ELIMINAÇÃO NA COPA REVELA DEGRADAÇÃO MORAL DA MÍDIA
Repórter Ricardo Amaral, um dos mais consagrados profissionais da imprensa brasileira, diz ter saudades do bom futebol e do bom jornalismo; no passado, a imprensa tinha sensibilidade para se solidarizar com o povo brasileiro; hoje, cega por sua agenda política, trata com rancor, escárnio e até xenofobia o fracasso da seleção brasileira na Copa
10 DE JULHO DE 2014 ÀS 21:26
Por Ricardo Amaral
Sou de uma geração privilegiada. Tínhamos o melhor futebol do mundo, e jornais que buscavam sintonia com a alma do país, na vitória e na derrota. Hoje não temos uma coisa nem outra. Basta comparar como os jornais brasileiros se comportaram em dois momentos de dor nacional: as derrotas da Seleção na Copa de 1982 e na de 2014.
Jornalismo e sensibilidade na capa do Jornal da Tarde em 82. Escárnio e grosseria nas capas de ontem:
Em 82, fomos consolados pela crônica de Carlos Drummond de Andrade, elevada a capa de Esportes do Jornal Brasil e ilustrada por um Chico Caruso que não existe mais. Drummond lambia paternalmente as feridas de um país atônito, e nos convocava a retomar a vida:
Ontem, na capa do UOL,rancor e xenofobia sem sentido contra a Argentina; resumo do incontido desejo de vingança contra a realização bem-sucedida da Copa no Brasil:
Minha geração conheceu o JT, o JB e Telê. Não vou chorar.
DILMA À CNN: “FUTEBOL NÃO É UMA GUERRA, É UM JOGO”
Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, presidente diz que "superar a derrota é característica de um grande país"; Dilma Rousseff afirmou que derrota da Seleção Brasileira por 7 a 1 diante da Alemanha não reduz conquistas da realização da Mundial; "Fizemos uma das melhores copas graças à capacidade do povo de receber bem os visitantes", apontou; ela foi perguntada sobre os tempos de combate ao regime militar, sofrimento de torturas e a condição de ser presidente e mulher; "As mulheres sabem que as pessoas são sentimentos e emoções, e não apenas pensamentos e racionalidade"; íntegra
10 DE JULHO DE 2014 ÀS 17:31
247 – Na condição de anfitrião da Copa do Mundo assistida por mais de 3 bilhões de pessoas em todo o mundo, a presidente Dilma Rousseff concedeu à rede americana CNN uma entrevista exclusiva, veiculada nesta quinta-feira 10, para a jornalista Christiane Amanpour. A presidente disse que se sente "triste" pela derrota, por 7 a 1, da Seleção Brasileira frente a da Alemanha, na terça 8, mas lembrou que "futebol não é uma guerra, é um jogo".
Dilma defendeu "uma renovação" no futebol brasileiro, de modo a permitir que os principais jogadores permaneçam atuando em clubes nacionais. Ele foi questionada sobre seus tempos de luta contra a ditadura militar brasileira, quando foi torturada. "Você descobre que tem de resistir e que só você pode derrotar você mesmo". Acompanhe:
Entrevista exclusiva da Presidenta Dilma à CNN:
Jornalista Christiane Amanpour: Senhora Presidente, bem-vinda ao nosso programa.
Presidenta Dilma Rousseff: É um prazer para mim, Christiane, falar com você.
Jornalista: Houve muitas manifestações antes desta Copa do Mundo. E, de repente, durante a Copa do Mundo as pessoas ficaram em êxtase, disseram que era a melhor copa do Mundo, houve tantos gols. A Senhora acha que esta derrota irá moldar o sentimento nacional?
Presidenta: Olha, eu não acredito nisso porque nós vivenciamos uma Copa. Nós sabemos, nós, brasileiros, e também todos os torcedores que aqui vieram, nós sabemos que foi uma Copa que foi... que transcorreu em paz, com muita alegria, com toda a infraestrutura funcionando. De fato, é muito triste que nós cheguemos nesse momento e tenhamos uma derrota, é muito triste. Agora, isso não elimina nem a luta anterior da Seleção, nem tudo o que foi feito e está sendo feito. Afinal, tem uma característica o futebol: ele é feito de vitórias e de derrotas. Ser capaz de superar a derrota, eu acho que é uma característica de uma grande Seleção e de um grande país.
Jornalista: Queria lhe perguntar, Senhora Presidente, se a Senhora acha que a ausência de Neymar e Thiago Silva contribuíram para esta derrota.
Presidenta: Duzentos milhões de brasileiros são técnicos e dão palpite na Seleção. Eu acredito, olhando não como uma pessoa que entende profundamente de futebol, eu acredito que algum efeito significativo teve sobre a Seleção. Agora, diante da derrota, nós temos de ter uma atitude de sermos capazes de aprender com ela e, ao mesmo tempo, superá-la. Por isso, eu tenho certeza que o Brasil e todos os torcedores brasileiros terão um comportamento de persistir nos próximos dias e demonstrar que nós somos capazes de superar essa adversidade. Mas, a gente também tem de considerar uma coisa, sob todos os aspectos o Brasil fez uma Copa do Mundo que eu acredito que, de fato, foi uma das melhores Copas, e nós devemos isso, em grande parte, ao povo brasileiro, à sua capacidade de ter hospitalidade e de receber bem os torcedores do mundo, e eu espero – e tenho certeza – que todo o mundo vai reconhecer esse fato.
Jornalista: Houve muitas perguntas, não apenas pelo mundo, mas também aqui no Brasil, sobre o custo dos estádios, sobre os 14 bilhões de dólares gastos nestes estádios, comparados com os 4 bilhões gastos na África do Sul em 2010. As pessoas diziam: por que não temos melhores escolas, melhor educação ou melhor transporte, melhor infraestrutura. Durante a Copa do Mundo, elas ficaram empolgadas, porque esta tem sido uma excelente Copa do Mundo e a maioria das manifestações tem sido tranquila. A Senhora se preocupa, acredita na possibilidade de de elas recomeçarem após a final, de as pessoas se perguntarem em que foram gastos esses bilhões de dólares se nós sequer chegamos às finais?
Presidenta: Veja bem, nos estados, nos estádios foram gastos 8 bilhões de reais, mais ou menos 4 bilhões de dólares, nos estados. Esse gasto dos estádios, ele foi financiado pelo governo.. Nós gastamos, entre 2010 e 2013, com educação e saúde, nas três esferas de governo, 1 trilhão e 700 bilhões de reais, o que dá aproximadamente 850 bilhões de dólares, bilhões de dólares. Então comparar 4 bilhões de dólares com 850 bilhões de dólares é absolutamente desproporcional. Nós não gastamos... porque o resto dos gastos fica para o Brasil, não só para a Copa. Nem os estádios ficam só para a Copa. Os aeroportos, eles existem porque nós, de 2003 para 2013, nós passamos de 33 milhões de passageiros que viajavam de avião no Brasil para 113 milhões em 2013. Você veja que é... nós estamos fazendo aeroportos para nós mesmos, porque há uma imensa multidão de brasileiros que, nesta década, descobriu que podia viajar de avião porque tinha renda para pagar a passagem.
Quanto aos estádios, este é um lugar de encontro da população, e quando eu disse que o futebol brasileiro tem de ser renovado, o que eu queria dizer com isso? Eu queria dizer que o Brasil não pode mais continuar exportando jogador. Exportar jogador significa não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios. Qual é a maior atração que um país que ama o futebol como o nosso tem para ir num jogo de futebol? Ver os craques. Tem craques no Brasil que estão fora do país há muito tempo. Então, renovar o futebol brasileiro é perceber que um país, com essa paixão pelo futebol, tem todo o direito de ter seus jogadores aqui e não tê-los exportados.
Jornalista: Senhora Presidente, algumas pessoas disseram que Brasil e Copa do Mundo, esta é a fantasia do Brasil. Este é o Brasil que se gostaria de ter. Organizar uma Copa do Mundo fabulosa, apesar da terrível derrota da sua seleção. Mas este não é o Brasil real. No Brasil real, as pessoas estão nas ruas, querem melhor saneamento, melhor educação, melhores serviços. Isto acontece num momento em que a Senhora se lança para a reeleição. A Senhora sente agora o desafio político, com esta derrota, e que após a competição a Senhora estará sob pressão para mostrar resultados?
