.

Nosso objetivo não é engrandecer um homem, o Presidente Lula, mas homenagear, como brasileiro que ama esta terra e esta gente, o que este homem tem provado, em pouco tempo, depois de tanto preconceito e perseguição ideológica, do que somos capazes diante de nós mesmos, e do mundo, e que não sabíamos, e não vivíamos isto, por incompetência ou fraude de tudo e todos que nos governaram até aqui. Não engrandecemos um homem, mas o que ele pagou e tem pago, para provar do que somos.

.

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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Eleições de 1989 - Wladimir Pomar (3)

.(Clik no item buscado, quando vermelho use o Ctrl+F para encontrar na página)

Justificando

a aventura de contar

Um frio na espinha

1. Um sonho irreal

2. O susto dos raivosos

3. O susto dos nossos

4. Vontade e realidade

Descrenças e fatos

1. Uma longa história

2. Desmentidos pelos fatos

3. Esmagando as esperanças

4. Falência de um projeto

5. As estrelas contestadoras

Estratégia para ganhar

1. Momento favorável

2. O PT faz alianças, quem diria?

3. Um programa das maiorias

O Império não perdoa

1. Interesses divididos

2. O fim da trégua

3. Collor: uma estratégia de combate

4. No fundo do poço

.

.

.

Índice

Virando o jogo

1. Final de novela

2. Contra-ofensiva massiva

3. Vitória

4. Mídia, uma nave do Império

Armas desiguais

1. Compensando as fraquezas

2. Um episódio de audácia

3. Atrasados para a nova rodada

O Brasil já não é o mesmo

1. O Império joga sujo

2. As reservas estratégicas

3. Nem todos despertaram

4. Mitos derrubados

5. O choro do sonho desfeito

6. Um doce sabor de vitória

Créditos

Anexo

Sobre o autor

.

Créditos

158

QUASE LÁ

sar meio a tapa num campo de suma importância

para o PT.

Finalmente, seria necessário escrever outro livro

para contar a odisséia que foi suprir a campanha

dos recursos financeiros e manter sob controle seu

fluxo para as despesas mais importantes. É certo que

campanhas como as coletas em porta de fábricas, a

venda de material promocional, as contribuições na

conta 13.000-1 e outras iniciativas foram fundamentais

no processo de arrecadação. Mas a campanha

era um sorvedouro sem fim e de nada adiantariam

os recursos obtidos se não houvesse uma administração

competente deles. Paulo Okamoto, o coordenador

das finanças, que o diga.

159

QUASE LÁ

Avaliação da Campanha

Eleitoral Presidencial

Esta avaliação é produto de discussões em duas

reuniões da Comissão Executiva Nacional e na reunião

do Diretório Nacional de 27 e 28 de janeiro de

1990. Ela incorpora as avaliações feitas pela Coordenação

Nacional da Campanha e pelos estados a

partir do texto inicial elaborado com base na experiência

da CEN, do Comitê e do próprio companheiro

Lula.

Introdução

Toda a avaliação das eleições de 1989 faltaria com

a verdade caso desconhecesse a significativa vitória

política do Partido dos Trabalhadores e da Frente

Brasil Popular com os resultados do 1º turno. Mais

do que uma vitória eleitoral, ela criou condições para

a disputa no 2o turno e a unificação de todo o campo

democrático-popular e progressista em torno da

candidatura Lula.

Estas eleições foram marcadas por nossa participação

militante e politizada e principalmente pela

mobilização popular. Foi destacado o papel e a participação

dos movimentos sociais, sindical, popular,

Anexo

160

QUASE LÁ

agrário, estudantil; das mulheres, negros, índios; das

pessoas deficientes.

Não se via no país, desde a luta contra a ditadura,

uma participação tão aberta na luta política, como

foi a dos intelectuais e artistas, particularmente no

2o turno, em apoio a Lula. Também a Igreja progressista

participou e apoiou abertamente desde o primeiro

momento a candidatura Lula.

