Nosso objetivo não é engrandecer um homem, o Presidente Lula, mas homenagear, como brasileiro que ama esta terra e esta gente, o que este homem tem provado, em pouco tempo, depois de tanto preconceito e perseguição ideológica, do que somos capazes diante de nós mesmos, e do mundo, e que não sabíamos, e não vivíamos isto, por incompetência ou fraude de tudo e todos que nos governaram até aqui. Não engrandecemos um homem, mas o que ele pagou e tem pago, para provar do que somos.
Estudo do IBGE feito para o Primeiro de Maio mostra que empregos com carteira assinada, pelas regras da CLT de Getúlio Vargas, aumentaram 10 pontos percentuais na última década; em 2003, logo após o governo Fernamdo Henrique, trabalhadores formais eram 71,9%, passando para 82,4% no ano passado, do total de 84,8% de empregados na iniciativa privada; pilar tucano de flexibilização das leis trabahistas não fcou de pé; em 1994, antes de assumir a presidência, FHC pronunciou discurso histórico no Senado, em que prometeu "enterrar a era Vargas"
1 DE MAIO DE 2013 ÀS 05:40
247 - Uma fogueira de carteiras azuis de trabalho poderia ser uma forma de comemorar o sucesso de uma promessa do então futuro presidente Fernando Henrique Cardoso. Já eleito, no final de 1994, ele fez um discurso histórico no Senado, seu último como titular do cargo, chamado O Fim da Era Vargas (abaixo).
Na oratória, o líder tucano prometia, de um modo que jamais colocara na campanha vitoriosa, "acertar contas com o passado" e promover um futuro de desenvolvimento sem as amarras impostas pelo "modelo de desenvolvimento autárquico e ao seu Estado intervencionista" imposto ao Brasil pelo presidente Getúlio Vargas (1882-1954).
Como maior símbolo desse enterro, a flexibilização das leis trabalhistas reunidas na Consolidação das Leis do Trabalho, implantada por Getúlio Vargas em 1943.
Estudo do IBGE divulgado na véspera desta quarta-feira 1º de Maio mostra, ao contrário do que planejou FHC, o aumento de 10,5 pontos percentuais, na última década, entre os empregados com carteira assinada no setor privado que, em 2003, somavam 71,9%. Esse contingente passou para 82,4%, em 2012, do total de 84,8% de empregados que se encontravam na iniciativa privada.
A CLT prossegue sendo a melhor garantia de benefícios sociais ao trabalhador. Os empregos com carteira assinada cresceram a ponto de o desemprego formal ter sido reduzido de 12% para 5,5% hoje, no pós-FHC, durante o governo Lula e na administração Dilma Rousseff.
Abaixo, matéria da Agência Brasil a respeito. Em seguida, leia trecho principal do discurso O Fim da Era Vargas, proferido por Fernando Henrique Cardoso.
Estudo do IBGE mostra aumento de trabalhadores com carteira assinada no setor privado
30/04/2013
Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Estudo especial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a evolução dos empregos formais no país, divulgado hoje (30), acentua o crescimento do emprego com Carteira de Trabalho assinada, sobretudo a partir de 2008. O dado, ressaltado pelo instituto nas edições anuais da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ganhou agora um recorte específico para o trabalho com carteira e suas características, disse à Agência Brasil a economista Adriana Beringuy, pesquisadora da publicação. Elaborado para o Dia do Trabalho, comemorado amanhã (1º), o estudo destaca o aumento de 10,5 pontos percentuais observado na última década entre os empregados com carteira assinada no setor privado que, em 2003, somavam 71,9% e passaram para 82,4% em 2012, do total de 84,8% de empregados que se encontravam na iniciativa privada, no ano passado.
A evolução do trabalho formal estabelece um contraponto em relação à diminuição de trabalhadores sem carteira, disse Adriana. "A gente está tendo uma migração de trabalhadores não registrados para a condição de trabalhadores com carteira, aumentando o percentual da cobertura da população ocupada que tem esse tipo de vínculo de trabalho". Segundo a economista, isso mostra a dinâmica do mercado com taxas de desocupação cada vez menores e também do ponto de vista da qualidade do emprego, porque traz as salvaguardas inerentes ao trabalho com carteira, como direitos trabalhistas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Previdência Social.
Considerando-se toda a população ocupada do país no período de 2003 a 2012, a análise do percentual de empregados com carteira assinada no setor privado mostra que o crescimento no período alcançou 53,6%, passando de 7,3 milhões para 11,3 milhões, enquanto a expansão do total dos ocupados foi 24% (de 18,5 milhões para 23 milhões).
Por setores de atividades, o estudo indica que o comércio foi o setor que mais registrou crescimento de empregados com carteira assinada. Em 2003, apresentava 39,7% e no ano passado subiu para 53%. "Comércio e serviços são os setores que mais têm gerado postos de trabalho. E postos formalizados, que acabam absorvendo esse contingente de pessoas sem carteira", disse. O comércio desponta como setor de grande absorção de uma mão de obra que antes não tinha essa proteção, acrescentou a pesquisadora. O comércio responde também pela transformação qualitativa do mercado de trabalho.
A grande concentração do trabalho com carteira, entretanto, está na indústria e nos serviços prestados às empresas, da ordem de 69,7% e 70,4%, respectivamente, em 2012.
O estudo do IBGE também mostrou que diminuiu nos últimos anos a diferença entre brancos e negros com carteira assinada. Do universo de ocupados de cor branca em 2003, 41,2% tinham carteira assinada, ao passo que, entre os ocupados de cor preta ou parda, a proporção era 37,7%, ou seja, havia uma diferença de 3,5 pontos percentuais entre as duas classes. Em 2012, a diferença caiu para 0,2 ponto percentual (49,4% para brancos e 49,2% para pretos ou pardos).
