6 DE MAIO DE 2009 - 21h00
Uma grande bandeira do Brasil estendida no chão. Cinco mil velas acesas espalhados na Praça dos Três Poderes, que não possui iluminação artificial. Milhares de manifestantes apitando, barulho reforçado pelas buzinas dos carros que passavam ao lado da Praça. Esse foi o cenário da manifestação do Movimento Saia às Ruas contra o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes.
Cinco mil velas foram acessas ao redor de uma grande bandeira
O prédio foi cercado, desde cedo, por barreiras e seguranças. O isolamento não impediu que fosse ouvido a vaia gigante que marcou o ato público. Os manifestantes – crianças, jovens, adultos e velhos – trocaram os discursos e as palavras de ordem por gritos de “rua” e “fora”. Também não faltaram faixas e bandeiras, camisetas com logomarca do Movimento e adesivos com a frase “Fora Gilmar”.
Alguns manifestantes acreditam que o Movimento pode crescer e resultar no afastamento de Gilmar Mendes da presidência do Supremo. Outros, mais modestos, se contentam em demonstrar publicamente a insatisfação com a atuação de Gilmar Mendes em favor dos interesses dos banqueiros e latinfundiários.
Um dos organizadores do evento, João Francisco, acredita que “uma grande manifestação é capaz de derrubá-lo.” Alan Bueno, servidor público, 36 anos, acredita que o movimento tem “fôlego” para crescer e deixar claro a insatisfação popular com a atuação de Gilmar Mendes.
Compromisso com o Brasil
Alan Bueno, que, a exemplo da maioria dos presentes, tomou conhecimento da manifestação pela internet (http://www.saiagilmar.blogspot.com), disse que encontrou amigos da época do “Fora Collor” e colegas da UnB (Universidade de Brasília) e outras pessoas “preocupadas e comprometidas com o Brasil.”
Um dos amigos de Alan, Daniel Cunha, músico, 36 anos, disse que a manifestação serve para “eles (os ministros do STF) saberem que a opinião aqui fora é contrária a ele (Gilmar Mendes).
Adriana Ramos, jornalista e ativista política, 43 anos, se disse indignada com a atuação de Gilmar Mendes, “que sequer esconde a preferência dos interesses que quer beneficiar”. Esses interesses, enumerado por todos os manifestantes, são de defesa dos banqueiros e latinfundiários. A libertação do banqueiro Daniel Dantas, investigado pela Polícia Federal por crimes de formação de quadrilha que fraudava o sistema financeiro, é citado com exemplo dessa posição.
Como Barrabás
De um lado de uma faixa em que estava escrito “Deus, salve o Brasil”, estava Alfeu Leite, aposentado, 75 anos. Ele fez um paralelo entre a atuação de Gilmar Mendes e Barrabás (figura bíblica que mandou soltou um ladrão e condenou Jesus a morrer na cruz). “Ele mandou soltar o ladrão e querem prender o delegado”, em referência à soltura de Daniel Dantas e a tentativa de indiciarem o delegado Protógens Queiroz, que investigou o banqueiro.
Do outro lado da mesma faixa estava Cecília Leite, estudante, 18 anos, neta de Alfeu. Em comum, além do parentesco, a indignação pela atitude do Presidente do STF. “Ele me incentivou a vir, admitiu ela, referindo-se ao avô, mas destacou que é importante os jovens participarem da vida política do País.
A deputada Luciana Genro (PSOL-RS), a única parlamentar na manifestação, disse que o ato representa um fato histórico porque, nunca antes, nenhum presidente do Supremo ganhou a antipatia da população, que não aguenta ver as ações em favor da impunidade e de coação dos agentes policias de exercerem suas profissões. “A manifestação mostra que o Judiciário não é intocável, que tem que prestar contas e atuar de acordo com o sentimento da população que é o de combate à impunidade”, afirmou.
De Brasília
Márcia Xavier