo, por ter os Estados Unidos como membro.
Conforme informou Marco Aurélio Garcia, a única instância aceitável de diálogo para Maduro é, claro, a União de Nações Sul-americanas (Unasul) - aquela que, em sua última reunião de cúpula, exaltou o "impulso visionário" do falecido caudilho Hugo Chávez para a criação da entidade e que é atualmente presidida pelo notório Dési Bouterse, ex-ditador e atual presidente do Suriname, procurado pela Interpol por narcotráfico.
Sem poder contar com os países vizinhos mais importantes para constranger Maduro a interromper a violência e negociar de fato, resta à oposição seguir a prudência de Henrique Capriles, seu principal líder. Para ele, embora os protestos sejam legítimos, a única solução para a crise é a "saída eleitoral", porque "a maioria do país apoia a Constituição e quer viver numa democracia".
Confira, ainda, a coluna de Eliane:
Itamaraty à sombra
BRASÍLIA - A crise na Venezuela escancara de uma vez por todas: a política externa (como tudo) é exclusividade de Dilma Rousseff, e seu operador é o assessor Marco Aurélio Garcia, principal quadro do PT para a área internacional.
E o Itamaraty? O Itamaraty, como as Forças Armadas, bate continência. Assim como o brasileiro é, antes de tudo, um forte, diplomatas e militares são, antes de tudo, carreiras de Estado que cumprem ordens. Nunca isso ficou tão ostensivo.
Caracas e grandes cidades venezuelanas estão em chamas, acumulando, até a sexta-feira, 20 mortos, 300 feridos e uma multidão de presos --incluindo jornalistas. Não se prega a queda do presidente Maduro, mas ele tem de dialogar e ceder.
O governo brasileiro, porém, prefere olhar o lado de Maduro a arriscar uma visão mais panorâmica que abranja oposição e manifestantes.
Se é assim, os vizinhos tinham de ter apoiado Collor contra os caras-pintadas? Ou depende da cor?
Em entrevista à Telesur, rede de televisão criada por Chávez, o chanceler venezuelano, Elías Jaua, agradeceu o apoio: "Recebemos, por meio de Marco Aurélio Garcia, a mensagem clara e firme do governo do Brasil, rechaçando a violência como forma de fazer política e oferecendo sua colaboração".
Enquanto Garcia, em paralelo às cerimônias de um ano de morte de Chávez, transmitia in loco o apoio ao regime Maduro, o Itamaraty aguardava as ordens em Brasília.
Não se faz mais diplomacia como antigamente, quando recados eram dados, não por um assessor, mas pelo presidente, pelo chanceler ou pelo embaixador no país. A diplomacia cedeu aos partidos.
O apoio do governo do Brasil não foi só retórico, foi prático: ajudou a escantear os EUA de qualquer tipo de negociação e a articular uma reunião da Unasul pró-Maduro.
Resta saber se essa posição do governo é também a do próprio Brasil --ou seja, a dos brasileiros.
PODERÁ WASHINGTON DERRUBAR TRÊS GOVERNOS AO MESMO TEMPO?
THIERRY MEYSAN
Washington tenta mostrar, pela primeira vez, que pode derrubar três governos simultaneamente, na Síria, na Ucrânia e na Venezuela. Se conseguir alcançar isso, nenhum governo estará em condições de ser capaz de lhe resistir
(originalmente publicado em 24 de fevereiro, mas ainda atual)
Washington que, em 2011, falhou em conseguir bombardear, simultaneamente, a Líbia e a Síria, está em vias de tentar uma nova demonstração da sua força: organizar mudanças de regime, em três Estados de uma vez, em regiões diferentes do mundo: a Síria (CentCom), a Ucrânia (EuCom) e a Venezuela (SouthCom).
O poder de um Estado mede-se, ao mesmo tempo, tanto pela sua capacidade para se defender, como pela de atacar, numa ou em várias frentes. Nesta perspectiva, Washington tenta mostrar, pela primeira vez, que pode derrubar três governos simultaneamente, na Síria, na Ucrânia e na Venezuela. Se conseguir alcançar isso, nenhum governo estará em condições de ser capaz de lhe resistir .