Adriana Beringuy explicou que quando se pega a população ocupada como um todo nos últimos dez anos, independentemente do tipo de vínculo de trabalho, verifica-se que o número de pessoas que se declaram de cor preta ou parda vem aumentando. "O aumento acabou se refletindo no mercado de trabalho no que diz respeito ao vínculo de trabalho", declarou.
A economista do IBGE destacou também que os setores que mais têm empregado no período, que são comércio e serviços pessoais, absorvem grande contingente de mão de obra sem muita distinção de qualificação ou experiência pregressa. "É um setor muito mais democrático até para absorver pessoas sem experiência". Segundo ela, as diferenças de cor e raça podem ter facilitado também a expansão do trabalho nessas áreas, ao contrário do que ocorre na indústria, cuja demanda é crescente por pessoas mais qualificadas.
A falta de experiência anterior ou a menor escolaridade podem estar refletindo também tanto na questão de de gênero, como na de cor e raça, disse Adriana. A análise por gênero de pessoas com Carteira de Trabalho assinada indica que houve um significativo crescimento da participação feminina no mercado de trabalho privado. O aumento observado entre 2003 e 2012 atingiu 9,8 pontos percentuais (de 34,7% para 44,5%), enquanto na população ocupada total, a participação das mulheres subiu apenas 2,3 pontos percentuais (de 43% para 45,6%).
Do mesmo modo, a escolaridade vem crescendo na população como um todo, confirmou Adriana. No ano passado, 68,7% dos empregados com carteira tinham 11 anos ou mais de estudo, contra 53,5% em 2003. O aumento foi 5,2 pontos percentuais. "Se a gente pegar a população em idade ativa, o número de pessoas com mais anos de estudo aumentou. Por consequência, isso reflete também no mercado de trabalho, independentemnete de ser sem carteira ou com carteira".
Nos dez anos analisados pelo IBGE, verifica-se que o rendimento dos empregados com carteira assinada evoluiu 14,7%. Segundo a pesquisadora, essa formação de postos com carteira absorveu pessoas que vinham do mercado informal ou trabalhadores por conta própria que tinham rendimentos mais baixos. Embora tenha crescido o contingente de trabalhadores com carteira assinada, esses vinham de atividades anteriores cuja remuneração não era tão alta. "E novamente, quem mais criou postos foi o comércio, que é uma atividade que não registra as maiores remunerações".
O estudo indicou também que o rendimento médio real da população ocupada com carteira assinada no setor privado passou de R$ 1.433,01 para R$ 1.643,30 entre 2003 e 2012. No mesmo período, o rendimento da população ocupada total cresceu 27,2% (de R$ 1.409,84 para R$ 1.793,69).
Leia ainda trecho do discurso em que FHC prometeu enterrar a era Vargas:
O fim da Era Vargas
Por Fernando Henrique Cardoso
"Senhor Presidente, Senhores Senadores,
Levamos a cabo a tarefa da transição. Olhando para trás, revendo os obstáculos vencidos, podemos dizer a nós mesmos e ao País, sem jactância, mas com satisfação: missão cumprida.
Mas a hora não é de congratulação apenas. É de pensar no futuro. De projetar, com a régua e o compasso da democracia, o tipo de País que queremos construir para nossos filhos e netos. E de colocar mãos à obra para vencer a distância do sonho à realidade. Acontece que o caminho para o futuro desejado ainda passa, a meu ver, por um acerto de contas com o passado.
Eu acredito firmemente que o autoritarismo é uma página virada na História do Brasil. Resta, contudo, um pedaço do nosso passado político que ainda atravanca o presente e retarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao legado da Era Vargas — ao seu modelo de desenvolvimento autárquico e ao seu Estado intervencionista.
Esse modelo, que à sua época assegurou progresso e permitiu a nossa industrialização, começou a perder fôlego no fim dos anos 70. Atravessamos a década de 80 às cegas, sem perceber que os problemas conjunturais que nos atormentavam — a ressaca dos choques do petróleo e dos juros externos, a decadência do regime autoritário, a superinflação — mascaravam os sintomas de esgotamento estrutural do modelo varguista de desenvolvimento.
No final da "década perdida", os analistas políticos e econômicos mais lúcidos, das mais diversas tendências, já convergiam na percepção de que o Brasil vivia, não apenas um somatório de crises conjunturais, mas o fim de um ciclo de desenvolvimento de longo prazo. Que a própria complexidade da matriz produtiva implantada excluía novos avanços da industrialização por substituição de importações. Que a manutenção dos mesmos padrões de protecionismo e intervencionismo estatal sufocava a concorrência necessária à eficiência econômica e distanciaria cada vez mais o Brasil do fluxo das inovações tecnológicas e gerenciais que revolucionavam a economia mundial. E que a abertura de um novo ciclo de desenvolvimento colocaria necessariamente na ordem do dia os temas da reforma do Estado e de um novo modo de inserção do País na economia internacional.(...)"
HISTÓRIA UNE LULA A GETÚLIO PARA DERROTAR FHC E LACERDA
DAVIS SENA FILHO
O governo neoliberal e entreguista do tucano FHC, que envergonhou a verdadeira social-democracia, deveria ter se espelhado em Getúlio Vargas, que ofereceu propostas e efetivou não um programa de governo, mas, sim, de estado para o País
No dia 24 de agosto de 2013 vão se completar 59 anos da morte do grande estadista Getúlio Dornelles Vargas. Ao acordar, pensei no notável político que foi o gaúcho da cidade de São Borja, berço do trabalhismo brasileiro. Lembrei que o Senado homenageou, em 2004, o grande estadista, em uma sessão especial, da qual participei por meio de convite, pelo transcurso dos 50 anos de seu trágico desaparecimento e que, contraditoriamente, propiciou naquele momento a derrota da direita brasileira, que estava há poucos momentos de efetivar mais um golpe de estado.
O Senado, instituição republicana por onde passaram vultos importantes de nossa história, entre eles o general gaúcho, Pinheiro Machado, e o doutor das letras, o baiano Rui Barbosa, sempre relembrou e homenageou as pessoas que ajudaram a pensar e a construir este País. É tradição, e, a meu ver, assim continuará, pois se trata de uma Casa augusta, enraizada na história do Brasil, além de ser um fórum político muito importante de deliberações e decisões em âmbito nacional.