Pelo caráter da disputa e pela linha política de

nossa campanha, a sucessão presidencial ganhou as

ruas, envolvendo no debate político grandes parcelas

da sociedade, em particular os setores organizados,

urbanos, apesar do sentido desmobilizador e

despolitizante da candidatura Collor.

Desde a campanha das diretas, em 1984, o país

não via mobilizações populares e comícios como os

realizados pela FBP e depois pelo Movimento Lula

Presidente. Podemos afirmar, apesar de não termos

eleito Lula presidente, que mudamos o quadro político

do Brasil e colocamos a luta político-social em

outro patamar, mais avançado, mais definido ideologicamente.

Apesar de seus erros e debilidades políticas e orgânicas,

em menos de dez anos de existência nosso

partido deu uma demonstração de que está preparado

para disputar o governo do Brasil. Tem programa,

política de alianças, uma ampla base social e,

principalmente, uma militância que sempre superou

os erros da direção e as debilidades materiais e

organizativas do partido.

Foi esta militância e particularmente o companheiro

Lula que no 2o turno desempenharam o pa161

QUASE LÁ

pel principal para unificar o campo democrático,

popular e progressista, ainda quando as direções dos

partidos progressistas e de esquerda discutiam.

Destaque especial tem que ser dado à participação

do companheiro Lula nestas eleições, credenciando-

se como a maior liderança política e popular

do Brasil e principalmente como dirigente político.

Em todos os momentos da campanha o companheiro

Lula participou e atuou como dirigente partidário,

sempre articulado com a direção nacional e o

Comitê da Campanha.

Para a esquerda brasileira e os movimentos sociais

o saldo destas eleições é surpreendente. Abrese,

pela primeira vez na história do Brasil, a possibilidade

real de disputar o poder, construindo uma

política de Frente e um programa comum.

Para nosso partido, depois de dez anos de construção

e apesar de todos os ataques e campanhas que

sofreu, apresenta-se o desafio de ser o dirigente deste

processo político e ser capaz de criar uma alternativa

ao projeto das classes dominantes brasileiras que

afundaram o país na transição conservadora da Nova

República e agora o lançam na aventura Collor de

Mello. Este desafio só será vencido com um projeto

democrático de socialismo, uma organização partidária

superior e um maior nível de politização, mobilização

e organização da classe trabalhadora.

Por tudo isto o sentido desta avaliação tem que

ser positivo e visar as disputas políticas de 1990:

oposição ao governo Collor, construção partidária,

mobilizações sociais, disputa eleitoral para o Congresso

Nacional, governos estaduais e assembléias

162

QUASE LÁ

legislativas e embates das administrações municipais

petistas.

É com este sentimento que chamamos toda a

militância a fazer uma avaliação das eleições de 89,

rigorosa mas positiva, crítica mas generosa, objetiva

mas alegre. Que as lições de 89 sirvam para as

vitórias de 90.

Causas gerais ou estruturais

Entre as causas gerais ou estruturais que contribuíram

para a vitória de Collor, não podemos deixar

de chamar a atenção para o caráter da candidatura

Collor, planejada desde o seu início para projetar-se

com a imagem de caçador de marajás, antipolítico e

firme opositor a Sarney, com o objetivo de esconder

sua verdadeira natureza: garantir a continuidade do

controle do governo central pelas oligarquias e grupos

econômicos que comandaram a transição conservadora.

A imagem de caçador de marajás, inimigo da corrupção,

dos usineiros e de Sarney, foi decisiva para a

vitória de Collor, principalmente por que visava o eleitorado

que o elegeria. Este eleitorado de baixa renda,

desorganizado, muitas vezes desempregado ou

semi-empregado, morador das periferias dos grandes

centros urbanos e do interior, que as pesquisas classificam

como C, D e E e que muitas vezes chamamos

de “povão”, na verdade é um grande desafio estratégico

para nosso partido e para toda a esquerda.