Para o conseguir, o presidente Obama mobilizou quase toda a equipe do seu Conselho de segurança nacional.
Primeiro, a conselheira Susan Rice e a embaixatriz na ONU, Samantha Power. Estas duas mulheres são as campeãs do discurso «democrático». Elas fizeram disso uma das suas especialidades, desde há muitos anos, ao preconizar a ingerência nos assuntos internos dos outros Estados sob pretexto de prevenir genocídios. Mas, por trás desse discurso generoso, elas estão-se nas tintas para as vidas dos não- americanos, como o demonstrou a Sra Power aquando da crise das armas químicas de Ghoutta. A embaixatriz, que estava perfeitamente ciente da inocência das autoridades sírias, saiu de viagem, com o seu marido, para assistir na Europa a um festival de cinema consagrado a Charlie Chaplin, enquanto o seu governo denunciava um crime contra humanidade do qual tornava responsável o presidente el-Assad.
Depois, os três responsáveis regionais: Philip Gordon (Próximo-Oriente e África do Norte), Karen Donfried (Europa e Euroásia) e Ricardo Zuñiga (América latina).
• Phil Gordon (amigo pessoal e tradutor de Nicolas Sarkozy) organizou a sabotagem da Conferência de paz de Genebra 2, enquanto o dossiê palestiniano não seja regulado à maneira dos EU. Durante a segunda sessão da conferência, enquanto John Kerry falava de paz, ele reunia, em Washington, os chefes dos serviços secretos jordanos, cataris, sauditas e turcos para preparar um enésimo ataque. Os conspiradores reuniram um exército de 13.000 homens, dos quais apenas 1.000 receberam uma breve formação militar, para conduzir blindados e tomar Damasco. O problema está em que a coluna arrisca ser destruída pelo exército sírio antes de chegar à capital. Mas, eles não conseguiram chegar a entendimento sobre o modo de a defender, sem distribuir armas anti-aéreas que pudessem, ulteriormente, ser usadas contra Israel.
• Karen Donfried é uma ex-oficial do serviço nacional de inteligência para a Europa. Ela dirigiu durante muito tempo o German Marshall Fund (Fundo Marshall Alemão- ndT) em Berlim. Actualmente ela manipula a União europeia para mascarar o intervencionismo de Washington na Ucrânia. Apesar da fuga de uma conversa telefónica da embaixatriz Victoria Nuland, ela conseguiu fazer crer aos Europeus que a oposição em Kiev queria juntar-se a eles, e bater-se pela democracia. Ora, mais da metade dos revoltosos da praça Maidan são membros de partidos nazis, e arvoram os retratos do Colaboracionista Stepan Bandera.
• Por fim Ricardo Zuñiga é o neto do presidente homónimo do Partido nacional das Honduras, que organizou os golpes-de-estado de 1963 e de 1972 a favor do general López Arellano. Ele dirigiu a agência da CIA em Havana, onde recrutava agentes e os financiava para formar a oposição a Fidel Castro. Ele mobilizou a extrema-esquerda trotskista venezuelana para derrubar o presidente Nicolas Maduro, rotulado de ser estalinista.
O conjunto das operações é mediatizado sob a batuta de Dan Rhodes. Este especialista da propaganda já escrevera a versão oficial do 11 de Setembro de 2001, redigindo o relatório da comissão de inquérito presidencial. Fê-lo de modo a fazer desaparecer qualquer traço do golpe de Estado militar, (o poder foi retirado das mãos de George W. Bush cerca das 10h da manhã e só lhe foi restituído à noite; todos os membros do seu gabinete e os do Congresso foram metidos nos bunkers de segurança para «garantir a sua vida»), de maneira a que só ressalte a versão de atentado.
Nos três casos, o discurso Americano repousa sobre os mesmos princípios: acusar os governos de ter morto os seus próprios cidadãos, qualificar os opositores de «democráticos», lançar sanções contra os «matadores», e em definitivo realizar golpes de Estado.
