A INADIÁVEL ALVORADA DE UMA QUARTA-FEIRA DE CINZAS
LULA MIRANDA
Nem tucano nem petista. Não houve “mensalão” tucano. Assim como não houve “mensalão” petista. Não se pode negar um sem negar o outro. Ou condenar um e inocentar o outro, como fazem alguns hipócritas
Nem tucano nem petista.
Não houve “mensalão” tucano. Assim como não houve “mensalão” petista. Não se pode negar um sem negar o outro. Ou condenar um e inocentar o outro, como fazem alguns hipócritas, jornalistas e juízes que, desgraçada e despudoradamente, assumiram inconfessáveis preferências partidárias; abandonaram os fatos e os autos para macular a toga, a magistratura e o jornalismo. Para, assim procedendo, estuprar a verdade e a Justiça.
Tá certo que, no salve geral do “jornobanditismo” organizado brasileiro, o caixa dois do PT tornou-se o “mensalão” petista”. Isso todos sabemos. Já o tucano foi eufemisticamente batizado de “mensalão mineiro”. Notou a “sutil” e conveniente distinção? Um é “petista”; o outro é “mineiro”. Sei...
Mais: o do PT foi “compra” de deputados; o do PSDB foi “financiamento de campanha”. Simples assim.
Somos todos incautos?! Ou somos todos hipócritas?
Ora! Sejamos honestos! Basta de parcialismo e/ou hipocrisia! Ambos são clássicos casos de caixa dois para financiamento centralizado de campanhas de partidos aliados!
É um absurdo condenar Eduardo Azeredo a vinte e poucos anos de prisão? Concordo. Mas não se preocupe, pois este dificilmente será julgado ou condenado – muito menos sofrerá achincalhes e linchamentos públicos diuturnos, cotidianos no horário nobre das TVs ou nas capas e nas manchetes dos jornais e revistas.
Porém, este importante político tucano de Minas terá que ser julgado pelo Supremo. Da mesma forma como foram julgados os petistas. Mas com direito à TV, teatral indignação e espalhafato? Convém duvidar.
O Supremo, na primeira e interminável etapa do julgamento da AP 470, desgraçadamente, fez “chacrinha”, mas não fez justiça. Transformou suas herméticas e áridas sessões num triste e esdrúxulo espetáculo de auditório, para uma classe média conservadora, de duvidoso senso (e gosto) e cultura mediana, refestelar-se, inculta e bela, nas suas macias poltronas e cômodos sofás. “Tão somente” para condenar “exemplarmente” os líderes petistas.
Deplorável exemplo e “espetáculo” deu o STF na ocasião. Nobres e provectos juristas escandalizaram-se.
É um absurdo condenar Azeredo à prisão?! Assim como foi um absurdo condenar José Dirceu, Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha, cada qual com seu crime e castigo, por peculato, lavagem de dinheiro e... FORMAÇÃO DE QUADRILHA!!! Esta última condenação então é o absurdo dos absurdos! Chega a ser inacreditável. Inaceitável! Remete-nos à obra de Franz Kafka, mas sem o aviso prévio e tranquilizador de que estamos diante de uma obra de ficção do gênio humano.
Absurdo! Reitero, com necessária e indignada ênfase. ABSURDO!
Condenar históricos líderes e referências do petismo e da política brasileira por peculato e lavagem de dinheiro pode até ser considerado, com muito boa vontade, vá lá, um viés de interpretação do magistrado, para uns; ou um suposto erro de avaliação/julgamento, para outros. Ou – por que não? – até mesmo um excesso de rigor dos ministros da Corte que, na condição de juízes, viram crime onde delito havia.
Mas, cá entre nós, condenar por formação de quadrilha, repito, é ABSURDO, e, mais que isso, é gritante e aviltante injustiça, visto que, além de corromper os autos e os fatos, foge à lógica elementar e ao bom senso.
Quadrilha?! Faça-me um favor!!!
Vivemos num mudo de rábulas e verdugos?
A classe média, despolitizada, gorda e burra, bela e inculta terá conhecido finalmente o seu paraíso?
Vivemos num reinado de hipócritas?
Cabe-nos perguntar.
Cabe-nos perguntar ainda e por último: o que é afinal o Supremo?!
O Supremo é uma “muralha inexpugnável” que serve para zelar pela interpretação e aplicação dos ditames da Carta Magna; que serve para proteger os direitos dos indivíduos do arbítrio e desmandos do Estado e do poder econômico? Ou é apenas uma canhestra cidadela do establishment, com suas masmorras inacessíveis e ar lúgubre, infecto, inacessível, incompreensível, cheio de sombras, onde se escondem vilezas, torpezas, hipocrisias e dosimetrias que utilizam pesos e medidas de flagrante incongruência, ao gosto do freguês da ocasião?
