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Nosso objetivo não é engrandecer um homem, o Presidente Lula, mas homenagear, como brasileiro que ama esta terra e esta gente, o que este homem tem provado, em pouco tempo, depois de tanto preconceito e perseguição ideológica, do que somos capazes diante de nós mesmos, e do mundo, e que não sabíamos, e não vivíamos isto, por incompetência ou fraude de tudo e todos que nos governaram até aqui. Não engrandecemos um homem, mas o que ele pagou e tem pago, para provar do que somos.

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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O filme: Lula - o filho do Brasil

Luz, câmera, ação e campanha
Como o filme "Lula, o Filho do Brasil", superprodução com roteiro carregado de emoção, torna-se uma poderosa arma eleitoral em 2010

Alan Rodrigues, Ivan Claudio e Yan Boechat

1979 O metalúrgico Luiz Inácio da Silva consolida-se como o mais importante líder sindical brasileiro
2009 O ator Rui Ricardo Diaz vive o personagem Lula, no filme mais caro já produzido no País

1979 Na última semana de março, o sindicalista Luiz Inácio da Silva é carregado nos ombros de dezenas de metalúrgicos do maior polo industrial brasileiro, que decidem, uma vez mais, entrar em greve para exigir melhores condições de trabalho. Poucas semanas antes, o torneiro mecânico estampara pela primeira vez a capa de uma revista semanal. Reportagem de ISTOÉ apresentava para todo o País aquele líder sindical barbudo, de voz rouca, conhecido como Lula, que em pleno regime militar insistia em enfrentar a poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e aglutinava milhares de trabalhadores em históricas assembleias no estádio da Vila Euclides e nas praças de São Bernardo do Campo.

2009 Na terça-feira 27 de outubro, quando completar 64 anos de idade, Lula certamente não conterá as lágrimas ao assistir às cenas em que o ator Rui Ricardo Diaz é carregado nos ombros de dezenas de figurantes representando cenas das greves que ele próprio protagonizara há três décadas. Na festa de seu aniversário, o ex-líder sindical assistirá pela primeira vez a “Lula, o Filho do Brasil”, filme do produtor Luiz Carlos Barreto e dirigido por seu filho Fábio Barreto. A estreia nacional desta que é a mais cara produção do cinema brasileiro está marcada para 1º de janeiro do próximo ano e pode se tornar uma importante ferramenta eleitoral, quando o País estiver mergulhado na sucessão presidencial.

Nos 30 anos que separam a fotografia real da cena cinematográfica, o apelido Lula foi incorporado ao nome de Luiz Inácio. O líder sindical criou um partido político, correu o País de ponta a ponta em caravanas da cidadania, chegou à Presidência da República, ostenta a marca de presidente mais popular da história do Brasil e a cada dia consolida mais a imagem de um dos principais líderes mundiais da atualidade. Na última semana, ISTOÉ teve acesso a uma boa parte do filme orçado em R$ 16 milhões. A obra de Barreto retrata a trajetória do menino e da família nascida abaixo da linha da pobreza, que deixou o Nordeste em um pau-de-arara em busca de dias melhores. Retrata os amores e os dramas pessoais de Lula e de seus quatro irmãos e três irmãs. Termina com a morte de dona Lindu, a mãe e porto seguro de Lula, que é interpretada por Glória Pires. Os bastidores das greves, as divergências sindicais, a fundação do PT e outros temas politicamente polêmicos não são abordados. “Não é um filme político. É um filme emocionante. É emoção pura”, afirma o jornalista Zuenir Ventura, um dos poucos a assistir na íntegra uma versão ainda não finalizada do filme.





FUGA DA MISÉRIA Glória Pires (à dir.) interpreta a mãe do presidente Lula, dona Lindu, na cena da épica viagem em um pau-de-arara do sertão de Pernambuco para São Paulo

Além de Ventura, um grupo composto por cerca de 40 caciques petistas, ministros e alguns sindicalistas foi convidado para uma exibição em Brasília no final de agosto, realizada na casa do empresário Jorge Ferreira, proprietário de uma rede de restaurantes e amigo pessoal de Lula e do ex-ministro José Dirceu. “Deslulizaram o Lula”, sentenciou um deputado federal que participou da sessão. “Alijaram toda a história política dele e mostraram um homem que parece ungido, que chegou aonde chegou pelas mãos do destino”, afirmou o parlamentar, para quem o filme ajuda a mitificar o presidente. “Lula já é um mito, assim como Garrincha e Pelé, personagens de filmes que já produzi, sem receber as críticas que recebo agora”, reagiu Barreto. Ele não nega, no entanto, que o filme carrega um forte apelo popular ao destacar os dramas pessoais do presidente. “É um filme comercial e espero fazer muito dinheiro com ele”, diz Barreto.

