DE DILMA PARA BARACK OBAMA: NO, THANKS!
Agora é oficial: presidente Dilma Rousseff cancelou a viagem de Estado que faria em outubro aos Estados Unidos; motivo é a espionagem do governo norte-americano sobre as comunicações do Palácio do Planalto e da Petrobras; "fato grave", cravou nota oficial do Palácio do Planalto; na segunda-feira 16, Barack Obama conversou por telefone durante 20 minutos com a presidente, mas Dilma julgou que as respostas dadas às violações de sigilo não foram satisfatórias; em nota distribuída pela Casa Branca, americanos afirmam que os dois presidentes "decidiram adiar" a visita; e que Obama "compreende e lamenta" preocupação de Dilma com espionagem; dava para ser diferente?
17 DE SETEMBRO DE 2013 ÀS 13:56
Danilo Macedo
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A presidenta Dilma Rousseff anunciou, por meio de nota, o adiamento da visita de Estado que faria aos Estados Unidos em outubro. De acordo com o texto, "tendo em conta a proximidade da programada visita de Estado a Washington – e na ausência de tempestiva apuração do ocorrido, com as correspondentes explicações e o compromisso de cessar as atividades de interceptação – não estão dadas as condições para a realização da visita na data anteriormente acordada".
"Dessa forma, os dois presidentes decidiram adiar a visita de Estado, pois os resultados desta visita não devem ficar condicionados a um tema cuja solução satisfatória para o Brasil ainda não foi alcançada", acrescentou.
"O governo brasileiro confia em que, uma vez resolvida a questão de maneira adequada, a visita de Estado ocorra no mais breve prazo possível, impulsionando a construção de nossa parceria estratégica e patamares ainda mais altos", diz ainda a nota.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, telefonou ontem (16) para a presidenta da República, Dilma Rousseff, sobre a viagem.
Desde a divulgação de denúncias de que os Estados Unidos espionaram dados da presidenta, e depois da Petrobras, o governo passou a cogitar o adiamento da visita. A presidenta se reuniu ontem (16) com o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, para discutir o retorno dado pelo governo norte-americano aos questionamentos do Brasil sobre as denúncias de espionagem.
Figueiredo esteve em Washington na semana passada para tratar do assunto com a conselheira de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Susan Rice. Há dez dias, durante a Cúpula do G20, na Rússia, o presidente Barack Obama se comprometeu com a presidenta Dilma a responder aos questionamentos do governo brasileiro em uma semana, prazo já expirado.
Leia ainda o comunicado oficial do governo brasileiro:
A Presidenta Dilma Rousseff recebeu ontem, 16 de setembro, telefonema do Presidente Barack Obama, dando continuidade ao encontro mantido em São Petersburgo à margem do G-20 e aos contatos entre o Ministro Luiz Alberto Figueiredo Machado e a Assessora de Segurança Nacional Susan Rice.
O Governo brasileiro tem presente a importância e a diversidade do relacionamento bilateral, fundado no respeito e na confiança mútua. Temos trabalhado conjuntamente para promover o crescimento econômico e fomentar a geração de emprego e renda. Nossas relações compreendem a cooperação em áreas tão diversas como ciência e tecnologia, educação, energia, comércio e finanças, envolvendo Governos, empresas e cidadãos dos dois países.
As práticas ilegais de interceptação das comunicações e dados de cidadãos, empresas e membros do Governo brasileiro constituem fato grave, atentatório à soberania nacional e aos direitos individuais, e incompatível com a convivência democrática entre países amigos.
Tendo em conta a proximidade da programada visita de Estado a Washington - e na ausência de tempestiva apuração do ocorrido, com as correspondentes explicações e o compromisso de cessar as atividades de interceptação - não estão dadas as condições para a realização da visita na data anteriormente acordada.
Dessa forma, os dois Presidentes decidiram adiar a visita de Estado, pois os resultados desta visita não devem ficar condicionados a um tema cuja solução satisfatória para o Brasil ainda não foi alcançada.
O Governo brasileiro confia em que, uma vez resolvida a questão de maneira adequada, a visita de Estado ocorra no mais breve prazo possível, impulsionando a construção de nossa parceria estratégica a patamares ainda mais altos.
Abaixo, nota da Casa Branca:
"O presidente disse que compreende e lamenta a preocupação que a divulgação da suposta espionagem americana provocou no Brasil e deixou claro que está comprometido em trabalhar com a presidente Rousseff e seu governo, por meio dos canais diplomáticos, para passar adiante esse tema como fonte de tensão nas nossas relações bilaterais.