Presidenta: Primeiro, eu acho que esse Brasil que estão descrevendo não tem nada a ver com o Brasil real. O Brasil real é um Brasil que, de 2003 até hoje, tirou 36 milhões da pobreza, levou à classe média 42 milhões de pessoas. Quarenta e dois milhões de pessoas, para a gente colocar uma dimensão, equivale à Argentina, um país próximo aqui e bastante populoso. Isso se conseguiu em uma década. Essas pessoas que chegaram à classe média querem, de fato, melhor educação e melhor saúde. Nós estamos nos esforçando imensamente para esse processo.
Jornalista: A Senhora fala em retirar 36 milhões de pessoas da pobreza. Este é um grande triunfo para o Brasil. E é obviamente a razão pela qual as pessoas ainda têm aspirações. Elas querem melhorar ainda mais. Qual a sua resposta a esse um milhão de pessoas que saíram às ruas no ano passado e para as pessoas que ainda dizem que ainda têm aspirações, apesar do que a Senhora já fez?, Por outro lado, Senhora Presidente, o incrível crescimento econômico do Brasil da última década desacelerou-se e continua lento. O que a Senhora fará? A Senhora precisará encontrar um novo modelo econômico para alcançar o desenvolvimento?
Presidenta: Veja você, o nosso crescimento ter desacelerado se deve à violenta crise que começa no mundo a partir de 2008. De 2008 até 2014, no mundo, em torno de 60 milhões de empregos foram encerrados, foram fechados. Nós no Brasil, conseguimos, mesmo assim, enfrentar essa crise mantendo um nível de emprego ainda alto. Nós criamos, nesse mesmo período, 11 milhões de empregos. De fato, o mundo passa hoje por um momento difícil. No nosso caso, nós temos feito um imenso esforço para manter as taxas de crescimento e um desses esforços diz respeito aos investimentos que fazemos em infraestrutura. Eu acredito que nós entraremos num novo ciclo de desenvolvimento no Brasil. Se o primeiro foi baseado no crescimento com inclusão social, estabilidade macroeconômica, o segundo ciclo vai ter de se basear na melhoria da nossa produtividade, portanto, da nossa competitividade. Nós temos, como país, de apostar muito na educação. A educação dá conta de duas coisas: garantir que essas pessoas que mudaram as suas condições de vida e de renda, elas tenham esse ganho de forma permanente. A educação garante isso. Em segundo lugar, nós temos de entrar na economia da inovação, do crescimento e do valor agregado. Somos um país que tem uma agricultura, uma indústria e um setor de serviços bem desenvolvido. Então, nós temos de assegurar qualidade de emprego e temos de investir em infraestrutura logística, energética e social-urbana.
Jornalista: Quão grave é para este país e para esta nação o problema da corrupção?
Presidenta: Eu acredito que essa é uma questão fundamental no país. Eu defendo, e a minha vida toda demonstra isso, eu defendo tolerância zero com a corrupção, e isso não é só... não pode ser só uma fala presidencial. Tem de resultar em modificações institucionais. Nós criamos, no setor público federal, nós criamos um Portal da Transparência. Todos os gastos, todas as compras, todos os investimentos realizados pelo governo federal aparecem no Portal da internet em menos de 24 horas. Nós criamos a Controladoria-Geral da União e demos à Controladoria-Geral da União poder de investigar e de criar todos os mecanismos de imposição de melhores práticas dentro da Administração. Muitas das ações de corrupção foram descobertas pela Controladoria-Geral da União. Nós demos integral autonomia para a Polícia Federal investigar crimes de corrupção. Noventa por cento do que aparece de corrupção no Brasil foi investigado pela Polícia Federal, que é um órgão do governo federal.
Jornalista: A Senhora prometeu transformar a corrupção em crime e não apenas uma contravenção. Isto já foi feito?
Presidenta: Yes, todas. Não só fizemos isso, mas, agora... porque no Brasil tinha a prática de só o corruptor pagar pela corrupção. Os dois lados, hoje, tanto quem corrompe como quem é corrompido, hoje, paga diante da Justiça, o que eu acho uma grande melhoria porque um não existe sem o outro.
Jornalista: A Senhora tem uma história de vida fenomenal, Presidente. Depois do intervalo eu gostaria de falar sobre isso.
(intervalo)
Jornalista: Bem-vinda de volta ao nosso programa. A Senhora é a primeira mulher presidente do Brasil, um país de mais de 200 milhões de pessoas, o motor da América Latina - a economia do país é de longe a maior comparada com o restante do continente. A Senhora sempre sonhou em ser Presidente?
Presidenta: Não, eu nunca sonhei em ser presidente.
Jornalista: A sua história pessoal sugere, na verdade, justamente o contrário, porque a Senhora foi uma guerrilheira urbana nos anos 60, lutando e resistindo à ditadura militar. A Senhora sonhava em ser uma espécie de Robin Hood?
Presidenta: Não. Não, não. É muito difícil viver numa ditadura. A ditadura limita seus sonhos. Quando você não tem direito de expressão nem de organização, qualquer ato de discordância torna-se um ato de contraposição. No Brasil, o direito de greve era visto como uma ofensa ao regime. As manifestações que hoje nós... com as quais nós convivemos tranquilamente, eram motivo para você perseguir, matar, torturar. Então, na minha juventude, eu lutei contra a ditadura, eu fui produto desse tempo. Tenho muito orgulho de ter lutado porque não é fácil, não é fácil... o clima de uma ditadura é um clima que corrói, que corrompe as pessoas no sentido de corromper a sua capacidade de resistir.
Jornalista: A Senhora chegou a ser presa e mantida em prisão por três anos. E foi torturada. A Senhora pode falar sobre isso?
Presidenta: Eu fui presa nos anos 70 e fiquei por três anos num presídio em São Paulo, que hoje está, inclusive, demolido. É uma experiência em que você aprende que é necessário duas coisas: resistir e... e você percebe que só você mesmo pode te derrotar. Não que seja fácil suportar a tortura, não é, e você só suporta a tortura se você se enganar, deliberadamente, dizendo: mais um pouco eu suporto, mais outro pouco eu suporto, e assim você vai indo, e vai indo, e vai indo. A tortura não pode te derrotar, a adversidade não pode te tirar o ânimo de viver e você não pode se contaminar pelo que o torturador acha de você.
Jornalista: O que eles fizeram com a Senhora?
Presidenta: O que faziam no Brasil com todo mundo que era preso: choque elétrico; uma coisa que se chamava pau-de-arara, que é difícil de explicar para você, que é uma forma de pendurar as pessoas pelos braços e pelas pernas; e muito choque elétrico. O pior era o choque elétrico. É a forma mais... é uma dor que anda. A dor praticada por alguém sobre outra pessoa é algo imperdoável, bárbaro, que quem faz isso tem uma perda de valores humanos, de tudo o que nós conquistamos ao sair das cavernas e nos elevarmos à condição de civilizados. A tortura é uma negação disso, é uma negação do outro. Talvez a pior forma de negação. Por isso nós não podemos aceitar, em lugar nenhum do mundo, a ocorrência de tortura, sob qualquer alegação. Eu nunca vi um processo de tortura não destruir a instituição que pratica, que pratica a tortura. Todos os processos de tortura, historicamente, destruíram quem praticou a tortura. É gravíssimo o Ocidente voltar atrás nessa questão.
Jornalista: Como isto moldou a sua visão de mundo?
Presidenta: Como eu construí a minha visão de mundo?
