'INGRESSO DA VENEZUELA DESLOCA EPICENTRO DO MERCOSUL'
Afirmação é do embaixador designado para representar o Brasil em Caracas, ministro de primeira classe Ruy Carlos Pereira, para quem o epicentro geográfico do bloco se desloca para o norte caso haja o ingresso da Venezuela; "Quatro das seis maiores exportadoras para a Venezuela estão no Norte do Brasil. Tudo isso trará um conjunto enorme de oportunidades para uma das regiões mais carentes do Brasil", disse ele no Senado
17 DE OUTUBRO DE 2013 ÀS 17:19
Marcos Magalhães _Agência Senado - O ingresso definitivo da Venezuela no Mercosul desloca para o norte o epicentro geográfico do bloco, disse nesta quinta-feira (17) o embaixador designado para representar o Brasil em Caracas, ministro de primeira classe Ruy Carlos Pereira. Com isso, empresas sediadas em regiões menos desenvolvidas do Brasil também terão mais oportunidades de crescer por meio do comércio e dos investimentos, disse o diplomata, cuja indicação foi aprovada pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) e será agora examinada em Plenário.
Com a participação da Venezuela, ressaltou o diplomata, o Mercosul estende-se agora da Patagônia ao Caribe e reúne 70% da população e 80% do Produto Interno Bruto (PIB) da América do Sul, além de contar com 20% das reservas provadas mundiais de petróleo – sem contar o pré-sal brasileiro – e recursos naturais como a extensa biodiversidade e grandes recursos hídricos.
Depois de firmar com o país vizinho uma aliança estratégica, observou, o Brasil multiplicou por oito suas exportações para a Venezuela, que fornece ao país seu segundo maior superávit comercial, depois apenas da China. Em 2012, o Brasil exportou US$ 5 bilhões – dos quais 65% em produtos industrializados, de alto valor agregado – para a Venezuela e importou apenas US$ 1 bilhão.
- O mais relevante é que o Mercosul desloca para o norte seu epicentro geográfico, agregando interesses, negócios e oportunidades ao Norte e ao Nordeste do Brasil. A primeira empresa exportadora do Brasil para a Venezuela está no Pará. Quatro das seis maiores exportadoras para a Venezuela estão no Norte do Brasil. Tudo isso trará um conjunto enorme de oportunidades para uma das regiões mais carentes do Brasil – afirmou Pereira.
Segundo o embaixador, empresas brasileiras encontram-se em boa posição para se beneficiar do processo de "despetrolização" da economia da Venezuela, uma prioridade do governo daquele país. Ele recordou que 97% das exportações venezuelanas são de petróleo e derivados e que o país vizinho importa "quase tudo", abrindo "oportunidades extraordinárias" para uma "potência industrial e de agribusiness como é o Brasil".
Pereira informou ainda que pretende ampliar a cooperação com o país vizinho na área da cultura. Ele citou a necessidade de se ampliar a "dimensão indígena do processo de integração" e de aproximar afrodescendentes dos dois países, uma vez que a população negra do Brasil teria "conexão íntima" com os afrodescendentes do Caribe.
Integração
Relator da mensagem presidencial de indicação de Pereira, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) defendeu uma "integração mais efetiva" entre parlamentares dos dois países, para maior conhecimento mútuo. O senador José Agripino (DEM-RN) disse ter desconfianças em relação ao futuro do Mercosul e observou que países com economias mais abertas, como o Chile, a Colômbia e o Peru, estariam obtendo resultados mais favoráveis no comércio internacional.
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) pediu ao embaixador explicações sobre os motivos que teriam levado a Venezuela a desistir de sua participação na construção, em Pernambuco, da refinaria Abreu e Lima. Por sua vez o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) defendeu maior participação de empresas de Roraima, estado que faz fronteira com a Venezuela, no comércio bilateral. O senador Jorge Viana (PT-AC) defendeu maior aproximação entre os povos dos dois países, além do fortalecimento do turismo. E o senador Romero Jucá (PMDB-RR) alertou para o risco de desabastecimento de energia em Roraima, devido a problemas enfrentados pela usina hidrelétrica de Guri, na Venezuela.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) demonstrou preocupação com a inflação crescente e a "violência generalizada" na Venezuela. Por sua vez, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) considerou ser necessário obter maiores informações a respeito da oposição política e da "dinâmica futura" do quadro político da Venezuela. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) elogiou a Venezuela por haver erradicado o analfabetismo e obtido avanços consideráveis no seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nos últimos 15 anos. Ao final da sabatina, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) ressaltou a vantagem de Pereira ser indicado para representar o Brasil na Venezuela após ter sido representante permanente do Brasil junto ao Mercosul, em Montevidéu. A reunião foi presidida pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).