QUEM TEM MEDO DO LULA?
EMIR SADER
Ninguém é mais atacado do que Lula, ninguém causa mais temor nas elites tradicionais do que o Lula, pela força política e moral que ele adquiriu
(originalmente publicado na Carta Maior)
Lula incomoda. Basta ele falar sobre algo, que as que se creem “autoridades” deitam falação para contestá-lo, criticá-lo, acusá-lo, denunciá-lo, homenageando-o como a ninguém se homenageia, com sua atenção, sua energia, seu rancor, suas insônias.
Lula nasceu do nada, do quase nada, de uma região que era para não dar nada ao país, de uma mãe amorosa, que lutava para que seus filhos sobrevivessem e, se pudessem, chegassem à escola – como o extraordinário filme sobre o Lula recorda. Ele foi chegando: da sobrevivência à escola, da formação profissional ao emprego industrial, do operário metalúrgico ao líder sindical, do desafio à vida para sobreviver ao desafio aos patrões e à ditadura. Se houve um milagre brasileiro, foi ele.
Entre paternalismo e temor, lideres políticos tradicionais e meios da imprensa tiveram que reconhecer seu papel, que tentavam restringir a um dirigente corporativo, com um papel determinado num certo momento, que mereceria carinho e compreensão. Mas quando ele foi se transformando em dirigente político, em fundador de um partido dos trabalhadores começou a incomodar não apenas ao Dops e à ditadura, mas aos que pretendiam restringi-lo a um papel limitado.
Até que aquele nordestino, operário, que perdeu um dedo na máquina, mas que nunca perdeu a esperança, ousou ser candidato a presidente e a quase ganhar. Denunciando a desigualdade e a injustiça, apontando que um Brasil melhor era possível e necessário. Até que um dia, depois de fracassarem bacharéis e políticos de profissão, o Lula se tornou presidente.
Ia fracassar, tinha que fracassar, para que as elites pudessem governar com calma o Brasil – como chegou a dizer um ex-ministro da ditadura. Haviam fracassado a ditadura, Sarney, Collor, FHC, ia fracassar Lula e a esquerda e o movimento popular estariam condenados por décadas – como ameaçou um outro ex-procer da ditadura.
Mas Lula encontrou a forma de dar certo. Em meio à herança maldita de uma década de desarticulação do Estado, da sociedade e das esperanças nacionais, Lula foi o responsável por uma arquitetura que permite ao Brasil resgatar a esperança, combater a desigualdade e a miséria, resgatar o Estado, projetar um Brasil soberano e solidário. Lula preferiu enfrentar os desafios de construir uma alternativa a partir do pais realmente existente do que dormir tranquilo com seus sonhos nunca realizados, em meio a um povo sem sonhos.
Lula saiu dos 8 anos mais formidáveis de governos no Brasil com mais de 90% de referências negativas da mídia e mais de 80% de apoio do povo. Não pode haver maior consagração. Elegeu sua sucessora, está prestes a conseguir que ela tenha um segunda mandato, mas ele não dá trégua aos que achavam que eram donos do Brasil, que ainda acham, apesar de terem perdido as três ultimas eleições presidenciais e estarem em pânico pelo risco iminente de perderem uma quarta, ficando já quase duas décadas sem dispor do Estado que construíram para perpetuar-se como donos do Brasil.
Lula incomoda. Uma forma de tentar neutralizá-lo é especular que ele vai ser candidato de novo agora. Ele nega, mas não aceita comprometer-se a que não volte a ser candidato. E quando abre a boca, quando escreve, quando aparece em publico, as elites tradicionais entram em pânico. Porque sabem que atrás daquelas palavras, daquela figura, está o maior dirigente político, o maior líder popular que o Brasil já teve, que quando se pronuncia, suas palavras não são palavras que o jornal amanhecido leva pro lixo, mas expressam realidades pelas quais ele é responsável.