Pensei em Getúlio e em sua grandiosa obra. Refleti sobre seu imenso legado, e, conseqüentemente, em seus opositores, ferozes e injustos, desrespeitosos e ousados, mas, principalmente, oportunistas e mentirosos, combustíveis da violência daqueles que querem assumir o poder pela força das armas. Uma oposição de direita, sobretudo, herdeira da escravidão e contrária ao desenvolvimento social e econômico que a população brasileira estava a experimentar pela primeira vez em sua história.
O Brasil, até então, era um País de herança escrava, atrasado. Cerca de 70% da população, em 1930, vivia no campo. Para ilustrar ou dimensionar o que foi Getúlio Vargas recorro ao saudoso professor, fundador da Universidade de Brasília (UnB) e criador do CIEP, senador Darcy Ribeiro, que disse a seguinte frase: "Quando você pensa que coisas elementares para qualquer País como os Ministérios da Educação, da Saúde e do Trabalho não existiam no Brasil antes de 1930; quando você pensa que não havia jornada de oito horas de trabalho, não havia direito a férias, a sindicato, à greve, e constata que quem introduziu isso tudo foi Getúlio, mesmo reconhecendo seus defeitos não se pode esquecer sua importância histórica".
A constatação do mineiro Darcy Ribeiro personifica e sedimenta a vida política, o ideário do estadista gaúcho, herdeiro de Júlio de Castilhos e, filosoficamente, positivista. Não há como, de forma imparcial, dissociar Getúlio Vargas do desenvolvimento do Brasil, e, por conseguinte, da inserção de nosso País no rol dos países que são considerados civilizados.
Getúlio civilizou a sociedade brasileira, porque garantiu os direitos civis e trabalhistas, bem como permitiu que o cidadão brasileiro se tornasse independente, por intermédio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), da instituição do salário mínimo, da organização dos sindicatos, do direito à greve, do acesso das massas à educação, da criação da Previdência Social e da Justiça do Trabalho.
Além disso, Getúlio reorganizou o estado nacional ao instituir o concurso público, para depois centralizá-lo e com isso obrigar os estados a serem, de fato, federados. Naquela época, os governadores eram chamados de presidentes, e as oligarquias rurais e urbanas controlavam os governos estaduais, administravam o dinheiro público sem darem satisfações a um poder central, que hoje tem instrumentos como a Receita Federal, a Polícia Federal, o Ministério Público e as procuradorias, que combatem o desvio de recursos e apontam aqueles que são os responsáveis pela corrupção e por diversas modalidades de crimes financeiros e fiscais. A punição fica a cargo dos tribunais do Judiciário, não se pode confundir.
Por tudo isso, não é correto, historicamente, negar o valor e a importância de um homem, raro, como Getúlio Vargas. Ele, juntamente com homens da importância de Oswaldo Aranha, Lindolfo Collor, Francisco Campos, Gustavo Capanema, Pedro Ernesto, Juarez Távora, Tancredo Neves, Assis Brasil, Juracy Magalhães, Alberto Pasqualini, João Goulart e, posteriormente, Leonel Brizola, entre muitos outros, revolucionaram o nosso País, que até então era rural, voltado à agricultura e à pecuária, além de exportar minérios, sem, entretanto, agregar valor algum.
Essa brilhante geração de políticos realmente pensou o Brasil e o construiu, solidificando-o para o futuro, mesmo quando este mesmo futuro não foi tão bom para os brasileiros — vide os homens que vieram a governar este País após a morte de Getúlio Vargas e da queda de João Goulart, o Jango, no ano de 1964. Em vez de darem continuidade à sua monumental obra, tentaram desconstruí-la, aos poucos, de governo a governo.
Ao contrário dos Estados Unidos, cujos presidentes, em sua maioria, deram continuidade à obra social e econômica de Franklin Delano Roosevelt, os ditadores do período militar e os presidentes José Sarney, Fernando Collor e o tucano Fernando Henrique Cardoso, conhecido também como FHC — o Neoliberal — anunciaram o fim da Era Vargas.
FHC — o Lesa-Pátria —, com sua vaidade e petulância de "aristocrata" ou de cafeicultor paulista quatrocentão, além da vocação para intelectual sociológico, colocou em prática sua característica principal como mandatário: nenhuma praticidade e vontade para fazer do povo brasileiro um povo orgulhoso e satisfeito com os rumos de seu País.
Vendeu empresas públicas lucrativas e organizadas, que serviram de base para o nosso desenvolvimento. Estatais, a exemplo da Vale do Rio Doce (obra de Getúlio) e a Telebras hoje mutilada e dividida entre os estrangeiros em várias partes, foram alienadas do patrimônio público brasileiro e vendidas a preços tão baixos que hoje soam como piada. De mau gosto, é claro.
Em vez de ter papel social, a Telebrás, dividida pela iniciativa privada estrangeira e nacional, transformou-se apenas em prestadora de serviços de telefonia dos mais caros do mundo. Por seu turno, essas empresas são as campeãs de reclamações no Procon. Realmente, as telefônicas privadas dão nos nervos da população, porque quando algo ou alguém somente visa o lucro, não há como priorizar a sociedade e nem respeitar seus direitos fundamentais, garantidos pela Constituição e pelo Código do Consumidor. Portanto, considero que as agências reguladoras e o governo têm de ser duros com os maus empresários e cobrar, sem tergiversar, o que é definido pelos contratos.
As empresas de telefonia se recusam a investir nos rincões do Brasil e até hoje não disseminaram o sistema de banda larga, porque não têm competência para realizar tal projeto, além de considerá-lo caro para seus cofres abarrotados de dinheiro, valores monetários que, evidentemente, vão para fora em forma de remessa de lucro e com isso ajudar a gringada a amenizar o colapso financeiro, econômico, social e moral pelo qual estão a passar, por causa do derretimento do fracassado e desumano neoliberalismo, a partir de 2008. Somente os "especialistas" da imprensa de negócios privados comprometidos com o grande capital "não percebem" essas realidades. Eles não são uns gênios, prezado leitor?