Sabe, só tem um jeito da tortura não te contaminar. Ela não pode te levar a absorver uma raiva contra quem pratica, o ódio contra quem pratica. Você não pode deixar isso entrar para dentro de você, tem de ficar no externo, tem de ficar na dor física. Não pode se transformar numa motivação de sentimento, de visão de mundo, e da sua... eu diria assim, da sua ideologia, da sua cultura, da sua forma de ver o mundo. Agora, eu vou te dizer uma coisa, sobretudo tem uma coisa que eu acho que a tortura me fez viver de uma forma intensa, é a certeza absoluta que nós derrotamos, no Brasil, quem praticou. A derrota não é uma derrota pessoal, não é contra A, B ou C. Nós derrotamos, no Brasil, a estrutura que praticou a tortura, e foi a ditadura. Ao construir a democracia e construir com padrões que respeitam os direitos humanos... porque no Brasil nós temos, hoje, esse amor perdido pela democracia. Eu acho que isso foi o grande ganho.
Jornalista: Eu posso ver a paixão com a qual a Senhora fala disso. E a sua história pessoal é impressionante. Há muitas críticas hoje à Polícia do Brasil de que é uma das mais letais na região, de que em 2012 cerca de 2 mil pessoas foram torturadas e mortas pela Polícia brasileira. Isso parece ser um legado ruim desse tipo de tortura, ditadura e de falta do Estado de Direito que a Senhora combatia. A Senhora pode mudar isso?
Presidenta: Esse talvez seja um dos maiores desafios do Brasil.. O combate à criminalidade, ele não pode ser feito com os métodos dos criminosos. Muitas vezes isso ocorre, e nós não podemos também deixar intocada a estrutura prisional brasileira. Então tem de haver uma interação entre o Executivo federal e as polícias, e as polícias são dos estados, porque na Constituição brasileira a atribuição da segurança pública é estadual. Eu acredito que nós teremos de rever isso, rever a Constituição. Por quê? Porque essa é uma questão que tem de envolver o Executivo federal, o estadual, a Justiça estadual e federal, porque também há uma quantidade imensa de prisioneiros em situações sub-humanas nos presídios. Isso nós vamos ter... essa é uma questão das mais graves no Brasil. Essa... em alguns lugares nós conseguimos um grande avanço
Jornalista: e, finalmente, por falar em Estado de Direito, a Senhora criticou duramente o Governo dos Estados Unidos por causa da espionagem ou das revelações de Edward Snowden. A Senhora foi espionada, milhões de brasileiros foram espionados. A Senhora se reconciliou com o Presidente Obama. As relações estão bem novamente? A questão já passou ou a Senhora ainda tem um problema com os Estados Unidos e a administração Obama quanto a isto?
Presidenta: Olha, eu não acredito que a responsabilidade com... pelos hábitos de espionagem seja da administração do presidente Obama. Eu acho que ela é um processo que vem ocorrendo depois do 11 de Setembro. O que nós não aceitamos e continuamos não aceitando é o fato de que o governo brasileiro, empresas brasileiras e cidadãos brasileiros fossem espionados, porque isso atinge diretamente os direitos humanos brasileiros, principalmente o direito à privacidade e à liberdade de expressão. Então nós manifestamos essa questão para o governo Obama porque, no momento, o que nós dissemos a eles é que cada ato recíproco entre o Brasil e os Estados Unidos, que são grandes parceiros estratégicos, seria comprometido por revelações que nós não tínhamos controle, não sabíamos que existiam, e que queríamos duas coisas: uma garantia que não aconteceria mais e o fato de que alguém tinha de se responsabilizar e falar para nós que não aconteceria. Naquele momento o governo Obama estava em processo de equacionar esse problema... essa questão da espionagem internacional, e não tinha condições de responder para nós. Como não tinha condição de responder para nós, nós não tivemos nenhuma outra ação... por exemplo, eu ia fazer uma visita e não fiz por isso. Isso não implicou em nenhuma ruptura com o governo Obama. Implicou simplesmente em colocar as cartas na mesa e dizer "olha, isso é impossível". Hoje eu acredito que eles deram vários passos.
Intervalo
Jornalista: Obrigado, gostaria apenas de fazer mais uma pergunta para o segmento final do programa. Finalmente, Senhora Presidente, A Chanceler Merkel e a Senhora são as duas mais poderosas mulheres presidentes do mundo hoje. O que é ser uma mulher presidente? E o que a Senhora dirá à Chanceler Merkel já que a seleção dela chegou à final da Copa?
Presidenta: Congratulations. Vou cumprimentar a chanceler Merkel pela vitória porque o futebol, ele tem uma característica, ele é um jogo que permite que o que há de melhor na atividade humana apareça. Primeiro, ele é um jogo que implica em cooperação, as pessoas têm de cooperar. Segundo, ele implica em treinamento, as pessoas têm de treinar. No futebol e na vida, se você não se esforçar, não trabalhar, não... você também não obtém sucesso. Implica numa coisa que eu acho fundamental e que é uma educação para todos nós: no fair play, no saber ganhar e no saber perder. Quando você perde, você tem de cumprimentar o adversário. Não é uma guerra, é um jogo, e é por isso que o futebol encanta, porque além disso ele mostra a beleza da iniciativa individual humana em vários momentos, apesar de ele ser um jogo de cooperação. Então eu vou cumprimentar a Angela Merkel e dizer para a Chanceler que o time dela jogou muito bem. E ela esteja de parabéns.
Jornalista: É diferente ser uma mulher Presidente. A Senhora faz as coisas de maneira distinta?
Presidenta: Eu acho que ainda no nosso mundo é visto de forma diferente. Mulheres que são líderes políticas, elas são vistas como duras, duras, mulheres duras, frias, cercadas de homens meigos. Nem uma coisa, nem outra é verdade. Nós somos, como lideranças, como presidentes ou como chanceleres, nós somos mulheres exercendo o papel de mulheres. Eu sempre quero crer que nosso olhar feminino tem uma parte que é perceber que você governa para pessoas e não para coisas. Não que os homens façam necessariamente diferente, mas é certo que a mulher sabe que as pessoas são sentimentos e emoções também, além de pensamentos, além da racionalidade. Acho que essa é uma diferença fundamental.
Jornalista: Presidenta Rousseff, muito obrigada pela participação.
GILBERTO: "DERROTA NÃO INTERFERE NAS ELEIÇÕES"
Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho disse nesta quinta-feira, 10, em coletiva à imprensa que uma eventual vitória do Brasil também não teria impacto nas urnas; "Qualquer estudo da história do Brasil mostra que essa tese não se sustenta. Já houve Copa em que a seleção ganhou e a oposição venceu, e [em que] a seleção perdeu e a situação ganhou”, disse; para Carvalho, daqui a duas semanas, quando começar o debate eleitoral, outras questões estarão em pauta, como programa de governo e a história dos candidatos
10 DE JULHO DE 2014 ÀS 20:30
247 com Agência Brasil - A derrota do Brasil na semifinal da Copa do Mundo não terá nenhuma influência nas eleições de outubro próximo. A opinião é do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Em coletiva à imprensa nesta quinta-feira, 10, o ministro declarou uma eventual vitória do Brasil também não teria impacto nas urnas.
“Qualquer estudo da história do Brasil mostra que essa tese não se sustenta. Já houve Copa em que a seleção ganhou e a oposição venceu, e [em que] a seleção perdeu e a situação ganhou”, disse ele. “O único risco seria se houvéssemos passado vergonha perante o mundo, de não darmos conta de realizar este evento. Aí sim, teríamos passado atestado de incompetência, e isso poderia interferir na análise da capacidade de gestão desse ou daquele governante”, disse ele.
Apesar de estarem em lados opostos, o discurso de Gilberto Carvalho foi semelhante às declarações do governador de São Paulo e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB), que afirmou que o povo "separa muito bem a questão eleitoral da questão futebolística". "Quem quer misturar as coisas comete um grande equívoco", disse Alckimin (leia aqui).
Para Carvalho, daqui a duas semanas, quando começar o debate eleitoral, outras questões estarão em pauta, como programa de governo e a história dos candidatos.
Ainda de acordo com o ministro, a derrota do Brasil foi um incidente futebolístico, e mesmo que a seleção tivesse obtido a vitória os problemas do futebol brasileiro - "como denúncias de corrupção, evasão dos craques, falência dos clubes” - são antigos e devem ser sanados.