Quando ele fala de miséria e de desigualdade, fala com a autoridade de quem mais contribui para sua superação. Quando fala da construção de um outro tipo de Brasil, se pronuncia a partir de mais de uma década de passos nessa direção, iniciados por seu governo. Quando critica as elites tradicionais – sua mídia, seus juízes, seus partidos e seus políticos – fala como quem é um contraponto real e concreto a essas elites. Fala como quem é reconhecido pelo povo como um dos seus, como alguém em quem confiam – ao contrario da mídia, de juízes, de partidos que já mostraram ao que vieram e em quem o povo não confia.
Lula incomoda. Não apenas pelo que foi, pelo que é, pelo que pode vir a ser. Mas por sua vida, argumento contra o qual ninguém pode contrapor nada. Ele é a prova viva que se pode nascer na pobreza e se tornar um dos maiores estadistas do mundo atual, se pode nascer na miséria e se tornar quem mais faz para superar a miséria. Se pode enfrentar as maiores dificuldades na vida e na política e manter a dignidade, a grandeza, o sorriso franco e o espirito de solidariedade. Se pode ser de esquerda e enfrentar os desafios de construir uma vida melhor para o povo, em meio a aliados e instituições que foram feitos para outra coisa. Se pode topar os desafios de receber um país desfeito e recuperar a esperança, a auto-estima, uma vida melhor para dezenas e dezenas de milhões de pessoas. Se pode prometer que ia fazer com que todos os brasileiros teriam três refeições diárias e cumprir.
Isso é insuportável para quem promoveu sempre a miséria e a passividade do povo, para quem governou para as elites e foi sempre recompensado pelas elites, enganando o povo e se enganando que iam ficar para sempre no controle do Estado e da política.
Lula incomoda. Por isso é atacado, atacado, atacado. Ninguém é mais atacado do que o Lula, ninguém causa mais temor nas elites tradicionais do que o Lula, pela força política e moral que ele adquiriu e que o povo reconhece nele.
Lula mostrou que se pode governar sem falar inglês, sem almoçar e jantar com os donos da mídia, sem ter medo das elites tradicionais, sem temor a aliar-se com quem se faz necessário para fazer o que é necessário e fundamental para o povo e para o Brasil. Lula mostrou que se pode defender os interesses do Brasil e ao mesmo tempo ser solidário com os outros países e com os outros povos.
Lula desmentiu mitos, sua vida é uma afirmação de que um outro mundo é possível, de que as elites podem falar todos os dias contra os interesses populares, mas quando o povo consegue visualizar uma política diferente e lideres que as defendem, se pronuncia contra as elites.
Lula tinha que dar errado, na vida e na política. E deu certo. Isso é insuportável para as elites tradicionais, isso gera medo neles, acordam e dormem com o fantasma do Lula na cabeça, nas redações dos jornais, revistas televisões, nas reuniões dos especuladores e dos seus partidos, nos organismos que pregam um mundo de poucos e para poucos.
Quem tem medo do Lula, tem medo do povo, tem medo das alternativas populares, tem medo que o Brasil vá se tornando, cada vez mais uma democracia social, de forma irreversível. Por isso cada palavra do Lula, cada sorriso, cada viagem, cada homenagem, cada abraço que dá e recebe do povo, incomoda tanto a alguns e provoca esse sentimento de confiança que o Brasil está dando certo em tanta gente.
Ter medo ou esperança no Lula é a própria definição de onde está cada um no Brasil e no mundo de hoje.
Lula nasceu do nada, do quase nada, de uma região que era para não dar nada ao país, de uma mãe amorosa, que lutava para que seus filhos sobrevivessem e, se pudessem, chegassem à escola – como o extraordinário filme sobre o Lula recorda. Ele foi chegando: da sobrevivência à escola, da formação profissional ao emprego industrial, do operário metalúrgico ao líder sindical, do desafio à vida para sobreviver ao desafio aos patrões e à ditadura. Se houve um milagre brasileiro, foi ele.