O neoliberal tucano FHC, na verdade, não governou como presidente de uma Nação, e sim como corretor de imóveis e de empresas à venda. Lula trilhou um caminho contrário e fortaleceu o estado nacional, que, posteriormente, tornou-se o maior responsável pelo Brasil praticamente não sofrer com a crise econômico-financeira internacional, que acometeu o mundo no ano de 2008. Lula vem do trabalhismo paulista, que é diferente do gaúcho, mas que, no fim das contas, tem os mesmos interesses políticos e sindicais, porque se trata de defender os interesses dos trabalhadores. E é esta a questão primordial.
Lula, mandatário que já tem um lugar de honra na história do Brasil, tal qual Getúlio Vargas, apenas compreendeu o trabalhismo do antigo PTB e do PDT e passou a trabalhar, de forma programática, essa realidade na Presidência da República. A direita percebeu e sua ponta-de-lança, a imprensa de mercado, passou a combatê-lo, como o fez com Getúlio, Jango e Brizola, ao ponto de, em 2005, quase ser derrubado por essa estratégia conservadora, que se valeu do caso do mensalão para sangrá-lo politicamente, enfraquecê-lo, porque no ano seguinte haveria as eleições para presidente. Todo esse processo teve a cumplicidade da cúpula do PSDB e, obviamente, do DEM, que é o pior partido do mundo, pois tão conservadores quanto os republicanos do Texas. Eles, juntamente com os tucanos paulistas, são o Tea Party brasileiro.
Lula percebeu, juntamente com Marco Aurélio Garcia, assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça, Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil e Luiz Dulci, ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, que estava em jogo não apenas a luta pelo poder em termos civilizados, partidários, eleitorais e constitucionais. O que estava a acontecer era uma conspiração de setores reacionários da vida brasileira, que colocavam em risco o seu mandato de presidente da República conquistado, inquestionavelmente e democraticamente, nas urnas.
O presidente trabalhista avisou aos seus ministros: "Continuem trabalhando no Ministério, porque eu vou para as ruas". Dito e feito. Lula subiu para o Nordeste, e de lá avisou aos golpistas que não aceitaria golpe de estado. Posteriormente, o político fundador do PT e da CUT disse que o problema da direita, dos conservadores é que eles nunca se depararam e trataram com um presidente cuja origem tem raízes profundas no sindicalismo, na ala progressista da Igreja Católica e nas organizações sociais. Trata-se de um triunvirato poderoso, porque ele é enraizado na alma do povo, e, por conseguinte, ramificado em todos os setores da sociedade brasileira. A direita percebeu e recuou. Ela é cruel, mas não é e nunca foi idiota.
O governo neoliberal e entreguista do tucano FHC, que envergonhou a verdadeira social-democracia, principalmente a europeia, deveria, na verdade, ter se espelhado em Getúlio Vargas, que ofereceu propostas e efetivou não um programa de governo, mas, sim, de estado para o País, com sua equipe e, obviamente, com a força dos trabalhadores brasileiros. Se Getúlio é considerado em um período ditador, como gostam de afirmar os "gênios" da imprensa privada golpista, o que pensar então das políticas econômicas e sociais dos cinco ditadores militares, de José Sarney, Fernando Collor e, principalmente, do neoliberal Fernando Henrique Cardoso?
Existe ditadura mais cruel? E há crueldade maior do que a da imprensa comercial e privada? Esta, historicamente, liga-se a políticos que fomentam o jogo de interesses do grande capital nacional e internacional. Barões da imprensa que compactuam, como sempre, com os conspiradores de outros segmentos, que se dedicam a derrubar ou ridicularizar quaisquer políticos que tenham propostas nacionalistas, projetos para o País e programas de governo voltados para o desenvolvimento social, que visam emancipar o povo brasileiro. Programas e projetos exemplificados em Getúlio Vargas, João Goulart e Luiz Inácio Lula da Silva, bem como em Juscelino Kubistchek, que, por pensar em seu futuro político, apoiou, em um primeiro momento, o golpe de estado de 1964. Depois Juscelino percebeu seu grave erro e passou também a combater, corajosamente, a ditadura civil-militar, que o perseguiu e o humilhou.
Por sua vez, a corrente política trabalhista dos gaúchos, também dos uruguaios e dos argentinos, enfim, foi derrotada em 1964, por intermédio de políticos e militares udenistas e golpistas umbilicalmente ligados à Guerra Fria, promovida e patrocinada no ocidente pelos Estados Unidos, e apoiada por parte da classe média despolitizada e conservadora e, logicamente, como não poderia deixar de ser, pela imprensa alienígena e pelos religiosos conservadores da Igreja Católica, além de banqueiros como o governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, que tiveram ainda a cumplicidade dos empresários da Fiesp, da Fierj e de outras federações empresariais menos importantes.
Não procede e não reflete a verdade histórica a interpretação de muitos historiadores, sociólogos, políticos e jornalistas que Getúlio Vargas, em 1945, teve de renunciar por causa da vitória da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na II Guerra Mundial, como, por exemplo, declarou, na época, o presidente do Senado, José Sarney. O político maranhense, de origem udenista da ala Bossa Nova, afirmou tais palavras ao "Jornal do Senado", em sua edição especial de 24 de agosto de 2004, em homenagem a Getúlio Vargas.
