No dia 21 de outubro de 1926, em Acajutiba/Ba, nasceu Francisco Waldir Pires de Souza. Waldir formou-se em direito e se tornou em um dos políticos mais respeitados e admirados do Brasil. Integridade, honestidade, determinação e uma gigantesca vontade de mudar fizeram Waldir Pires ingressar no mundo político.
Waldir Pires foi secretário estadual, no governo baiano, em 1951, três vezes deputado federal, uma vez deputado estadual, Consultor-Geral da República, ministro da Previdência Social, governador da Bahia, ministro-chefe da Controladoria-Geral da União e ministro da Defesa. Waldir é formado em Direito, foi professor de direito constitucional, na Universidade Católica da Bahia e na Universidade de Brasília. Um currículo de fazer inveja e de despertar ainda mais admiração.
Waldir Pires, um homem absolutamente culto, inteligente e digno, dono de uma elegância inquestionável e um inconfundível sorriso. Foi assim com esse singular sorriso e simpatia que a equipe nublog foi recebida. Chico Vasconcellos, Joyce Lins e Patrícia Maia conversaram com Waldir Pires sobre democracia, política e história.
nublog: Como o senhor analisa o presidente do Brasil? Um trabalhador, vindo de Pernambuco, que é reconhecido como “o cara” pelo presidente dos Estados Unidos?
Waldir Pires: Essa é a grande realidade política contemporânea nossa. Ele realmente é o cara, veio das origens mais humildes do país, mais injustiçadas, vem do pau-de-arara mesmo e se tornou essa expressão absolutamente única na história do Brasil, da América do Sul. Não sei se na história política do mundo existe uma marca tão forte de uma ascensão direta para o comando político da nação. Há 20 anos eu voto nele, no cara. Eu apoiei Lula ainda no PMDB. Ele perdeu, dando espaço para um grande retrocesso, que seria o segundo retrocesso no processo brasileiro.
nublog: Que retrocesso foi esse?
Waldir Pires: Nós lutamos por mais de 20 anos para derrubar uma ditadura e naquela ocasião, não conseguimos ter o presidente da República que pudesse ser a expressão do comando das forças políticas e portador dos ideais da transformação política do país. Isto é, do nascimento e da realização de uma nação com a potencialidade do Brasil e ao mesmo tempo com uma dificuldade tão gigantesca pela estrutura da sua sociedade, pela sociedade profundamente injusta, pelos desequilíbrios da vida do nosso povo, pelas desigualdades.
A luta para derrotar uma ditadura foi uma luta que se frustrou quando nós não elegemos o candidato de uma eleição direta. Por conta que uma candidatura das Diretas não foi possível tornar-se expressão do avanço das nossas expectativas.
Perdemos as Diretas, fizemos uma composição com uma candidatura extremamente válida e importante, que foi a de Tancredo. Tancredo Neves, na geração dele, foi uma figura realmente singular e posteriormente tivemos o drama da pulverização das forças políticas que lutaram para derrotar a ditadura. Nós acabamos chegando ao primeiro instante de uma eleição para o nosso povo e para dizer “está aqui o presidente de República com a responsabilidade de dirigir o processo político do Brasil”. Nesse momento, nós tivemos uma dolorosa situação de fragmentação.
“Eu assisti, participei e lutei contra a ditadura o tempo inteiro”
nublog: Como o senhor reagiu a essa fragmentação?
Waldir Pires: Foi dessa fragmentação que nasceu, que se formou um estado de espírito dentro de mim brutal de inconformidade, de sofrimento. Porque eu assisti, participei e lutei contra a ditadura o tempo inteiro. Foram 20 anos de luta para haver uma eleição soberana, para o povo brasileiro eleger o seu presidente. Nesse momento, nós estávamos todos divididos, tínhamos a candidatura de Lula, a de Brizola, a de Mário Covas, a de Roberto Freire e a candidatura de Ulisses, no PMDB, isso em 1989. E o PMDB com 22 governadores, entre eles eu, que era o governador da Bahia.
nublog: Na época o senhor saiu para ser o vice?
Waldir Pires: Na época eu não queria sair, porque eu achava que não estava maduro. Mas naquela ocasião, dezenas caravanas de jovens do movimento moço do PMDB e de outros partidos, do Brasil inteiro, queriam que eu fosse candidato a presidente da República. E eu achava que não, que não era a minha hora, que eu não tinha condições. Eu não tinha estruturação mesmo, nem econômica, nem financeira, nem coisa nenhuma. Eu queria mesmo era o que estava fazendo, tinha apenas a ideia da transformação das relações políticas, sociais e econômicas da Bahia. Então, queria continuar governando meu Estado.