Entre paternalismo e temor, lideres políticos tradicionais e meios da imprensa tiveram que reconhecer seu papel, que tentavam restringir a um dirigente corporativo, com um papel determinado num certo momento, que mereceria carinho e compreensão. Mas quando ele foi se transformando em dirigente político, em fundador de um partido dos trabalhadores começou a incomodar não apenas ao Dops e à ditadura, mas aos que pretendiam restringi-lo a um papel limitado.
Até que aquele nordestino, operário, que perdeu um dedo na máquina, mas que nunca perdeu a esperança, ousou ser candidato a presidente e a quase ganhar. Denunciando a desigualdade e a injustiça, apontando que um Brasil melhor era possível e necessário. Até que um dia, depois de fracassarem bacharéis e políticos de profissão, o Lula se tornou presidente.
Ia fracassar, tinha que fracassar, para que as elites pudessem governar com calma o Brasil – como chegou a dizer um ex-ministro da ditadura. Haviam fracassado a ditadura, Sarney, Collor, FHC, ia fracassar Lula e a esquerda e o movimento popular estariam condenados por décadas – como ameaçou um outro ex-procer da ditadura.
Mas Lula encontrou a forma de dar certo. Em meio à herança maldita de uma década de desarticulação do Estado, da sociedade e das esperanças nacionais, Lula foi o responsável por uma arquitetura que permite ao Brasil resgatar a esperança, combater a desigualdade e a miséria, resgatar o Estado, projetar um Brasil soberano e solidário. Lula preferiu enfrentar os desafios de construir uma alternativa a partir do pais realmente existente do que dormir tranquilo com seus sonhos nunca realizados, em meio a um povo sem sonhos.
Lula saiu dos 8 anos mais formidáveis de governos no Brasil com mais de 90% de referências negativas da mídia e mais de 80% de apoio do povo. Não pode haver maior consagração. Elegeu sua sucessora, está prestes a conseguir que ela tenha um segunda mandato, mas ele não dá trégua aos que achavam que eram donos do Brasil, que ainda acham, apesar de terem perdido as três ultimas eleições presidenciais e estarem em pânico pelo risco iminente de perderem uma quarta, ficando já quase duas décadas sem dispor do Estado que construíram para perpetuar-se como donos do Brasil.
Lula incomoda. Uma forma de tentar neutralizá-lo é especular que ele vai ser candidato de novo agora. Ele nega, mas não aceita comprometer-se a que não volte a ser candidato. E quando abre a boca, quando escreve, quando aparece em publico, as elites tradicionais entram em pânico. Porque sabem que atrás daquelas palavras, daquela figura, está o maior dirigente político, o maior líder popular que o Brasil já teve, que quando se pronuncia, suas palavras não são palavras que o jornal amanhecido leva pro lixo, mas expressam realidades pelas quais ele é responsável.
Quando ele fala de miséria e de desigualdade, fala com a autoridade de quem mais contribui para sua superação. Quando fala da construção de um outro tipo de Brasil, se pronuncia a partir de mais de uma década de passos nessa direção, iniciados por seu governo. Quando critica as elites tradicionais – sua mídia, seus juízes, seus partidos e seus políticos – fala como quem é um contraponto real e concreto a essas elites. Fala como quem é reconhecido pelo povo como um dos seus, como alguém em quem confiam – ao contrario da mídia, de juízes, de partidos que já mostraram ao que vieram e em quem o povo não confia.
