CIVITA E O DNA DA DIREITA RADICAL
DAVIS SENA FILHO
O Portal Brasil 247 fez uma pergunta em forma de manchete: "Para onde vai a Abril?", evidentemente que depois da morte do magnata Roberto Civita. Eu respondo: "Para lugar algum"
O Portal Brasil 247 fez uma pergunta em forma de manchete: "Para onde vai a Abril?", evidentemente que depois da morte do magnata Roberto Civita, cujo nome verdadeiro é Robert, como seu irmão se chama Richard e não Ricardo, eu respondo: "Para lugar algum". Vai ficar tudo como dantes no quartel d'Abrantes, ou seja, no lugar de sempre: a extrema direita do espectro ideológico. A verdade é que a Abril e, particularmente, as revistas Veja e Exame sempre repercutiram o pensamento e os interesses da oligarquia nacional e da plutocracia em termos mundiais, e vai continuar na mesma "batida" extremamente conservadora, se não radicalizar ainda mais sob a administração do herdeiro de Robert Civita — o seu filho Giancarlo.
O ítalo-americano de Milão, Robert Civita, herdou a Abril de seu pai, o americano Victor Civita, falecido em 1990, em São Paulo, e nascido em Nova York, em 1907. Civita deixa a vida aos 76 anos, após transformar a revista Veja em um bunker ou casamata, que, de forma sistemática e panfletária, resolveu fazer uma oposição violenta contra os governos trabalhistas de Lula e Dilma, a utilizar termos chulos e acusações infundadas e não amparadas por provas e contraprovas. Os diretores e editores de Veja, com a aquiescência de Robert Civita, passaram, principalmente nos últimos dez anos, a editar e publicar um jornalismo meramente opinativo e baseado muitas vezes em declarações de pessoas que nem ao menos suas identidades eram conhecidas.
A efetivação do jornalismo declaratório em constante embate com os poderes constituídos e com as autoridades eleitas pelo povo brasileiro, que assumiram há 11 anos o poder central. O jornalismo adversário dos políticos que compõem o campo da esquerda, apesar de o Governo Dilma Rousseff ser um governo de coalizão, no qual participam alguns partidos conservadores, porque é impossível para qualquer presidente de qualquer partido e ideologia administrar um País continental como Brasil e ter maioria no Congresso e, consequentemente, colocar em prática o programa de governo apresentado à população, no decorrer da campanha eleitoral.
Robert Civita tal qual aos seus colegas magnatas proprietários do sistema midiático privado e de empresas jornalísticas menosprezava e desprezava o Brasil. Sempre combateu presidentes trabalhistas e governos populares, os quais ele chamava, equivocadamente e propositalmente, de populistas, como forma de diminuí-los, dar uma conotação de demagogia, e, por conseguinte, não reconhecer os avanços econômicos e sociais realizados pelos trabalhistas de todas as épocas, a exemplo de Getúlio, Jango, Lula e Dilma. Robert é estrangeiro que, a exemplo de seu pai, Victor, veio ganhar dinheiro no Brasil.
Anteriormente, os Civita foram expulsos da Itália por cometerem irregularidades. Depois tentaram se estabelecer na Argentina, de onde Cesare, irmão de Victor, foi também expulso. Banidos do país portenho foram parar nos Estados Unidos. Entre os yankees, continuaram a manchar seus nomes e se meteram em escândalos, mas, após um acordo com o governo estadunidense, vieram para o Brasil. Desde os tempos argentinos sempre controlaram as publicações de Walt Disney, uma forma de iniciar seus negócios e atividades de maneira independente. Era a época da Guerra Fria, do nacionalismo na América do Sul. Até hoje os Civita nunca explicaram como conseguiram os contratos com a Disney, que publicava histórias de Mickey, Pato Donald e Tio Patinhas, personagens muito populares até a década de 1980, no que concerne a vender revistinhas ou gibis em todas as bancas do País.
Victor Civita, pai de Robert, veio diretamente de Washington para o Brasil. Seu passaporte recebeu visto na capital estadunidense, apesar de ele, na época, residir em Nova York. Victor se estabeleceu no Brasil, enquanto Cesare foi para a Argentina. Exerceram praticamente o mesmo trabalho, com o propósito de conquistar o mercado de revistas e controlar a publicidade. Fizeram fortunas e até os tempos de hoje a dúvida permanece: os Civita tiveram o apoio e a influência do Departamento de Estado dos EUA?