A verdade é a seguinte: em 1945, Getúlio Vargas teve de renunciar, pois o Palácio do Catete estava sitiado pelos militares (sempre eles). Agiu dessa forma para manter o regime democrático e com isso garantir a vitória do marechal Eurico Gaspar Dutra, seu ministro da Guerra, nas eleições constitucionais de 1946. Tanto é verdade que Getúlio foi eleito democraticamente, em 1950, fato este que recrudesceu o ódio feito de bílis da direita reacionária udenista-militar, que nunca teve voto e continuou a não tê-lo através da história. Nem mesmo as mudanças constantes de nomes, como, por exemplo, Arena, PDS, PFL e agora DEM, partido que está a se transformar em uma agremiação média para pequena, serviu para que os udenistas melhorassem suas imagens perante os eleitores. Mudar o nome da sigla não convence ninguém. A direita é o que é, porque seus propósitos são o que são, e todo mundo sabe disso, até um recém-nascido.
Com o ressurgimento do PSD (sigla partidária fundada por Getúlio) do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, acarretou que muitos demoníacos (desculpem, foi um lapso!) do DEM pulassem do barco para não afundar com o partido direitista. Kassab percebeu que ser aliado de José Serra é dar abraço em afogado, e apoiar Geraldo Alckmin significa não ter acesso livre para concorrer a governador de São Paulo. Esperto o Kassab, não achas, caro leitor? Com isso, o DEM, que é o PFL e a UDN, vai seguir o seu destino: o fracasso retumbante e, quiçá, a extinção, palavra esta muito íntima de ex-senador e ex-governador de Santa Catarina e ex-"ideólogo" do DEM, Jorge Bornhausen. Quem sobrou para o DEM? O ACM Neto, atual prefeito de Salvador. Só que o neto do falecido coronel ACM não tem expressão nacional, mas mesmo assim o DEM, o pior partido do mundo, ergue as mãos aos céus por ter conquistado a capital dos baianos.
Voltemos ao Sarney. Udenista que também foi da Arena e do PDS, conhece a história do Brasil. Ele sabe que Getúlio Vargas foi vítima de um golpe. Vargas caiu porque sofreu um golpe "branco" e foi traído pelos coronéis e generais, inclusive pelo seu ministro da Guerra, general Zenóbio da Costa. Os generais, a maioria, dizia-se, até então, legalista, portanto, constitucionalista. Esses mesmos coronéis e generais, dez anos mais tarde (1964), ascendem ao poder, por meio de um golpe militar, com amplo apoio de forças estrangeiras, como a CIA e o Departamento de Estado, da IV Frota dos EUA, de civis brasileiros de oposição, aqueles com influência junto aos empresários que controlam os meios de produção e de comunicação, bem como o importantíssimo apoio logístico, geográfico e político de governadores poderosos como Magalhães Pinto de Minas Gerais, o intrépido, loquaz, agressivo, ambicioso sem limites pelo poder e multifacetado Carlos Lacerda do Rio de Janeiro, denominado pelos seus adversários de o Corvo, além do governador de São Paulo, Ademar de Barros, "o rouba, mas faz".
Para o bem da verdade é necessário que fique claro que Getúlio não foi derrubado porque era "ditador", e sim porque era nacionalista, contrariava interesses internacionais e elaborou leis e assinou resoluções que beneficiaram o trabalhador. A questão política (ser ditador ou não) sempre ficou em segundo plano, mas foi usada e manipulada, sistematicamente, como questão principal. A imprensa atacava violentamente Getúlio (a Tribuna da Imprensa, do golpista Carlos Lacerda, publicou, de forma cruel e infame, a seguinte manchete: "Somos um povo descente governado por um ladrão"). Os proprietários de jornais, rádios, televisões e revistas pertencem à classe do patronato e, igualmente, aos patrões de outros segmentos da economia, eram e ainda o são até hoje contra os avanços sociais efetivados pelos governantes trabalhistas. Eles sempre, quando podem, pedem a revisão das leis trabalhistas. Sempre.
Considerar Getúlio ditador realmente foi um subterfúgio para a burguesia brasileira combatê-lo e derrubá-lo. Tanto é verdade que depois a imprensa empresarial apoiou como cúmplice e de forma subserviente os militares a partir de 1964. Ou seja, a imprensa privada foi um dos principais alicerces da ditadura militar. Ao apoiarem o golpe de estado, os barões da imprensa e das mídias enriqueceram a tal ponto que hoje enfrentam governos e tentam pautá-los conforme seus interesses políticos, ideológicos, econômicos e financeiros. Ainda mais se determinado governante for trabalhista, a exemplo de Getúlio, Jango, Lula e agora a presidenta Dilma Rousseff.
A verdade é que a ditadura Vargas perto da dos militares de 1964 era coisa de amador. A imprensa da época, os ricos e parte da classe média derrubaram Getúlio porque seu governo estava a distribuir renda, além de inserir muitos milhares de brasileiros no mercado de trabalho e nas escolas públicas. Getúlio Vargas foi derrubado em 1945 e morto em 1954 porque era nacionalista e tinha um projeto de autodeterminação e de independência para o Brasil. Fato este que não interessa e nunca interessou aos EUA e à nossa burguesia herdeira do sistema de escravidão.
Os militares e civis que passaram a controlar o Brasil com mão de ferro em 1964 se alinharam aos interesses internacionais, a ter como base a Guerra Fria. Os Estados Unidos não permitiriam jamais que o Brasil, bem como a Argentina de Perón e o Uruguai se desenvolvessem sem sua aquiescência. Era uma questão geopolítica e colonialismo, sem sombra de dúvida, pois os estadunidenses passaram a ficar histéricos quando a União Soviética dividiu o mundo, simbolicamente, com o muro de Berlim.
O Brasil, então, passou a abrir as portas, com ênfase, às multinacionais. Os economistas, de pensamento monetarista,/liberal, como Eugênio Gudin, Roberto Campos e equipes direcionaram a economia do País para o que hoje é conhecido como neoliberalismo, sistema perverso alicerçado na globalização, que é o colonialismo maquiado, com nova estampa, a fim de atender às demandas da nova ordem mundial, que é a mesma ordem secular de sempre: manda quem pode (países ricos); obedece quem tem juízo (países pobres). Como ocorreu com a Líbia. Os países colonialistas, por meio da ONU, órgão de supremacia e defasado; superado e de espoliação internacional, calou-se e mais uma vez se tornou cúmplice da rapinagem e da pirataria que se pratica por meio da força nos países árabes, como exemplificam muito bem a Palestina, o Iraque e o Afeganistão, somente para ficar nesses.