Lula incomoda. Não apenas pelo que foi, pelo que é, pelo que pode vir a ser. Mas por sua vida, argumento contra o qual ninguém pode contrapor nada. Ele é a prova viva que se pode nascer na pobreza e se tornar um dos maiores estadistas do mundo atual, se pode nascer na miséria e se tornar quem mais faz para superar a miséria. Se pode enfrentar as maiores dificuldades na vida e na política e manter a dignidade, a grandeza, o sorriso franco e o espirito de solidariedade. Se pode ser de esquerda e enfrentar os desafios de construir uma vida melhor para o povo, em meio a aliados e instituições que foram feitos para outra coisa. Se pode topar os desafios de receber um país desfeito e recuperar a esperança, a auto-estima, uma vida melhor para dezenas e dezenas de milhões de pessoas. Se pode prometer que ia fazer com que todos os brasileiros teriam três refeições diárias e cumprir.
Isso é insuportável para quem promoveu sempre a miséria e a passividade do povo, para quem governou para as elites e foi sempre recompensado pelas elites, enganando o povo e se enganando que iam ficar para sempre no controle do Estado e da política.
Lula incomoda. Por isso é atacado, atacado, atacado. Ninguém é mais atacado do que o Lula, ninguém causa mais temor nas elites tradicionais do que o Lula, pela força política e moral que ele adquiriu e que o povo reconhece nele.
Lula mostrou que se pode governar sem falar inglês, sem almoçar e jantar com os donos da mídia, sem ter medo das elites tradicionais, sem temor a aliar-se com quem se faz necessário para fazer o que é necessário e fundamental para o povo e para o Brasil. Lula mostrou que se pode defender os interesses do Brasil e ao mesmo tempo ser solidário com os outros países e com os outros povos.
Lula desmentiu mitos, sua vida é uma afirmação de que um outro mundo é possível, de que as elites podem falar todos os dias contra os interesses populares, mas quando o povo consegue visualizar uma política diferente e lideres que as defendem, se pronuncia contra as elites.
Lula tinha que dar errado, na vida e na política. E deu certo. Isso é insuportável para as elites tradicionais, isso gera medo neles, acordam e dormem com o fantasma do Lula na cabeça, nas redações dos jornais, revistas televisões, nas reuniões dos especuladores e dos seus partidos, nos organismos que pregam um mundo de poucos e para poucos.
Quem tem medo do Lula, tem medo do povo, tem medo das alternativas populares, tem medo que o Brasil vá se tornando, cada vez mais uma democracia social, de forma irreversível. Por isso cada palavra do Lula, cada sorriso, cada viagem, cada homenagem, cada abraço que dá e recebe do povo, incomoda tanto a alguns e provoca esse sentimento de confiança que o Brasil está dando certo em tanta gente.
Ter medo ou esperança no Lula é a própria definição de onde está cada um no Brasil e no mundo de hoje.
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/138296/Quem-tem-medo-do-Lula.htm
LULA ERROU: JULGAMENTO DO "MENSALÃO" FOI 100% POLÍTICO
Nunca uma verdade quase absoluta dita por um ex-presidente feriu tanto a elite brasileira. E esta verdade só não foi completa porque Lula errou na matemática, quando concedeu 20% de julgamento técnico à Ação Penal 470
Se você, caro leitor, ainda acredita na tese de que o julgamento da Ação Penal 470 foi estritamente técnico, pense no caso de Simone Vasconcelos, ex-gerente financeira de uma agência de publicidade de Marcos Valério. Ou em Vinícius Samarane, um funcionário de segundo escalão do Banco Rural. Esqueça, por um momento, os nomes de réus notórios, como José Dirceu, José Genoino e Roberto Jefferson. Tente agora responder, com franqueza e honestidade intelectual: por que, afinal, Simone e Vinícius estão presos, como se fossem bandidos de alta periculosidade?
Ambos são personagens mequetrefes da engrenagem que ficou conhecida como "mensalão". Não têm qualquer glamour, mas foram incluídos, na peça inicial de acusação, como integrantes do núcleo financeiro da "quadrilha". Evidentemente, nenhum deles desfruta do foro privilegiado. No entanto, foram julgados diretamente pelo Supremo Tribunal Federal, justamente por terem sido considerados parte de uma quadrilha, uma organização criminosa indissociável.
