MÁFIA DOS FISCAIS DECRETA MORTE POLÍTICA DE KASSAB
Nas eleições de municipais de 2012, quando a rejeição ao prefeito Gilberto Kassab afetava o desempenho eleitoral de José Serra, Veja São Paulo, numa capa histórica, perguntou: "Será que estamos sendo justos com ele?"; agora, depois dos escândalos imobiliários em torno de Hussain Aref, que tinha mais de 100 apartamentos, e da máfia na arrecadação municipal, chefiada por Ronilson Bezerra, desviou cerca de R$ 500 milhões, é o caso de se perguntar: será que ele, que sonha com o Palácio dos Bandeirantes, ainda tem algum futuro?
8 DE NOVEMBRO DE 2013 ÀS 06:23
247 – Gilberto Kassab, ex-prefeito da cidade de São Paulo e presidente do PSD, partido criado por ele para permitir a migração de parlamentares da oposição para a base aliada, tinha um sonho: governar o estado mais rico do País. Seu nome já está colocado como candidato oficial do partido ao Palácio dos Bandeirantes – uma candidatura, por sinal, defendida por vários setores do PT, que o enxergam como peça-chave para garantir um segundo turno contra Geraldo Alckmin.
A viabilização de Kassab, no entanto, dependia de uma complexa operação política. Percebido pela população como um prefeito que se dedicou mais à criação de um partido do que à administração da cidade, ele tinha, em 2012, uma das piores avaliações já registradas por administradores da maior cidade do País. Era um desempenho tão ruim que ajudava a afundar a candidatura de José Serra, em 2012. A tal ponto, que Veja SP, a Vejinha, saiu em seu socorro, com uma capa histórica. "Será que estamos sendo justos com ele?", era a pergunta.
Um dos pontos mais vulneráveis da administração Kassab era o caso Aref, tornado em maio de 2012, quando se soube que o então diretor da Aprov, setor da prefeitura responsável por liberar construções, havia acumulado nada menos que 106 imóveis. Será que isso seria possível sem que o prefeito soubesse de nada?
Agora, surge um escândalo semelhante, com a descoberta de que uma máfia de fiscais, encastelada na prefeitura de São Paulo, acumulou patrimônio estimado em R$ 80 milhões, desviando impostos municipais e favorecendo grandes construtoras como a Brookfield e a Trisul.
Os fiscais presos na investigação sobre o esquema de cobrança de propina de empresas em troca da redução de impostos torciam pela volta de Gilberto Kassab nas eleições de 2014 no Estado. Em conversas gravadas nas investigações sobre o esquema, eles dizem que essa seria “a única chance de continuarem juntos no ano que vem”. A frase é atribuída a Luis Alexandre Cardoso Magalhães, único dos fiscais a deixar a prisão após decidir colaborar com as investigações.
Um deles, Ronilson Bezerra Rodrigues, chefe da máfia, faz afirmações ainda mais graves contra o ex-prefeito: “Chama o secretário e os prefeito (sic) que eu trabalhei. Eles tinham ciência de tudo”. Ele disse isso na conversa com Paula Sayuri Nagamati, a chefe de gabinete da secretaria de Assistência Social que era amiga do fiscal (leia aqui).
Kassab rebateu às acusações com uma nota divulgada por sua assessoria. "As afirmações do servidor público concursado são falsas, como a própria imprensa já comprovou ser inverídico o conteúdo de gravação anterior na qual o mesmo funcionário público atribuía ao ex-prefeito a propriedade de um escritório suspeito de ser usado para a prática de irregularidades", diz.
A nota diz que ainda que "repudia as tentativas sórdidas de envolver o seu nome em suspeita de irregularidades" e afirma que há um "objetivo escuso" que busca "única e exclusivamente atingir a sua imagem e honra".