A Collor foi possível atingir este eleitorado graças

a uma organização e a um planejamento profis163

QUASE LÁ

sionais de campanha eleitoral, incluindo mais de 100

pesquisas de opinião. Sua estratégia básica, visando

atingir esse eleitorado C, D e E e as cidades pequenas

jamais foi abandonada em qualquer dos turnos

da campanha. Basta analisar sua agenda, comícios,

discursos e programas de rádio e TV. Collor não tinha

hegemonia sobre os partidos e articulações políticas,

mas possuía a hegemonia fundamental sobre

os valores comuns da ampla massa. É evidente

que esta estratégia só deu certo porque Collor contou

com o apoio decisivo e estratégico da Rede Globo

e de setores importantes do grande empresariado.

No 2o turno, quase toda a mídia do país, particularmente

as centenas de rádios e jornais do interior,

deram suporte a Collor, permitindo-lhe combinar a

sua imagem primeiro com o discurso conservador

e, depois, anticomunista.

Esse apoio decisivo do poder econômico e dos

meios de comunicação permitiu a Collor concentrar

sua ação na consolidação do eleitorado popular,

desdenhando publicamente o apoio dos empresários,

dos militares e de políticos comprometidos com

o governo Sarney, partindo do princípio, correto, de

que teria o apoio das classes dominantes e da classe

média conservadora no 2o turno, por imposição do

enfrentamento contra um candidato de esquerda.

Para preservar o eleitorado das classes C, D e E e do

interior. Collor combinava a adesão conservadora da

classe média com o voto do povão, explorando os

preconceitos de classe contra Lula e os medos da

classe média. Na base do anticomunismo, da exploração

da religiosidade e de sentimentos nacionais

164

QUASE LÁ

inconscientes – a imagem da bandeira nacional –

somava a maioria do eleitorado conservador do país

e criava as condições para unificar em torno de si,

no 2o turno, a direita e todos os setores sociais temerosos

da esquerda.

Quanto ao PT e à esquerda, suas deficiências estruturais

ficaram evidenciadas na falta de um nível

mais elevado de organização, no pequeno enraizamento

nos setores populares mais pobres da classe

trabalhadora e nas cidades pequenas do interior, na

insuficiência de nossa rede de jornais e boletins, simplesmente

ridícula frente ao poderio dos meios de

comunicação à disposição das elites dominantes. A

ausência de um jornal nacional foi desastrosa para

nosso partido, A própria estrutura de direção de

nosso partido é artesanal e amadora, o que se revelou

fatal na disputa do 2o turno, quando a tensão e a

rapidez dos ataques do adversário não encontraram

na estrutura da direção do partido e da campanha

meios materiais e condições de trabalho que otimizassem

nossa capacidade de resposta rápida e correta,

independentemente dos erros políticos que cometemos.

Causas particulares ou conjunturais

Apesar da vitória que significou para nosso partido

obter quase 17% dos votos em nível nacional no

1o turno, na coligação Frente Brasil Popular com o

PSB e com o PCdoB, estava evidente que não havíamos

nos preparado para a possibilidade real de passar

para o 2o turno. Já no primeiro turno havíamos

165

QUASE LÁ

enfrentado graves problemas com a demora na entrada

das direções e da estrutura do partido na campanha

eleitoral, revelando que a própria experiência

de Comitês de Campanha à parte da direção partidária

precisa ser reavaliada.

No segundo turno não fomos capazes de definir

uma estratégia para a agenda e mesmo para a TV e o

rádio com rapidez e precisão. A direção política do

partido envolveu-se na articulação das alianças com

o PDT, PCB, PSDB e setores progressistas do PMDB,

assim como dos setores sociais que haviam apoiado

outras candidaturas no 1o turno, demorando em

encontrar uma linha de programação para a TV e

particularmente para a agenda do companheiro Lula,

se bem que as indefinições do PSDB e as dificuldades

com o PDT também tenham sido responsáveis

por estas falhas.

Nossa estrutura de direção mostrou-se débil e

amadora nas respostas às necessidades do 2o turno.

Demoramos a avaliar o perfil do voto no 1o turno e

os objetivos político-eleitorais – de voto – no 2o turno,

o que explica em parte os vaivéns da agenda e

nosso erro ao sobrecarregar a agenda do Lula às vésperas

do debate final.