Ocorre, no entanto, que o Brasil, signatário do Pacto de San José, da Costa Rica, concede a todo e qualquer cidadão o duplo grau de jurisdição. O que significa que ninguém pode ser condenado em definitivo sem, ao menos, uma possibilidade de recurso a uma instância superior. Isso vale para assassinos, traficantes, estupradores, pedófilos, terroristas e políticos procurados pela Interpol, como Paulo Maluf, mas não valeu para Simone e Vinícius, assim como para vários outros réus.
Qual é a explicação? Ah, eles faziam parte de uma "quadrilha". Ocorre, no entanto, que o crime de quadrilha foi derrubado pelo próprio Supremo Tribunal Federal na votação dos embargos. Ou seja: a acusação desmoronou, mas as penas estão sendo cumpridas por dois cidadãos brasileiros – privados de um direito essencial – como se a tese ainda permanecesse de pé. E não apenas pelos dois, mas por vários outros condenados sem foro privilegiado, como Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Marcos Valério e até José Dirceu.
Considere, então, apenas por hipótese, que o argumento da quadrilha tenha alguma validade. Por que o chamado "mensalão" petista foi classificado desta maneira, ao contrário do "mensalão" tucano, organizado pelos mesmos personagens? Graças a essa diferença conceitual, o ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, que tinha o foro privilegiado, ao contrário de Simone e Vinícius, pôde retornar à primeira instância – o que fará com que seu caso prescreva antes que complete 70 anos. Seu "mensalão", ao contrário do que envolvia o PT, chegou fatiado ao STF. Enquanto réus sem foro privilegiado, como Walfrido dos Mares Guia e o tesoureiro Claudio Mourão caíram em primeira instância, beneficiando-se assim da prescrição, Azeredo subiu ao STF. Mas sua renúncia ao mandato parlamentar, numa explícita fuga da espada suprema, garantiu a ele o duplo grau de jurisdição – benefício negado aos personagens mequetrefes da Ação Penal 470.
Se esse argumento ainda não lhe convenceu de que a Ação Penal 470 foi um julgamento político, pense então no porquê da quadrilha ter sido montada com 40 personagens pelo então procurador-geral Antonio Fernando de Souza, em sua denúncia original. Não terá sido para alimentar a mítica imagem de que o Brasil era governador por um Ali Babá e seus 40 ladrões, tema, aliás, de capa de uma notória revista semanal? Por que não 37, 38, 39, 41, 42 ou 43? Afinal, outros personagens, inclusive o atual prefeito de uma grande capital, que sacou R$ 3 milhões do chamado "valerioduto", foram deixados de fora da denúncia. Qual é a explicação?
Não há explicação, assim como não há justificativa para que o caso seja tratado como "mensalão", palavra que pressupõe a existência de uma mesada, ou de pagamentos regulares a parlamentares. Todas as perícias realizadas por órgãos técnicos e pela própria Polícia Federal comprovam que os saques no Banco Rural foram realizados uma única vez. Ou seja: serviram para pagar dívidas de campanha de políticos do PT e da base aliada. Foi um caso típico de caixa dois eleitoral – o que, obviamente, não elimina sua gravidade. Apenas não foi "mensalão". E o mais engraçado é que o próprio criador da palavra, Roberto Jefferson, admitiu, publicamente, que se tratava apenas de uma figura retórica.
Passemos, então, aos casos concretos. Por que João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, está condenado e preso por peculato, acusado de desviar verbas de publicidade da Câmara dos Deputados, se todos os recursos desembolsados pela casa foram efetivamente transferidos para o caixa de empresas de comunicação, como Globo, Folha e Abril, conforme atestam diversas perícias? E se alguma dessas empresas bonificou agências de publicidade, o fez seguindo suas políticas internas.