Kassab talvez mereça o benefício da dúvida. Mas se o chefe da quadrilha da Aprov acumulou 106 imóveis e a máfia dos fiscais desviou tantos recursos, é o caso de se perguntar: ele não sabia de nada? Estamos sendo justos com ele?
http://www.brasil247.com/pt/247/poder/120216/M%C3%A1fia-dos-fiscais-decreta-morte-pol%C3%ADtica-de-Kassab.htm
"CHAMA O SECRETÁRIO E OS PREFEITOS QUE EU TRABALHEI. ELES TINHAM CIÊNCIA"
Frase foi dita pelo suposto chefe da máfia dos fiscais de São Paulo, Ronilson Bezerra Rodrigues; sim, suposto, porque a fala indica que talvez houvesse gente graúda acima dele; o fiscal trabalhou com o secretário Mauro Ricardo, indicado por José Serra para comandar as finanças da capital paulista; em outra gravação, Ronilson foi ameaçado pelo fiscal Luis Alexandre Cardoso Magalhães; "eu não vou sozinho nessa porra... eu te dei muito dinheiro... não vou ser bode expiatório"; grampos indicam que o escândalo ainda irá muito mais longe
7 DE NOVEMBRO DE 2013 ÀS 21:18
247 - Conversas gravadas entre os fiscais envolvidos no ninho de corrupção da prefeitura de São Paulo, que desviou mais de R$ 500 milhões dos cofres públicos revelam grande tensão entre eles ao tomar conhecimento de que a Controladoria do Município estava investigando as fraudes. Os principais áudios foram divulgados nesta quinta-feira (7) no Jornal Nacional. Em um deles, o fiscal Ronilson Bezerra Rodrigues, chefe da máfia, faz uma afirmação extremamente grave: “Chama o secretário e os prefeitos com que eu trabalhei. Eles tinham ciência de tudo”. Ele disse isso na conversa com Paula Sayuri Nagamati, a chefe de gabinete da secretaria de Assistência Social que era amiga do fiscal.
Em outra troca de conversa entre os fiscais Luis Alexandre, Di Lallo e Ronilson, eles se acusam e um deles afirma que não irá assumir a culpa sozinho. "Eu não vou sozinho nessa porra. Eu te dei muito dinheiro”, afirma. Em depoimentos dados à polícia, eles negaram participação na máfia. Eles conversam, em um clima de muita tensão, sobre dinheiro - e sobre as possíveis consequências da investigação da Prefeitura. Foi no apartamento do fiscal Luís Alexandre Magalhães que os investigadores descobriram a prova mais importante até agora contra Ronilson Bezerra Rodrigues, ex-chefe de Luis Alexandre e ex-subsecretário da Receita Municipal, responsável por zelar pela arrecadação de impostos. Ronilson foi flagrado em uma conversa, gravada pelo próprio Luis Alexandre. Um encontro entre os dois e o fiscal Carlos Augusto di Lallo Amaral, também investigado por cobrança de propina. Não se sabe ainda onde se deu essa reunião entre os três fiscais.
Segundo os promotores, foi depois de março deste ano, quando o grupo descobriu que a Controladoria da Prefeitura de São Paulo estava investigando todos eles por suspeita de enriquecimento ilícito. Luis Alexandre sentiu que poderia sobrar só para ele e começou a gravar reuniões do grupo e fazer cópias do material para se proteger. O Ministério Público confirmou que as vozes são de Luiz Alexandre Magalhães e Ronilson Bezerra Rodrigues.
Abaixo trecho completo da conversa:
Luis Alexandre - Eu não tava nessa sozinho. Eu tenho todos - todos - os números de certificado. Eu não vou ser bode expiatório.
Ronilson - Isso aí pra mim é uma ameaça.
Luis Alexandre - Não, é um aviso. Eu não vou sozinho nessa porra.
Ronilson - Não vai. Porque eu vou estar contigo.
Luis Alexandre - Eu, o Lallo e o Barcellos não vamos pagar o pato nessa porra toda.
Di Lallo - Não vai, não vai.
Ronilson - Você não vai precisar me entregar. Sabe por quê?
Luis Alexandre - Eu levo a secretaria inteira. Vai todo mundo comigo. Eu te dei muito dinheiro. Te dei muito dinheiro.
Ronilson - Você sabe por que que você me deu dinheiro? Você sabe por quê? Porque eu te deixei lá.
Luis Alexandre - Isso. Então tá todo mundo junto.
Ronilson - Isso aí pra mim é uma ameaça.
Luis Alexandre - Não, é um aviso. Eu não vou sozinho nessa porra.
Ronilson - Não vai. Porque eu vou estar contigo.
