O Banco Central (BC) renovou hoje projeções que apontam para um ritmo menor na oferta de crédito dos bancos oficiais em 2010. Depois de fechar com alta em torno de 29,2% neste ano sobre o ano passado, o crédito dos bancos públicos deve registrar alta de 17,2% ano que vem.
Já os bancos privados nacionais tendem a fechar este ano com aumento de 10,6%, e dobrar para 20,4% no próximo exercício. E os privados estrangeiros, após tímida variação de 1,9% pela iliquidez decorrente da crise, podem saltar para um aumento de 24,5% em 2010 sobre 2009, segundo o BC.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, reiterou que os estudos de sua equipe apontam para um volume global de crédito na casa dos 45,3% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, chegando a 48% do PIB ano que vem.
Até novembro, o montante de crédito foi a R$ 1,389 trilhão, equivalente a 44,9% do PIB. Houve crescimento de 14,9% no estoque em 12 meses, com variação mensal de 1,5% sobre outubro. Em função disso, o BC calcula o crescimento do crédito global em 16% no ano, e em 20% para 2010 - números que constam do Relatório Trimestral de Inflação divulgado semana passada.
Com a crise, a fatia dos bancos privados nacionais no crédito global caiu de 43% em novembro de 2008 para 40,5%. E os recursos liberados pelos bancos privados estrangeiros passaram a representar 18,5%, ante 21% um ano antes.
Destaque no mês passado para operações contratadas na rede bancária por Estados e municípios, com alta de 7,1% ante outubro, e acumulando 38,7% em 12 meses. Segundo o BC, são operações destinadas a financiar obras de saneamento básico.
Com crédito, bancos públicos superam privados em tamanho e lucro
Os bancos públicos federais superaram as instituições privadas nacionais em tamanho e em lucratividade, segundo dados dos balanços referentes ao terceiro trimestre deste ano organizados pelo Banco Central.
Esses resultados foram obtidos, principalmente, pelo bom desempenho do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que recebeu grande aporte de recursos da União para aumentar seus empréstimos durante o período mais agudo da crise.
Também contribuiu para isso a consolidação das aquisições realizadas pelo Banco do Brasil, que comprou a Nossa Caixa e metade do banco Votorantim.
Os ativos dessas duas instituições, somados aos da Caixa Econômica Federal, do Banco da Amazônia e do Banco do Nordeste, chegaram a R$ 1,39 trilhão no final de setembro. No final desse mesmo mês, instituições privadas de controle nacional listadas pelo BC possuíam R$ 1,34 trilhão.
Há três meses, os bancos nacionais privados ainda superavam as instituições públicas em ativos. Não entram nessa conta os bancos privados de controle estrangeiro que atuam no país, como Santander e HSBC, que possuem mais R$ 685 bilhões.
O levantamento também mostra que o lucro do BNDES ajudou as cinco instituições federais a registrar, juntas, um ganho maior que os bancos privados nacionais. Enquanto o lucro dos grupos estatais foi de R$ 5,3 bilhões nesses três meses, os agentes privados nacionais tiveram ganho de R$ 4,9 bilhões. No final do trimestre passado, antes dessa virada, esses bancos privados acumulavam lucro 75% acima do registrado pelos federais.
Política de governo
Uma das explicações para essas mudanças é o avanço dos bancos públicos no crédito nos últimos 12 meses. Depois de liderarem o mercado de empréstimos no país por cinco anos seguidos, os bancos privados nacionais e estrangeiros perderam espaço para as instituições estatais, cujo ativos e lucros cresceram com o aumento nos empréstimos. Esse avanço foi uma determinação do governo para evitar uma recessão maior na virada do ano. Houve até mesmo mudanças na presidência do BB, a maior instituição do país, diante da política do banco de acompanhar os bancos privados na redução do crédito e no aumento dos juros.
Desde junho de 2004, os bancos privados vinham puxando a alta do crédito no país e a sua carteira foi se distanciando das instituições públicas. Em setembro do ano passado, a diferença entre os dois segmentos chegou a 30%. A partir daí, no entanto, essa distância começou a encolher. Em setembro deste ano, o estoque de financiamentos dos dois segmentos estava praticamente empatado.
De acordo com o BC, já há sinais, nos últimos meses, de que os bancos privados estejam reagindo a esse movimento. Um dos fatores que podem facilitar essa retomada é o esgotamento da capacidade de empréstimos das instituições estatais, que estão correndo contra o tempo para se capitalizar.
Além disso, a expectativa é que, em 2010, a economia brasileira volte a apresentar níveis de crescimento próximos do verificado no período anterior à crise.