Como acreditar, então, no desvio milionário de verbas do Banco do Brasil, se as campanhas de publicidade da Visanet – uma empresa privada, diga-se de passagem – foram efetivamente realizadas e comprovadas? Pela lógica, é impossível que R$ 170 milhões tenham sido desviados para os cofres do mensalão e, ao mesmo tempo, transferidos para veículos de comunicação que executaram as campanhas da Visanet.
Afora isso, e o caso de José Dirceu, condenado sem provas, segundo juristas à esquerda, como Celso Bandeira de Mello, e à direita, como Ives Gandra Martins? Ou condenado por uma teoria, a do "domínio do fato", renegada por seu próprio criador, o jurista alemão Claus Roxin. Como explicar sua condenação sem admitir a hipótese levantada pelo ex-presidente Lula de que a Ação Penal 470 foi, sim, um julgamento político?
Não apenas político, mas construído com um calendário feito sob medida para sincronizá-lo com as eleições municipais de 2012. E transformado em espetáculo midiático por grupos de comunicação que têm uma agenda política intensa, mas não declarada. Uma agenda que pode ser sintetizada no objetivo comum de desmoralizar e criminalizar um partido político que, a despeito dos ataques de adversários e dos seus próprios erros internos, ainda representa os anseios de uma parte considerável da sociedade brasileira.
Aliás, na nota em que afirma que as declarações de Lula merecem "repúdio" da sociedade, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, exalta o fato de as sessões terem sido transmitidas ao vivo, como num reality show. Foi exatamente essa mistura entre Justiça, da qual se espera sobriedade, e Big Brother que permitiu que o julgamento se tornasse ainda menos técnico – e mais político. Aos ministros, transformados em astros de novela, o que mais interessava era estar bem na foto – ou escapar da faca no pescoço apontada por colunistas supostamente independentes.
Prova cabal disso foi o que aconteceu com Celso de Mello, às vésperas de definição sobre se deveria aceitar ou não os embargos infringentes. Seu voto foi adiado, numa chicana conduzida pelo próprio presidente da corte, para que revistas semanais pudessem pressioná-lo antes do voto decisivo – uma pressão, registre-se, que, no caso do decano, resultou infrutífera.
Se não bastassem os abusos do processo em si, como entender então o realismo fantástico da execução penal, que transformou o presidente do Supremo Tribunal Federal em carcereiro-mor da Nação? Sim, Joaquim Barbosa chamou para si todos os passos da execução das penas. E escolheu o mais notório dos réus, o ex-ministro José Dirceu, como objeto de sua vingança. Mantê-lo preso, em regime fechado, e impedindo-o de exercer o direito ao trabalho, contrariando a decisão do próprio plenário da corte, bem como a recomendação do Ministério Público Federal, é uma decisão técnica ou política? Se for técnica, que Joaquim Barbosa se digne a explicá-la à sociedade.
O fato concreto é: em Portugal, Lula disse uma verdade quase absoluta, mas nunca uma verdade doeu tanto na elite brasileira. Aliás, uma verdade que só não foi completa porque Lula errou na matemática. O julgamento da Ação Penal 470 foi 100% político. O que falta agora a Lula é se mostrar efetivamente solidário a seus companheiros, que, sim, eram e ainda são de sua confiança.
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/138152/Lula-errou-julgamento-do-mensal%C3%A3o-foi-100-pol%C3%ADtico.htm
LULA NÃO SE CALA E CAUSA ÓDIO AOS INQUILINOS DA CASA GRANDE
DAVIS SENA FILHO
Quando o líder petista e trabalhista fala, por mais que ele seja democrático, sensato e lógico, quase que instantaneamente os porta-vozes da Casa Grande tratam de rebatê-lo com intolerância e veemência
Vamos lá. Luiz Inácio Lula da Silva concedeu recentemente entrevista à Rádio e Televisão de Portugal (RTP) porque está convencido, tal qual a milhões de brasileiros que não votam nos candidatos da direita partidária e da imprensa mercantil e alienígena, que suas palavras jamais vão ser repercutidas fidedignamente pelos jornalistas empregados das mídias tradicionais, que, por conta própria ou a mando de seus patrões magnatas bilionários de imprensa, deturpam e manipulam o que foi dito, a fim de, evidentemente, colocá-lo em xeque, bem como impedi-lo de se fazer entendido pelo público ouvinte, leitor ou telespectador.