Luis Alexandre - Eu, o Lallo e o Barcellos não vamos pagar o pato nessa porra toda.
Di Lallo - Não vai, não vai.
Ronilson - Você não vai precisar me entregar. Sabe por quê?
Luis Alexandre - Eu levo a secretaria inteira. Vai todo mundo comigo. Eu te dei muito dinheiro. Te dei muito dinheiro.
Ronilson - Você sabe por que que você me deu dinheiro? Você sabe por quê? Porque eu te deixei lá.
Luis Alexandre - Isso. Então tá todo mundo junto.
Ligados à Secretária de Finanças na gestão do prefeito Gilberto Kassab e do secretário Mauro Ricardo, oriundo da equipe do prefeito anterior José Serra, os fiscais são acusados de fazer parte de uma quadrilha que pode ter desviado mais de R$ 500 milhões dos cofres municipais por meio do abatimento irregular de dívidas de ISS – Imposto Sobre Serviço, o principal tributo do município.
Segundo investigação com origem em março na Controladoria Geral do Município, criada pelo atual prefeito Fernando Haddad, o grupo concedia "habite-se" para grandes construtoras de imóveis por meio de recebimentos pessoais por fora dos meios normais. Num dos casos apurados, uma construtora com dívida de R$ 480 mil de ISS conseguiu liberar a construção e entrega de um prédio recolhendo apenas R$ 12 mil aos cofres públicos. No dia anterior à concessão do documento liberatório, um dos presos hoje recebeu depósito de R$ 407 mil em sua própria conta corrente.
REINALDO PEDE CAUTELA EM RELAÇÃO A KASSAB E RICARDO
Colunista de Veja e Folha sugere que o auditor Ronilson Bezerra poderia saber que estava sendo gravado e, neste caso, simularia um diálogo para incriminar o ex-prefeito; ele também inocenta o secretário Mauro Ricardo; "Quando um prefeito e um secretário de Finaças querem roubar, há dezenas de operações mais seguras do que essa", diz ele, sem revelar quais seriam os esquemas mais seguros
8 DE NOVEMBRO DE 2013 ÀS 07:24
247 - O blogueiro Reinaldo Azevedo, colunista de Veja.com e da Folha, pede cautela nas acusações contra Gilberto Kassab e o secretário Mauro Ricardo. "Quando um prefeito e um secretário de Finaças querem roubar, há dezenas de operações mais seguras do que essa", diz ele. Leia abaixo:
Há notícias que têm de ser dadas. Mas é igualmente necessário pensar a respeito. Vamos ver. O auditor fiscal Ronilson Bezerra Rodrigues, preso sob acusação de integrar o esquema que fraudava a cobrança de ISS da Prefeitura de São Paulo, afirma em conversa gravada que o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) e o ex-secretário de Finanças Mauro Ricardo Costa “tinham ciência de tudo”. A gravação foi feita com autorização da Justiça, integra a investigação, mas já está na praça, como costuma acontecer nesses casos.
Vamos ver. A conversa ocorreu a 18 de setembro deste ano, no mesmo dia em que ele fora chamado pela Controladoria-Geral do Município para prestar informações sobre o seu patrimônio, considerado incompatível com o seu rendimento. A sua interlocutora era Paula Sayuri Nagamati, sua amiga e chefe de gabinete da secretaria de Finanças na gestão anterior. Ele afirmou literalmente:“Tinham que chamar o secretário e o prefeito também, você não acha? Chama o secretário e o prefeito com quem eu trabalhei. Eles tinham ciência de tudo”. Rodrigues não é bobo. Sabia que seu telefone deveria estar grampeado, pela simples e óbvia razão de que essa é praticamente a única forma de investigação que há no Brasil. Assim, a sua fala pode ter sido talhada a termo para comprometer terceiros ou, ao jogar a coisa para escalões superiores, tentar provocar um susto e esfriar o ânimo investigatório.
Convenham: nesse caso, o que é “saber de tudo”? Quer dizer, então, que Kassab e o ex-secretário participariam da lambança? Ou, então, não participando, mas cientes, deixaram que a turma roubasse à vontade? Não sei, não… Isso parece não fazer muito sentido. Quando um prefeito e um secretário de Finaças querem roubar, há dezenas de operações mais seguras do que essa. Destaco: estou trabalhando com questões meramente lógicas. Na hipótese de sociedade com fiscais larápios, os dois estariam só enfiando grana no bolso? Seria um esquema político?
