REUTERS: DILMA GANHA COM BOM COMEÇO DE COPA
Agência internacional de notícias avalia que aumentaram as chances de reeleição com um início de Copa do Mundo que supera expectativas; "A organização da Copa do Mundo no Brasil está longe de ser perfeita, mas vem ocorrendo de forma muito mais tranquila do que muitos esperavam, aumentando as chances para a reeleição da presidente Dilma Rousseff em outubro", diz o texto; leia a reportagem do correspondente Brian Winter
17 DE JUNHO DE 2014 ÀS 20:51
Por Brian Winter
SÃO PAULO (Reuters) - A organização da Copa do Mundo no Brasil está longe de ser perfeita, mas vem ocorrendo de forma muito mais tranquila do que muitos esperavam, aumentando as chances para a reeleição da presidente Dilma Rousseff em outubro.
Os preparativos para o torneio foram abalados por atrasos e gastos excessivos em estádios, e por inúmeros projetos de infra-estrutura inacabados.
A indignação pública sobre essas questões somada a uma economia fraca alimentaram protestos nas ruas e azedaram o humor geral dos brasileiros nos últimos meses.
Esses problemas não desapareceram de forma mágica quando o Brasil abriu a Copa com uma vitória sobre a Croácia na última quinta-feira. No entanto, os receios de grandes colapsos logísticos em estádios e aeroportos superlotados até agora têm sido infundados.
Protestos contra o governo eclodiram em várias cidades e alguns se tornaram violentos, mas a maioria reuniu apenas algumas centenas de pessoas e as manifestações parecem estar encolhendo a cada dia.
Dilma amarrou seu destino à Copa do Mundo, defendendo a realização do evento no país como uma oportunidade de mostrar o recente progresso econômico do Brasil para o mundo.
Um desastre poderia prejudicar significativamente suas chances de reeleição em outubro, especialmente num momento em que seu principal adversário está chegando mais perto da presidente nas pesquisas de intenção de voto.
Há ainda muitas chances para falhas antes da final da Copa no Rio de Janeiro em 13 de julho, mas todos os 12 estádios já foram testados e aparentemente superaram as baixas expectativas de brasileiros e dos cerca de 600 mil torcedores estrangeiros que estão no país.
"Eu estava com medo de sermos humilhados por nós mesmos ... mas foi bem", disse João Veiga Moraes, vendedor de seguros em São Paulo, que vestia a camisa da seleção brasileira ao se dirigir ao trabalho na manhã desta terça-feira. "Todo mundo parece estar feliz."
Mesmo o que parecia à primeira vista como um revés humilhante para Dilma, quando ela foi repetidamente vaiada e xingada no jogo de abertura em São Paulo, parece estar trabalhando a seu favor.
O espetáculo de milhares de brasileiros entoando "Ei, Dilma vai tomar no c... " gerou uma reação generalizadada e, provavelmente, irá se tornar um tema recorrente na campanha de Dilma.
Em um país com uma das maiores distâncias do mundo entre ricos e pobres, líderes do PT têm retratado a multidão como membros de uma elite da cidade grande irritados com os programas de assistência social e outros avanços econômicos recentes feitas pelas classes mais baixas.
Em um evento de campanha na sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva presenteou-a com uma rosa branca e lamentou o "ato cretino".
"Esta campanha está correndo o risco de ser uma campanha violenta, em que a elite brasileira está conseguindo fazer o que nós nunca conseguimos, que é despertar o ódio entre as classes", disse Lula.
POSSÍVEL IMPACTO NAS URNAS
Dilma foi um pouco mais conciliadora, mas disse que não iria se intimidar e que as agressões verbais não eram nada em comparação com a tortura que ela sofreu durante o regime militar no início da década de 1970.
Alguns líderes de partidos da oposição dizem reservadamente que o alívio em relação à abertura da Copa e a simpatia gerada pelos xingamentos poderiam dar um impulso à Dilma nas próximas pesquisas eleitorais.
O candidato do PSDB, Aécio Neves, inicialmente justificou a reação da multidão, ao dizer que era "um sinal do que está acontecendo no Brasil". Mais tarde, ele fez uma declaração no Facebook dizendo que as manifestação "não deveriam ultrapassar os limites do respeito pessoal".
"O episódio estádio foi um presente" para Dilma, disse um funcionário PSDB, acrescentando que o ocorrido estava desviando a atenção da economia em desaceleração e inflação anualizada acima de 6 por cento.