A jogada começa, sempre, por uma manifestação no decurso da qual os oponentes pacíficos são mortos, e onde os dois campos se acusam das violências. Na realidade, as forças especiais dos E.U. ou da Otan colocadas sobre os telhados, atiram ao mesmo tempo sobre a multidão e sobre a polícia. Como foi o caso em Deraa (Síria) em 2011, em Kiev (Ucrânia), e em Caracas (Venezuela) esta semana. Por azar, as autópsias realizadas na Venezuela mostram que duas das vítimas, um opositor e um pró-governamental, foram mortos pela mesma arma.
Qualificar os opositores de democratas é um simples jogo de retórica. Na Síria, estes são takfiristas apoiados pela pior ditadura do planeta, a Arábia Saudita; na Ucrânia alguns pró-europeístas sinceros estão rodeados de inúmeros nazis; na Venezuela jovens trotskistas de boas famílias rodeados por milícias patronais. Por todo o lado aparece o falso oposicionista EU, John McCain, a trazer o seu apoio aos reais e falsos opositores locais.
O apoio aos opositores incumbe à National Endowment for Democracy(Promoção Nacional para a Democracia-ndT)(NED). Esta agência do governo americano apresenta-se, mentirosamente, como uma ONG financiada pelo Congresso. Mas, ela foi criada pelo presidente Ronald Reagan, em associação com o Canada, o Reino Unido e a Austrália. É dirigida pelo neo-conservador Carl Gershman e pela filha do general Alexander Haig (antigo comandante-supremo da Otan, depois secretário de Estado), Barbara Haig. É a NED, (na realidade o departamento de Estado), quem emprega o senador da «oposição» John McCain.
A este dispositivo é preciso juntar o Albert Einstein Institute (Instituto Albert Einstein-ndT), uma «ONG» financiada pela Otan. Criada por Gene Sharp, formou agitadores profissionais a partir de duas bases, na Sérvia (Canvas) e no Catar (Academy of change-Academia da mudança,ndT).
Em todos os casos Susan Rice e Samantha Power assumem ares ultrajados antes de parar as sanções —logo aliviadas pela União europeia—, quando são elas as comanditárias das desordens.
Resta conseguir finalizar os golpes de Estado. E, isto, ainda não está feito. Washington tenta, assim, mostrar ao mundo que é o mestre de sempre. Para estar ainda mais seguro de si, lançou as operações ucraniana e venezuelana durante os Jogos Olímpicos de Sochi. É certo que a Rússia não se mexerá, com medo de ver a sua festa estragada por atentados islamistas. Mas Sochi acaba este fim-de-semana. Será, agora, a vez de Moscovo de jogar.
VENEZUELA E CRIMEIA PROVAM: O IMPÉRIO ACABOU
Os Estados Unidos já viveram dias melhores; na crise da Ucrânia, o presidente Barack Obama cedeu diante do russo Vladimir Putin e, por mais que o chanceler John Kerry diga que as portas estão se fechando para a diplomacia, o governo americano jamais teria coragem para o passo seguinte, que seria a guerra contra segunda maior potência nuclear do planeta; na Venezuela, governada por Nicolas Maduro, um pedido de intervenção proposto pelos Estados Unidos teve 29 votos contrários, contra apenas três favoráveis, dos americanos, canadenses e panamenhos; Império americano já não vence na força nem na persuasão do "soft power"
8 DE MARÇO DE 2014 ÀS 22:31
247 – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, está entrando para a história como o general da derrocada da diplomacia de esporas e revólver na cintura do império americano. Nas crises paralelas da Ucrânia e da Venezuela, díspares mas com traços comuns, e nas quais em ambas os Estados Unidos de Obama tentam se meter, ficou estabelecido na semana passada que a lei será respeitada antes da força.
Com o parlamento da Crimeia votando por unanimidade a ligação da região à Federação Russa e a OEA marcando 29 votos a três contra a proposta de enviar observadores à Caracas, os americanos tiveram de recuar apenas para bravatas e articulações com seus aliados da União Europeia.Antes, queriam o recuo da Rússia e o início de intervenção na Venezuela. No continente americano, eles se mostraram em completo isolamento, ao lado apenas de Canadá e Panamá. Na Europa do Leste, Putin, como já se demonstrava, falou mais alto. O leão Obama miou.