“Somos um país marcado pela corrupção, que durante muito tempo ficou debaixo do tapete. Quando começamos a valorizar a Polícia Federal, a Controladoria-Geral da República, dar-lhes autonomia real, criar mecanismos como o Portal da Transparência e a Lei de Acesso à informação, tivemos uma implosão de corrupção que antes não tínhamos”, disse ele.
O ministro afirmou também que caso a oposição crie uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Copa, como foi anunciado ontem (9), apenas ajudará a mostrar que os estádios têm padrão excelente, com preço por assento mais baixo do que em outros países. “Essa não é uma preocupação para nós. Pelo contrário, estamos muito abertos a qualquer dúvida quanto a isso”, disse ele.
COLUNISTAS DESVIRTUAM FINAL EM ARGENTINA X DILMA
Redivivos na Copa pela derrota por 7 a 1 da Seleção Brasileira frente a da Alemanha, colunistas políticos torcem unidos agora pela vitória da Argentina na partida final; tese é pérola do atraso: desse modo, presidente Dilma Rousseff sofreria desgaste ao entregar taça para capitão Lionel Messi; xenofobia alimentada por Merval Pereira, Guilherme Fiúza, Reinaldo Azevedo, Dora Kramer e Eliane Cantânhede, entre outros, é abjeta; como chefe de Estado, Dilma dará a taça ao capitão vencedor; Copa do Mundo não admite preconceito e discriminação; presidente incentivou o Brasil e a competição assim como também o fizeram, corretamente, seus adversários Aécio Neves e Eduardo Campos
10 DE JULHO DE 2014 ÀS 13:50
247 - Abatidos pela receptividade popular dada à Copa do Mundo em todo o Brasil, colunistas políticos da mídia tradicional se viram redivivos no debate em torno do Mundial em razão da derrota, por 7 a 1, da Seleção Brasileira frente a da Alemanha. Com efeito, um resultado vexaminoso deste porte era tudo - e ainda mais - o que quem torcia contra poderia desejar àquela altura do campeonato, quando o sucesso da organização da Copa no País já era irreversível. Agora, fortalecidos pelo fracasso esportivo da equipe nacional, infelizmente muitos colunistas políticos passaram a divulgar uma tese abjeta que tem centro no xenofobismo – a aversão a estrangeiros que está na base de todo pensamento atrasado e totalitário.
Ora de maneira sutil, ora de modo mais selvagem, estrelas da mídia familiar como Merval Pereira, Guilherme Fiúza, Dora Kramer, Reinado Azevedo e Eliane Catânhede, os chamados "colunistas chatos", como esta última vem definindo a própria turma, vestiram a camisa da Seleção Argentina. Não pelo nobre motivo de admirar o futebol do time do país vizinho, mas para que, com a derrota da Alemanha, a presidente Dilma Rousseff se veja obrigada a entrega a taça ao capitão Lionel Messi. Eles têm considerado essa possibilidade como algo próximo da humilhação, da vergonha, da derrota.
Ao que se depreende do texto e subtexto nas palavras escritas, comentários na tevê e posts em blogs, o gesto representaria para Dilma um grande desgaste, com reflexos em perda de popularidade e, em seguida, perda de votos. Dar a taça a argentinos seria, para a presidente, um mau gesto. Tenta-se passar a ideia de que tudo o que o brasileiro médio não quer é que os argentinos vençam a competição dentro do País. Uma pregação, sem dúvida, de separatismo, exclusão e discriminação.
Bem acima da baixaria disseminada pelos torcedores do contra, não é difícil entender que a presidente Dilma está tendo um comportamento exemplar durante a Copa do Mundo – e continuará a fazê-lo ao entregar a taça seja para Messi ou para o capitão alemão Philipp Lahm. Trata-se de um gesto de chefe de Estado do país anfitrião diante do campeão. Não há nenhuma dúvida de que, se hoje um deles estivesse no papel da presidente, também os candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos fariam o mesmo. Assim como Dilma, também eles vestiram a camisa amarela da Seleção Brasileira e torceram ao lado de todo o povo. Nem poderia ser diferente. No limite, o que fica é: Dilma, e só ela, não pode fazer o que é absolutamente normal: torcer, e muito, pelo Brasil!
Qual é o problema nisso, caros?
A acusação feita, especialmente nos veículos das Organizações Globo, de que Dilma tentou tirar proveito político da Copa é infame. A presidente, como se sabe, recusou a possibilidade de receber a equipe no Palácio do Planalto para transmitir votos de boa sorte e tirar muitas fotos com os jogadores que vinham sendo tratados como ídolos populares. Dilma deu, como se diz, a cara para bater ao comparecer ao primeiro jogo da Copa. Era o papel dela, outra vez, repita-se, como chefe de Estado do país anfitrião. Seria inconcebível, do ponto de vista protocolar, ela não estar lá. No primeiro jogo da Alemanha, contra Portugal, em Salvador, a chanceler Ângela Merkel esteve na arena Fonte Nova. E também o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, assitiu na arena Dunas, em Natal, sua equipe nacional enfrentar Gana.
No decorrer da competição, Dilma ocupou suas redes sociais com mensagens de rasgado otimismo pelo desempenho da Seleção, fazendo o mesmo em entrevista e pronunciamentos. Pergunta-se: o que se esperava de um presidente da República em tempos de Copa do Mundo no Brasil? Que tratasse o fato com frieza? Que não assumisse, como é do cargo, a camisa de torcedor número 1? Barack Obama, que vibrou com os Estados Unidos, não poderia ter mostrado sua torcida? Ou ele pode? Queriam que Dilma torcesse contra?
A final da Copa, registre-se, será precedida por um encontro, anfitrionado por Dilma, de 15 chefes de Estado e será sucedida por um encontro decisivo dos Brics, no qual será anunciada a fundação de um banco de fomento que promete atuar na contramão do FMI. Será que os colunistas querem excluir alguém ou algum país desses encontros? Melhor Dilma não ir, talvez? Ou barrar a entrada de Cristina Kirchner, ein, ein?
Ao longo da competição, a presidente procurou, como, de novo, é do seu papel, incentivar o desenvolvimento da competição e, claro, expressar sua torcida pela equipe brasileira. Neste contexto usou a expressão "vamos fazer uma Copa no padrão Felipão", que agora causa risos de colunistas nos programas da Globo News. Qualquer presidente prestigiaria o técnico da Seleção no início de uma Copa do Mundo. E fazer a piada é do jogo.
Por outro lado, Dilma entregar a taça aos campeões, sejam argentinos ou alemães, é um gesto de elegância, respeito e esportividade. Buscar alimentar fanatismos em torno do "desastre" que será passar a taça a um "argentino" – como se essa condição fosse um defeito como foi, no passado, ser "judeu", por exemplo – não é apenas querer politizar uma histórica rivalidade esportiva. É jogar baixo.
Em veja.com, Reinaldo Azevedo aproveitou uma frase do ex-presidente Lula para dar seu pitaco, fazendo questão de, na entrada, bater em Lula abaixo da cintura:
A FALA PREMONITÓRIA DE LULA EM 2007: "Vamos realizar uma copa do mundo pra argentino nenhum botar defeito". Nem diga!Ah, como fala este apedeuta seca-pimenteira! Vejam o que disse Lula em 2007 sobre a Copa do Mundo de 2014, naquele tom bravateiro de sempre.
Retomo
Nem diga! Até agora, os argentinos estão adorando. Já são os vice-campeões. E, não sei, não, é grande a chance de que a governanta entregue a taça para Lionel Messi. Isso, sim, seria um "Maracanazo", né?