Coincidência
É curioso. A interlocutora do fiscal que acusa Kassab é Paula Sayuri Nagamati. Em depoimento ao Ministério Público, ouvida como testemunha, não como acusada, ela afirmou que Rodrigues lhe contara que ele e outros auditores apoiaram a campanha do petista Antonio Donato para vereador, atualmente secretário de governo de Fernando Haddad. Não é a única. Em ligação telefônica, uma mulher, que a polícia diz ser amante de Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, um dos quatro presos na semana passada, acusa o secretário de ter recebido dinheiro do esquema.
É curioso. A interlocutora do fiscal que acusa Kassab é Paula Sayuri Nagamati. Em depoimento ao Ministério Público, ouvida como testemunha, não como acusada, ela afirmou que Rodrigues lhe contara que ele e outros auditores apoiaram a campanha do petista Antonio Donato para vereador, atualmente secretário de governo de Fernando Haddad. Não é a única. Em ligação telefônica, uma mulher, que a polícia diz ser amante de Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, um dos quatro presos na semana passada, acusa o secretário de ter recebido dinheiro do esquema.
O fato é que, na gestão Haddad, Rodrigues foi para um cargo ainda mais importante: virou diretor da SPTrans, que tem um orçamento de R$ 6 bilhões. Jilmar Tatto, secretário dos Transportes, pasta à qual é subordinada a empresa, deixou claro: partiu do gabinete de Donato o pedido de nomeação.
Seja como for, a exoneração de Paula Sayuri foi publicada no Diário Oficial. Reitere-se: até agora, ela é só testemunha no caso. Haddad a tratou como acusada e diz que ela é muito próxima da turma. Quem assinou a demissão? Justamente Donato.
Concluo
É provável que Kassab esperasse que seus novos amigos, os petistas, o tratassem de outra maneira. Será que ele já concluiu, a esta altura, que jamais será um deles?
É provável que Kassab esperasse que seus novos amigos, os petistas, o tratassem de outra maneira. Será que ele já concluiu, a esta altura, que jamais será um deles?
MERVAL DIZ QUE PSDB E PT DISPUTAM TORNEIO DE FALCATRUAS
Colunista retoma seu espaço no Globo e afirma que campanha de 2014 será marcada por acusações; de um lado, o escândalo do metrô paulista; de outro, as fraudes na prefeitura paulista, que ele aponta como uma questão petista e não dos antecessores de Fernando Haddad, José Serra e Gilberto Kassab
8 DE NOVEMBRO DE 2013 ÀS 08:19
247 - De volta a seu espaço no Globo, o jornalista Merval Pereira aponta um campeonato de falcatruas entre PT e PSDB. Para ele, o escândalo dos fiscais paulistas atinge mais a prefeitura de Fernando Haddad, que desbaratou a quadrilha, do que seus antecessores, José Serra e Gilberto Kassab. Leia abaixo:
A eleição para o governo de São Paulo promete ser a mais eletrizante de 2014, não apenas pela importância em relação à corrida presidencial, mas, sobretudo, por que PSDB e PT disputam pau a pau um campeonato restrito, o de que partido está mais envolvido em falcatruas. Chega a ser engraçado constatar que a cada acusação de um lado, logo se descobre que o outro lado também está envolvido de alguma maneira.
O caso mais grave, sem dúvida, é o do cartel de empresas que atuaria no estado desde 1998, pegando todas as gerações de administradores tucanos à frente do governo desde então. Se as investigações do caso Siemens em São Paulo levarem à conclusão de que o PSDB montou projeto de poder em São Paulo desde o governo Covas, passando por Geraldo Alckmin e José Serra, financiado pelo desvio de verbas públicas, estaremos diante de uma manipulação política com o mesmo significado do mensalão, por exemplo, embora com alcance regional, enquanto o mensalão tentou manipular nada menos que o Congresso Nacional.