O negócio é o seguinte: a imprensa burguesa, as seis famílias que a controla e seus empregados de confiança, que agem como feitores da Casa Grande, "lutam" e "defendem" ferozmente as liberdades de imprensa e de expressão, mas somente as liberdades deles, porque a verdade é que esses grupos econômicos e financeiros querem falar sozinhos.
Por isto e por causa disto é necessária a efetivação urgente do marco regulatório para as mídias, pois, do contrário, esses poderosos conglomerados, vinculados a interesses internacionais, vão continuar a trilhar por veredas tortuosas, que visam, primordialmente, desestabilizar governantes eleitos, principalmente se eles forem chefes de estado e de governos populares, a exemplo de Getúlio Vargas, João Goulart, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
A imprensa de negócios privados é a favor da liberdade de expressão dela. Só isto, e nada mais. Lula, o maior e mais importante político da América Latina, além de ser incrivelmente conhecidíssimo no mundo, bem como premiadíssimo por seu profícuo trabalho à frente da Presidência da República durante oito anos, não pode falar no Brasil e muito menos aparecer nas televisões abertas e fechadas, notadamente os inúmeros canais pertencentes às Organizações(?) Globo, um dos maiores e mais poderosos oligopólios de comunicação do mundo.
Isto mesmo, meus camaradas! Lula não pode falar e ser ouvido no Brasil. Ponto! E quando o líder petista e trabalhista fala, por mais que ele seja democrático, sensato e lógico, quase que instantaneamente os porta-vozes da Casa Grande tratam de rebatê-lo com intolerância e veemência, pois para essa gente herdeira da escravidão já foi de mais que um nordestino de origem pobre e depois operário de fábrica, que chegou ao Estado de São Paulo em um pau-de-arara tivesse tido a ousadia e a petulância de subir a rampa do Palácio do Planalto, caminhado por seus tapetes e sentado na cadeira da Presidência da República.
Ainda mais quando se trata de um político de esquerda que nunca abaixou a cabeça para essa burguesia perversa, violenta e preconceituosa, que acha que sua suposta e ridícula "superioridade" retrata a realidade dos fatos quando todo mundo sabe, aqui e no exterior, que o ex-presidente Lula teve uma performance administrativa infinitamente superior à dos ex-presidentes "doutores", cujos governos se atolaram na areia movediça da inflação, desempregaram, não criaram programas sociais que sustentassem as economias das diferentes regiões deste País, sucatearam as estatais e a infraestrutura brasileiras e, terrivelmente, venderam o Brasil, como se vendessem qualquer bugiganga em simples feiras. Verdadeira privataria e traição da pátria, que em muitos países acabaria em processos e cadeia.
A privataria tucana foi, de longe, o maior caso de desmantelamento do Estado brasileiro, bem como de corrupção da história deste País. O tucano Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I — conseguiu superar em traição o traidor da Inconfidência Mineira, Joaquim Silvério dos Reis, um coronel de Cavalaria que delatou seus companheiros inconfidentes para ter suas dívidas perdoadas pela coroa portuguesa, bem como angariar benefícios, como ganhar 30 moedas de ouro, pensão vitalícia, título de fidalgo da Casa Real, uma mansão para morar, além de ter sido recebido pelo príncipe regente Dom João, na corte de Lisboa, entre outras coisas. Deu no que deu: os inconfidentes foram presos e exilados. Tiradentes, porém, foi enforcado, esquartejado e suas partes espalhadas por vários pontos da cidade do Rio de Janeiro.