Por Reinaldo Azevedo
GLOBO: DO OBA-OBA AO BRASIL COLOCADO DE QUATRO
As Organizações Globo, que, no fim de semana, estampavam uma capa dourada de Época com um ufanista "Eu acredito", ontem publicaram uma das capas mais infames da história do jornalismo brasileiro; era a imagem de David Luiz prostrado, de quatro, com uma nítida conotação sexual, como se o País tivesse sido violentado; o objetivo é um só: despertar emoções primitivas nos leitores e eleitores; depois de estimular o terrorismo contra a Copa, a Globo agora debocha da inteligência do público alertando ainda para o risco de que Dilma entregue a taça a Messi; é assustadora a falta de escrúpulos
10 DE JULHO DE 2014 ÀS 10:07
247 - Chega a ser assustadora a falta de escrúpulos da imprensa familiar brasileira. O exemplo mais gritante é o das Organizações Globo, que, na edição de ontem do jornal O Globo, publicaram aquela que talvez entre para a história como a capa mais infame já feita pela imprensa brasileira. O jogador David Luiz, que teve uma postura digna durante toda a Copa do Mundo, tanto na vitória, ao consolar o colombiano James Rodriguez, como na derrota, ao se desculpar diante dos torcedores, foi estampado de quatro, sob os dizeres "Vergonha, vexame, humilhação", escritos em letras garrafais.
O Globo, que associa a imagem de David Luiz à de uma nação violentada e estuprada, numa escolha editorial com nítida conotação sexual, pertence ao mesmo grupo que edita a revista Época. Uma publicação que produziu diversas reportagens na linha do #naovaitercopa, disseminando terror e pessimismo entre a população, mas que, nesta semana, diante do sucesso da Copa, decidiu aderir ao clima de alto astral no País com um ufanista "Eu acredito!" na capa. Uma escolha oportunista, como alertou 247, lembrando que conviria bater na madeira diante da conversão global ao otimismo (leia mais aqui).
Em linhas gerais, a cobertura da Copa feita pela Globo, que é parceira da Fifa e fatura alto com o Mundial, passou do terrorismo ao oba-oba para, agora, chegar ao sadismo sensacionalista. Por quê? Qual é a lógica que justificaria uma postura tão vil e covarde?
A única resposta parece ser a política. Como bem lembrou o colunista Miguel do Rosário, o objetivo parece ser o despertar emoções primitivas na sociedade (leia mais aqui), como se a nação estuprada tivesse agora a missão de se vingar do governo que a deixou ser violentada pelos alemães.
Mas o estupro, no entanto, ainda não está completo. No roteiro dos sonhos da família Marinho, falta apenas o capítulo final, com a presidente Dilma Rousseff entregando a taça ao capitão argentino Lionel Messi. "Há uma conspiração dos astros contra a presidente Dilma", diz o colunista Merval Pereira, alertando para o "risco" de que isso ocorra. "Pior desfecho não poderia haver".
Fica claro, portanto, que a família Marinho é Argentina desde criancinha. Apostaram no terrorismo contra a Copa e perderam a aposta. Fizeram oba-oba na capa de Época e agouraram a seleção. Agora, surfam no "vexame", como se disso dependesse o sucesso de sua agenda política. Vão perder novamente. Caso Lionel Messi, um jogador admirado pela grande maioria dos brasileiros, receba a taça, terá sido apenas por merecimento. E assim como a Argentina merecerá aplausos pelo eventual título, o Brasil também pela organização da Copa.
RONALDO IRONIZA BRASIL COM GOLEADA ALEMÃ NO NOBEL
Membro do COL (Comitê Organizador Local) da Copa e comentarista da "TV Globo", ex-atacante Ronaldo publicou uma foto no Instagram comparando a goleada sofrida pelo Brasil ao número de prêmios Nobel recebidos pela Alemanha: "Alemanha 102 x 0 Brasil. E você acha que 7 x 1 foi goleada?"; postagem foi bombardeada de críticas, como "hipócrita" e "babaca"; ex-jogador, que disse se sentir envergonhado com os preparativos do Mundial, se rendeu recentemente ao sucesso da Copa
10 DE JULHO DE 2014 ÀS 08:20
247 - O ex-jogador Ronaldo voltou a causar polêmica nas redes sociais ao ironizar a derrota da seleção brasileira para a Alemanha por 7 a 1.
Em sua conta no Instagram, o Membro do COL (Comitê Organizador Local) da Copa e comentarista da "TV Globo", divulgou imagem que compara o placar do jogo ao número de prêmios Nobel conquistados por brasileiros e alemães: "Alemanha 102 x 0 Brasil. E você acha que 7 x 1 foi goleada?". A postagem do ex-jogador foi bombardeada de críticas, como "hipócrita" e "babaca".
Antes do início da Copa, Ronaldo disse que se sentia envergonhado com os preparativos para o Mundial.
Desde que declarou apoio à candidatura de Aécio Neves (PSDB) à Presidência, Ronaldo passou a atacar constantemente o governo Dilma em relação ao Mundial. "E de repente chega aqui é essa burocracia toda, uma confusão, um disse me disse, são os atrasos. É uma pena. Eu me sinto envergonhado, porque é o meu país, o país que eu amo, e a gente não podia estar passando essa imagem para fora", disse o ex-jogador à agência Reuters, no dia 23 de maio.
Com a bola já rolando, se rendeu ao sucesso do evento e voltou atrás nas críticas (leia aqui).
MAIS UMA BOBAGEM DE MERVAL: DILMA CORRE RISCO DE ENTREGAR TAÇA A MESSI
‘Há uma conspiração dos astros contra a presidente Dilma. Pois os argentinos venceram a Holanda e disputarão a final contra a Alemanha. Corre o risco de a presidente Dilma ter de entregar a Copa das Copas a Messi, o capitão da seleção argentina’, disse o colunista Merval Pereira; e daí?
10 DE JULHO DE 2014 ÀS 07:12
247 – O colunista do Globo Merval Pereira foi além das comparações sem sentido que circulam da mídia sobre a derrota do Brasil para a Alemanha e o resultado das eleições de 2014. Ele relaciona o sucesso da seleção da Argentina como uma derrota da presidente Dilma Rousseff.
Leia trecho:
A Copa das Copas
Há uma conspiração dos astros contra a presidente Dilma. Na análise de seus conselheiros, o melhor resultado para s sua candidatura, depois da tragédia do Mineirazo, seria a derrota da seleção da Argentina e uma vitória da seleção brasileira contra os “Hermanos” no sábado, na disputa pelo terceiro lugar.
Pois os argentinos venceram a Holanda e disputarão a final contra a Alemanha. Corre o risco de a presidente Dilma ter de entregar a Copa das Copas a Messi, o capitão da seleção argentina.
Pior desfecho não poderia haver.
MÔNICA FRANCISCO DIZ QUE BRASIL JÁ GANHOU DA FIFA
“Nosso troféu já veio com a atuação da Polícia Federal e a exposição do que há de pior no mundo do esporte. Agora que o recreio acabou, toda a atenção nestas eleições que a coisa tá ficando séria”, convoca a representante da Rede de Instituições do Borel Mônica Francisco, em texto publicado pelo Jornal do Brasil
10 DE JULHO DE 2014 ÀS 16:02
Favela 247 – A representante da Rede de Instituições do Borel Mônica Francisco lembra, em artigo publicado na coluna Comunidade em Pauta, doJornal do Brasil, que, às vésperas do fim da Copa do Mundo, é preciso voltar as atenções para as próximas eleições, que serão realizadas em outubro. “Precisamos discutir seriamente questões muito importantes para a consolidação de nossa jovem democracia, como a obrigatoriedade do voto, ou o voto facultativo, melhor dizendo, a tão sonhada reforma eleitoral e as outras reformas tão desejadas”. Mônica critica duramente a Fifa, citando o recente escândalo de vendas ilegais de ingressos para o Mundial. “Nosso troféu já veio com a atuação da Polícia Federal e a exposição do que há de pior no mundo do esporte. Agora que o recreio acabou, toda a atenção nestas eleições que a coisa tá ficando séria”. A autora dia que, apesar do fim da Copa, as questões “postas em xeque pelas jornadas de junho do ano passado ainda urgem”.
Por *Mônica Francisco, para o Jornal do Brasil
Após escândalos da Fifa, é hora de consolidar nossa jovem democracia
Finalmente começa o ano, e o escândalo da FIFA mostra o que sempre soubemos ou pelo menos desconfiamos. Do alto de sua empáfia, a FIFA tem com os escândalos expostos aqui no país de pretos, que o padrão da entidade conseguiu deixar de fora dos estádios. Apesar da mão leve e branda da Justiça com alguns figurões, é muito bom podermos ver toda essa movimentação que traz à luz esse esquema criminoso.