Nossa política em relação ao rádio e à TV avançou

consideravelmente em comparação com as eleições

de 82,85, 86 e 88, inclusive porque nos beneficiamos

das experiências e avanços dos anos anteriores.

Mesmo assim falhamos ao não dar ao rádio a importância

devida, particularmente para atingir o eleitorado

de baixa renda e as cidades do interior – e isto

foi grave.

166

QUASE LÁ

No caso da TV, apesar da disposição e integração

da equipe de TV com as direções políticas do PT e

da FBP, faltou muitas vezes o acompanhamento político

por parte dessas direções.

Por outra parte, se é verdade que, comparativamente

ao PDT e PSDB, passamos para o 2o turno

por nossa estrutura partidária nacional, militante e

articulada com os movimentos sociais mais organizados,

entre outras causas, também é verdade que as

falhas existentes nessa estrutura partidária pesaram

como fator conjuntural. Representaram insuficiências

graves no curso da campanha, em particular, nossa

ausência nas cidades pequenas e no eleitorado de

baixa renda e a falta de um jornal nacional.

Foram igualmente importantes e precisam ser

destacadas as falhas da direção nacional do partido

e da campanha no final do 2o turno, particularmente

nossa incapacidade em responder aos vários ataques

do adversário. A direção dispersou-se em tarefas

específicas, falhando na estruturação de um comando

central ou na organização da direção de tal

forma que ela fosse capaz de fazer a avaliação estratégica

da campanha e do adversário sem cair no

ativismo e no tarefismo que caracterizaram o final

da campanha. Estes erros prejudicaram consideravelmente

a preparação dos programas de TV, da linha

política da campanha e do debate final.

Avaliamos mal a estratégica do adversário, depois

de sua derrota no debate de 4 de dezembro. Iniciamos

a última fase da campanha supondo que Collor

e sua equipe estavam em crise e perdidos quando na

verdade eles superaram a crise com uma linha de

ataque que subestimamos durante todo o 2o turno.

167

QUASE LÁ

Subestimamos o papel do anticomunismo, da exploração

do sentimento religioso de nosso povo, de

seu sentimento nacional expresso em nossa bandeira

e principalmente a exploração caluniosa que Collor

fez de nosso programa econômico, propagando

por todo o país que expropriaríamos a propriedade

individual dos cidadãos e sua poupança e estatizaríamos

toda a economia.

Falhamos ao não responder de forma mais global

e articulada a esses ataques do adversário, seja nos

programas de TV, seja na linha da propaganda, do

discurso da campanha e particularmente no último

debate.

Mais grave foi nossa incapacidade de capitalizar e

explorar ao máximo aquilo que para o PT é uma confirmação

de nossas avaliações sobre o socialismo e

os regimes da Europa Oriental e mesmo da URSS.

Nosso partido nasceu sob o signo do socialismo democrático

e do repúdio ao stalinismo e ao socialismo

burocrático. Apoiou o Solidariedade na Polônia

e não tem compromissos com a ortodoxia ou com

os modelos de partido único, imprensa oficial e burocratização

do poder com a fusão do partido com o

Estado. Sempre defendemos as liberdades e os direitos

políticos e civis e foi por isso mesmo que nos

opusemos firmemente à repressão dos novos mandarins

de Pequim.

As mudanças na Europa Oriental e na URSS deveriam

ter sido expostas na campanha e especialmente

na TV como uma verdadeira revolução popular,

com todo o apoio do PT e da FBP. Nossas definições

ideológicas, a subestimação do anticomunismo e,

168

QUASE LÁ

em certo sentido, nossa aliança com o PCdoB nos

levaram à defensiva. Não nos apresentamos com nitidez

para a classe trabalhadora com relação a que

tipo de socialismo defendemos para o Brasil.