Politizado ou não, o certo é que, quanto maior for a bilheteria do longa-metragem, maior será sua capacidade de influir no processo eleitoral de 2010, quando, provavelmente, Lula enfrentará um de seus maiores desafios políticos após chegar ao poder: eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua sucessora. Para aqueles que apostam na tese da transferência de votos, como Lula e o PT, um filme que não polemiza e alimenta o mito passa a ser uma arma poderosa.





O cientista político Antonio Lavareda aposta nessa tese. Para ele, que no final do mês passado filou-se ao PSDB, o filme vai reforçar ainda mais a liderança de Lula entre seus admiradores. “Se for levado aos pequenos municípios sem sala de cinema, para locais públicos e às centrais sindicais, beneficia a candidata dele”, diz. “A Justiça deve atuar para coibir a antecipação de campanha”, afirma o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
A expectativa é de que o épico de superação de um migrante nordestino que chega à Presidência da República seja visto por mais de 12 milhões de brasileiros – em momentos de extremo otimismo, Barreto chegou a apostar em 20 milhões. Se isso acontecer, vai trazer um retorno financeiro inédito na carreira do produtor. E ampliará, ainda mais, a aura mítica, quase messiânica, que Lula vem consolidando ao longo de seus dois mandatos presidenciais. O presidente de fato tem uma história única e é legítimo e importante para o País que isso seja retratado. No entanto, o momento do lançamento do filme é que tem gerado críticas ao produtor, acusado de oportunismo eleitoral. “No que estiver ao meu alcance, não deixarei que se faça uso eleitoral do filme. Não cederei um fotograma sequer para campanha eleitoral”, promete Barreto.

O oportunismo eleitoral não se combate com a cessão ou não de fotogramas. Há consenso de que o filme ajuda mesmo a turbinar a popularidade de Lula. O que não se pode prever é até que ponto ele ajudará a transferir os votos de Lula para Dilma.“O que o Lula tinha para transferir de votos para a Dilma Lula já transferiu, não é um filme que vai mudar isso”, diz Marcos Coimbra, presidente do Vox Populi. O cientista político David Fleischer concorda. Para ele, o presidente não conseguirá, como acredita o PT, eleger Dilma apenas com seu carisma. “Se fosse para o terceiro mandato, o filme ajudaria.”

OS AMORES DE LULA Com a atriz Juliana Baroni, que faz o papel da primeira-dama Marisa Letícia (à esq.), e a cena do primeiro casamento com Lurdes (Cleo Pires), que morreu durante o parto

Além de assistir a boa parte do filme, ISTOÉ visitou os locais onde Lula forjou sua carreira política e conversou com coadjuvantes da história pessoal do presidente. Hoje quem ocupa a sala que foi o primeiro gabinete de Lula é o atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre. Pouca coisa mudou ali nesses 30 anos. O sofá velho no qual Lula costumava dormir após as longas assembleias foi substituído por um mais novo e na parede onde na época havia cartazes de greve agora repousa uma foto emoldurada do presidente da República.


Na manhã da terçafeira 6, Nobre estava lá recebendo sindicalistas, fazendo reuniões e oferecendo cafezinho às suas visitas sempre com a mesma pergunta. “Doce ou amargo?”, dizia ele, apontando para as duas garrafas térmicas que completam a decoração da sala. Em abril deste ano, essa rotina sofreu uma interrupção abrupta. Quase do dia para a noite paredes foram derrubadas, móveis trocados e a porta substituída por uma fita amarela, dessas usadas pela polícia em cenas de crime. Nobre foi desalojado para que sua sala se tornasse cenário das filmagens de “Lula, o Filho do Brasil”. “Apesar de o filme não mostrar os bastidores políticos que essa sala presenciou, é importante mostrar o homem Lula. Para entender o político, é preciso conhecer a formação moral e ética do personagem”, diz Nobre. “Não acredito que os protagonistas da época fiquem decepcionados por não estarem no filme, pois a história do Lula é a história deles”, conclui.

