247 – Acabam de ser disparados os primeiros tiros na guerra de números em que as eleições brasileiras costumam estar envolvidas. A cada pleito, em razão de um longo histórico de diferenças entre o que os institutos apuram e o resultado efetivo encontrado nas urnas eletrônicas, os métodos das maiores empresas de pesquisas sempre despertam desconfianças em várias frentes.
Agora, as suspeitas de manipulação começaram quando ainda falta um ano para a eleição.
"O Ibope, que tem contratos com o governo federal, apresenta os menores números para o nosso candidato Aécio Neves na comparação com os outros institutos", assinala o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). "Por que será?", pergunta ele, com ironia, insinuando que pode existir interesse do instituto dirigido pelo conhecido Carlos Augusto Montenegro em deprimir as intenções voto do presidenciável tucano. "O que existe aí é um visível conflito de interesses", sublinha o senador.
O fato que apóia as suspeitas do senador tucano é nítido a olho nu. Enquanto no Datafolha divulgado em 12 de outubro Aécio apareceu com 21% de intenções e, no dia 15, o pré-candidato tucano surgiu com 20% na pesquisa Vox Populi, seu índíce caiu para 14% no levantamento do Ibope revelado em 24 de outubro. Lembram os tucanos que não há justificativa política para a queda de sete pontos percentuais de Aécio entre os 12 dias que separaram as pesquisas Datafolha e Ibope.
LIGAÇÕES PERIGOSAS - Em razão das ligações do instituto presidido por Montenegro com o governo, o comando do PSDB estava em estado de alerta frente ao levantamento do Ibope. Temia-se que, na forma de pegadinha, questionamentos sobre os principais apoiadores de cada um dos principais pré-candidatos fortalecesem a presidente Dilma Rousseff, apoiada pelo ex-presidente Lula, e o governador Eduard Campos, aliado da ex-ministra Marina Silva, e pesasse contra o senador mineiro, aparado pelo ex-presidente Fernando Henrique que, neste momento, está mais distante da cena política do dia a dia.
Os tucanos também coçam a cabeça pelo fato de o instituto Datafolha ter ido a campo no dia 11 de outubro fazer sua última pesquisa, um dia após o programa político do PSB ir ao ar. Talvez pelo recall do que foi mostrado na TV, o fato é que Campos apareceu no levantamento de dois dias depois com seu melhor número até aqui: 15%.
Para o PT, o maior problema também aparece no Datafolha. "Os números para Eduardo e Marina são tão diferentes, para cima, dos encontrados pelos outros institutos que, ao que parece, a pesquisa deles foi feita em outro país", ironiza um dos conselheiros mais próximos da presidente Dilma. A reclamação igualmente tem amparo nos números díspares encontrados pelos institutos. Enquanto a ex-senador Marina Silva gira entre 21% e 23% de intenções nas pequisas Ibope e Vox Populi, respectivamente, no Datafolha suas preferências disparam para 29%.
Até aqui, as reclamações são apenas verbais. Mas já está claro, com elas, que os grandes institutos serão marcados de perto pelos partidos políticos. Escaldados por erros grosseiros desses mesmos institutos nas últimas eleições, ninguém que participa da disputa da 2014 quer, mais uma vez, cair calado no conto do 'já ganhou' ou 'já perdeu' que os levantamentos prévios se acostumaram a apresentar à sociedade. A tendência,por isso, é que a guerra de números – e contra os números – só faça recrudescer a cada pesquisa divulgada.