Acontece que Getúlio Dornelles Vargas tinha juízo. Quem não tinha e continua a não tê-lo são os políticos de partidos (extintos ou não) como a União Democrática Nacional (UDN), o PL, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), o Partido Democrático Social (PDS), o DEM (ex-PFL), o Partido Popular Brasileiro, atual Partido Popular (PP), além de outros partidos de centro e de direita como o PPS e o PSDB, aquela agremiação política que vendeu o País e por causa desse grave motivo perdeu as últimas três eleições para presidente da República. Lembro ainda que partidos que se dizem de esquerda, como o PPS e o PSOL foram cooptados pelo establishment, como o foi também o partido de Marina Silva, o Rede, que antes de ser legalizado no TSE já é uma metáfora de si mesmo.
Getúlio Vargas estava tão à frente de seu tempo que, em 1929, na campanha à Presidência da República, pela Aliança Liberal, ele propunha uma legislação que efetivasse as férias remuneradas e a regulamentação do trabalho do menor e da mulher, o que venhamos e convenhamos, deixou a "elite" econômica nacional inconformada, com raiva, ou melhor, com ódio. Getúlio Vargas foi o maquinista da revolução industrial brasileira, a transformar, desse modo, um País rural em urbano.
Criou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Vale do Rio Doce e a Petrobras. O mundo hoje, com as guerras no Oriente Médio, na África e na Ásia árabe, está a enfrentar mais uma crise de petróleo, na verdade de vários tipos de energia, e o Brasil é autossuficiente e, portanto, não sente em demasia a alta nos preços do combustível fóssil. É verdade que o preço da gasolina, por exemplo, não é barato, mas, contudo, o Brasil, com a descoberta do Pré-Sal e com seu mercado interno cada vez mais forte, torna-se um País mais poderoso do que já é, e preparado para enfrentar crises, bem como ter o controle de suas diferentes fontes de energia.
Retornemos a Getúlio. Além disso, a construção da CSN permitiu que o Brasil liderasse o segmento do aço e assim se tornasse proprietário de seu destino, sem precisar exportar ferro bruto e depois comprar o mesmo ferro de países industrializados a preços altíssimos, em dólares, o que, sobremaneira, não agradou aos industriais norte-americanos do segmento do aço. Só que produzir aço é uma questão de segurança nacional e de independência para qualquer País, e Getúlio percebeu isso. Alguns grandes empresários sempre remam contra a maré e contrariam os interesses de seu próprio País.
Lula, quando presidente, pressionou o ex-manda-chuva da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, a agregar valor à produção da Companhia, ou seja, construir siderúrgica, fábricas que pudessem propiciar empregos no Brasil para os trabalhadores brasileiros. Lula demonstrou, em público, sua contrariedade. Agnelli pagou para ver. E viu; pois demitido. No governo Dilma ele teve de sair da presidência da Vale do Rio Doce. Como se vê, existem empresários, executivos atuais que agem como os empresários e executivos do passado. O tempo passa, mas a cabeça é a mesma. São tacanhos e medíocres, porque não pensam no País. Eles não têm compromisso. Não dá para deixar na mão de um executivo predador uma empresa do gigantismo da Vale do Rio Doce, identificada com o povo brasileiro, além de ser obra do estadista nacionalista Getúlio Vargas. E a imprensa e seus "especialistas" de prateleira têm a insensatez e a total falta de noção ao defender o injustificável e o indefensável, tudo para manter privilégios e atender os interesses do mercado internacional, mesmo se o preço for o prejuízo do Brasil e do seu povo competente, criativo e trabalhador.
Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal — quando se despediu do Senado em 1994, com o propósito de desmontar a Era Vargas, afirmou: "Um pedaço do nosso passado político ainda atravanca o presente e retarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao legado da Era Vargas, ao seu modelo de desenvolvimento autárquico e ao seu Estado Intervencionista". FHC queria o quê? O País não tinha nada. Era rural. Getúlio remodelou o estado nacional e o organizou. Somente o estado teria e tem (como demonstrou na crise mundial de 2008) condições de fomentar e desenvolver a economia e, por conseguinte, permitir a melhoria da qualidade de vida da população, ainda mais naquela época de Vargas.
Nada mais natural aos tucanos do que as palavras de FHC, que depois de terminar seu mandato não deixou legado algum. O político neoliberal e entreguista deixou, certamente, um legado de miséria, de diminuição da renda do trabalhador, de desemprego, de venda das estatais, que FHC não construiu e não lutou para construí-las, de subserviência ao FMI (faliu o Brasil três vezes e pediu dinheiro de joelhos e com o pires na mão), de não efetivação séria da reforma agrária, de degradação do meio ambiente, de destruição das nossas estradas, ferrovias e portos, de racionamento de energia durante nove meses, que redundou no famoso apagão, e, como não poderia deixar de ser, de crescimento da violência.
O executor do neoliberalismo no Brasil, o tucano FHC, criticou o legado de Getúlio Vargas no Senado, em 1994, como se fosse uma senha. Ele sinalizou aos estadunidenses, credores históricos, que desmontaria o estado brasileiro, com as vendas das estatais e do fechamento de instituições e órgãos públicos e com isso permitir a diminuição do estado nacional. Estado menor mais dinheiro para pagar a dívida. Atitude que os estadunidenses, por não serem entreguistas, não fariam com o estado deles.
