Natalia Pacheco
Muitos economistas e banqueiros não acreditavam na recuperação brasileira depois da crise financeira internacional. Mas, ao que tudo indica, as opiniões hoje são outras. Segundo especialistas, o país iniciou uma retomada no início do segundo trimestre deste ano e deve crescer cerca de 2% em relação aos primeiros três meses de 2009.
A economista da Tendências Consultoria, Marcela Prada, por exemplo, diz que o comércio brasileiro já recuperou o patamar pré-crise e prevê alta de 0,3% de abril a maio deste ano. O ritmo positivo do varejo no período deve-se ao corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos, materiais de construção civil e eletrodomésticos e a retomada de crédito no mercado, em função das sucessivas quedas de juros.
Os responsáveis pelo aquecimento seriam o consumo das famílias e os pacotes fiscais do governo, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o de habitação Minha Casa, Minha Vida.
O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, é um dos que atribuem a queda da desaceleração da massa salarial à alta do consumo. A estabilidade dos salários, nesse caso, só foi possível por causa da queda dos preços.
– Não há dúvida que a economia está em ascendência. O Produto Interno Bruto (PIB) deve fechar entre 0 e 1% neste ano. O que é excelente diante do cenário internacional – analisou.
A outra explicação para o bom posicionamento do país diante do colapso econômico, que muitos consideram ser o pior desde a crise de 1929, é a menor abertura do Brasil ao mercado externo e o fato de mais da metade das exportações brasileiras ser de commodities.
Piores efeitos já passaram
Os piores efeitos da turbulência já não estão mais presentes na economia brasileira, de acordo com Leonardo Mello, analista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Um deles é a redução dos estoques das indústrias. O economista conta que o estoque de veículos já acabou e que os de bens intermediários – que envolvem os setores de metalurgia e siderurgia – estão próximos do fim.
A melhora da demanda externa é outro fator citado como importante para a recuperação da economia.
– As vendas externas do Brasil aumentaram por causa da melhora na pauta de exportações da China, que consome matérias-primas e investe em infraestrutura – diz Mello.
A estabilidade no mercado de trabalho também é mencionada como responsável pelo aquecimento da economia brasileira, com a manutenção dos empregos mostrando que o empresário retomou confiança nos mercados interno e externo.
Recuperação ainda lenta
Ainda há dois setores que demonstram dificuldade de recuperação: investimento e indústria. Na verdade, "um puxa o outro", ressalta o analista do Ipea.
A tese é de que, como as indústrias ainda estão se desfazendo dos estoques, há folga na capacidade produtiva do segmento. Com isso, o setor não investe em infraestrura e na captação de mão-de-obra.
– As indústrias devem voltar a investir no segundo semestre com a recuperação da demanda externa. Mas a capacidade de investimento só vai voltar aos níveis pré-crise em 2010 – prevê Mello.
Os setores industriais que ainda sentem os efeitos da crise são o de bens de capital (máquinas e equipamentos), que já registrou queda de 60%, mas recuperou 10 pontos percentuais no segundo trimestre, e o complexo automobilístico (autopeças e pneus), que está se recuperando em função do corte do IPI, mas chegou a cair 35% no auge da turbulência. Dentre os que menos sentiram os impactos estão a indústria de alimentos (queda de 4%) e o setor de serviços (-2%), segundo o professor da Unicamp, Júlio Gomes de Almeida.
Apesar de projetar crescimento de 1,7% do PIB no segundo trimestre, o diretor de Pesquisa e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, prevê contração de 0,5% da economia neste ano, em função do resultado ruim dos primeiros três meses de 2009. O Itaú estima alta de 2,3% em maio.
http://jbonline.terra.com.br/leiajb/noticias/2009/07/29/temadodia/marolinha_sim_por_que_nao.asp