Outra questão que precisa ser analisada em âmbito

nacional com mais atenção e espaço é a das

alianças no 2o turno. É evidente que ela foi, de maneira

geral, correta. Entretanto, erramos ao deixar

que fosse apresentada pela imprensa e por nosso

adversário como uma aliança que nos levava a abandonar

o programa de governo da FBP e nos levava a

abandonar o programa de governo da FBP e nossas

diferenças com os adversários do 1o turno, depois

aliados.

A linha de ataque que Brizola desenvolveu no 1o

turno contra a candidatura Lula acabou por dar argumentos

e credibilidade aos ataques de Collor a

nossa aliança com o PDT no 2o turno. O próprio comportamento

de Brizola com relação ao nosso vice,

senador Bisol, criou condições para um ataque frontal

de nosso adversário, que atingiu seu ponto alto

no último debate.

Ao lado de tudo isso, se é verdade que Brizola,

Arraes e Roberto Freire nos apoiaram no 2o turno

sem exigências ou condições, também é verdade que

a posição do PSDB foi dúbia – particularmente em

São Paulo sua direção não entrou na campanha –,

ficando a reboque das bases do PSDB em todo país e

mesmo de suas bancadas e lideranças intermediárias.

O atenuante para esta posição é o caráter antipetista

conservador e anticomunista de parte do eleitorado

do PSDB, amedrontado com o terrorismo

169

QUASE LÁ

barato promovido por Collor e pela mídia de São

Paulo, em especial os jornais da família Mesquita e o

programa Ferreira Neto.

É preciso também avaliar o peso das alianças regionais

e locais no 2o turno, já que nem sempre soubemos

articulá-las de acordo com nossos objetivos

eleitorais e políticos nacionais.

Por fim, devemos sempre destacar e denunciar o

papel relevante do apoio que Collor recebeu da direita

conservadora, da Rede Globo e do poder econômico

na última semana. Foi este apoio que possibilitou

sua campanha difamatória contra Lula e o

uso da edição do debate pelo Jornal Nacional para

reforçar uma imagem negativa do candidato do PT e

da FBP. A exploração do episódio Miriam Cordeiro,

do seqüestro do empresário Abílio Diniz e o apoio

obtido por Collor da maioria dos meios de comunicação

foi decisivo para reverter a tendência do eleitorado,

particularmente dos indecisos e da classe

média.

O debate final merece uma avaliação à parte e particular,

mas fica registrado que erramos na estratégia

de abordagem do adversário e a linha do debate,

além de sobrecarregarmos a agenda do companheiro

Lula nas 48 horas que antecederam o evento.

Para concluir, é preciso avaliar o papel das prefeituras

na sucessão presidencial, sem desconsiderar o

cerco, boicote e ataque da maioria da imprensa e

das forças políticas às nossas administrações. De

maneira geral, não há evidência de que as administrações

municipais petistas tenham pesado de maneira

determinante no voto do 1o turno ou que o

170

QUASE LÁ

eleitorado tenha votado no 2o turno em função de

sua atitude frente a essa administração. Com exceção

da cidade de São Paulo, onde se concentrou todo

o ataque contra as administrações petistas, não parece

que estas foram um fator importante na decisão

do eleitorado, o que não exclui a análise do papel

que poderiam ter tido no crescimento da candidatura

Lula no 1o turno e mesmo na disputa do eleitorado

de baixa renda das capitais e grandes cidades

que governamos, particularmente no estado de São

Paulo.

O importante é não misturarmos a avaliação necessária

das administrações petistas e o balanço

político em nível municipal com a discussão e avaliação

da campanha eleitoral e cairmos no simplismo

de atribuir o resultado eleitoral à questão municipal.

Isto não pode, entretanto, fazer com que deixemos

de considerar o nosso desempenho eleitoral nas

cidades onde dirigimos as prefeituras. É preciso levar

em conta que a votação de Lula, tanto no 1o quanto

no 2o turno, não foi boa nessas cidades, com as

exceções conhecidas.

Esse fato deve nos levar a tentar analisar, nessas

cidades, os fatores particulares – desempenho das

prefeituras, organização e funcionamento do PT e

atuação local do movimento sindical e popular – que

influíram negativamente nos resultados eleitorais.