Mas a realização do torneio apresenta algumas falhas. Os problemas vão desde as longas filas nos aeroportos e nas entradas dos estádios, roubos de fãs estrangeiros e até mesmo uma infestação de cupins no hotel da equipe uruguaia.
Mas, no conjunto, os problemas não parecem ser muito piores do que em outros grandes eventos esportivos recentes ao redor do mundo, disseram visitantes e jornalistas.
Até agora, tem sido um torneio particularmente emocionante com vários jogos memoráveis e muitos gols fazendo os fãs felizes.
Ainda assim, o Brasil ainda pode enfrentar repercussões negativas de seus preparativos precários para a Copa.
Muitos eleitores ainda estão irritados com os bilhões de reais gastos para sediar o torneio em um país onde os hospitais e as escolas são muitas vezes de má qualidade.
A atenção deve mudar após a Copa para os novos estádios milionários em lugares como Manaus e Cuiabá, onde o futebol atrai poucos milhares de torcedores.
Além disso, ao decretar feriados nas cidades em dias de jogo a fim de garantir um trânsito menos intenso e uma logística mais tranquila, o governo pode estar sufocando ainda mais uma economia que deverá crescer apenas 1 por cento neste ano.
O humor do público também pode piorar se a seleção brasileira não for capaz de atender às expectativas de conquistar o hexacampeonato, um recorde e a primeira vitória da Copa do Mundo em casa.
Isso pode explicar por que as autoridades brasileiras, que ganharam uma reputação de autocongratulação durante a ascensão do país ao longo da última década, estão tão caladas publicamente até agora.
Questionado no domingo se a Copa tem sido uma vitória para o governo, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, disse: "Acho que atendemos às expectativas."
"Tivemos alguns problemas pequenos, mas nada que possa constituir um grande problema", disse ele à Reuters. "Os torcedores estrangeiros têm sido bem-recebidos. Os aeroportos estão funcionando."
"Temos muitos jogos ainda para jogar."
XINGAMENTO MUDOU IMAGEM DE DILMA NAS REDES SOCIAIS
Segundo levantamento feito pelo PT, até a abertura da Copa, de uma média de 30 mil citações diárias à presidente, dois terços eram negativas, puxadas pela campanha #NãoVaiTerCopa; com a reação geral às ofensas da torcida e o sucesso das partidas, o jogo virou: 60% de menções positivas em um universo de 300 mil posts no Twitter, Facebook e Instagram
18 DE JUNHO DE 2014 ÀS 06:05
247 – As ofensas recebidas pela presidente Dilma Rousseff em rede mundial durante a abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão, surtiram um efeito positivo para a sua imagem.
Segundo levantamento realizado pelo PT e divulgado pela colunista Mônica Bergamo, de uma média de 30 mil citações diárias à presidente, dois terços eram negativas, puxadas pela campanha #NãoVaiTerCopa; com a reação geral às ofensas da torcida e o sucesso das partidas, o jogo virou: 60% de menções positivas em um universo de 300 mil posts no Twitter, Facebook e Instagram.
O partido avalia que a postura da presidente em abordar o caso e as reações de diversos setores da sociedade, da mídia e até do presidente do STF, Joaquim Barbosa, contribuíram para disseminar uma rede de apoio a Dilma.
O GOLEIRO MÁGICO, O PÊNALTI RECLAMADO, A TORCIDA APÁTICA E O EMOCIONAL DA SELEÇÃO
EDUARDO GUIMARÃES
A pressão que a mídia deverá continuar exercendo sobre a Seleção, preocupa ainda mais. Se a Comissão Técnica não conseguir trabalhar essa questão até o jogo com Camarões, a situação pode complicar
Ainda que dez entre dez analistas esportivos e/ou políticos neguem até a morte, grande parte deles entende que o desempenho da Seleção pode influir no processo eleitoral. O mesmo vale para todos os agentes políticos, de qualquer dos lados. Se essa percepção é correta, ainda ninguém sabe. Mas muitos temem que possa ter fundamento.
O desempenho da Seleção influir nas eleições, porém, não interessa a ninguém – ao governo ou à oposição midiática. Essa possibilidade retira dos dois lados a condição de influir no processo, o que é ruim para ambos, pois o imponderável não obedece a lógicas político-ideológicas, a estratégias de marketing etc.
O mínimo que os políticos querem é poder, ao menos, depender das próprias estratégias.
