CANDIDATOS FALAM SOBRE TERRITÓRIOS POPULARES EM DEBATE NA TV BAND
O Favela 247 fez uma análise do debate entre candidatos ao Governo do Rio de Janeiro ontem (19), na "Band", e reuniu as principais declarações dos candidatos sobre políticas e projetos para os territórios populares. Participaram do debate Anthony Garotinho (PR), Luiz Fernando Pezão (PMDB), Lindberg Farias (PT), Tarcísio Motta (PSOL) e Marcelo Crivella (PRB)
20 DE AGOSTO DE 2014 ÀS 15:25
Por Artur Voltolini, para o Favela 247
Na noite de ontem (19), os candidatos ao Governo do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR), Lindberg Farias (PT), Luiz Fernando Pezão (PMDB), Marcelo Crivella (PRB) e Tarcísio Motta (PSOL) participaram de um debate organizado pela “Band”.
Os editores da emissora tentaram aproximar os usuários das redes sociais (Twitter e WhatsApp) do debate televisivo, mas acabaram por confundir as regras do debate. Lembrado as de um jogo de tabuleiro e apresentadas por toscas animações 3D, as regras inibiam a interação entre os candidatos. Algumas perguntas sorteadas pelo apresentador eram respondidas apenas por dois participantes do debate, não deixando os telespectadores saberem da opinião de todos os candidatos sobre temas importantes para a sociedade. Algumas perguntas em vídeo enviadas por WhatsApp tinham péssima qualidade de áudio.
O debate parecia ser para um cargo de superprefeito do Rio de Janeiro e da Região Metropolitana, tão pouco outros municípios e regiões do Estado foram lembrados. Reflexos da época em que a cidade do Rio de Janeiro era a capital da República. A Região Serrana foi lembrada por Garotinho, que acusou o governo de Cabral e Pezão de ter sido ineficiente no apoio às vítimas da tragédia de 2011 e na recuperação das cidades mais atingidas. Pezão, prefeito de Piraí por duas vezes, falou sobre os rios da região do Vale do Paraíba Fluminense quando um internauta perguntou sobre a gestão de recursos hídricos. Já Lindberg citou o baixo desenvolvimento do município de Campos de Goitacazes para criticar Garotinho, ex-prefeito da cidade hoje governada por sua esposa, Rosinha Garotinho.
O legado de Leonel Brizola foi citado por quase todos os candidatos, que pretenderam se colocar como continuadores de suas obras sociais. Eles lembraram principalmente dos CIEPs. Apenas Tarcísio Motta disse que não é preciso construir escolas, e sim contratar professores e implementar o período integral.
Segue abaixo uma análise do desempenho de cada candidato, e em seguida os temas relacionados ao territórios populares levantados no debate e o que cada candidato disse sobre eles. As regras impediram que todos os candidatos respondessem sobre todos os temas.
Desempenho dos Candidatos:
Anthony Garotinho (PR): Político experiente, ex-governador e deputado federal, Garotinho passeou pelo debate. Ignorava as perguntas dirigidas a ele e dizia o que bem queria. Chegou até a divulgar seus sites e perfis em redes sociais em seu tempo de resposta. Foi o mais agressivo dos candidatos e atacou todos os adversários.
Lindberg Farias (PT): O senador teve uma atuação mediana. Centrou seu discurso na barreira invisível que divide a Zona Sul da capital com o resto da cidade, da Baixada Fluminense e da região de Niterói e São Gonçalo. Ele criticou a diferença de investimentos no que ele chamava de “Rio Cartão-Postal” e “Rio Pobre”. Disse ter sido crítico dentro do PT à aliança com o governo Sérgio Cabral, do PMDB. Citou Lula três vezes, mas não citou a presidenta e candidata à reeleição Dilma Roussef.
Luiz Fernando Pezão (PMDB): O atual governador não esteve bem no começo do debate. Muito duro, não parecia acostumado às câmeras. A péssima iluminação não o ajudou muito, deixando-o com um ar sombrio. Ele se ateve a defender o legado do seu Governo e o de Sergio Cabral, de quem foi vice. Embora o PMDB carioca tenha fechado coligação com o PSDB de Aécio Neves, citou Dilma Roussef e a pareceria do Estado com o Governo Federal por duas vezes.
Marcelo Crivella (PRB): Sobrinho do bispo Edir Macedo e atual Ministro da Pesca, Crivella teve uma atuação discreta e adotou uma postura de não agressão no debate. Sempre com um ar sereno, fez questão de lembrar suas origens populares e de dizer ter feito ensino técnico.
Tarcísio Motta (PSOL): Professor de história do colégio Pedro II, foi o melhor orador do debate. Se esforçou para se mostrar como o único candidato que significava alguma ruptura com a forma que o Estado tem sido governado pelos últimos 20 anos. Com um discurso bem preparado, Tarcísio pareceu estar falando apenas para a militância do PSOL, já que sua fala era cheia de palavras difíceis e termos acadêmicos. Inclusive fechou o debate se dirigindo à militância, e não aos telespectadores.
Temas referentes aos territórios populares
Desmilitarização da PM
Garotinho disse que o Estado não está preparado para a desmilitarização da polícia, e criticou o treinamento de apenas 6 meses para os novos policiais militares.