Em alguns locais é inegável que o desempenho real

ou propagandeado da prefeitura teve efeitos negativos.

Mas também é inegável que em outros o PT perdeu

força em áreas e zonas específicas, comparativamente

aos resultados de outras eleições, o que

171

QUASE LÁ

indica erros e deficiências de construção partidária,

organização e atuação política do partido.

Conclusão

Sem desconsiderar os erros políticos que cometemos

e a derrota no campo eleitoral, é necessário

que nossa avaliação qualifique nossa participação na

disputa presidencial como importante vitória política.

A partir de agora nossa referência histórica passa

a ser os 16% obtidos no 1o turno e nossa capacidade

de reunificar o campo da esquerda, democrático

e progressista, na luta contra a direita.

O que se coloca para o PT é dar-se conta do significado

dessa capacidade, vencendo os novos desafios

que estão postos diante de si.

Diretório Nacional

27 e 28 de janeiro de 1990

173

QUASE LÁ WLADIMIR POMAR nasceu em Belém do Pará, a

14

de julho de 1936, filho de Pedro Pomar e Catarina Torres.

Desde os cinco anos, conheceu a vida da clandestinidade,

pela perseguição que a polícia do Estado Novo

de Vargas movia às atividades do Partido Comunista

do Brasil (PCB), do qual seu pai era membro.

Começou a trabalhar aos doze anos, como aprendiz

de linotipista, ao mesmo tempo que fazia o ginásio.

Depois trabalhou como repórter e redator nos jornais

Tribuna Popular e Classe Operária. Foi colaborador do

jornal Movimento, diretor do Correio Agropecuário,

além de repórter e diretor editorial de Brasil Extra.

Adquiriu formação técnica e trabalhou como técnico

de planejamento e manutenção de máquinas pesadas

da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em

Volta Redonda (RJ) e Conselheiro Lafaiete (MG). Foi

engenheiro de serviços da General Eletric, no setor

de locomotivas, tendo trabalhado junto às estradas de

ferro Leopoldina (RJ) e Leste-Brasileira (BA). Também

trabalhou como engenheiro de manutenção da

Cerâmica do Cariri.

SOBRE O AUTOR

174

QUASE LÁ

Militante político desde 1949, quando ingressou no

PCB, Wladimir Pomar atuou inicialmente no movimento

estudantil secundarista. Em 1951, estudou ajustagem

mecânica no Senai, trabalhou na Arno e participou

no movimento sindical metalúrgico.

Em 1962, fez parte do movimento que deu origem

ao PCdoB. Em 1964, foi preso na Bahia, por ação de

resistência ao golpe militar. Solto no final deste ano,

devido a habeas corpus, foi julgado e condenado à revelia.

Depois de 1964, colaborou com a imprensa partidária

e desenvolveu suas atividades políticas principalmente

no interior de Goiás e do Ceará, aqui entre os

sindicatos de trabalhadores rurais.

Viveu na clandestinamente até 1976, quando foi

preso novamente. Desta vez, durante uma ação militar

que assassinou três dirigentes do PCdoB, no bairro

da Lapa (SP), um dos quais seu pai.

Foi libertado pouco antes da Anistia, em 1979. Neste

mesmo ano, desligou-se da direção do PCdoB e ingressou

no Partido dos Trabalhadores.

Entre 1984 e 1990, integrou a executiva nacional

do PT, onde foi responsável pela secretaria nacional de

formação política, atividade que acumulou com a coordenação

do Instituto Cajamar. Em 1986, participou

da coordenação da campanha de Lula a deputado federal

constituinte. Durante as eleições presidenciais

de 1989, foi coordenador-geral da campanha Lula.

Wladimir Pomar é autor de diversos estudos e livros

sobre a China, entre os quais O enigma chinês: capitalismo

ou socialismo (Alfa-ômega); China, o dragão do

século XXI (Ática); A revolução chinesa (Unesp); Chi175

QUASE LÁ

na: desfazendo mitos (Editora Página 13 & Editora

Publisher).