FHC, o Neoliberal, trabalhou bem para os ricos e manchou de vergonha todos os brasileiros que um dia acreditaram que a social-democracia fosse democratizar a vida nacional, a começar pela distribuição de renda e de riqueza. Afinal, foi isso que os sociais democratas europeus fizeram. Somente eleições não bastam. Tem de haver democracia na economia. Distribuição de renda, de terra, apoio à micro e média empresas, crescimento nos índices de emprego e, sobretudo, aplicação massiva de recursos para a educação. Foi isso que Getúlio e Lula fizeram. Cada uma com as realidades e as diferenças de suas épocas.
FHC (ele é professor) e seu governo entreguista não construíram uma escola de ponta, uma escola técnica. As universidades públicas foram quase desmanteladas e as faculdades particulares surgiram como sarampo em criança, a maioria delas somente de olho nas mensalidades pagas pelo aluno trabalhador, despossuído de dinheiro e de ensino de qualidade. Quanto a Lula, o que dizer?
Lula (e muitos sindicalistas da CUT, alguns deles, inclusive, foram eleitos deputados), antes de ser presidente e por desconhecimento, pensava de uma maneira bem parecida com a de FHC, no que tange ao trabalhismo e ao sindicalismo. Lula considerava a CLT como o AI-5 dos trabalhadores. Para o presidente petista, Getúlio Vargas era o pai dos pobres e a mãe dos ricos. Lula afirmava que o PT nasceu dos operários de macacão e por isso tem de escolher seu destino em vez de ficar à mercê do cajado de políticos que deveriam andar com os trabalhadores e não dizer o que eles têm que fazer.
Na Presidência da República, Lula, homem inteligente, dotado de uma clarividência política ímpar, percebeu que sua condição de político, sua realidade de vida e seu pensamento ideológico eram mais próximos dos trabalhistas gaúchos do que ele pensava. Ele não somente percebeu como começou a governar como tal, ou seja, com as características inconfundíveis de um mandatário trabalhista, tanto no Brasil como na Argentina ou no Uruguai.
Lula sempre quis os sindicatos desvinculados do estado. Os sindicatos foram criados na era Vargas. Lula tem forte influência nos sindicatos, pois a CUT é um conjunto imenso dessas importantes entidades. A verdade é que se não existissem os sindicatos, Lula não existiria como grande líder político que é hoje. Lula, portanto, é fruto do sindicalismo criado por Getúlio. Por mais que os sindicatos paulistas e confederações e federações de trabalhadores não tenham oficialmente vínculo com o estado, não há como desvincular Lula de Getúlio, porque ambos são (ressaltadas suas diferentes épocas e origens) umbilicalmente e historicamente ligados aos trabalhadores brasileiros.
Contudo, de uma coisa eu tenho certeza: não se consegue desmontar a história; e Getúlio Vargas vai ficar para sempre na memória do povo brasileiro. Antes de dar fim à Era Vargas (coisa que muitos tentaram, mas não conseguiram), todo dirigente político tem de procurar não imitar FHC — o neoliberal. Se tal mandatário pensa em realmente ficar na história que ele faça por onde. Não basta ser um presidente administrador dos interesses das classes privilegiadas e dos trustes nacionais e internacionais. Tem de ser estadista. E Lula se fez estadista igual a Getúlio. Ponto.
FHC falou demais e fez de menos. Lula aproveitou a crise mundial e parou de administrar somente a macroeconomia (exportações, bancos, grandes indústrias e serviços) e passou, inclusive antes da crise, a valorizar o mercado interno para fazer o País crescer, além de se preocupar com a criação de universidades, extensões e escolas técnicas. Dilma Rousseff vai agora implementar a construção de creches e melhorar o ensino público fundamental.
Todavia, quem quer pagar ensino que pague. O estado é o provedor maior, pois o estado é a própria população. Quando o estado não cuida de seu povo, ele não é democrático. Esse negócio de empresa privada, livre iniciativa é papo para boi dormir. Conversa mole para favorecer os ricos. A livre iniciativa mama nas tetas do estado há muito tempo, como ocorreu há pouco nos Estados Unidos e na Europa, por causa da crise de 2008, que derreteu o neoliberalismo, sistema de rapina e desregulamentado de propósito para privilegiar ainda mais a quem já era privilegiado.
A verdade é a seguinte: empresário empregador tem de ter apoio sempre e financiamento. Empresário especulador "tem que passar a ser competente para se estabelecer", como define o principal bordão empresarial, além de ser a regra número um do mercado, tão admirada inclusive pelos maus empresários. Getúlio Vargas é mais moderno que todos os presidentes brasileiros, juntamente com Lula. Acontece que até hoje a nossa elite econômica tem rancor do grande estadista, por ele ter colocado ordem no País, quando assumiu o poder em 1930 e depois derrotou a "revolução" Cartola Constitucionalista de 1932, que queria manter os privilégios de uma oligarquia que ainda sonhava com o tempo da escravidão (política do café com leite).
Inclusive, infelizmente, parte da elite acadêmica, universitária e de viés tucano, analisa Getúlio com uma ponta de desdém, que é a inveja dissimulada. Getúlio Vargas foi um fenômeno político. Quando ele assumiu o poder e passou a modernizar o estado e as relações trabalhistas a libertação dos escravos tinha acontecido há apenas 42 anos, depois de 350 anos de escravidão, a mais longa da história da humanidade. Acham isto pouco? Mas não é. É muito. A Era de Getúlio não foi devidamente dimensionada pela história e pelos historiadores, e vai levar tempo enquanto viverem neste País pessoas rancorosas, conservadoras e que lutam, incessantemente, pela manutenção do status quo das classes dominantes.
O estadista brasileiro, o "ditador" esclarecido Getúlio Dornelles Vargas reorganizou os partidos, fundou o PSD e o PTB, estabeleceu o voto feminino, o voto secreto, criou a Previdência Social, criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), estatizou a geração de energia elétrica, criou a carteira de trabalho, criou a Fábrica Nacional de Motores (lembra-se do caminhão FNM?), criou a Rádio Nacional, criou o Museu Imperial de Petrópolis, a resguardar assim a memória do Século XIX, criou a Eletrobras, criou o Serviço Nacional da Indústria (Senai) e o Serviço Social da Indústria (Sesi), instituições essenciais para a formação de mão-de-obra especializada, pois Getúlio Vargas estava a iniciar a industrialização do País. Os empresários da Fiesp acham que foram eles que criaram o Sesi e o Senai. E os Marinho e os executivos das Organizações(?) Globo pensam que o "Criança Esperança" é programa de governo. Seria cômico se não fosse trágico. Realmente... Sem comentários.