O fio da meada foi puxado, aguardemos o que vem por aí. Como boa cristã, acredito nos desígnios divinos e, certamente, o clamor dos pobres, o sangue dos mortos, a indignação das ruas foram ouvidos.
Fomos humilhados publicamente ao sermos alvo de comentários preconceituosos de membros da FIFA. Agora, nossa resposta vem da melhor forma possível e estamos desejosos de que a justiça seja tão severa, como é com aqueles que vivem no Brasil real.
Queremos ver ganha e não perdida uma bela oportunidade de nossa justiça mostrar de fato que é imparcial, ou pelo menos que se pretende.
Nosso troféu já veio com a atuação da Polícia Federal e a exposição do que há de pior no mundo do esporte. Agora que o recreio acabou, toda a atenção nestas eleições que a coisa tá ficando séria.
Precisamos discutir seriamente questões muito importantes para a consolidação de nossa jovem democracia, como a obrigatoriedade do voto, ou o voto facultativo, melhor dizendo, a tão sonhada reforma eleitoral e as outras reformas tão desejadas.
A Copa acabou, mas as nossas grandes questões, postas em xeque pelas jornadas de junho do ano passado, e que ainda pautam a maioria das manifestações em curso no país, ainda urgem.
"A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO, ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!"
*Mônica Francisco é representante da Rede de Instituições do Borel, coordenadora do Grupo Arteiras e consultora na ONG Asplande
COPA, MERVAL, CASA GRANDE, CLASSE MÉDIA E MÁ-FÉ
DAVIS SENA FILHO
Merval Pereira, como intelectual, é uma farsa. A imprensa familiar é uma fraude. A Copa do Mundo foi um retumbante sucesso e mostrou ao mundo que os brasileiros são muito mais capazes do que pensam os inquilinos colonizados e subservientes da Casa Grande
"Da águia mansa me livre Deus. Da brava me livrarei eu". (Provérbio popular)
Então, vamos à pergunta que teima em não calar: o que a cidadania, a Nação, os trabalhadores e o povo brasileiro podem esperar das Organizações(?) Globo, de suas congêneres e de empregados como, por exemplo, um dos feitores da família Marinho, que atende pelo nome de Merval Pereira? Respondo, sem vacilar: nada vezes nada! E por que tanta resignação ou decepção? Informo-lhes: não estou decepcionado e muito menos resignado, apenas sei que, indubitavelmente, a mentira e a manipulação não são boas conselheiras e, por seu turno, não merecem atenção para serem consideradas.
Merval Pereira há dias faz oposição à Dilma Rousseff, no que concerne ao sucesso ou ao fracasso da Copa do Mundo. Se a Copa tivesse fracassado, Merval e seus "iguais" da imprensa de mercado diriam que os brasileiros e principalmente o Governo Trabalhista são incompetentes e como tais deveriam se colocar em seus lugares, ou seja, as arquibancadas destinadas aos inaptos, aos subalternos, aos subservientes e aos que nasceram para ver os países colonialistas brilharem, bem como se resignar com um pouco de centelha que por um acaso escapou da luz intensa das sociedades ricas em termos planetários.
É essa gente vira-lata e, por sua vez, de insofismável baixa estima que torceu e continua a torcer contra o Brasil, um País poderoso, cuja sociedade civil deveria espalhar ratoeiras em todos seus cantos e rincões para "matar" ratos, como os que empesteiam as redações da imprensa de negócios privados, que, alienígenas e apátridas, prejudicam o Brasil moralmente, economicamente e politicamente, como aconteceu antes e durante a Copa, bem como vai continuar a acontecer, com ênfase ainda maior, até as eleições de outubro deste ano, afinal o candidato da imprensa-empresa é o tucano do PSDB, senador Aécio Neves.
Considero inominável e indescritível o que imprensa corporativa travestida em partido político fez para que a Copa do Mundo no Brasil fracassasse mesmo sabendo que tal evento acontecido aqui a beneficiasse em bilhões de reais, como, por exemplo, ocorreu com a Globo, que, segundo o Governo, faturou por baixo R$ 1,5 bilhão. Trata-se de um empresariado tão reacionário e amante do retrocesso, que não se importa de sabotar e boicotar torneio internacional de tamanha envergadura para que seus interesses políticos e ideológicos sejam concretizados, a não importar, realmente, o preço pago por tal insanidade política.
É, de fato, uma gente kamikaze e que demonstrou não ter limites, o que a torna extremamente perigosa, inclusive para a estabilidade política e institucional do País. São empresários de históricos e origens golpistas, magnatas bilionários e que apostam, juntamente com seus empregados paus mandados, "no quanto pior, melhor". Agem assim porque são realmente divorciados do corpo social, pois vivem em um mundo à parte, que se hospeda no pico da pirâmide social em âmbito planetário.
São as águias deste planeta, e sabem disso. Por conseguinte, consideram-se fortes e poderosas o suficiente para enfrentar governos, tentar derrubá-los e muitas vezes conseguir alcançar tão vil intento, porque a meta é sabotar quaisquer tentativas de independência e autonomia levadas a cabo por governantes nacionalistas, populares e esquerdistas. Conspiram e participam de golpes de estado. Desestabilizam o estado institucional e rasgam constituições. No poder, retiram benefícios e direitos trabalhistas e sociais, e, indignos e mentirosos, os chamam de privilégios e gastos, quando a verdade é que os benefícios são direitos históricos conquistados com muita luta e até mesmo com derramamento de sangue.
A imprensa familiar brasileira é inescrupulosa e não mede conseqüências para angariar simpatias e, consequentemente, trazer para seu lado a classe média, que, já cansei de afirmar, é a classe que não é classe, mas é a principal consumidora dos produtos dos grupos midiáticos, bem como acredita que um dia vai integrar a casta dos ricos, que, espertamente, trabalham com o imaginário de uma classe média branca, tradicionalmente universitária e que ocupa os melhores empregos dos setores privado e público desde quando Dom João VI aportou na Bahia.
São os conhecidos coxinhas, que detestam o Brasil e replicam, disseminam e propagam os valores e os princípios das classes dominantes, essas, sim, grupos sociais definidos, pois donas e controladoras dos meios de produção, como o são os trabalhadores, donos que são da força de trabalho e que se organizam em sindicatos para negociarem ou combaterem seus patrões. A classe média não é classe, mas se torna aliada, como apêndice que é dos ricos e dessa forma se sente bem, a habitar seu imaginário com sonhos de consumo e de status, o que, irrefragavelmente, a torna cortesã daqueles que sempre vão lhes bater a porta na cara quando realizarem seus saraus e festas. Os rega-bofes, as comeizanas dos ricos.
A Casa Grande despreza a classe média e dela só quer o dinheiro para vender seus produtos, além de apoio político para eleger seus candidatos de direita ou ao menos desestabilizar líderes socialistas ou trabalhistas, como sempre ocorreu na história do Brasil e de diversos países da América Latina. Merval Pereira e seus "iguais" da imprensa corporativa atacaram a Copa diuturnamente durante sete anos. Contudo, a partir do início deste ano, recrudesceram suas críticas, como o fez o Jornal Nacional dos "âncoras" William Bonner e Patrícia Poeta. Intragável e desabonador o show de desprezo, de negatividade, de intolerância e de mentiras dessa gente que odeia o povo brasileiro e o Brasil como Nação.
Gente de cabeça colonizada, subserviente ao colonizador e capaz de tudo para que o Brasil não cresça, em todos os sentidos, porque sabedores que um País pequeno e com um povo subalterno aos seus interesses de classe assegura a manutenção de seus privilégios e benefícios. Prerrogativas e regalias que os levam ao olimpo da iniqüidade, do hedonismo e do niilismo — o triunvirato edificador do status quo, que tanto prezam em detrimento dos interesses do Brasil e do bem-estar de seu povo. Grande parcela da classe média abraçou tal triunvirato e nele se locupleta igual a suínos na lama. E, para completar, leem Merval Pereira e outras centenas de brucutus da palavra de essência direitista — conservadora.
