Zuma deveria aprender lições políticas com o defensor brasileiro dos pobres
Em Johannesburgo
Isso poderia ter sido escrito a respeito de Jacob Zuma, novo líder da África do Sul desde a vitória eleitoral no mês passado.
Mas o colunista citado acima falava, na verdade, sobre Luiz Inácio Lula da Silva, durante os tumultuosos meses que precederam a primeira vitória eleitoral do presidente brasileiro em outubro de 2002.
Lula, é claro, virou essa previsão ao avesso, conduzindo o Brasil não somente para fora da crise, mas para um período de relativa prosperidade. E da mesma forma que os formadores de opinião estavam errados sobre o presidente brasileiro, será que não podem estar subestimando o presidente sul-africano?
É uma ideia intrigante, em parte porque os dois homens têm muito em comum. Ambos tiveram origem humilde e eram forasteiros na política. No anos 50, Lula vendia amendoins e laranjas nas ruas de São Bernardo. Na mesma época, Zuma cuidava de rebanhos num vilarejo rural zulu.
Os dois homens dedicaram suas vidas à causa da revolução. Lula como líder sindical e fundador do Partido dos Trabalhadores, de esquerda; Zuma como ativista clandestino, na prisão e no exílio, pelo Congresso Nacional Africano. Ambos são homens afáveis, bons ouvintes e negociadores. Lula conseguiu vitórias para os sindicalistas. Zuma ajudou a negociar o fim da violência entre o CNA governista e o Partido da Liberdade Inkatha, que abalou a província de KwaZulu-Natal no final dos anos 80 e começo dos 90.
É verdade, seus desafios políticos têm sido diferentes. Em 2002, o Brasil estava à beira de uma crise financeira, em parte por conta dos temores de que não pagaria sua dívida e escorregaria para a esquerda populista.
O risco na África do Sul diz mais respeito à governabilidade.
Certamente existem preocupações quanto às tendências populistas de Zuma e suas ligações com a esquerda. Mas seus críticos estão mais preocupados com as acusações de corrupção. Zuma também atraiu desdém por conta de suas visões sobre a sexualidade (ele é polígamo), que, segundo os críticos, podem tornar mais difícil controlar a epidemia de Aids.
Recentemente, os temores sobre a falta de governabilidade arrefeceram. Uma nuvem ainda paira sobre Zuma, mas evidências de que as pessoas que o acusaram de corrupção estavam politicamente motivadas fizeram com que o promotor público retirasse as acusações contra ele em abril. E durante o primeiro clamor da vitória eleitoral, Zuma acertou todas as notas, enfatizando um novo modelo de "inclusividade" para a minoria branca e as comunidades indianas e de outras etnias que se sentiram relegadas sob o governo de seu predecessor, Thabo Mbeki.
O novo presidente falou sobre a necessidade de fazer mais coisas com os recursos existentes, pedindo aos ministros e servidores públicos civis que trabalhem duro. Os investidores privados receberam bem a nomeação do respeitado ministro das Finanças Trevor Manuel para liderar uma nova comissão de planejamento nacional - que provavelmente será uma nova e poderosa posição no gabinete. Os sindicatos não conseguiram impedir um grande investimento estrangeiro no setor das telecomunicações, com os advogados do governo sustentando firmemente a negociação.
No Brasil, o maior feito de Lula tem sido manter a estabilidade econômica, colocar o compromisso com os mais pobres no topo da agenda política, e pressionar por reformas, expandindo passo a passo os programas de bem-estar social. Agora, na África do Sul, existe ao menos a possibilidade de que Zuma possa começar seu governo no mesmo caminho centrista. Não será fácil. A economia da África do Sul - conforme os números do primeiro trimestre de 2009 devem mostrar amanhã - está em recessão.
No Brasil, Lula conseguiu usar sua imagem de "homem do povo" para conter as expectativas de uma mudança do dia para a noite, e persuadiu seus eleitores a o apoiarem a longo prazo. Este é um truque que Zuma poderia repetir.
Tradução: Eloise De Vylder