Não aceitei ser candidato a presidente, mas aí nós chegamos em 1989. E com essa fragmentação de todas as forças, do voto de transformação, você tinha uma concentração das forças conservadoras, do poder econômico e de mídia com o Collor, governador de Alagoas, aqui pertinho de mim, vizinho a mim. De modo que a pressão foi enorme, sobretudo porque o Collor já estava com 27, 28, 30, 32% das pesquisas e nós todos pulverizados. O Lula tinha 10,9%, o Brizola tinha 9, 10%, Mário Covas tinha 5, 6%, Roberto Freire tinha 2 ou 3%, Ulysses tinha 7% e Collor lá em cima com 30%.
A cada hora aumentava mais, intensificaram a vinda de gente para cá, gente que me queria candidato, para que eu disputasse com Ulysses a candidatura no PMDB. A candidatura era essencialmente uma disputa que se travava naquele momento entre Ulisses e o pessoal do “centrão”.
nublog: O que era o “centrão”?
Waldir Pires: O “centrão” era o PMDB altamente conservador, que tinha a maioria dos governadores e etc. O candidato do “centrão” era o Senador Iris Rezende, ele tinha o apoio do presidente da republica, que era o Sarney.
A pressão para que eu fosse o candidato era muito grande e eu disse para a turma toda “olha aqui, eu não sou candidato, não é a minha hora. Então, vocês façam o seguinte: lancem a minha candidatura, eu autorizo. Mas eu só vou lá, no dia da convenção e sustento a posição de vocês. Vou deixar bem claro que é uma coisa da iniciativa de vocês”. E foi isso que eu fiz, só que a coisa foi de tal natureza que eu quase fui eleito na convenção. Eu perdi a convenção para Ulysses por uma diferença mínima. Uma convenção com cerda de uns 800 convencionais e eu perdi por 16 ou 17 votos.
O Iris Rezende, que inicialmente era o preferido, foi ficando lá atrás. Depois, eu soube que havia tido umas estruturas de manobras dentro do “centrão”, na véspera da eleição. Todos os membros do “centrão” uniram-se com o apoio também do governo para que eles fortalecessem a candidatura do Ulysses, e ai houve uma transferência de uns 40 ou 50 votos. Senão, eu ganhava a convenção.
nublog: Nesse momento, a mídia falou em renúncia?
Waldir Pires: Sim. Essa gente construiu uma ideia de renúncia e não houve renúncia coisa nenhuma. O que havia naquele momento era a necessidade de ordem legal e jurídica de você se desincompatibilizar da função para ser candidato, como hoje. Se você exerce uma função e vai ser candidato a governador ou presidente, você se desincompatibiliza para ser candidato.
nublog: Quais foram as consequências após o resultado da convenção?
Waldir Pires: A disputa na convenção foi uma coisa interessantíssima, era só Ulysses e Waldir e o Iris Rezende lá atrás e junto com outras candidaturas, que eram inexpressivas, mínimas. A pressão foi gigantesca para que eu disputasse segundo turno e eu disse “não disputo, não há hipótese de segundo turno nessa eleição”. Se eu fizesse um segundo turno naquele momento, eu iria fortalecer o carreirismo. Então, não havia hipótese e vim embora, para Salvador.
Aí, vieram todos para Salvador e me diziam: “Waldir, você tem que unir o PMDB, nós somos 22 governadores. Só o partido ganha essa eleição”. A pressão foi realmente gigantesca, estavam aqui Pedro Simon, Miguel Arraes e muitos outros. Todo mundo, os governadores todos vieram para me pressionar e dizer que eu tinha que fazer, tinha que unir o PMDB.
nublog: Qual foi o posicionamento do senhor?
Waldir Pires: Em 16 de novembro, nós iríamos para o segundo turno, então antes disso eu convoquei todos os jornalistas e fiz a declaração “a Bahia marcha com Lula ou Brizola”. Eram os dois que iriam disputar quem chegaria para o segundo turno e eu apoiei Lula. Em seguida, Lula ultrapassou Brizola e aí travou-se a batalha final entre Lula e o Collor.
“O Lula tem uma inteligência intuitiva, uma capacidade de visualizar, ultrapassar e vencer”
nublog: Além desse carisma e história de vida, a popularidade de Lula tem ligação com o fato de ele ser uma pessoa com uma inteligência acima da média?
Waldir Pires: Sem nenhuma dúvida! O Lula é extraordinariamente inteligente, uma inteligência intuitiva, uma capacidade de visualizar e ultrapassar, de vencer. Ele tem uma capacidade de convivência humana inigualável, sem nenhuma dúvida, e ao mesmo tempo uma formação que é decorrente da origem sindicalista.
O Lula fez o comando das grandes greves que o país conheceu, um novo sindicalismo, que tinha uma redução muito significativa do peleguismo antigo. Ele fez tudo isso e não deixou sequer um inimigo no empresariado, de modo que ele tem uma capacidade de não personalizar suas indiosincrazias e suas raivas. Tem uma capacidade gigantesca e assegura as necessidades do que é essencial.
nublog: Como o senhor vê esse Congresso de hoje?