O ex-metalúrgico Edneuton Sampaio não viu o filme, mas participou dele. Contemporâneo de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sampaio esteve em diversas greves comandadas pelo presidente e participou da histórica assembleia da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, quando helicópteros do Exército sobrevoaram o estádio onde cerca de 80 mil metalúrgicos ouviam Lula. Foi exatamente nas cenas desse episódio que Sampaio atuou como figurante. “A emoção inteira voltou, foi como se eu tivesse voltado 30 anos na minha vida, uma sensação indescritível”, diz ele. Sampaio sabe que as grandes greves servirão apenas como pano de fundo para compor a história pessoal de Lula. Mas não se importa.



DE RETIRANTE A LÍDER SINDICAL
O período da vida de Lula retratado pelo filme dirigido por Fábio Barreto

1945
Nasce Luiz Inácio da Silva na cidade de Caetés, então distrito de Garanhuns (PE)

1952
A família Silva migra de Garanhuns para São Paulo fugindo da miséria

1968
Entra para o Sindicato dos Metalúrgicos

1975
Lula é eleito presidente do sindicato

1979
Lidera as greves do ABC em plena ditadura militar

1980
Morre dona Lindu, mãe de Lula





O APRENDIZ VIRA LÍDER Com o ator antonio Pitanga, Guilherme tortolio vive o Lula jovem que aprende a ser torneiro mecânico no Senai (acima). e na vida real Lula comanda as greves que fizeram história no aBC paulista no fim da década de 70 (abaixo).

“Estaremos representados ali, e isso emociona”, diz Sampaio, que nunca em sua vida trocou uma palavra sequer com Lula. “Sempre fui da base, nunca fui amigo do rei.”
Opções não devem faltar para que Sampaio veja o filme. A produtora de Luiz Carlos Barreto, a LC Barreto, está preparando uma campanha milionária de divulgação de “Lula, o Filho do Brasil”. Dos R$ 16 milhões orçados para o filme, financiado por empresas privadas sem a utilização da Lei Rouanet, R$ 4 milhões serão dedicados exclusivamente para o marketing. Até 1º de janeiro, a data da estreia oficial, a LC Barreto está preparando uma série de exibições extremamente restritas. No dia 14 de novembro o filme será apresentado pela primeira vez no Recife. Três dias depois abre a noite de gala do Festival de Brasília em uma sessão apenas para convidados. O mesmo acontecerá em São Bernardo do Campo, onde Mesmo tendo a família como tema central da narrativa, Barreto evitou que até os irmãos de Lula assistissem ao filme. O único que teve acesso à obra ainda em estado bruto, sem edição, foi o também líder sindical Frei Chico, o introdutor de Lula na vida política e ainda hoje um interlocutor privilegiado do presidente. Procurado por ISTOÉ, Frei Chico afirmou que não falaria sobre o filme nem sobre detalhes da vida pessoal de Lula. Admitiu, no entanto, enquanto almoçava com um amigo em São Paulo, na terça-feira 6, que não gostou de algumas passagens registradas pelo cineasta. “Achei o filme bom. Há duas ou três coisas que não gostei muito, mas não quero falar sobre isso, porque são coisas insignificantes”, afirmou o irmão do presidente.

A história carregada de tons melodramáticos que Barreto levará às telas também poderá servir aos projetos políticos pessoais de Lula. O presidente da República não esconde que, após deixar o Palácio do Planalto, pretende assumir um papel de protagonista na comunidade internacional. Uma das intenções do presidente é coordenar um instituto de combate à fome e à pobreza no continente africano. Apoiadores mais otimistas de Lula já falam que ele poderia ser o novo secretário-geral da ONU, cargo ocupado hoje pelo sul-coreano Ban Ki Monn. Na visão dos assessores próximos do presidente, esse seria o melhor caminho para que Lula conquistasse o Prêmio Nobel da Paz, um dos sonhos acalentados por petistas de otimismo exacerbado. E na visão dessas mesmas pessoas, “Lula, o Filho do Brasil” pode contribuir para que isso venha a acontecer. “Esse filme vai correr o mundo e ampliar ainda mais a influência do presidente na comunidade internacional”, diz um membro da Executiva Nacional do PT que assistiu a trechos do filme.