As suspeitas de que algo mais grave aconteceu realmente em São Paulo fortaleceram-se quando foi revelado que a Justiça suíça desistira de investigações sobre a Alstom por não contar com a ajuda da Justiça brasileira. E o que aconteceu por aqui? Um verdadeiro escândalo. O procurador da República Rodrigo de Grandis, responsável pelas investigações, alegou uma falha administrativa para ter deixado o caso parado durante anos: o pedido da Suíça teria sido arquivado numa pasta errada.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reabriu o caso, e ontem a Justiça Federal de São Paulo determinou o bloqueio de bens de cinco pessoas e três empresas investigadas nos inquéritos que apuram pagamentos de propina durante licitações do metrô de São Paulo e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Mas, mesmo nesse caso, descobre-se que o acordo de delação premiada foi conduzido de tal modo que as investigações estão restritas a São Paulo, quando os diretores da Siemens citam contratos de trem e metrô em sete estados. Em cinco deles, a empresa responsável é a estatal federal Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). São citados contratos da CBTU em Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Belo Horizonte. A atitude dúbia do presidente do Cade, Vinicius Marques de Carvalho, que negou relação com o PT até ter de admitir que trabalhou com o deputado estadual petista Simão Pedro, o principal acusador do cartel, faz com que o PSDB peça sua destituição do cargo por conduta irregular na investigação, pondo a suspeita de que há partidarização das investigações.
Alckmin, na tentativa de se desvincular do caso, apresentou pedido de indenização contra a Siemens, mas o fez tão atabalhoadamente que se esqueceu de que cartel é formado por várias empresas. Como só apresentou queixa contra a Siemens, uma juíza mandou refazer o pedido com o nome das demais empresas integrantes do cartel.
O prefeito Fernando Haddad, por seu lado, faz força para empatar o jogo das acusações. Exonerou do cargo de confiança o auditor tributário Moacir Fernando Reis, sócio da mulher do secretário municipal de Transportes e deputado federal petista licenciado, Jilmar Tatto. Reis é um dos servidores da Subsecretaria da Receita Municipal suspeitos de participação no esquema de cobrança de propina de construtoras - que pode ter desviado até R$ 500 milhões do Erário municipal. Tatto disse que não se lembrava de que a mulher era sócia de Reis.
O secretário de Governo Antônio Donato foi acusado por duas testemunhas de receber propina do esquema. Uma delas, Paula Sayuri Nagamati, supervisora técnica da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, fez a acusação ao Ministério Público. E o que aconteceu: foi exonerada por Haddad e acusada pelo prefeito de fazer parte da máfia. A denúncia, que tinha como objetivo acusar a gestão de Serra na prefeitura acabou pegando em cheio a administração Kassab, um aliado petista, e alguns membros do próprio governo Haddad. Essa disputa paulista vai dar mesmo o que falar...
NOTICIÁRIO SOBRE CORRUPÇÃO NA GESTÃO KASSAB TROCA SERRA POR HADDAD
EDUARDO GUIMARÃES
É impressionante que José Serra, o grande responsável pela gestão de Gilberto Kassab, não foi citado pela imprensa paulista nem uma só vez
Na esteira do transbordamento das práticas do império tucano em São Paulo ao longo dos últimos quase vinte anos, no mês passado foi revelado amplo esquema de corrupção envolvendo a gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab. E, a cada dia, surgem mais denúncias, as quais já levam esse escândalo à casa das centenas de milhões de reais.
O esquema de corrupção de servidores da prefeitura da capital paulista teve início em 2006, ainda na gestão do então prefeito José Serra, e prosseguiu na gestão do então vice-prefeito, Gilberto Kassab, que, entre 2006 e 2008, substituiu o titular, que se candidatou ao governo do Estado e foi eleito. E entre 2008 e 2012, durante a segunda gestão Kassab, o esquema de corrupção perdurou.
Em janeiro de 2013, Fernando Haddad chega à prefeitura e, já nos primeiros dias, cria a Controladoria Geral do Município. Ao longo deste ano, o órgão recém-criado mostra a que veio e desvenda o esquema de corrupção que funcionou por seis anos sob os olhos dos prefeitos José Serra – tido como eminência parda na prefeitura paulistana mesmo quando foi governador do Estado – e Gilberto Kassab.
