É verdade que metade do país ficar às escuras durante período que variou de alguns minutos a cerca de quatro horas é um fato que precisa ser esclarecido tanto quanto foi tantas outras vezes durante o governo Lula, quando tentaram, uma e outra vez, exatamente como agora, jogar nas costas deste governo a culpa por um novo desastre de planejamento e fiscalização igual ao desastre ocorrido durante a privataria tucana do setor elétrico. Nunca colou. E agora tampouco irá colar simplesmente porque a fórmula é sempre a mesma, de tentar fazer as pessoas acreditarem que alguns minutos ou horas de blecaute equivaleriam a quase um ano de racionamento de energia elétrica e arrocho no bolso dos consumidores. A mídia veio com fúria. A Globo News não teve outro assunto o dia inteiro. Os âncoras dos telejornais com cenhos franzidos e lábios apertados comunicavam que acontecera num só dia o que aconteceu no Brasil entre 1999 e 2002 (cerca de TRÊS anos). Como foi fartamente explicado, apesar de o sistema de segurança contra algum efeito dominó na distribuição de energia elétrica ter titubeado, até que surja prova em contrário nada autoriza dizer que esse sistema é frágil. Pode não voltar a acontecer por anos. Pode mesmo ter sido uma fatalidade. E pode não ser... Se não for, se um problema houver, haverá todo tempo do mundo para culpar o governo e cobrar explicações. Mas a pressa é muito grande. É preciso explorar ao máximo o ocorrido enquanto está fresco na memória das pessoas. Com sorte, algumas menos dotadas intelectualmente virão a introjetar a idéia de que houve um apagão no governo Lula. A aposta é na burrice. E, para refrescar a memória de vocês – e “deles” –, reproduzo, abaixo, artigo de Luciano Martins Costa no Observatório da Imprensa. E lhes dou um conselho: dêem uma olhadinha na data.
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Por Luciano Martins Costa no Observatório da Imprensa em 10/1/2008 Comentário para o programa radiofônico do Observatório da Imprensa de 10/1/2008 Os grandes jornais brasileiros trazem na quinta-feira (10/1) uma cobertura desigual sobre a questão da energia. Enquanto o Estado de S.Paulo e a Folha destacam declarações do ministro interino das Minas e Energia, o Globo afirma que só a ocorrência de chuvas ainda em janeiro poderia evitar a necessidade de racionamento. A imprensa já fala em "apagão". Os jornais dividiram o assunto entre suas seções de Política e Economia, o que ajuda o leitor a entender melhor o assunto, mas deram destaque exagerado ao aspecto político. O Estadão, por exemplo, aposta que existe uma "crise elétrica" e que ela põe em risco a entrega do Ministério das Minas e Energia ao peemedebista Edison Lobão, apadrinhado do senador José Sarney. Embora tenha maior destaque, a questão política tem pouco valor para os leitores – cansados de saber que, com ou sem crise, Sarney vai manter sua quota de protegidos no governo. Aliás, em qualquer governo.
Corte no consumo
A Folha e o Globo também se prenderam exageradamente ao desentendimento entre o ministro interino e o presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica. O presidente da Aneel havia afirmado que não é impossível a necessidade de racionamento ainda neste ano, e foi desmentido pelo ministro. Apesar disso, o tom geral do noticiário é alarmista. A palavra "apagão" aparece em todos os jornais, invocando o fantasma de 2001, quando o Brasil passou por um racionamento compulsório que durou até fevereiro de 2002. Na ocasião, os maiores reservatórios do sistema interligado nacional estavam se esvaziando rapidamente e havia insuficiente investimento em geração e distribuição de energia. Durante a crise de 2001, a imprensa substituiu sabiamente o noticiário alarmista por recomendações técnicas, e a população brasileira aderiu a uma campanha de economia, cortando em média 20% no consumo de eletricidade. Um dos resultados mais evidentes foi o quase desaparecimento do freezer de uso doméstico. Durante o racionamento, as famílias descobriram que o freezer gasta muita energia e se tornou menos útil porque, com a queda da inflação, não é mais necessário estocar alimentos. Segundo a Eletrobrás, 23% dos domicílios brasileiros ainda possuem freezer, mas 25% deles estão desligados desde 2001.
TV desligada
A imprensa bem que podia se antecipar a qualquer possibilidade de crise e começar já a informar a população sobre como economizar energia. A primeira medida recomendada é substituir o chuveiro elétrico ou fazer um uso mais racional dele. A segunda é desligar a televisão de vez em quando. Mais de 97% dos lares brasileiros possuem um aparelho de TV, que costuma permanecer ligado de manhã até à noite, mesmo sem ninguém diante dele. Difícil vai ser convencer as emissoras de televisão a recomendar que a televisão seja desligada.
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