Waldir Pires: Nós vivemos um instante muito difícil, a humanidade vive um momento complicado. É evidente que o Congresso brasileiro tem marcas que nós temos que vencer. Temos que derrubar o comportamento e a ideia que está aí sobre o que é a política. Quer dizer, não podemos permitir que as velhas origens do coronelismo, do clientelismo, do caciquismo, as velhas marcas organizatórias das instituições brasileiras, do século XVIII, XIX e XX, permaneçam.
Por exemplo, nós fomos o último país do ocidente que aboliu a escravatura, o regime escravocrata, de modo que é uma coisa muito séria. E tudo isso fez uma política centrada nos interesses dos donos do poder, sem nenhuma visão de compromissos com o destino da política que é o ser humano, que é a humanidade.
“A política é a única forma que você tem de organizar a sociedade”
nublog: No fundo o que é a política? Qual o contraponto da política?
Waldir Pires: É a opressão, a violência, a brutalidade. Esse é o contraponto. A política é a única forma que você tem de organizar a sociedade, as relações jurídicas, as relações econômicas, as relações de todos os interesses, de organizar pela arte da política, pelo diálogo, pela conscientização e o contraponto é a opressão, é a ditadura.
O pessoal às vezes fica apressado e quando se torna apressado comente a tolice de precipitar os acontecimentos e determinar retrocessos na história. Minha geração cometeu alguns desses erros, a essência do processo democrático são as liberdades, para quê? No plano econômico é o desenvolvimento, mas para quê? Para quê e para quem? É isso que é a política. Você desenvolve, assegura a liberdade, mas necessariamente você tem que assegurar as necessidades, o bem-estar.
nublog: É o que Lula está fazendo?
Waldir Pires: Essa é a prioridade do Lula, com uma enorme sabedoria de perceber até aonde ele pode ir ou até aonde ele poderia ser derrubado e em todos os episódios, a marca é essa. Daí a tentativa de desestruturarem o governo do Lula em si. Às vezes querem abranger nesse quadro dessas patifarias todas, dessas coisas absolutamente intoleráveis, dessa falta de responsabilidade com a capacidade que o Estado Democrático deve ter, que o Estado Democrático precisa ter e ele é essa diferença para todos os estados anteriores.
“Na política nós temos um dever de ser absolutamente leal a essa idéia da construção de uma sociedade justa”
nublog: Quais eram os estados anteriores?
Waldir Pires: Todos os absolutismos que tinham uma legitimidade, que era a legitimidade do divino. Deus de repente marcava uma família e dizia “está aqui a dinastia, são nobres e vai ter a coroa para governar”. E esse reino era o monarca absoluto, e fazia o quê? Recolhia todos os impostos para construir seus palácios, seu bem-estar, o povo não existia e assim sucessivamente.
As sucessivas etapas em que você vai tendo governos oligárquicos se chamando de republicanos e toda sorte de desenhos e formas de governo e de estrutura do Estado que a história conhece e que nos indica. Mas desde quando se pretendeu que fosse democracia? Quem nos da essa lição com esse exemplo está lá, há cinco séculos antes de Cristo. A velha Grécia antiga, quando ela levava o povo para as praças públicas, quando o povo era levado para decidir as suas leis em benefício dos interesses do seu povo ali. O Péricles dizia “a lei tem que ser a interpretação do interesse da população, do interesse das pessoas” e essa coisa não se realizou de lá para cá. Portanto, nós não temos o direito de estar impacientes. Na política nós temos um dever, e é de ser absolutamente leal a essa idéia da construção de uma sociedade justa. Só assim se constrói a democracia.
A democracia teve diversos tipos de presença na história da humanidade, e algumas delas são absolutamente formais, não têm nada a ver com o ser humano. Você não tem mais a escravatura, você não tem mais a lei votada dizendo que o homem pode ser dono do homem, portanto o escravo, você não tem mais isso. Mas temos a miséria, o abandono e a exclusão, temos tudo isso nos dias de hoje. Então, a mim parece que esse quadro todo aí é alguma coisa que nós não temos como variar, a tarefa é a tarefa de construir essa sociedade.
nublog: Construir a sociedade de que forma?
Waldir Pires: Pelo processo democrático. E o processo democrático se exprime numa democracia que não fique no juridicismo de dizer que está ou não atendendo a liberdade desse ou daquele. Tem que atender a todas as liberdades, entre as quais a liberdade de não morrer de fome, de não passar necessidades, de estar acolhido para obter a sua renda pessoal. Portanto, esse é o desafio: organizar a sociedade para isso. E é um desafio que nós vamos cumprir no século XXI, é nisso que eu creio. Nós vamos fazer isso no século XXI ou no XXII! Mas vamos crescer muito no século nesse século atual, porque inclusive assistimos as etapas, que foram etapas que se escoltaram no século XX.