Pezão também afirmou que o estado não está preparado para isso, disse que pegou uma polícia com equipamentos sucateados e que a reaparelhou. Remarcou a luta de seu governo contra o crime organizado, e disse que investirá em formação policial.
Crivella afirmou ser contra a desmilitarização, e que depreciar a polícia e o trabalho policial não resolve os problemas, e que os cidadão devem se reconciliar com a polícia. Citou ainda um projeto de criar um batalhão de policiais motociclistas.
Lindberg lembrou ser o autor da PEC 51, que propõe a desmilitarização da polícia e tramita no Senado Federal. Lembrou que as polícias dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Alemanha não são militarizadas. Afirmou que mesmo que a PEC não seja aprovada, é possível reformar a polícia do Estado, mudando a lógica da guerra e do enfrentamento. Citou o que chamou de “genocídio da juventude negra” e disse que vai manter as UPPs, mas transformá-las em unidades de políticas públicas
Tarcísio Motta afirmou acreditar ser fundamental a desmilitarização da PM, o que, segundo ele, ficou claro nas jornadas de junho. Disse que se deve investir mais na formação dos policiais, e que a polícia deveria ter ouvidoria e corregedoria externas
Transporte Alternativo
Pezão afirmou ter legalizado as vans e implementado bilhete único intermunicipal.
Lindbergh disse ser favorável ao transporte alternativo, e que legalizou a situação dos motoristas de VANs quando foi prefeito de Nova Iguaçu.
Tarcício se pocicionou a favor do transporte alternativo, mas frisou que ele deve ser complementar, e sua função deve ser interligar os meios de transporte de massa. Criticou o controle de algumas vans por grupos de milicianos.
Crivella lembrou de seu passado como taxista, e disse entender o que sentem tanto os motoristas tanto de táxi quanto os de vans, e se declarou grande defensor do transporte alternativo.
Garotinho atacou Pezão, dizendo que ele caçou mais de 1000 concessões de vans que haviam sido dadas por ele quando Governador, e chamou Pezão de mentiroso. Se disse o padrinho do transporte alternativo no Rio.
Cultura e juventude
Tarcísio Mota afirmoi que o Rio deve acabar com a “Cultura do Espetáculo”, e que deveria se investir mais na cultura das comunidades, que os editais deveriam ser mais democráticos, e que os equipamentos culturais precisam ser melhor distribuídos pelo Estado. Disse que investirá no resgate das culturas tradicionais e afirmou se orgulhar de ter um vice quilombola.
Crivella acredita que os projetos culturais devem ser direcionados para quem precisa, e lembrou de projeto de quando era senador “Som+Eu”, no Morro da Providência, que formou uma orquestra com centenas de jovens.
UPP
Crivella disse querer aumentar o contingente policial e reaproximar a população da polícia. Afirmou que não é para discutir se a UPP é boa ou não, ou se a culpa pelos problemas é do governo ou não, já que a culpa para a situação de hoje é de governos anteriores. Disse que instalará fábricas nas favelas para empregar a população local, pois o tráfico se aproveitaria de jovens na ausência de seus pais.
Garotinho quis deixar claro que nunca disse que acabaria com as UPPs, ele disse ser a favor das UPPs e de prender criminosos, e que irá criar um Batalhão de Defesa Social, que trabalhará para expandir a polícia de proximidade, coisa que disse ter feito com o antigo GPAE quando foi Governador.
Cotas raciais
Lindberg disse ser favorável às cotas, já que hoje, num curso de medicina de uma Universidade Federal, há 30 negros estudando, quando antes não havia nenhum. Disse que deve haver um controle maior dos casos de pessoas que tentam burlar o sistema, mas que é importantíssimo que haja engenheiros negros no Brasil, por exemplo.
Tarcísio Motta é a favor das cotas raciais e econômicas, e que os alunos cotistas apresentam melhores resultados em salas de aula, mas insistiu que se deva investir em assistência estudantil e polítoca de permanência para possibilitar que os alunos concluam o curso.
Legalização da maconha
Lindberg se disse contra a liberação da maconha, ao mesmo tempo que criticou a “guerra às drogas”, e que se combate o tráfico com políticas públicas, e que hoje há cerca de 30 mi jovens que nem estudam e nem trabalham no Estado.
Tarcísio Mota se disse totalmente favorável a legalização, e que atualemnte ela já é liberada. Para o candidato o Estado deveria controlar o uso abusivo das drogas, assim como fez com sucesso com com o tabaco. Chamou a guerra às drogas de hipócrita, e disse que ela é, no fundo, uma guerra aos pobres.
Crivella se posicionou contra a legalização da maconha, afirmou que “maconha não constrói um país. Os países que liberaram voltaram atrás” Citou a empresa holandesa de fabricações de aviões Fokker, dizendo que seus aviões estavam saindo com problemas por causa do uso da maconha por parte dos funcionários, sem citar nenhum caso específico.
Garotinho se disse contra a legalização, e disse que há estudos em países onde ela foi legalizada que mostram a ineficácia da ação, embora não tenha citado quais estudos.
Pezão disse que o Estado ainda não está preparado para a legalização da maconha, e afirmou que com a política das UPPs “libertou 450 mil pessoas do controle do tráfico de drogas”.