O Supremo terá, na próxima semana, portanto bem antes da tão esperada “folia momesca”, a oportunidade de se redimir de fragoroso e ignominioso erro histórico; de fragorosa e ignominiosa injustiça e, por que não dizer, maldade.
E assim, quem sabe, mostrar, para a sociedade brasileira, não somente para os correligionários do partido “x” ou “y”, que seus ministros, ao menos os mais honrados, virtuosos e humanos, não devem servir como heróis caricatos, como “Chacrinhas” e ou “chacretes” para desfrute e entretenimento de uma sociedade hipócrita, ou, tampouco, como meras máscaras a serem utilizadas pelos falsos virtuosos, os hipócritas, que pululam por aí, em eternos carnavais, nessa nossa sociedade farsesca, de duas faces e pouca moral. Para que estes “heróis” de um triste e catártico espetáculo não mais se esbaldem em sua débil e fugaz alegria, que não mais se assumam e celebrem a sua mediocridade foliã apenas no carnaval – de qualquer maneira, a qualquer tempo.
Quem sabe um ou outro ministro, de preferência um dos mais novos, imune aos vícios e pretensas virtudes dos velhos, traga um pouco de luz àquela Corte de sombras?
Quem sabe um destes não diga para a sociedade toda ouvir, agora, para valer, em caráter definitivo, em alto e bom, a verdade que já não pode calar: que o país necessita de uma reforma política URGENTE; que o financiamento privado de campanhas manieta e criminaliza a política – pois as instituições, os políticos, a mídia, os jornalistas, os promotores, o Judiciário inclusive, são, muitas vezes, tratados como meros títeres do poder econômico.
Pois a realidade, a verdade tarda, mas chega. Algum dia. Por vezes, logo depois de breve “desconforto”, ou mesmo ressaca de um “porre” de civismo, como nas Diretas Já. Mas vem acompanhada/seguida de irrefreável e libertadora alegria.
Pode até tardar, demorar aos olhos e expectativas dos mais impacientes, mas sempre há de vir o sol, por mais longa e tenebrosa que tenha sido a noite.
E, com ele, sempre chega a luz, que a tudo ilumina, esclarece, redime.
Como a inadiável, inconveniente e inexorável alvorada de uma quarta-feira de cinzas.
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/131116/A-inadi%C3%A1vel-alvorada-de-uma-quarta-feira-de-cinzas.htm
DE ESTILINGUE A VIDRAÇA
O PSDB hoje se vê na incômoda posição até recentemente ocupada pelo PT: depois de Chico, é a vez de Francisco
Ex-governador de Minas, ex-presidente nacional do PSDB, ex-senador e agora, ex-deputado federal, Eduardo Azeredo já pode acrescentar uma nova marca ao currículo: a de fujão. Ao renunciar ao mandato parlamentar, abrindo mão do foro privilegiado quando o “mensalão mineiro” estava prestes a ser julgado pela suprema corte, ele nada mais fez do que manobrar para voltar à primeira instância e, assim, protelar o desfecho do julgamento do seu caso.
No ritmo natural da Justiça brasileira, caso seu processo retorne à Justiça de Minas Gerais, ele dificilmente seria preso antes de 2018, quando completará 70 anos. Poderia ficar livre de uma condenação definitiva, assim como seu ex-vice governador, Walfrido dos Mares Guia, que coordenou sua campanha frustrada à reeleição, em 1998 – o que muitos consideram o embrião do chamado mensalão.
Orientado por experientes advogados, Azeredo dependerá da boa vontade dos ministros do Supremo Tribunal Federal e talvez tenha escapado de uma punição, mas o mesmo não se aplica a seu partido, o PSDB, que pretendia surfar na onda da ética nessas eleições de 2014.
Na mesma semana em que seu ex-presidente renunciou, outro grão tucano, o vereador Andrea Matarazzo, que foi ministro e embaixador no governo FHC, se tornou alvo de um inquérito aberto para investigar supostas propinas pagas pela multinacional francesa Alstom nos setores de energia e transportes.
Por trás desses dois escândalos, o de Azeredo e o de Matarazzo, está o mesmo problema, que é o financiamento de campanhas políticas. Assim como Azeredo foi acusado de montar um esquema para desviar recursos públicos e bancar sua reeleição, Matarazzo também já foi apontado como um dos arrecadadores informais do ninho tucano.
Deveria interessar, portanto, ao PSDB discutir a fundo uma reforma política, em vez de tentar se apropriar do discurso da ética. Afinal, como lembrou o ministro Luís Roberto Barroso, relator do “mensalão mineiro”, pau que bate em Chico também bate em Francisco.