“Você não pode ser cidadão sem ter a vida respeitada, sem ter como morar, como trabalhar”
nublog: O senhor foi governador com Sarney na presidência. Ele não tinha nenhuma boa vontade com o seu governo e com a Bahia.
O que o senhor espera de Wagner, sendo governador tendo o presidente ao seu lado?
Waldir Pires: Eu espero que o Wagner possa consolidar e ampliar o êxito da sua administração, isso é importantíssimo. Na arte da política, quando ela é essa expressão de você avançar nas relações humanas e sociais, de você garantir a cidadania, você é cidadão. Para você ser cidadão, você tem que ter sua vida respeitada e você não pode ter vida respeitada se você não tem como viver, como morar, como trabalhar. Nós vivemos hoje em um mundo brutal, um mundo de uma inconsistência terrível e estamos vivendo essas amassas contemporâneas e talvez as mais graves da civilização contemporânea, da civilização recente. Eu não sei de um momento histórico em que nós estivéssemos tão ameaçados com estamos hoje.
nublog: Então, pelo o que a gente percebe, o centro de tudo está em exercer a democracia em sua plenitude ?
Waldir Pires: Sim, sem nenhuma dúvida. De vez em quando a gente vê essas revistas aí falando como se fossem uma brigazinha do Poder Judiciário com o poder Executivo e Legislativo, mas na verdade eles são instrumentos, os três. É evidente essa coisa da separação de poder, e isso surgiu num período em que nascia esse processo formal da democracia. Quem concebe a separação de poder no Espi eua é Montesquieu, onde se trava a grande batalha e Rousseau vem e diz inicialmente que o Estado é um contrato, e um contrato social. As pessoas se contratam e se limitam nas suas liberdades, nos seus poderes com um objetivo de que todos se deem bem e de que todos sejam capazes de organizar uma sociedade decente.
Hoje nós estamos vivendo um momento gravíssimo e é por isso que a posição de Lula hoje é uma posição importantíssima na história desse país e na história do mundo contemporâneo.
nublog: Como o senhor viu a eleição de Obama?
Waldir Pires: Felizmente que o Obama ganhou essa eleição na sede do império. Felizmente porque interrompe um processo. Nós podíamos estar evoluindo para uma catástrofe, porque o mundo está absolutamente desorganizado no plano das suas relações humanas, por toda a parte e em todos os continentes inclusive nos Estados Unidos. Só lá são 50 ou 60 milhões de pessoas que não têm trabalho e que não têm como sobreviver, se não tiver a sustentação de um estado democrático. Na Europa também, o desemprego hoje é fruto dessa incapacidade política de você definir o que é democracia.
nublog: Como o senhor compara duas figuras importantes como Lula e Obama?
Waldir Pires: Tem uma singularidade em ambos. Obama é o primeiro negro que chega à presidência dos Estados Unidos, o Lula é o primeiro excluído que chega à presidência do Brasil, não existe ninguém quem tenha feito essa trajetória.
Eu estava em um hotel em Chicago quando foi anunciado que os meninos negros americanos teriam acesso às escolas públicas e obrigatoriamente seriam respeitados pela população e pela escola. Agora você veja bem, para uma criancinha negra que estava acompanhada pela mãe entrar na escola, o FBI faz uma espécie de corredor de proteção. Eu assisti aquela coisa inimaginável que era o FBI sustentando e contendo a população branca que queria agredir essa criança. Isso aconteceu no Alabama, há 59 anos e a televisão estava transmitindo.
“Quando Obama diz - esse é o cara - é a ligação de dois mundos, o império lá em cima e o Brasil”
nublog: Obama lá nos Estados Unidos e Lula aqui, no Brasil. O senhor acha que é uma virada na história da política mundial?
Waldir Pires: Eu vejo isso como um desafio da humanidade, em função desse extremo perigo que a humanidade vive. Na realidade, todo processo de civilização é um processo assentado na inteligência humana. Então, quando Obama diz “esse é o cara” é a ligação de dois mundos, o império lá em cima e o Brasil, esse país extraordinário que consegue o milagre da história.
O Brasil tem uma unidade, uma unidade portuguesa. Veja que temos unidade no idioma, aqui ficou uma língua só, que foi capaz de produzir essa variação de todos os tipos de alegria, sabedoria, amor à vida e cordialidade. Hoje as condições sociais estão conduzindo atos que significam uma dor profunda, uma terrível desestabilização da sociedade, uma criminalidade sem fim. Essa sociedade tem que ser construída, construída por quem? Por qual instrumento? Pelo estado democrático. Não há outro.
nublog: O senhor falou que a humanidade vive um extremo perigo. Que perigo é esse?
Waldir Pires: Uma marcha de controle crescente e constante do domínio do homem sobre as coisas materiais da natureza, para colocarem essas coisas a serviço do ser humano e assim você tem todo o crescimento científico e tecnológico.