RUI RICARDO É O CARA
O ator mineiro Rui Ricardo Diaz, 30 anos, estava tentando um papel de enfermeiro no filme “Lula, o Filho do Brasil”. Mas quando Fábio Barreto o viu atuando, não teve dúvidas: esse é o cara. “Foi uma bênção tê-lo encontrado. Sem ele não teria o filme”, diz. Diaz interpreta Lula dos 18 aos 35 anos. Primeiro ele rodou as cenas do final do filme, quando teve que engordar oito quilos. Depois emagreceu e fez o Lula mais jovem. Atenção especial foi dada ao sotaque para evitar uma atuação caricatural, muito explorada pelos humoristas. “Foi um trabalho minucioso. É o Lula visto pelo Rui, não uma imitação.” As cenas protagonizadas por Diaz ocupam a maior parte do filme – cerca de 1h35min (o filme dura 2h04). Foram dois meses de filmagens em sete cidades de Pernambuco e São Paulo, totalizando 70 locações naturais. A produção envolveu, ao todo, 128 atores e três mil figurantes.



A FAMÍLIA SILVA NO FILME as atrizes e os atores que vivem Lula, sua mãe e seus irmãos (com exceção do personagem de Jaime); e seu aristides (Milhem Cortaz), o pai do presidente, deixando a família (abaixo)



EM TODOS OS MOMENTOS
Lula, o personagem, com Marisa em cena gravada no Sindicato dos Metalúrgicos do aBC
LUTA SINDICAL A cena do embate entre metalúrgicos e a polícia no estádio da Vila Euclides e Edneuton Sampaio, que participou da realidade e foi figurante na ficção


NA CADEIRA DE LULA Sérgio Nobre, atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, na mesma sala de onde Lula liderou as greves: cenário real

CAMINHONEIRO, A PRIMEIRA POLÊMICA

O filme “Lula, o Filho do Brasil” ainda não estreou, mas já está criando lendas. A primeira delas diz respeito ao motorista do pau-de-arara que levou a família de Lula para São Paulo. Aos 84 anos, José Francisco dos Santos, o Zé Diné, garante ser o homem que estava ao volante do caminhão. Ele conta para quem quiser ouvir detalhes da viagem que começou na Bodega do Tozinho, em Caetés, então distrito de Garanhuns, e durou 13 dias. “Na divisa de Pernambuco com a Bahia, pediram para parar umas cinco horas da manhã, para fazer xixi. Foi todo mundo para dentro do mato e depois subiu de novo no caminhão”, repetiu Zé Diné à ISTOÉ. “Já tinha andado uns 40 metros quando ouvi os gritos de uma mulher: ‘Meus filhos ficaram.’ Quando olhei para trás, vi dois meninos barrigudos, se banhando em lágrimas. Só quando Lula já era conhecido, candidato a presidente, vim a saber que eram ele e Vavá”, diz o motorista, referindo-se a Genival, um dos irmãos Silva.

Fato ou ficção Zé Diné ficou famoso como o motorista que levou Lula para São Paulo, mas a história oficial é diferente

Uma equipe da produção do filme chegou a entrevistar Zé Diné, mas descartou a autenticidade do relato. O veredicto dos pesquisadores foi confirmado por Frei Chico, o irmão de Lula que o incentivou a entrar para a política sindical. Zé Diné, porém, não admite nenhum reparo à sua história. Exibindo a maior confiança, ele mostrou na semana passada os escombros da bodega onde teria apanhado Lula e sua família, quando explorava o negócio de pau-de-arara: “Levei milhares de pessoas, mas não cobrei nada da família de Lula porque a mãe dele tinha sido abandonada pelo marido e os filhos passavam necessidade.” Por causa da suposta carona, ele relata ser reverenciado na região como o homem que permitiu a trajetória de Lula até a Presidência: “Por todo lado que vou, dizem que, se eu não tivesse levado Lula, ele tinha se criado puxando cobra pelos pés.” Ele, de fato, foi dono e motorista de pau-de-arara por mais de 20 anos. O episódio de Lula sendo deixado para trás também ocorreu, mas quem ficou junto com ele foi Frei Chico, não Vavá. A família, por sua vez, não viajou de carona. Dona Lindu, a mãe de Lula, vendeu tudo o que tinha para pagar as passagens no pau-de-arara. A história oficial da família não convence o motorista, que diz ter orgulho de sua atuação no passado, embora nunca tenha votado em Lula: “Sou de direita. E antes até a família dele dizia que ele era um grande comunista.”

Luiza Villaméa

Colaboraram: Alan Rodrigues e Ivan Claudio
fotos: Otavio de Souza/Divulgação; Julia Moraes/ag. istoé; Bira nunes /ag. istoé


http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2083/artigo153813-1.htm