O Globo e toda a imprensa burguesa é o golpe retratado na má-fé jornalística de Merval Pereira. A manipulação ideológica e intelectual dos fatos e dos acontecimentos. Trata-se da completa dissociação do jornalismo com o factual, o verdadeiro, o fato como acontece para que esses grupos de comunicação meramente econômicos possam ter seus caprichos realizados. Quando William Bonner, direto da bancada do Jornal Nacional, culpou a imprensa estrangeira pela negatividade, pelo baixo astral e pelo suposto caos que iria acontecer nos aeroportos e nas cidades que foram sedes dos jogos, realmente mais uma vez reafirmei que o Brasil tem a imprensa mais mentirosa, manipuladora, irresponsável e covarde do planeta.
A imprensa de negócios privados que não assume nada. Nem os seus próprios erros. A imprensa familiar de passado golpista e traidora de seus parceiros comerciais, a exemplo da Fifa. Cara de pau e matreira. Useira e vezeira em fugir da raia como o diabo foge da cruz, porque, volto a afirmar, não assume nada ou erro algum. Seus escribas-asseclas são um poço de contradições e tudo o que previram não aconteceu. Se fossem cartomantes morreriam de fome e se fossem adivinhões não conseguiram vislumbrar em qual rua e casa moram. São eles os fracassados, os incompetentes e o que dão pitaco sobre tudo e não entendem nada sobre coisa alguma.
Não é o Brasil que é incompetente. Ponto! Não é o Governo Trabalhista e os trabalhadores e técnicos brasileiros, que trabalharam duramente, que são incompetentes. Os obtusos com complexo de vira-lata e que apenas deitam falação, porque jamais ou em hipótese alguma colocam as mãos na massa, são os verdadeiros incompetentes. Falam, falam, falam e não fazem nada. Boicotam e sabotam, mas não constroem nada, a não ser o estado de beligerância e vilania em certos grupos políticos e sociais.
Merval Pereira, como intelectual, é uma farsa. A imprensa familiar é uma fraude. A má-fé é o combustível do jornalismo controlado pelos magnatas bilionários de imprensa. A Copa do Mundo no Brasil foi um retumbante sucesso e mostrou ao mundo, sem apelação, que os brasileiros são muito mais capazes e competentes do que pensam os inquilinos colonizados e subservientes da Casa Grande.
O que o sistema midiático privado de caráter golpista finge não saber, pois dissimula, é que o Brasil é um País onde se tem oportunidades e pode se viver bem. E foi exatamente que os gringos viram in loco, o que o desagradou. Incompetente é a "elite" que nunca conseguiu construir um País solidário, democrático, civilizado e a estar no poder há cinco séculos. Não conseguiu porque a Casa Grande tem índole escravocrata. Ela é selvagem, violenta, pois brutal. Não consegue se desvincular de sua memória e de sua alma perversas retratadas fidedignamente nas desigualdades regionais e sociais que ainda hoje causam prejuízos ao desenvolvimento do Brasil.
As "elites" deste País são inconvenientes à sobrevivência humana no que tange ao direito de respirar. E são entraves à civilidade, pois a instrumentalização de sua educação é tão ou mais superficial do que uma pequena arranhadura numa viga de concreto armado. Mas, se você consome o que os barões de mídias produzem sem questionar as informações veiculadas por suas empresas, o problema é seu. Ah, já ia esquecer: Vai ter Olimpíadas! É isso aí.
EM DEFESA DA SELEÇÃO
EDUARDO GUIMARÃES
Não conseguiram sabotar a organização da Copa, mas conseguiram sabotar a Seleção. Quem sabotou? Os partidos políticos e os grupos de mídia que contavam com essa derrota em campo para lograrem uma vitória nas urnas
A overdose de opiniões sobre “A” derrota parece ter praticamente esgotado o assunto, até por ação de uma patética uniformidade opinativa oriunda do medo de divergir e da “necessidade” psicótica de grande parte dos brasileiros de se autoflagelar com requintes de crueldade.
Desde o ano passado muitos descobriram que a censura oficial dos anos de chumbo foi substituída por um ímpeto censor diferente, do qual o pior efeito é a autocensura dos que temem danos à própria imagem se divergirem do consenso momentâneo que se estabelece sobre várias questões.
Foi assim durante as manifestações de junho de 2013. Posso garantir ao leitor que muitos dos que sabiam que aquele movimento só serviria para desgastar Dilma Rousseff – e para mais nada –, de forma ignóbil fizeram mais do que se calar: aderiram ao que achavam ser errado.
Como sei disso? Muitos amigos me recomendaram que não contestasse o que, então, desfrutava de apoio quase unânime no país – cerca de 80% dos brasileiros chegaram a apoiar aquilo. Fizeram-me inúmeras ponderações sobre “suicídio imagético”.
Hoje, para os que se calaram sobre aquele movimento de massas ficou tão fácil criticá-lo quanto, para os que o defenderam de forma irreversível, ficou difícil voltar atrás e reconhecer o erro de avaliação.
Isso, porém, não muda o fato de que a grande maioria percebeu que aquele movimento resultou em nada, se se desconsiderar o prejuízo a um único partido político.
Cumpre-me, pois, nadar de novo contra a corrente dizendo o que penso do “vexame” da Seleção e – para os que substituíram o complexo de vira-lata pelo de ameba – “do Brasil”. Vou, aqui, defender a Seleção.
Mas, antes, faço algumas outras considerações.
A quantidade de cretinices que se leu e ouviu nos últimos dias deve superar a de estrelas em uma noite de firmamento límpido. A pior dessas cretinices foi compararem Brasil e Alemanha como sociedades. A segunda pior foi atribuírem a derrota “vexaminosa” ao governo Dilma.
Comecemos pela segunda: se o desempenho de uma seleção de jogadores de futebol for mérito ou demérito de governos, então o melhor de todos os governos brasileiros deve ter sido o do ditador Emílio Garrastazu Médici, durante o qual o Brasil sagrou-se tricampeão com um magnífico futebol.
Mas a comparação entre o bem-estar social do povo germânico e do tupiniquim é muito pior. A história germânica remonta a uns 4 mil anos. Precisa dizer mais?
Chegaram a comparar a saúde, a educação e até a quantidade de prêmios Nobel que o povo alemão conquistou. Por que? Por causa do futebol…
Se futebol fosse medida de desenvolvimento social os pentacampeões deveriam ser os alemães, não os brasileiros. A nossa hegemonia nesse esporte ao longo do século XX e na primeira década do século XXI – com a conquista do penta, em 2002 – decorre, inclusive, de nosso subdesenvolvimento.
A valorização do futebol, no Brasil, é um dos passivos do país. Este que escreve não torce por nenhum time de futebol e sempre se desesperou com o verdadeiro transe deste povo que esse esporte desencadeia.
Porém, minha opinião sempre foi a de que realizar uma Copa por aqui nada tem que ver com o tempo, a atenção e os recursos exagerados que o brasileiro despende com um simples esporte.
A Copa de 2014 está sendo a nossa grande oportunidade de mostrar ao mundo que o Brasil é um excelente roteiro turístico e, além disso, de que somos capazes de realizar, com brilho, um grande evento internacional.
Isso sem falar na montanha de dinheiro que o país está ganhando com a Copa, em um nível de lucratividade que supera em muito os custos.
Então, vamos à defesa da Seleção. Não são necessários muitos neurônios para entender por que ocorreu o “desastre” desportivo. E este não se deveu, apenas, a nenhum dos jogadores brasileiros em campo, com exceção do goleiro, ter disputado uma Copa.
É claro que foi uma aposta extremamente ousada de Felipão convocar uma equipe virgem em Copas do Mundo, mas a Copa das Confederações insinuava que aquela equipe poderia brilhar, de novo, em outra competição internacional.
Mas é claro que não foi só isso – aliás, a inexperiência em Copas poderia ter sido superada.