Você já parou para pensar o que são esses instrumentos extraordinários da eletrônica, da computação? São coisas extraordinárias que estão produzindo esse mundo tão pequeno, esse planeta que foi uma aldeia de gente e hoje exige soluções. E estas soluções têm que ser para todos, não há mais soluções individualizadas a serem realizadas e executadas. Temos que conviver com todos neste planeta que estamos e nós chegamos em um desenvolvimento científico que pode acabar com o mundo.
O homem pode destruir tudo, não há mais aquela situação de “tranquilidade” que você recorre à opressão. Você já pensou nas consequências de uma guerra nos dias de hoje? Uma guerra hoje significa acabar com a humanidade ou acabar com o planeta, por via da inteligência humana, que construiu mecanismos científicos e tecnológicos que podem explodir, de modo que a civilização humana está com um limite de entendimento, ou ela se entende ou se autodestrói.
“Ética não é moralismo besta. Você só faz política se houver a construção de um estado democrático”
nublog: Então, esse entendimento depende da política?
Waldir Pires: Anteriormente tivemos civilizações que foram se degradando, que foram caindo. São diversas etapas na história da civilização humana, diversos setores que foram sendo substituídos até chegarmos na civilização de hoje.
Agora realmente temos que nos entendermos, essa é a arte da política. Por isso, é que nós fomos convocados a fazer política, alguma coisa que tenha ética. E ética não é moralismo besta. Você só faz política se houver a construção de um estado democrático de todos, para todos e com todos. Isso que o Abraham Lincoln botou lá no século XIX e chamou assim: governo do povo, para o povo e pelo o povo. Hoje é o planeta que tem que ser.
nublog: Os anos 80 talvez tenham sido a época mais marcante da sua vida. Em 1982, o senhor fez uma campanha maravilhosa para o Senado; em 1986, o senhor foi governador e em 1989, o senhor votou em Lula pela primeira vez...
Waldir Pires: Eu nunca entendi a política fora da Bahia. Nunca concebi, nunca admiti isso. No começo do exílio eu estava no Uruguai, fiquei lá por um ano, mas eu não conseguia trabalho. No primeiro ano, os amigos e parentes vão dando base para você, mas essa situação vai dando angústia. Então, eu e Yolanda, uma mulher extraordinária, que foi a minha sorte grande, mulher que preencheu a minha vida de amor e de estímulo, de participação e de companheirismo, num determinado instante decidimos que eu iria tentar encontrar trabalho na Europa e depois eu levaria ela e as crianças. Foi assim que eu interrompi o exílio no Uruguai e fui para a França.
No Uruguai há uma coisa que me marcou extremamente, uma colônia grande dos espanhóis exilados, da Guerra Civil do Franco e eles nos receberam, a mim e a Darcy Ribeiro. Nós chegamos juntos e ali fomos convidados para diversos jantares, almoços da esquerda do Uruguai, etc, jantares e almoços de famílias espanholas. E eu pude perceber a enorme amargura das famílias exiladas espanholas, uma amargura, acidez, tristeza, desencanto da vida, uma coisa tremenda. E aquela coisa me marcou fortemente.
nublog: Na França, o senhor encontrou trabalho? Fez o que lá?
Waldir Pires: Sim, lá eu me tornei professor da Universidade Francesa, depois a família toda foi ao meu encontro. A maioria dos meus filhos foi alfabetizada lá, uma angústia muito grande porque eles estavam esquecendo de falar o português.
Quando nós todos estávamos nos preparando para vir para o Brasil, no meu caso e no caso de Darcy, que fomos os últimos a sair do Palácio do Planalto na madrugada do dia 2 de abril de 1964, estávamos decididos a cumprir o nosso destino. Então, em 1968, logo depois do AI-5, ele voltou e acabou sendo preso. Na verdade, quando eu percebi o AI-5 eu falei para o Darcy que não viria naquele momento, mas muito em breve voltaria também e que ele poderia ficar no meu apartamento, no Rio de Janeiro.
Um tempo depois, junto com Yolanda, decidimos que nós voltaríamos. As pessoas estavam vivendo aqui e nós também iríamos conseguir. Voltamos e fomos viver onde era possível trabalhar e para mim não seria possível trabalhar na Bahia, viver aqui. Então, eu voltei e fui para o Rio de Janeiro. Lá, eu participei de todo o trabalho, da luta política anterior à anistia, toda aquela luta da constituinte, a luta da anistia em si. Yolanda também participou ativamente, ela foi vice-presidente do comitê de anistia.
“Era justamente por conhecer a oligarquia da Bahia que o meu dever era voltar para a minha terra”
nublog: Quando o senhor resolveu voltar para Bahia, como foi isso?