O tempo passou, e Victor Civita, em 1968, funda as revista Veja. A verdade é que o criador da Veja é o jornalista Mino Carta, que depois teve de sair da revista por não concordar com os rumos editoriais do semanário que se transformou em um libelo direitista, de cores fascistas e totalmente direcionado a boicotar e, se pudesse, derrubar governos e governantes que, politicamente e ideologicamente, não condizem com os seus interesses e as suas "verdades", que causam preocupação às instituições republicanas e às autoridades eleitas, que são atacadas, sistematicamente, por jornalistas das revistas da Abril.
São profissionais escolhidos a dedo no mercado, porque Robert Civita contratou pessoas ideologicamente direitistas, que acreditassem ou fingissem acreditar em seus "ideais", a exemplo dos jornalistas e blogueiros Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes, dois dos pitbulls do Civita recentemente morto, que atuam livres de "coleiras" para morderem à vontade, a quem o magnata bilionário combatia, e, autoritariamente, não queria no poder, apesar de o povo brasileiro eleger por três vezes seguidas os candidatos do PT, Lula e Dilma, que revolucionaram o Brasil, pois o colocaram em patamares em termos mundiais nunca antes acontecidos na história do País.
A ousadia e a arrogância do barão da imprensa Civita era tão grande que, de forma gangsteriana, ficou comprovado pela CPMI do Cachoeira que a Veja, do editor Policarpo Jr., associou-se com o bicheiro Carlinhos Cachoeira para boicotar, ameaçar e chantagear empresários, políticos e servidores públicos que não compactuassem ou não aceitassem fazer "negócios" com o bicheiro, que se transformou em "editor" e "pauteiro" da revista que optou pelo jornalismo simplesmente declaratório e com "entrevistados" geralmente ocultos, ou seja, preferiu realizar o verdadeiro jornalismo de esgoto e assim efetivar uma rede que atuava e agia no submundo, com o objetivo de "sujar" os nomes de autoridades eleitas e nomeadas, bem como implantar uma rede ilegal e, portanto, criminosa de escutas clandestinas e de "matérias" e "notas" plantadas na revista para desmoralizar aqueles que não aceitaram ou desconfiaram dos propósitos de Carlinhos Cachoeira e do jornalista Policarpo Jr., homem de confiança em Brasília de Robert Civita.
O objetivo dessa sujeira toda era atingir o ex-presidente Lula, o governo da presidenta Dilma, além de tentar derrubar o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, político do PT. Agnelo se saiu muito bem em seu depoimento na CPMI do Cachoeira, tanto é verdade que a imprensa de negócios privados, a exemplo de Veja, o "esqueceu". Contudo, ficou comprovado, apesar de esse político não ser punido, que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) está envolvido com o esquema de Cachoeira, bem como o senador cassado, Demóstenes Torres, do DEM goiano. Até hoje Perillo continua a fazer política, a política dos coronéis, e ai de quem tentar enfrentá-lo nas terras de Goiás, como ele "bem" demonstrou na convenção do PSDB quando aproveitou para ofender, violentamente, o ex-presidente Lula.
Robert Civita conseguiu não ser chamado para depor na CPMI do Cachoeira. Antecipou-se e enviou a Brasília para negociar o seu testa-de-ferro, o banqueiro e ex-dirigente do Banco Santander, Fábio Barbosa, que assumiu, em 2011, a presidência da Abril, que publica 52 revistas. Contudo, torna-se imperativo salientar que a família Civita e seus dois principais dirigentes, Victor Civita e Robert Civita, nunca se comprometeram com os interesses do Brasil e os sonhos de melhorar de vida do povo brasileiro. Pelo contrário, apoiaram, sem vacilar, a ditadura militar e seus arbítrios terríveis e inomináveis, bem como foram aliados incontestes do tucano Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I —, presidente que vendeu o Brasil e foi ao FMI três vezes, de joelhos e com o pires nas mãos, porque quebrou o Brasil três vezes.
Robert Civita continuou, a despeito da crise financeira da Abril, a viver de dinheiro do exterior, conforme deixou entre aspas em entrevista para o Jô Soares, pois do exterior ele veio, assim como os seus familiares que no passado administraram o seu império gráfico e de publicações conservadoras, sempre a serviço dos interesses dos grande trustes internacionais, da oligarquia brasileira e da direita partidária herdeira da escravidão. Robert Civita nunca foi do Brasil, e não por ser estrangeiro. O Brasil é um País cujo tecido social é formado por estrangeiros e nativos.
