247 – Enredada entre dois grandes pesos pesados do capitalismo brasileiro, a presidenciável Marina Silva está permitindo, na prática, que a marca que ela criou e empolgou a sua militância se vulgarize. Não se sabe, porém, até que ponto isso pode funcionar a favor dela – ou, ao contrário, acarretar um desgaste para a sua imagem pessoal e, também, para o partido que ela ainda quer criar.
Rede, neste momento, além de ser o nome da organização embrionária, também virou marca de cartão de crédito e de uma estratégia de vendas de cosméticos e produtos de higiene pessoal.
O Banco Itaú, do qual a amiga, apoiadora e financiadora de Marina, Neca Setúbal, é uma as principais herdeiras, mudou uma bandeira histórica dos cartões de crédito que administra para que passasse a ser, exatamente, tal qual a marca criada em torno da presidenciável. Os marqueiteiros do Itaú jogaram fora o 'Card' e adotaram apenas o 'Rede' para, doravante, venderem seus cartões a mais e mais clientes. A novidade foi anunciada em publicidades de páginas inteiras nos jornais de papel da mídia tradicional.
E não é só. O que poderia, com boa vontade, ser chamado de coincidência singular, dobrou de tamanho.
Ex-candidato a vice de Marina em 2010, quando dedicou de sua fortuna pessoal mais de R$ 1 milhão para a campanha da parceira política, o empresário Guilherme Leal resolveu criar o Rede Natura. Trata-se de uma estratégia comercial para vender os produtos de sua linha de produção por meio de vendedoras em todo o País, que passam a estar conectadas por essa Rede de comunicação comercial.
É bonito isso? Pode ser, de acordo com o ponto de vista. Certamente os marqueteiros do Itaú não desconsideraram o fato de que trocar a conhecida marca Redecard pela nova Rede associaria o cartão de crédito da instituição à figura política que, dia sim, dia sim, frenquenta e estará presente nas páginas do noticiário político até, pelos menos, as eleições de 2014.
O bilionário Leal, igualmente, certamente considerou vantajoso para seus negócios ter um board de coordenação de vendedoras com a marca que todas, é claro, sabem que têm tudo a ver, mercadologicamente falando, com a singela Marina.
Mas e para a presidenciável, ter a marca de seu embrião de partido associada diretamente a tantos interesses econômicos é mesmo positivo? Não desponta, de imediato, um conflito entre seu projeto político e estratégias comerciais que, sem qualquer sutileza, se aproveitam diretamente da nuvem de milhões de pessoas que acreditam no discurso da própria Marina?
Se, amanhã, alguma companhia quiser lançar uma cerveja PT, o Partido dos Trabalhadores vai aceitar ver sua marca de 30 anos virar cevada e espuma?
Uma alfaitaria Tucanos, por exemplo, remetendo diretamente as roupas bem cortadas dos próceres do partido faria mais bem ou mal à vintenária marca do PSDB?
Pode uma boa ideia para o deputado Paulinho da Força licenciar a marca Solidariedade - do partido que ele acaba de criar - para um fabricante de bonés e camisetas ao gosto de sindicalistas?
São perguntas que se colocam a partir da associação entre o Rede, embrião de partido político, e o Rede cartão de crédito e o Rede articulação de vendedoras e simpatizantes da Natura.
Pode, é claro, dar certo. Mas dar certo para quem mesmo?
Abaixo, a respeito do mesmo assunto, comentário do jornalista Luís Nassif, do site Dinheiro Vivo: