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Nosso objetivo não é engrandecer um homem, o Presidente Lula, mas homenagear, como brasileiro que ama esta terra e esta gente, o que este homem tem provado, em pouco tempo, depois de tanto preconceito e perseguição ideológica, do que somos capazes diante de nós mesmos, e do mundo, e que não sabíamos, e não vivíamos isto, por incompetência ou fraude de tudo e todos que nos governaram até aqui. Não engrandecemos um homem, mas o que ele pagou e tem pago, para provar do que somos.

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Azedume

Sidnei Liberal *

O presidente Lula foi eleito o personagem do ano por El País*. O jornal espanhol publicou neste domingo (13/12) suplemento especial (ver capa acima) com a lista das 100 personalidades íbero-americanas que mais se destacaram em 2009. O perfil de Lula foi escrito pelo primeiro-ministro da Espanha: “Este es un hombre cabal y tenaz, por el que siento una profunda admiración”, disse José Luis Zapatero. Não consta repercussão desse fato na mídia tupiniquim.

A mídia hegemônica nacional tem preferido praticar o que o jornalista Luis Nassif denominou de “jornalismo esgoto” e fazer apologia ao complexo de vira-lata rodriguiano que afeta alguns brasileiros. A nova postura do Brasil no cenário internacional parece ameaçar os dutos coronarianos de conhecidos colunistas e articulistas dos principais jornais. Tira-lhes o sono e os faz espumar pelas ventas a soberana postura brasileira nos principais foros internacionais.

Não é sem razão que o próprio Lula, ao receber o prêmio de Brasileiro do Ano (o leitor não sabia?), oferecido pela revista Isto É, fez severas críticas à cobertura da imprensa durante a crise econômica mundial. "O Brasil tem uma coisa engraçada. Tem dia que você acorda, lê os jornais, e a vontade é de se matar. Porque o mundo está acabando. Se vocês então ficarem só na manchete, nem saiam de casa. Porque tem um certo azedume, aquela coisa tão azeda, sabe, que faz mal para o país”, disse o Presidente.

Mais recentemente, o “cabal y tenaz” presidente havia reclamado de justificada “azia” que a leitura da nossa mídia lhe causava. Mesmo acometida de intensa “indigestão”, a representação da nossa imprensa prefere sempre silenciar, fingir-se de morta, deixando de produzir uma profunda reflexão sobre a relevância dos seus conteúdos para a sociedade. Ao invés, um silêncio comprometedor que reforça a tese do “azedume”que nos remete à leitura comparativa de outras fontes mais distantes. Assim:

The Economist, sexta-feira (11/12), divulgou dados da pesquisa Latinobarômetro, realizada em 18 paises da América Latina, que mostram nossos governos com maior credibilidade que nossos exércitos e mais satisfação com nossas democracias. 58% são contra o golpe em Honduras. Aumenta o reconhecimento da influência do Brasil na Região. No BBC Brasil, quinta-feira (10/12), “Meio Ambiente. Obama elogia parceria de Brasil e Noruega para preservar Amazônia”.

Na matéria do BBC Brasil, Obama, em comunicado conjunto com o primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, diz que parceria pode servir de modelo para outros países. Dia 5/12, editorial do The New York Times lamenta hesitação de Obama com o golpe de Honduras e pede a volta das "liberdades civis, inclusive liberdade de imprensa". E afirma que "Os militares de Honduras e de toda a região precisam saber que golpes não serão tolerados."

A New Yorker* fala da “humilhação do governo Obama de ceder aos republicanos e aos conservadores do seu próprio partido”, com prejuízo para a democracia e alento para as oligarquias, no caso de Honduras. Fato que permitiu a posição do conservador Miami Herald*, a defender o golpe e sugerir haver "uma dúzia de países, na América Latina, onde o cenário de Honduras poderia se reproduzir". Para restaurar “os interesses estratégicos dos EUA nas Américas".

El País saúda a vitória da democracia na eleição de Evo Morales; The New York Times louva o desempenho da economia e a manutenção da “força por mudança” na Bolívia; Newsweek repercute The Economist a enunciar como o Brasil virou "parâmetro no esforço global para diminuir a diferença entre ricos e pobres” e a explicar que "apesar de China e Índia estarem crescendo mais, estão se tornando mais desiguais, o que leva especialistas a olharem o Brasil como um modelo para a guerra contra a pobreza".

Pela amostragem, longe está a imprensa nacional de refletir a nova realidade vanguardista da política externa brasileira. Ou de retratar o orgulho da maioria da Nação ante a repercussão do seu país nos principais periódicos do mundo. El País, The Economist, BBC, The New York Times, Newsweek, têm suas imagens historicamente atreladas ao bom jornalismo. Não necessariamente isento ideologicamente, por serem conservadores, são respeitados pelo profissionalismo que falta em certo azedume local.

http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=2761&id_coluna=34
Azedume