Obama marcou em sua biografia um momento preciso do processo de declínio do poderio americano nos dois telefonemas que trocou com Vladmir Putin. No último, na quinta-feira 6, ao desligarem depois de uma hora de conversa tensa, ficou claro que a Rússia, com a vontade manifesta nas ruas do povo da Crimeia, o pedido unânime do parlamento local e todas as ligações históricas e culturais existentes com a região tem ao seu lado todas as leis internacionais para promover a aproximação – e consequente cooperação e proteção.
Putin deu sua versão do telefonema, sendo o único a falar a respeito do seu conteúdo. Avisou que não tem como não atender ao pedido da Crimeia e, além disso, nada há na legislação internacional que o impeça de atender ao pedido do parlamento. Obama não teria mesmo muito a dizer em público sobre o conteúdo do telefonema. Ele terá, à luz da correlação de forças e do direito internacional, de fazer seu secretário de Estado, John Kerry, engolir as ameaças de que "está se acabando a fase da diplomacia", prometendo instalar o caos da guerra na região.
Não há nenhuma justificativa legal que permitam aos Estados Unidos, pela via da Otan ou do que quer que seja, de enfiar as botas na Crimeia.
DERROTA NO QUINTAL - Igualmente, não será pelo envio de observadores que os Estados Unidos irão dar sequência, na Venezuela, ao seu apoio crescente ao desmoronamento do governo constitucional de Nicolás Maduro. A votação de 29 a 3 na OEA soou como um soco no estômago de Obama dentro do antigo quintal americano, servindo para mostrar que nem mais nas cercanias de suas fronteiras os EUA mandam como antes. O México não aprovou a proposta americana.
Frente a Putin ou pelas costas de Maduro, Obama perdeu. Se procurar romper com as regras internacionais, e fazer pela via clássica – como no Iraque e no Afeganistão – uma ação de guerra, não apenas atestará seu isolamento como marcará o ponto mais baixo de sua diplomacia conservadora de cunho antiquado e extemporâneo.
Com um tipo diferente da paranóia estelar de Ronald Reagan e da loucura bélica de George W. Bush, Obama vai sair das duas crises em curso como inconsequente e, ao mesmo tempo, acovardado.
Primeiro, ao apostar na crise da Ucrânia como uma oportunidade de ganho de espaço de dominação geopolítica, Obama e sua administração se mostraram amadores e irresponsáveis. Até as estrelas da bandeira americana sabem que qualquer tentativa de mudança de correlação de forças na região irá, sempre e sempre, despertar o urso russo. Misha, então, se torna Putin. Não se brinca com o segundo (ou primeiro) maior arsenal nuclear do planeta.
Na Venezuela, não há indicativos de que o governo de Maduro perdeu a sustentação que sempre teve – de praticamente metade mais um da população do país. Há que se entender que esse vizinho do Brasil é um país dividido politicamente há pelo menos 40 anos, alternando regimes militares com governos pró-americanos, até o advento do chavismo, onze anos atrás.
Nesse quadro, a Venuzuela tem mostrado solidez institucional suficiente para resolver seus próprios problemas, apesar de os EUA de Obama apostarem em todo o tipo de método de desestabilização.
Uma em cada hemisfério do globo, as crises da Ucrânia e da Venezuela marcam o instante histórico em que os Estados Unidos estão perdendo definitivamente sua estrela de xerife do mundo.
Abaixo, notícia da Agência Reuters a respeito:
Kerry pede máxima moderação à Rússia na região ucraniana da Crimeia
WASHINGTON, 8 Mar (Reuters) - O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse em telefonema ao chanceler russo, Sergei Lavrov, que qualquer passo da Rússia para anexar a região ucraniana da Crimeia fecharia as portas para a diplomacia, afirmou uma autoridade do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
"Ele deixou claro que a continuidade da intensificação militar e da provocação na Crimeia ou em qualquer outra parte da Ucrânia, junto com passos para anexar a Crimeia à Rússia, fecharia qualquer espaço disponível para a diplomacia, e ele apelou pela máxima moderação", disse a autoridade.
"Ele deixou claro que a continuidade da intensificação militar e da provocação na Crimeia ou em qualquer outra parte da Ucrânia, junto com passos para anexar a Crimeia à Rússia, fecharia qualquer espaço disponível para a diplomacia, e ele apelou pela máxima moderação", disse a autoridade.