Criou ainda o presidente gaúcho e trabalhista o Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), responsável pelo treinamento e profissionalização da carreira dos funcionários públicos, criou a "Voz do Brasil", para divulgar as ações do governo, além de limitar a remessa de lucros de empresas estrangeiras para o exterior. Somente este último item me leva a imaginar o que Vargas deve ter arrumado de inimigos, tanto estrangeiros quanto nacionais. O político trabalhista era, sobretudo, um homem corajoso. Getúlio Dornelles Vargas fez essa obra gigantesca em 19 anos. Os outros presidentes, juntos, com exceção do também estadista e trabalhista Lula, não fizeram nem a terça parte do que fez o Getúlio. É isso aí.
O QUE A HISTÓRIA DE GETÚLIO VARGAS CONTA SOBRE O BRASIL DE HOJE
MAURO SANTAYANNA
Washington optou hoje pelos golpes brancos, com apoio no Parlamento e no Poder Judiciário, como ocorreu em Honduras e no Paraguai. Articula-se a mesma técnica no Brasil
Cúrzio Malaparte escreveu, em 1931, seu livro político mais importante, Técnica del colpo di Stato: envenenamento da opinião pública, organização de quadros, atos de provocação, terrorismo e intimidação, e, por fim, a conquista do poder. Malaparte escreveu sua obra quando os Estados Unidos ainda não haviam aprimorado os seus serviços especiais, como o FBI – fundado sete anos antes – nem criado a CIA, em 1947. De lá para cá, as coisas mudaram, e muito. Já há, no Brasil, elementos para a redação de um atualizado Manual do Golpe.
Quando o golpe parte de quem ocupa o governo, o rito é diferente de quando o golpe se desfecha contra o governo. Nos dois casos, a ação liberticida é sempre justificada como legítima defesa: contra um governo arbitrário (ou corrupto, como é mais freqüente), ou do governo contra os inimigos da pátria. Em nosso caso, e de nossos vizinhos, todos os golpes contra o governo associaram as denúncias de ligações externas (com os países comunistas) às de corrupção interna.
Desde a destituição de Getúlio, em 29 de outubro de 1945, todos os golpes, no Brasil, foram orientados pelos norte-americanos, e contaram com a participação ativa de grandes jornais e emissoras de rádio. A partir da renúncia de Jânio, em 1961, a televisão passou também a ser usada. Para desfechá-los, sempre se valeram das forças armadas.
Foi assim quando Vargas já havia convocado as eleições de 2 de dezembro de 1945 para uma assembléia nacional constituinte e a sua própria sucessão. Vargas, como se sabe, apoiou a candidatura do marechal Dutra, do PSD, contra Eduardo Gomes, da UDN. Mesmo deposto, Vargas foi o maior vitorioso daquele pleito.
Em 1954, eleito pelo povo Vargas venceu-os, ao matar-se. Não obstante isso, uma vez eleito Juscelino, eles voltaram à carga, a fim de lhe impedir a posse. A posição de uma parte ponderável das Forças Armadas, sob o comando do general Lott, liquidou-os com o contragolpe fulminante. Em 1964, contra Jango, foram vitoriosos.
A penetração das ONGs no Norte do Brasil, e a campanha de coleta de assinaturas entre a população dos 7 Grandes – orientada, também, pelo Departamento de Estado, que financiava muitas delas – para que a Amazônia fosse internacionalizada, reacenderam os brios nacionalistas das Forças Armadas. Assim, os norte-americanos decidiram não mais fomentar os golpes de estado cooptando os militares, porque eles passaram a ser inconfiáveis para eles, e não só no Brasil.
Washington optou hoje pelos golpes brancos, com apoio no Parlamento e no Poder Judiciário, como ocorreu em Honduras e no Paraguai. Articula-se a mesma técnica no Brasil. Nesse processo, a crise institucional que fomentam, entre o Supremo e o Congresso, poderá servir a seu objetivo – se os democratas dos Três Poderes se omitirem e os patriotas capitularem.
GAÚCHO QUE GOVERNOU O BRASIL POR DUAS VEZES SE MATOU NO DIA 24 DE AGOSTO DE 1954; RELEMBRE SUA CARTA-TESTAMENTO
24 de Agosto de 2012 às 21:44
247 - Há exatos 58 anos, Getúlio Vargas saía da vida para entrar na história. Mais conhecido por consolidar as leis trabalhistas, o gaúcho que presidiu o Brasil por duas vezes (de 1930 a 1945 e de 1950 a 1954) foi um político tão enigmático que permanece despertando ointeresse de biógrafos corajosos o bastante para tentar traçar o perfil de uma figura descrita desde como pai dos pobres até a de simpatizante do nazifascismo.
Relembre a carta-testamento de Getúlio Vargas:
Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim.
Não me acusam, me insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive que renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.
Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício nos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia, não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.
Carta-Despedida
Deixo à sanha dos meus inimigos o legado da minha morte.
Levo o pesar de não haver podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia.
A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa.
Acrescente-se a fraqueza de amigos que não me defenderam nas posições que ocupavam, a felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei com honras e mercês e a insensibilidade moral de sicários que entreguei à Justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do país contra a minha pessoa.
Se a simples renúncia ao posto a que fui elevado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranqüilo no chão da Pátria, de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria apenas ensejo para, com mais fúria, perseguirem-me e humilharem. Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas. Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não de crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes.
Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos. Que o sangue de um inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus.
Agradeço aos que de perto ou de longe trouxeram-me o conforto de sua amizade.