É autor, também, de uma trilogia sobre a teoria e a

prática das tentativas de construção do socialismo, ao

longo do século 20: Rasgando a cortina (Brasil Urgente),

Miragem do mercado (Brasil urgente) e A ilusão

dos inocentes (Scritta).

Outra vertente de suas obras aborda a história do

Brasil e da esquerda brasileira. É o caso de Araguaia,

o partido e a guerrilha (Brasil Debates) e de Pedro

Pomar: uma vida em vermelho (Xamã); Quase lá, Lula

e o susto das elites (Brasil Urgente) e Um mundo a

ganhar (Viramundo); O Brasil em 1990 e Era Vargas:

a modernização conservadora (Ática).

Nos últimos trinta anos, publicou e deu entrevistas

para diversos jornais e revistas, colaborando regularmente

com o Correio da Cidadania e com a revista

Teoria e Debate.

Grande parte de seus textos ainda não foi organizado

para consultas, nem publicado em formato de livro.

É o caso do romance inédito O nome da vida. No prelo,

uma coletânea de seus textos políticos. Nos planos

de médio prazo, um estudo sobre a dialética marxista.

Casado com Rachel, é pai de três filhos, avô de 11

netos e 2 bisnetos.

176

QUASE LÁ

Livros de Wladimir Pomar

Araguaia, o partido e a guerrilha. São Paulo: Brasil

Debates, 1980.

O enigma chinês: capitalismo ou socialismo. São Paulo:

Alfa-ômega, 1987.

Quase lá, Lula o susto das elites. São Paulo: Brasil

Urgente, 1990.

Rasgando a cortina. São Paulo: Brasil Urgente, 1991.

A miragem do mercado. São Paulo: Brasil Urgente,

1991.

A ilusão dos inocentes. São Paulo: Scritta, 1994.

O Brasil em 1990. São Paulo: Editora Ática, 1996.

China, o dragão do século XXI. São Paulo: Editora

Ática, 1996.

Um mundo a ganhar: revolução democrática e socialista.

São Paulo: Viramundo, 2002.

Pedro Pomar: uma vida em vermelho. São Paulo: Xamã,

2003.

Era Vargas: a modernização conservadora. São Paulo:

Editora Ática, 2004.

A revolução chinesa. São Paulo: Unesp, 2004.

Pedro Pomar: um comunista militante. São Paulo: Expressão

Popular, 2007.

China: desfazendo mitos. São Paulo: Editora Página

13, 2009.

Neste livro, Wladimir Pomar é o narrador de um momento único

da história política brasileira, em que pela primeira vez os de baixo,

liderados por Lula, ameaçaram a hegemonia das elites representadas

por Collor na segunda e definitiva rodada eleitoral.

Quase lá é uma análise política e ideológica da campanha eleitoral

de 1989, uma reflexão de classe, elaborada pelo coordenador

nacional da campanha Lula Presidente. Na condição de quem viveu

cada minuto da batalha de uma posição estrategicamente privilegiada,

Wladimir Pomar narra o ziguezague, erros e acertos das

forças envolvidas na disputa, tornando públicos aspectos e fatos

que escaparam ou não chegaram ao conhecimento da imensa maioria

dos eleitores e mesmo da militância petista.

O autor demonstra que o Império – o domínio dos muito ricos,

das elites que tudo podiam – sofreu um abalo e viveu instantes de

pânico diante de uma virtual vitória de Lula. Demonstra, também,

que apesar da vitória de Collor este país mudou e passou por um

processo de politização sem precedentes. A esquerda, liderada pelo

PT e unida como nunca esteve, encostou o Império na parede.

As duas primeiras edições de Quase Lá foram publicadas em 1990.

Esta terceira edição, comemorativa aos vinte anos da campanha

de 1989, contribui para preparar o Partido dos Trabalhadores

e demais forças da esquerda partidária e social para as eleições

presidenciais de 2010, momento igualmente decisivo na história

brasileira.