Obviamente, que FHC, aquele que foi ao FMI três vezes, de joelhos e com o pires nas mãos, porque o gênio tucano e seus economistas mequetrefes quebraram o País três vezes, não recebeu as vantagens, digamos pecuniárias, de Joaquim Silvério dos Reis, mas vendeu o País e o administrou como se fosse um caixeiro viajante.
Incompetente, mas caixeiro viajante, pois jamais quis ser um estadista, porque ser um estadista não é uma questão mera de querer sê-lo ou não. Ser um estadista é nato; e apenas poucas lideranças em todo o mundo e em todos os tempos possuem a vocação e a compreensão de que o ofício de governar é intrinsecamente ligado ao conhecimento daquele que se fez estadista, no que concerne a conhecer os anseios do povo e defender os interesses da sociedade, bem como do estado quando este se submete ao direito e à democracia. Definitivamente, Lula compreendeu essas questões, o que, evidentemente, não aconteceu com FHC, que optou por governar para os ricos, ou seja, para poucos, pois homem das elites, que sempre lutaram por um País VIP.
Um acinte completo, bem como, inquestionavelmente, traição ao povo brasileiro. E eles estão aí... Livres, leves e soltos, a fazerem caras e bocas, além de cinicamente se arvorarem como "nacionalistas", interessados que são pelo destino da Petrobras e de outras empresas públicas, que a direita, os tucanos e seus aliados trataram quando no poder de sucateá-las para vendê-las bem barato para os gringos, que até hoje deitam e rolam com as remessas de lucros bilionárias provenientes, por exemplo, da Telebras, megaempresa de comunicação, que foi fatiada em partes e que hoje gera lucros incontáveis para que europeus possam, inclusive, por intermédio dessa derrama, combater suas crises econômicas, que desde 2008 afligem quase todos os países europeus. Ponto!
Lula tem de ficar calado. Mas ele não fica, e concede entrevista a uma empresa de comunicação europeia, de língua portuguesa, como se desse um aviso ao sistema midiático monopolizado que não vai ficar quieto e vai falar quando quiser e na hora que desejar. Lula é a personalidade política mais internacional do Brasil, sem sombra de dúvida, e pretende falar muito mais quando se der o início do horário político gratuito nas televisões e rádios.
E aí, meus camaradas, o governo trabalhista vai mostrar as milhares de obras e programas e projetos que não têm visibilidade, porque os magnatas bilionários donos da imprensa-empresa boicotam, sabotam e censuram, de todas as formas e maneiras, as conquistas sociais e econômicas do povo brasileiro acontecidas nos últimos 12 anos. São muitas e vão ser mostradas na televisão. Somente nesse interregno eleitoral é que a grande mídia conservadora e reacionária deixa de falar sozinha.
É no decorrer desse curto espaço de tempo que as liberdades de expressão e de imprensa tão decantadas falsamente e cinicamente pelos barões da imprensa realmente funcionam. De quatro em quatro anos, mas o suficiente para os trabalhistas, os socialistas, o PT e seus aliados se comunicarem com a população brasileira e mostrar o que foi feito e o que poderá ser realizado. E essa realidade incomoda de mais a Casa Grande.
Venhamos e convenhamos, duvido que o povo abra mão de suas conquistas para colocar, no lugar dos presidentes trabalhistas, políticos privatistas, colonizados, complexados e subservientes aos interesses internacionais, como o são geralmente os políticos do espectro ideológico à direita, a exemplo de Aécio Neves, José Serra e, evidentemente, Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I. Lula não se cala, pois fala, e causa ódio aos inquilinos da Casa Grande. É isso aí.
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/138411/Lula-n%C3%A3o-se-cala-e-causa-%C3%B3dio-aos-inquilinos-da-Casa-Grande.htm