Waldir Pires: Com a anistia, eu disse que viria embora. Acabou tudo que estava fazendo lá e eu queria voltar para a Bahia. Eu me lembro que o Zé Honório Rodrigues, uma figura extremamente importante da história deste país, um grande historiador, que soube que eu iria voltar para a Bahia, me encontrou no teatro e me disse “Waldir, eu estou tendo notícias de que você vai embora, você tem que ficar aqui, no Rio. Você não vai para a Bahia, você não sabe o que é a Bahia? Você sabe que a Bahia tem uma sociedade extremamente difícil, oligárquica. Você não conhece a oligarquia da Bahia?”. E eu disse para ele que era justamente por conhecer a oligarquia da Bahia que o meu dever era voltar para a minha terra e ele continuou insistido que o meu lugar era no Rio, que eu seria o governador do Rio de Janeiro, mas eu disse que vinha para a Bahia e eu voltei, larguei tudo e vim embora.
Voltei e recomecei tudo, porque é aqui minha terra, essa é a minha origem, eu sei o que foi a Bahia no século XVII, do século XVIII, sei das estruturas sociais, que são extremamente atrasadas, que foram ficando atrasadas, sem nenhuma dúvida. Conheço a realidade da Bahia, suas relações. Nós avançamos muito e continuamos avançando. O pessoal tem um pensamento pessimista e não tem nada de pessimista, muito pelo contrário, nós estamos avançando, crescendo, estamos melhores, cada vez mais.
nublog: Então, a retomada começou em 81, 82?
Waldir Pires: Nesse período era a retomada nas nossas aspirações, mas não concretamente, a não ser algumas vitórias que ocorreram no centro Sul, o Tancredo ganhou a eleição de Minas, mas aqui na Bahia não.
Esse é o testemunho que eu dou, o Lula como presidente da República é a personalidade que dá o tom em toda esta coisa. Todas essas iniciativas que nós fizemos para mudar essa coisa da função de controle do gasto público do Brasil tem a aprovação do Lula.
Essa realidade não é uma realidade diferenciada, inclusive no plano dos aspectos éticos. Em 2005, eu era ministro e nós tínhamos criado a Controladoria Geral da União, anteriormente nunca havia existido. Isso que está aí, essa concepção de controle do gasto público com uma interação de todos os organismos do estado federal, essa articulação com o Ministério Público, com a Polícia Federal e com todos os órgãos que se disponham a fazer a identificação da fraude, do peculato, de forma absolutamente transparente, aberta. Nós hoje temos o site da Controladoria, da CGU. É um site que abriga cerca de 700 milhões de informações abertas de gosto público. Qualquer cidadão, qualquer cidadã, qualquer menino de escola que tenha acesso a internet pode identificar de ponta a ponta do país os gastos públicos. Então, essa situação se criou com o governo de Lula, que foi decisivo na abertura das auditorias, na participação crescente da sociedade nisso. Hoje ainda é uma coisa lenta, mas que está avançando.
Quando em 2005 houve o mensalão, uma televisão me chamou para uma entrevista, como Ministro do Controle. E um profissional muito gentil me disse: “Ministro, que vergonha!” E eu disse: “Qual é a vergonha? Qual é a surpresa? Porventura esqueceu o que em 1962 nós todos constatamos?. Eu fiz o ato de fechar o IMBADE, eu escrevi o ato. O presidente João Goulart assinou e publicou, extinguindo a vida do IMBADE, que era uma instituição como tantas outras, que mobilizava recursos federais, recursos estaduais, recursos públicos e recursos estrangeiros e distribuía a deputados e senadores. Isso, todo o Brasil constatou. E foi feita a comissão parlamentar de inquérito e constatada, em 1962. São mais de 40 anos e vem me falar em surpresa? O que há é um desafio de combate, de tenacidade, de insistência para que o estado democrático saiba que o dinheiro que arrecada, que o dinheiro público é uma coisa sagrada para atender às necessidades crescentes de uma civilização”.
nublog: O senhor foi vítima de um dos atos mais violentos que o político possa ser acometido, que foi o roubo da sua eleição de senador. Esse roubo foi provado e aquilo nunca deu em nada. Como o senhor se sente?
Waldir Pires: Há necessidade dessa luta permanente pelas nossas instituições democráticas, abrangendo o Judiciário, o Legislativo e o Executivo sempre. Ali realmente foi uma coisa terrível, mas eu corria sem parar, era a constância dessas relações antigas, do coronelismo articulado com setores do Judiciário, do Legislativo, da sociedade enfim.