Logo após a explosão da denúncia, porém, surge um fato inusitado: durante as investigações conduzidas por ação expressa do governo Haddad, o atual secretário de governo da prefeitura, vereador Antonio Donato (PT), é citado em uma escuta contra os suspeitos. Ex-companheira do auditor fiscal Luís Alexandre Magalhães, apontado como um dos membros da quadrilha, afirmou que ele teria dado R$ 200 mil à campanha de Donato.
Até agora, apesar de não se ter confirmação dessa doação – que, mesmo que tivesse existido, não constituiria, por si só, prova alguma –, e apesar Donato ser um dos autores da investigação ao lado de Haddad, a mídia paulista vem superfaturando especulações malucas sobre a atual gestão – que investigou e denunciou o esquema corrupto – também estar envolvida.
Mais impressionante ainda é que José Serra, o grande responsável pela gestão Kassab, alguém que não apenas apadrinhou o ex-prefeito na política como fez dele seu vice-prefeito, e que, depois que deixou o cargo, monitorou e controlou cada passo do sucessor até a campanha eleitoral de 2012, não foi citado pela imprensa paulista nem uma só vez.
O tamanho do esquema de corrupção na administração Serra-Kassab na capital paulista vai sendo conhecido na imprensa dia após dia, mas pode-se dizer que a gestão Haddad, que desmascarou tal esquema, tem sido mais citada pelo noticiário do que os que governaram a cidade durante 100% do tempo em que a roubalheira foi praticada.
Na última segunda-feira, por exemplo, editorial do jornal Folha de São Paulo tenta confundir usando informações truncadas.
Abaixo, o trecho em que esse jornal tenta confundir o leitor:
—–
"(...) O episódio suscita questões embaraçosas para o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). Por que agiam com tamanha certeza de impunidade? Sobrava proteção a essas práticas ou faltava investigação por parte dos órgãos públicos? Tampouco está livre de questionamento o prefeito Fernando Haddad (PT). É que Ronilson Bezerra Rodrigues, apontado como chefe do esquema, foi nomeado diretor de finanças da SPTrans (empresa que gerencia o transporte municipal) na atual administração. Além disso, o nome de Antonio Donato, secretário de Governo do petista, já apareceu ligado a Magalhães em escuta autorizada pela Justiça (...)".
—–
Questionamento ao prefeito Fernando Haddad? Como assim? Então José Serra, responsável pela chegada de Kassab à prefeitura e eminência parda de seu governo entre 2006 e 2012, não é questionado de forma alguma e Haddad e seu secretário de governo, que desbarataram o esquema corrupto, "não estão livres de questionamento"?
Sobre a nomeação do ex-diretor de finanças Ronilson Bezerra Rodrigues pela gestão Haddad, a Folha só esqueceu de mencionar que esse servidor foi indicado por Kassab para a equipe de transição do governo anterior para o atual, e que Haddad já explicou que esse indivíduo foi mantido no cargo para que não desconfiasse das investigações de que estava sendo alvo.
Quanto à suposta doação do auditor fiscal Luís Alexandre Magalhães – um dos envolvidos no esquema de corrupção – à campanha eleitoral do secretário Antonio Donato, nem mesmo foi confirmada. E, mesmo se vier a ser, terá sido feita sem que o beneficiado tivesse como retribuir, até por então ser da oposição ao governo em que a corrupção funcionou.
Quer dizer que Haddad e Donato, que criaram o órgão que desbaratou o esquema de corrupção, que trabalharam o ano inteiro para que isso ocorresse e que poderiam, inclusive, nem ter criado o órgão ou investigado nada são acusados, mas Serra, que tem tanta responsabilidade na questão quanto Kassab, é escandalosamente poupado?
Há que repetir quanto for preciso: Haddad e Donato são os grandes responsáveis por a prefeitura de São Paulo ter denunciado o esquema que ela mesma abrigou entre 2006 e 2012. Poderiam não ter investigado, mas investigaram e denunciaram o que descobriram. É uma sandice, pois, insinuar que possam ter qualquer envolvimento no caso.
Aliás, sandice não: é má fé mesmo. Politicagem barata. Assim como o escandaloso acobertamento da responsabilidade de José Serra nisso tudo. Responsabilidade que, na opinião deste blog, é até maior do que a de Kassab. E que, sob qualquer critério minimamente sério, no mínimo existe e é muito grande.