"O presidente Obama e a presidente Rousseff esperam ansiosamente por essa visita de Estado, que irá celebrar nosso relacionamento mais amplo e não deve ser eclipsada por um único tema bilateral, não importa o quanto esse tema seja importante ou desafiador. Por essa razão, os presidentes decidiram adiar a visita prevista para o dia 23 de outubro."
O presidente Obama espera ansiosamente receber a presidente Dilma em Washington em uma data a ser acordada mutuamente. Outros importantes mecanismos de cooperação, incluindo diálogos presidenciais em temas de política, economia, energia e defesa, continuarão".
http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/115119/De-Dilma-para-Barack-Obama-No-thanks!.htm
FREI BETTO: EUA FAZEM MAIOR ARAPONGAGEM DA HISTÓRIA
Escritor compara a espionagem dos Estados Unidos à arapongagem da época da ditadura, "que ia atrás de inimigos e até de amigos que pudessem levantar desconfianças"; segundo ele, informação é poder e governo de Barack Obama colocou segurança e capital acima de liberdade e direitos humanos
17 DE SETEMBRO DE 2013 ÀS 09:16
Redação RBA – O caso de espionagem norte-americana pela Agência Nacional de Segurança (NSA), denunciado pelo ex-analista da organização, Edward Snowden, não é uma ação isolada. Para Frei Betto, a agência continuará com as ações que ferem a soberania de diversos países. "Agora, graças ao jovem norte-americano Snowden, que está exilado na Rússia, nós sabemos que a maior arapongagem praticada na história da humanidade é feita pelo governo dos Estados Unidos", disse o escritor em seu comentário semanal na Rádio Brasil Atual. "Os Estados Unidos consideram a segurança mais importante que a liberdade e o capital mais importante que os direitos humanos. Nós sabemos agora que eles metem o nariz na vida de pessoas, governos, empresas e instituições."
Ao longo deste ano foram surgindo informações sobre como funciona o esquema. Questionado, o governo de Barack Obama disse que o faz em nome da segurança e que não tem intenção de recuar em seus propósitos. No Brasil, o programa Fantástico, da Rede Globo, trouxe à tona de que mensagens e telefonemas da presidenta Dilma Rousseff foram interceptados pela NSA, que também espionou a Petrobras. "Sabemos que uma informação governamental vale fortunas. Se acionistas e correntistas sabem, de antemão, que o Banco Central vai decretar a falência de um banco, isso não tem preço", diz Betto.
O escritor compara a espionagem dos Estados Unidos à arapongagem da época da ditadura, que ia atrás de inimigos e até de amigos que pudessem levantar desconfianças. O termo araponga era utilizado na época do regime para designar os espiões do Serviço Nacional de Informações (SNI), atual Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Araponga é uma ave que coloca o bico em todo fruto que encontra.
Betto conta que, em 2003, quando era assessor especial da presidência da República, foram descobertos aparelhos de escuta na sala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Planalto. Tempos depois, ele encontrou uma equipe do Exército fazendo varredura no gabinete presidencial para conferir se havia ali algum sistema de escuta. “Quem garante que eles, quando vêm fazer essa varredura, não plantam novamente, na sala do presidente, um novo sistema de escuta?”, questiona.
Na reunião da cúpula do G-20, em São Petersburgo, na Rússia, a presidenta Dilma chegou a comentar com Barack Obama sobre a espionagem e os interesses econômicos dos Estados Unidos. Obama afirmou que tomará providências sobre o caso, e que não há justificativa ou benefício para a espionagem norte-americana no Brasil. Dilma ressaltou que irá retomar o assunto na Assembleia Geral das Organização das Nações Unidas (ONU), este mês, em Nova York, e cogita cancelar a visita que faria a Washington como chefe de Estado. Ela se reúne hoje (16) com o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueredo Machado, para discutir a visita à Washington, nos Estados Unidos, agendada para outubro.
O ministro esteve nos Estados Unidos no dia 10 para conversar com a conselheira de Segurança Nacional norte-americana, Susan Rice. O governo dos EUA divulgou um parecer à imprensa em que Rice afirma que “os Estados Unidos compreendem que as recentes revelações à imprensa, das quais algumas têm distorcido as nossas atividades e outras têm gerado questões legítimas pelos nossos amigos e aliados, criam tensões na muito estreita relação com o Brasil".
Betto reforça que a espionagem norte-americana tem proporções maiores do que as já descobertas “Ainda que a Casa Branca apresente desculpas à presidenta Dilma, isso não significa que a NSA vai deixar de rastrear os computadores do Planalto e vai deixar de saber o que, quando e com quem a presidenta conversou. Informação é poder”, argumenta.