Naquela eleição, num determinado instante, o Zé Sérgio Gabrielli entrou no meu comitê e disse: “olha, estou acompanhando isso aqui, montei um quadro de acompanhamento, de pesquisa e estou identificando uma curva nas eleições do Senado, como sua posição está começando a variar rapidamente, então vamos ter que identificar o que é isso”. Nós constatamos que tinham centenas e centenas de urnas, em municípios pequenos em que os votos brancos e nulos desapareceram, e esses votos brancos e nulos eram conduzidos para o Waldeck Ornelas. Era elementar que fosse feita a recontagem desses votos, isso ficou escandaloso. Eram centenas de urnas, em muitas dezenas de municípios pequenos com articulação fraudulenta, montada. Mas mesmo assim eles não conseguiram chegar na frente.
Na reta final, eles perderam o pudor e aqui em Salvador, em determinado instante, qual eram os dois mais votados de Salvador da eleição inteira? Eram o Antônio Carlos e eu. Então, era assim: Antônio Carlos com 140 votos, Waldir com 125. Antônio Carlos com 132 votos, Waldir com 137 e Waldeck lá com 70, 80 votos. E de repente no penúltimo e último dia, Ornelas começa mais de 130 votos, eu com 138 aproximadamente.
O que eles anunciavam na mesa de apuração que era de Waldeck, era do Antônio Carlos, e o que era de Antônio Carlos passava a ser de Waldeck. Então, a coisa ficou desmoralizada, todo mundo na Bahia sabe que isso foi uma fraude violentíssima e não foi julgado por uma decisão formal de direito, onde o formalismo excede a responsabilidade essencial e o conceito do objetivo da Justiça Eleitoral.
A partir do momento em que se caracteriza que o voto popular foi atingido na sua sacralidade de representar a vontade da população, faz-se a recontagem. Mas como não era uma matéria de direito e, sim, uma matéria de fato, então a decisão foi processual, foi adjetiva, se não foi decidida no Tribunal Regional, não pode ser decidida no Superior Tribunal, então arquiva-se.
“Minha vida inteira eu fiz aliança com a esquerda de todas as áreas”
Waldir Pires foi secretário estadual, no governo baiano, em 1951, três vezes deputado federal, uma vez deputado estadual, Consultor-Geral da República, ministro da Previdência Social, governador da Bahia, ministro-chefe da Controladoria-Geral da União e ministro da Defesa. Waldir é formado em Direito, foi professor de direito constitucional, na Universidade Católica da Bahia e na Universidade de Brasília. Um currículo de fazer inveja e de despertar ainda mais admiração.
Waldir Pires, um homem absolutamente culto, inteligente e digno, dono de uma elegância inquestionável e um inconfundível sorriso. Foi assim com esse singular sorriso e simpatia que a equipe nublog foi recebida. Chico Vasconcellos, Joyce Lins e Patrícia Maia conversaram com Waldir Pires sobre democracia, política e história.
nublog: Como o senhor analisa o presidente do Brasil? Um trabalhador, vindo de Pernambuco, que é reconhecido como “o cara” pelo presidente dos Estados Unidos?
Waldir Pires: Essa é a grande realidade política contemporânea nossa. Ele realmente é o cara, veio das origens mais humildes do país, mais injustiçadas, vem do pau-de-arara mesmo e se tornou essa expressão absolutamente única na história do Brasil, da América do Sul. Não sei se na história política do mundo existe uma marca tão forte de uma ascensão direta para o comando político da nação. Há 20 anos eu voto nele, no cara. Eu apoiei Lula ainda no PMDB. Ele perdeu, dando espaço para um grande retrocesso, que seria o segundo retrocesso no processo brasileiro.
nublog: Que retrocesso foi esse?
Waldir Pires: Nós lutamos por mais de 20 anos para derrubar uma ditadura e naquela ocasião, não conseguimos ter o presidente da República que pudesse ser a expressão do comando das forças políticas e portador dos ideais da transformação política do país. Isto é, do nascimento e da realização de uma nação com a potencialidade do Brasil e ao mesmo tempo com uma dificuldade tão gigantesca pela estrutura da sua sociedade, pela sociedade profundamente injusta, pelos desequilíbrios da vida do nosso povo, pelas desigualdades.
A luta para derrotar uma ditadura foi uma luta que se frustrou quando nós não elegemos o candidato de uma eleição direta. Por conta que uma candidatura das Diretas não foi possível tornar-se expressão do avanço das nossas expectativas.
Perdemos as Diretas, fizemos uma composição com uma candidatura extremamente válida e importante, que foi a de Tancredo. Tancredo Neves, na geração dele, foi uma figura realmente singular e posteriormente tivemos o drama da pulverização das forças políticas que lutaram para derrotar a ditadura. Nós acabamos chegando ao primeiro instante de uma eleição para o nosso povo e para dizer “está aqui o presidente de República com a responsabilidade de dirigir o processo político do Brasil”. Nesse momento, nós tivemos uma dolorosa situação de fragmentação.
“Eu assisti, participei e lutei contra a ditadura o tempo inteiro”
nublog: Como o senhor reagiu a essa fragmentação?