A juventude e a inexperiência dos jogadores, porém, foram fatores que se exacerbaram devido a outros fatores, ou melhor, devido à literal sabotagem que a Seleção sofreu por parte da mídia brasileira e de grupos políticos.
Alguns profetas dos fatos ocorridos agora se gabam de terem “acertado” ao criticarem a Seleção e, como “prova” disso, esfregam a derrota fragorosa nos rostos de quem não quis se juntar à uma verdadeira matilha de lobos que tratava de desmotivar aqueles jovens.
Seria normal haver críticas contra a Seleção, mas o espalhafato dos protestos violentos, a apatia da torcida, a frieza inicial da população com a Copa, tudo isso pressionou emocionalmente uma equipe imatura.
Imagine, leitor, quantas foram as noites em que aqueles garotos sonharam… Ou melhor, imagine quantos pesadelos eles tiveram com o desastre que se materializou. Sabiam muito bem que teriam que conquistar o povo brasileiro, ineditamente indisposto com o esporte que ama.
Mesmo vendo os problemas – sobretudo o da inexperiência e o do emocional da Seleção –, quem não queria o desfecho que sobreveio tinha OBRIGAÇÃO de combater o derrotismo e a pressão psicológica disparados sem piedade contra aqueles garotos assustados.
Ao longo da competição, a equipe mais criticada pela mídia foi, de longe, a nossa. Chega a ser ridículo que alguém se jacte de ter “avisado”. Ora, quem não “avisou”? A mídia em peso “avisou”. O tempo todo. Sem parar. Dia e noite.
As arbitragens questionáveis e o desfalque de dois jogadores importantíssimos acabaram com o pouco de equilíbrio emocional que havia.
É óbvio que uma equipe com jogadores tão valorizados no mercado mundial de futebol não deveria ter sofrido aquela derrota, naquele nível de contundência. O que aconteceu nada tem que ver com o futebol brasileiro, que um ano antes brilhara na Copa das Confederações.
Aliás, a mídia previa sucesso dentro de campo e vexame fora, por conta da organização do evento. Ocorreu o contrário.
Após o primeiro jogo da Seleção na Copa deste ano, reclamaram providências da Comissão Técnica para contornar o problema emocional que já naquele jogo foi visto, com o gol contra de Marcelo. Ok, mas não disseram como fazer isso.
Alguém saberia dizer como se faz para acalmar garotos que nunca disputaram uma competição como essa e que passaram os últimos 12 meses vendo o clima de guerra no país contra a Copa, sem falar na avalanche de desqualificações?
Se alguém tem alguma culpa, é Felipão. Infelizmente, essa é a verdade.
Escalar uma equipe cem por cento inexperiente – o goleiro Júlio Cezar não atenua esse déficit –, foi uma temeridade. Ainda mais sabendo de quantos interesses políticos havia em que o fracasso sucedesse dentro e fora de campo.
E, por fim, como a burrice entrou em campo de forma tão acintosa, logo aparece aquele argumento estúpido sobre quanto ganham os jogadores – como se só craques brasileiros fossem bem pagos, como se no mundo inteiro os craques não ganhassem fortunas.
Ora, nossos jogadores bem pagos não roubam ninguém. Ganham muito porque dão muito lucro. Simples assim. E merecem ganhar, pois a disputa para chegar aonde chegaram é imensa, incomensurável.
Tudo isso me leva a uma única conclusão: não conseguiram sabotar a organização da Copa, mas conseguiram sabotar a Seleção. Quem sabotou? Os partidos políticos e os grupos de mídia que contavam com essa derrota em campo para lograrem uma vitória nas urnas.
Será que se darão bem?
OS SÁDICOS SE REGOZIJAM
MIGUEL DO ROSÁRIO
Ao apelar para este sensacionalismo sádico e derrotista, a mídia brasileira revela seu desequilíbrio emocional. O mesmo que fez a seleção fazer um jogo tão feio
(originalmente publicado no Cafezinho)
Dá até medo pensar nas manchetes e nos editoriais de nossos jornalões. Todo o ódio que mantiveram represado nas últimas semanas, por conta da alegria avassaladora dos brasileiros, voltou com força total.
Vergonha! Vexame! Humilhação! Dizem as manchetes.
Há anos não víamos fontes tão garrafais.
Exatamente os sentimentos que eles querem impor ao povo.
Nenhum esforço para aliviar as dores da nação, para levantar o astral.
Sadismo puro e exclusivo!
Que ridículo!
É como se eles quisessem se vingar da alegria que sentimos.
“Vocês vão pagar pela esperança que tiveram na seleção! Vão pagar por essa alegria criminosa que alimentaram!”, é o que dizem essas manchetes loucas.
Quando a Petrobrás anuncia o recorde de 500 mil barris diários apenas no pré-sal, a notícia vem escondida no miolo dos jornais, sem chamada na capa. Sem manchetes, sem editoriais.
Quando a seleção brasileira perde um jogo, é isso que vemos.
Agindo assim, porém, eles apenas revelam o seu conhecido sadismo. Só estão satisfeitos quando acham que podem humilhar o povo.
Só que o povo é mais inteligente do que eles pensam. A alegria do futebol é um encantamento lúdico. Uma emoção passageira.
A Copa está pertinho do final agora. Só restam três jogos. Em alguns dias, tudo terá terminado.
Mas fizemos a nossa parte. Como outros países do mundo (Alemanha, África do Sul, Coréia do Sul & Japão), sediamos uma Copa, e conseguimos divulgar uma excelente imagem do nosso país.
O retorno em turismo, em negócios, ou simplesmente em troca de experiências, é incalculável.
Até mesmo a derrota da seleção foi uma experiência que tínhamos que viver. Para entendermos melhor o papel da emoção em nossas vidas, por exemplo.
Para compreender o tamanho dos desafios que temos pela frente.
O futebol é uma grande brincadeira, e mesmo assim a gente põe o coração nele.
A vida, porém, não é uma brincadeira. É um jogo de vida e morte, que os brasileiros jogam todos os dias, trabalhando duro.
Pela mesma razão, a felicidade que a vida nos traz, através da família, do amor, da arte, do trabalho, tem muito mais profundidade que a inocente alegria de uma vitória de seu time ou da seleção.
A seleção brasileira sofreu uma derrota histórica no futebol.
Mas o povo brasileiro experimenta uma vitória igualmente histórica. Nos últimos 12 anos, a evolução do nosso país foi muito mais grandiosa do que qualquer desempenho futebolístico.
Ainda há muito o que realizar, naturalmente.
Enfrentaremos ainda muitos percalços no caminho. Cada um deles, porém, servirá para nos fazer mais fortes e mais conscientes.
Esses que aí estão, se regozijando com a tristeza de um povo, tentando espezinhá-lo ao invés de consolá-lo. Falando em humilhação, vexame e vergonha, quando o bom senso pede apenas serenidade. Esses aí mais uma vez mostram de que lado estão.
É até uma piada achar que estão tristes com a derrota da seleção.
Querem apenas enfraquecer o povo, diminuir sua alegria, deixá-lo triste, com ódio, para que reaja apenas com suas emoções baixas, não com seu bom senso.
São verdadeiros abutres, esperando ver o povo prostrar-se, deprimido, no chão, para lhe comer os olhos.
Será engraçado, todavia, ver suas caras quando o povo conscientizar-se do que acontece, e responder-lhes não com o mesmo gesto de raiva deles, mas com um sorriso maroto.
Um sorriso de quem conhece seus opressores há séculos, quiçá há milênios. E sente aquela comichão no estômago pela perspectiva de vê-lo, o opressor, perdendo a orgulhosa serenidade que o caracterizava.
Ao apelar para este sensacionalismo sádico e derrotista, a mídia brasileira revela seu desequilíbrio emocional. O mesmo que fez a seleção fazer um jogo tão feio.
Ou melhor, não o mesmo, porque não é o desequilíbrio de quem fica nervoso, sob pressão, mas o desequilíbrio que nasce da mais louca arrogância.
Então a gente ganha a partida. E se não ganhar, não tem importância. A gente joga de novo, indefinidamente, porque a única luta que se perde, como diziam os anarquistas, é aquela que se abandona!