247 - Se o ministro da Fazenda, Guido Mantega, seguisse a cartilha proposta pelo Fundo Monetário Internacional, o Brasil hoje e estaria melhor ou pior? A resposta parece ser óbvia, mas não para os editores dos jornais brasileiros.
Uma previsão feita ontem pelo Fundo sobre crescimento menor da economia brasileira, com duras críticas à política fiscal, mereceu grande destaque na mídia tradicional. Foi manchete de vários portais, do site de Veja.com e hoje é também o destaque principal da Folha.
De acordo com os economistas do FMI, o PIB potencial brasileiro caiu de 4,25% para 3,5% e o motivo seria a política fiscal "frouxa". Ou seja, o Fundo defende maior arrocho fiscal. Outra crítica diz respeito ao papel dos bancos públicos na concessão de crédito, sinalizando que, para o organismo, seria melhor que instituições como Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BNDES mantivessem o pé no freio.
Ocorre que a memória dos brasileiros em relação ao FMI ainda é recente. No governo FHC, com média de crescimento baixa, próxima a 2,5% ao ano, o Brasil recorreu em três oportunidades aos empréstimos do Fundo. Essas dívidas foram pagas em janeiro de 2006, no governo Lula, quando o então presidente do Fundo, o espanhol Rodrigo de Rato, anunciou a boa nova: "O Brasil já não tem mais dívida com o FMI, que se transforma em um parceiro importante no debate de políticas econômicas."
Na crise financeira de 2008, a resposta do Brasil à crise foi totalmente fora da cartilha, quando, em vez de pisar no freio da economia, Lula apostou que seria melhor manter o consumo aquecido. A partir daí, as críticas internacionais começaram a se acentuar.
No entanto, países que eram tratados como exemplos pelo FMI, mergulharam em profundas crises econômicas e o Brasil, apesar das dificuldades internacionais, ainda mantém uma situação de pleno emprego.
Na equipe do ministro Guido Mantega, a crítica é rebatida com veemência. "O FMI carrega muito nessa discussão fiscal desnecessariamente", diz o secretário Marcio Hollland. "O principal problema deve estar em outros países, que estão sofrendo com relação entre dívida e PIB de mais de 100% do PIB. O Brasil tem uma relação de dívida bruta em torno de 59% e com o compromisso de superávit primário superior ao requerido", disse ele.
A boa notícia não é a manchete da Folha ou o que foi destacado em várias publicações, mas sim o fato de que, na equipe econômica, os conselhos do FMI serão solenemente ignorados.