Waldir Pires: Foi dessa fragmentação que nasceu, que se formou um estado de espírito dentro de mim brutal de inconformidade, de sofrimento. Porque eu assisti, participei e lutei contra a ditadura o tempo inteiro. Foram 20 anos de luta para haver uma eleição soberana, para o povo brasileiro eleger o seu presidente. Nesse momento, nós estávamos todos divididos, tínhamos a candidatura de Lula, a de Brizola, a de Mário Covas, a de Roberto Freire e a candidatura de Ulisses, no PMDB, isso em 1989. E o PMDB com 22 governadores, entre eles eu, que era o governador da Bahia.
nublog: Na época o senhor saiu para ser o vice?
Waldir Pires: Na época eu não queria sair, porque eu achava que não estava maduro. Mas naquela ocasião, dezenas caravanas de jovens do movimento moço do PMDB e de outros partidos, do Brasil inteiro, queriam que eu fosse candidato a presidente da República. E eu achava que não, que não era a minha hora, que eu não tinha condições. Eu não tinha estruturação mesmo, nem econômica, nem financeira, nem coisa nenhuma. Eu queria mesmo era o que estava fazendo, tinha apenas a ideia da transformação das relações políticas, sociais e econômicas da Bahia. Então, queria continuar governando meu Estado.
Não aceitei ser candidato a presidente, mas aí nós chegamos em 1989. E com essa fragmentação de todas as forças, do voto de transformação, você tinha uma concentração das forças conservadoras, do poder econômico e de mídia com o Collor, governador de Alagoas, aqui pertinho de mim, vizinho a mim. De modo que a pressão foi enorme, sobretudo porque o Collor já estava com 27, 28, 30, 32% das pesquisas e nós todos pulverizados. O Lula tinha 10,9%, o Brizola tinha 9, 10%, Mário Covas tinha 5, 6%, Roberto Freire tinha 2 ou 3%, Ulysses tinha 7% e Collor lá em cima com 30%.
A cada hora aumentava mais, intensificaram a vinda de gente para cá, gente que me queria candidato, para que eu disputasse com Ulysses a candidatura no PMDB. A candidatura era essencialmente uma disputa que se travava naquele momento entre Ulisses e o pessoal do “centrão”.
nublog: O que era o “centrão”?
Waldir Pires: O “centrão” era o PMDB altamente conservador, que tinha a maioria dos governadores e etc. O candidato do “centrão” era o Senador Iris Rezende, ele tinha o apoio do presidente da republica, que era o Sarney.
A pressão para que eu fosse o candidato era muito grande e eu disse para a turma toda “olha aqui, eu não sou candidato, não é a minha hora. Então, vocês façam o seguinte: lancem a minha candidatura, eu autorizo. Mas eu só vou lá, no dia da convenção e sustento a posição de vocês. Vou deixar bem claro que é uma coisa da iniciativa de vocês”. E foi isso que eu fiz, só que a coisa foi de tal natureza que eu quase fui eleito na convenção. Eu perdi a convenção para Ulysses por uma diferença mínima. Uma convenção com cerda de uns 800 convencionais e eu perdi por 16 ou 17 votos.
O Iris Rezende, que inicialmente era o preferido, foi ficando lá atrás. Depois, eu soube que havia tido umas estruturas de manobras dentro do “centrão”, na véspera da eleição. Todos os membros do “centrão” uniram-se com o apoio também do governo para que eles fortalecessem a candidatura do Ulysses, e ai houve uma transferência de uns 40 ou 50 votos. Senão, eu ganhava a convenção.
nublog: Nesse momento, a mídia falou em renúncia?
Waldir Pires: Sim. Essa gente construiu uma ideia de renúncia e não houve renúncia coisa nenhuma. O que havia naquele momento era a necessidade de ordem legal e jurídica de você se desincompatibilizar da função para ser candidato, como hoje. Se você exerce uma função e vai ser candidato a governador ou presidente, você se desincompatibiliza para ser candidato.
nublog: Quais foram as consequências após o resultado da convenção?
Waldir Pires: A disputa na convenção foi uma coisa interessantíssima, era só Ulysses e Waldir e o Iris Rezende lá atrás e junto com outras candidaturas, que eram inexpressivas, mínimas. A pressão foi gigantesca para que eu disputasse segundo turno e eu disse “não disputo, não há hipótese de segundo turno nessa eleição”. Se eu fizesse um segundo turno naquele momento, eu iria fortalecer o carreirismo. Então, não havia hipótese e vim embora, para Salvador.
Aí, vieram todos para Salvador e me diziam: “Waldir, você tem que unir o PMDB, nós somos 22 governadores. Só o partido ganha essa eleição”. A pressão foi realmente gigantesca, estavam aqui Pedro Simon, Miguel Arraes e muitos outros. Todo mundo, os governadores todos vieram para me pressionar e dizer que eu tinha que fazer, tinha que unir o PMDB.