Os ratos estão abandonando o barco. Veja o artigo publicado hoje no Globo, jornal de extrema direita aliado da oposição.:O país vivia o auge da ditadura militar quando o ex-senador Francelino Pereira, então presidente da Aliança Renovadora Nacional (Arena), se declarou orgulhoso de c omandar o "maior partido político do Ocidente".
Nascido da costela da sigla de sustentação do regime, o DEM - que também já se chamou PDS e PFL - hoje lembra pouco o gigantismo do passado.
Com a saída de José Roberto Arruda, a legenda perdeu seu único governador e chega ao ano eleitoral de 2010 sob a ameaça de encolher ainda mais.Nos bastidores, líderes admitem que o escândalo do mensalão do Distrito Federal lança dúvidas sobre o futuro do partido, que há dois anos mudou de nome e logomarca para tentar modernizar a imagem e se aproximar do eleitorado de classe média.
Para o cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC-Rio, o DEM só deve sobreviver como sigla grande se a oposição eleger o sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
- Se o PSDB eleger seu candidato, o partido ganhará uma sobrevida.Em caso de vitória do governo, pode se tornar um partido médio, do porte de PTB e PP.Isso significaria cair para a segunda divisão da política - avalia.
Os mapas eleitorais mostram a trajetória de declínio da legenda, que viu sua bancada na Câmara encolher pela metade em apenas uma década. Em 1998, o ex-PFL elegeu 105 deputados e seis governadores, incluindo os de estados importantes como Bahia e Paraná. Em 2006, 65 deputados e um único governador.Com o troca-troca no Congresso e a desfiliação de Arruda, a sigla termina o ano com 54 deputados e nenhum governador.
Aliado de todos os governos civis antes de Lula, passando por José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, o DEM não conseguiu reagir à saída da máquina federal. A avaliação é do cientista político Juliano Corbellini, que estudou a história da legenda na tese de doutorado "O poder como vocaçãoBolsa Família reduziu base eleitoral no Nordeste
Afastado do Planalto, o partido perdeu o controle de ministérios estratégicos e o acesso privilegiado aos cofres federais.
Além disso, a expansão de programas sociais como o Bolsa Família enfraqueceu o papeldas oligarquias que garantiam boas votações no Nordeste.
- O Bolsa Família quebrou as máquinas locais que sustentaram a Arena e o PFL com relações clientelistas. Houve uma erosão da base tradicional do partido - diz Corbellini.
- Os pequenos municípios do Nordeste são governistas por necessidade, porque dependem das verbas federais.
Como o PFL é mais forte nos grotões, a saída do governo foi decisiva - concorda Romero.O exemplo mais claro é o da Bahia, onde o grupo do ex-senador Antonio Carlos Magalhães, que controlava o estado desde a ditadura, foi afastado em 2006 com a eleição do governador petista Jaques Wagner.
Ano passado, o principal herdeiro do clã, deputado ACM Neto (BA), não conseguiu chegar ao segundo turno da eleição municipal em Salvador. No interior, os prefeitos carlistas migram em peso para os grupos de Wagner e do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB).
Outro problema à frente do DEM é a falta de renovação de quadros. O presidente da sigla é o deputado Rodrigo Maia (RJ), filho do ex-prefeito Cesar Maia. O próximo líder na Câmara será Paulo Bornhausen (SC), filho do ex-senador Jorge Bornhausen.
- O partido está nas mãos de filhos que não herdaram a estatura dos caciques. E os pais já estão na terceira idade da política - diz Romero - Por Bernardo Mello Franco