Do ponto de vista de Dilma, por exemplo, ela está colhendo frutos da Copa independentemente do que a Seleção está apresentando em campo. As obras (estádios, aeroportos, obras de mobilidade etc.) estão funcionando. Só não vê quem não quer. Assim, a conquista do hexacampeonato pelo Brasil se somaria à satisfação de ver o país fazer boa figura diante do mundo em termos de organização do evento.
Do lado de Aécio Neves e Eduardo Campos, uma derrota do Brasil empanaria o sucesso da organização da Copa, reduzindo o bônus político da adversária.
Este texto, porém, de forma inusitada neste blog – que, raríssimas vezes, tratou de futebol – não versa apenas sobre política, mas sobre o que ocorreu no jogo com o México. E não é preciso ser muito entendido em futebol para entender o que ocorreu.
As análises da mídia partidarizada estão muito negativas, denotando má vontade com a Seleção. Por razões óbvias.
A má vontade midiática com a Seleção em 2014, aliás, começa a reproduzir a que lhe foi dispensada na Copa de 2010, até pelo técnico Dunga ter se tornado inimigo número um da Globo, ao menos naquele momento.
O Brasil, porém, não foi tão mal. O México é que foi muito bem. E não tanto pelo conjunto da equipe, mas por um goleiro que teve desempenho incomum. O mexicano Guillermo Ochoa operou o que os otimistas chamaram de “milagres”. Sem essa atuação, o México não teria ido mais longe do que a Croácia.
Até porque, os mexicanos levaram pouco perigo ao Brasil. Sim, deram alguns bons chutes a gol, mas nenhuma jogada ofensiva deles se comparou com as nossas em termos de possibilidade de terminar em gol. O ataque mexicano foi tão débil que o goleiro Julio Cesar bateu o primeiro tiro de meta aos 24 minutos do primeiro tempo.
Há, ainda, uma dúvida razoável sobre o pênalti reclamado pelo lateral brasileiro Marcelo, que garante que, sem o toque no ombro que sofreu do defensor mexicano, teria partido para o gol. Poderia não ter marcado, mas toque no ombro por trás, dentro da pequena área, de acordo com as diretrizes da Fifa deveria resultar em marcação de pênalti.
Felipão tem razões concretas, portanto, para julgar que a gritaria – justificada ou não – em torno do pênalti marcado a favor do Brasil no jogo contra a Croácia pode ter inibido o juiz que apitou o jogo contra o México… E poderá inibir outros.
Há, ainda, um terceiro fator. A vantagem que o Brasil deveria ter tido por jogar em casa foi anulada pela torcida mexicana, mas menos por mérito desta – muito menor do que a brasileira – do que por culpa da torcida brasileira, visivelmente apática – em alguns momentos, a cantoria, as vaias e apoios da torcida mexicana abafaram a voz brasileira.
Mas, claro, nem tudo são flores. A Seleção poderia ter superado essas dificuldades se, assim como no jogo contra a Croácia, seu nervosismo não fosse tão flagrante que quase podia ser tocado com as mãos. A imagem dos jogadores brasileiros antes de o jogo começar revelou semblantes preocupantemente tensos. De novo.
Subjetivamente, aqui se afirma que Julio Cesar era o mais nervoso, apesar de que vários outros jogadores brasileiros estavam em condições psicológicas análogas. Se tivéssemos tido maior controle emocional, provavelmente teríamos superado a parede erguida por Ochoa e escorada, em alguma medida, pela defesa mexicana, bem mais consistente que o ataque.
Esse talvez seja o ponto mais preocupante da Seleção. Esperava-se que o nervosismo do jogo de estreia tivesse se exaurido naquele jogo, no qual seria até compreensível. Ao permanecer no segundo jogo, pela lógica se pode concluir que Felipão e a Comissão técnica não estão conseguindo preparar psicologicamente uma equipe jovem, mais permeável à insegurança.
A pressão que a mídia deverá continuar exercendo sobre a Seleção, preocupa ainda mais. Se a Comissão Técnica não conseguir trabalhar essa questão até o jogo com Camarões, a situação pode complicar. O Brasil não conseguiu aproveitar seu melhor nível técnico simplesmente porque os meninos tremeram na base.
Por fim, sobre a suposta influência político-eleitoral do resultado que a Seleção obtiver, não é desprezível. Os que têm inclinações políticas definidas não serão influenciados, mas, entre aquele terço volúvel do eleitorado, o bom ou mau humor gerado pelo resultado que a Seleção obtiver pode, sim, fazer diferença em uma eleição apertada.