Robert Civita era estrangeiro de, sobtetudo, ideologia e propósitos, crenças e cultura, e interesses contrários ao Brasil. E comprovou o que afirmo por intermédio de décadas a desprezar e a lutar contra a emancipação do povo brasileiro, bem como a se aliar à classe média tradicional e reacionária, pois ele captou os valores e o conservadorismo lacerdista de tal classe feroz e rancorosa e por isto leitora da Veja, que realiza um jornalismo de direita radical e panfletária. Robert se foi, mas o império da Abril vai continuar o seu destino, que é o de sempre apoiar os interesses das "elites" — aquelas que acham que podem mais. A Veja é uma revista politicamente golpista. E quem ocupar o lugar do Robert também o será. A tradução do DNA. É isso aí.
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/103331/Civita-e-o-DNA-da-direita-radical.htm
DESCANSE EM PAZ, ROBERTO CIVITA
EDUARDO GUIMARÃES
Falar mal de Civita por sua obra à frente de seu império editorial, neste momento, não é a minha praia. Este é um momento de dor para os seus familiares
Publicado originalmente no Blog da Cidadania
Morreu Roberto Civita. Morreu de câncer, ainda que a mídia demo-tucana não diga. E não diz porque não pode, ou porque dizer envolve uma lição de vida que a deprecia. A lição? Ora, não comemore o sofrimento de seus inimigos porque a fragilidade humana nos une a todos.
Minha hora chegará, como chegou para Civita. Porém, estou tranquilo.
Enquanto ele esteve doente eu jamais fiz o que ele fez com Lula através de seus blogueiros e colunistas amestrados, que ironizaram a doença do ex-presidente e deram curso a uma onda de frases hediondas que comemoravam seu câncer, hoje tido como curado.
Reinaldo Azevedo, um dos autômatos de Civita, foi particularmente cruel ao mandar o ex-presidente se tratar no SUS por ter elogiado o sistema durante seu governo. Quantos outros políticos elogiaram as próprias obras na saúde pública e jamais foram alvo desse ironia?
O ex-tucano Mario Covas, por exemplo, elogiou a própria obra na saúde pública quando era governador de São Paulo e nem por isso a Veja e assemelhados o mandaram se tratar no SUS paulista. E muito menos o PT, que se solidarizou com ele.
Todos aqueles que não perdoaram Lula nem quando estava tão fragilizado, ainda que eu não acredite nisso deveriam refletir sobre a morte recente daquele que pagava o tal Azevedo para fazer coisas como aquelas – digo "pagava" porque, agora, não paga mais nada, ao menos nesta vida.
Não se comemora a doença ou a morte de semelhantes. Falar mal de Civita por sua obra à frente de seu império editorial, neste momento, não é a minha praia. Este é um momento de dor para os seus familiares.
Contudo, falar sobre como ele tratou o sofrimento de seus inimigos políticos faz todo sentido – e, como se sabe, o que faziam e continuam fazendo seus hoje ex-empregados era e é produto de sua visão de mundo, enquanto estava nele.
Mas a morte do ex-barão da imprensa tem um sentido mais amplo. Civita foi um homem tido como muito poderoso, do alto de seus bilhões de dólares e de seu império descomunal. Contudo, não queiram ver como todo esse poder se tornou nada, ao fim.
Não é bonito ver um ser humano agonizar, mas é necessário. Só assim nos damos conta do que somos, ou do que não somos. E o que nenhum de nós jamais será é "poderoso", pois Poderoso só é Deus, para quem acredita Nele como eu.
E, para quem não acredita em Deus ou deuses, ninguém é poderoso.
Somos todos seres frágeis como uma flor ou um fio de cabelo. Falíveis, débeis, assustados com a nossa própria debilidade humana e com a nossa ínfima pequenez diante do desconhecido, ainda que alguns de nós queiram passar uma ideia diferente.
Lamento, porém, a morte de Civita. Tinha muitas críticas a lhe fazer e, agora, não tenho mais simplesmente porque ele deixou de existir. Posso criticar a obra, mas não o autor. Ele está fora do alcance de mortais como eu ou você que me lê.
Descanse em paz, portanto, Roberto Civita.