.(Clik no item buscado, quando vermelho use o Ctrl+F para encontrar na página)
2. O PT faz alianças, quem diria?
3. Collor: uma estratégia de combate
.
.
.
Índice
.
Créditos
158
QUASE LÁ
sar meio a tapa num campo de suma importância
para o PT.
Finalmente, seria necessário escrever outro livro
para contar a odisséia que foi suprir a campanha
dos recursos financeiros e manter sob controle seu
fluxo para as despesas mais importantes. É certo que
campanhas como as coletas em porta de fábricas, a
venda de material promocional, as contribuições na
conta 13.000-1 e outras iniciativas foram fundamentais
no processo de arrecadação. Mas a campanha
era um sorvedouro sem fim e de nada adiantariam
os recursos obtidos se não houvesse uma administração
competente deles. Paulo Okamoto, o coordenador
das finanças, que o diga.
159
QUASE LÁ
Avaliação da Campanha
Eleitoral Presidencial
Esta avaliação é produto de discussões em duas
reuniões da Comissão Executiva Nacional e na reunião
do Diretório Nacional de 27 e 28 de janeiro de
1990. Ela incorpora as avaliações feitas pela Coordenação
Nacional da Campanha e pelos estados a
partir do texto inicial elaborado com base na experiência
da CEN, do Comitê e do próprio companheiro
Lula.
Introdução
Toda a avaliação das eleições de 1989 faltaria com
a verdade caso desconhecesse a significativa vitória
política do Partido dos Trabalhadores e da Frente
Brasil Popular com os resultados do 1º turno. Mais
do que uma vitória eleitoral, ela criou condições para
a disputa no 2o turno e a unificação de todo o campo
democrático-popular e progressista em torno da
candidatura Lula.
Estas eleições foram marcadas por nossa participação
militante e politizada e principalmente pela
mobilização popular. Foi destacado o papel e a participação
dos movimentos sociais, sindical, popular,
Anexo
160
QUASE LÁ
agrário, estudantil; das mulheres, negros, índios; das
pessoas deficientes.
Não se via no país, desde a luta contra a ditadura,
uma participação tão aberta na luta política, como
foi a dos intelectuais e artistas, particularmente no
2o turno, em apoio a Lula. Também a Igreja progressista
participou e apoiou abertamente desde o primeiro
momento a candidatura Lula.
Pelo caráter da disputa e pela linha política de
nossa campanha, a sucessão presidencial ganhou as
ruas, envolvendo no debate político grandes parcelas
da sociedade, em particular os setores organizados,
urbanos, apesar do sentido desmobilizador e
despolitizante da candidatura Collor.
Desde a campanha das diretas, em 1984, o país
não via mobilizações populares e comícios como os
realizados pela FBP e depois pelo Movimento Lula
Presidente. Podemos afirmar, apesar de não termos
eleito Lula presidente, que mudamos o quadro político
do Brasil e colocamos a luta político-social em
outro patamar, mais avançado, mais definido ideologicamente.
Apesar de seus erros e debilidades políticas e orgânicas,
em menos de dez anos de existência nosso
partido deu uma demonstração de que está preparado
para disputar o governo do Brasil. Tem programa,
política de alianças, uma ampla base social e,
principalmente, uma militância que sempre superou
os erros da direção e as debilidades materiais e
organizativas do partido.
Foi esta militância e particularmente o companheiro
Lula que no 2o turno desempenharam o pa161
QUASE LÁ
pel principal para unificar o campo democrático,
popular e progressista, ainda quando as direções dos
partidos progressistas e de esquerda discutiam.
Destaque especial tem que ser dado à participação
do companheiro Lula nestas eleições, credenciando-
se como a maior liderança política e popular
do Brasil e principalmente como dirigente político.
Em todos os momentos da campanha o companheiro
Lula participou e atuou como dirigente partidário,
sempre articulado com a direção nacional e o
Comitê da Campanha.
Para a esquerda brasileira e os movimentos sociais
o saldo destas eleições é surpreendente. Abrese,
pela primeira vez na história do Brasil, a possibilidade
real de disputar o poder, construindo uma
política de Frente e um programa comum.
Para nosso partido, depois de dez anos de construção
e apesar de todos os ataques e campanhas que
sofreu, apresenta-se o desafio de ser o dirigente deste
processo político e ser capaz de criar uma alternativa
ao projeto das classes dominantes brasileiras que
afundaram o país na transição conservadora da Nova
República e agora o lançam na aventura Collor de
Mello. Este desafio só será vencido com um projeto
democrático de socialismo, uma organização partidária
superior e um maior nível de politização, mobilização
e organização da classe trabalhadora.
Por tudo isto o sentido desta avaliação tem que
ser positivo e visar as disputas políticas de 1990:
oposição ao governo Collor, construção partidária,
mobilizações sociais, disputa eleitoral para o Congresso
Nacional, governos estaduais e assembléias
162
QUASE LÁ
legislativas e embates das administrações municipais
petistas.
É com este sentimento que chamamos toda a
militância a fazer uma avaliação das eleições de 89,
rigorosa mas positiva, crítica mas generosa, objetiva
mas alegre. Que as lições de 89 sirvam para as
vitórias de 90.
Causas gerais ou estruturais
Entre as causas gerais ou estruturais que contribuíram
para a vitória de Collor, não podemos deixar
de chamar a atenção para o caráter da candidatura
Collor, planejada desde o seu início para projetar-se
com a imagem de caçador de marajás, antipolítico e
firme opositor a Sarney, com o objetivo de esconder
sua verdadeira natureza: garantir a continuidade do
controle do governo central pelas oligarquias e grupos
econômicos que comandaram a transição conservadora.
A imagem de caçador de marajás, inimigo da corrupção,
dos usineiros e de Sarney, foi decisiva para a
vitória de Collor, principalmente por que visava o eleitorado
que o elegeria. Este eleitorado de baixa renda,
desorganizado, muitas vezes desempregado ou
semi-empregado, morador das periferias dos grandes
centros urbanos e do interior, que as pesquisas classificam
como C, D e E e que muitas vezes chamamos
de “povão”, na verdade é um grande desafio estratégico
para nosso partido e para toda a esquerda.
A Collor foi possível atingir este eleitorado graças
a uma organização e a um planejamento profis163
QUASE LÁ
sionais de campanha eleitoral, incluindo mais de 100
pesquisas de opinião. Sua estratégia básica, visando
atingir esse eleitorado C, D e E e as cidades pequenas
jamais foi abandonada em qualquer dos turnos
da campanha. Basta analisar sua agenda, comícios,
discursos e programas de rádio e TV. Collor não tinha
hegemonia sobre os partidos e articulações políticas,
mas possuía a hegemonia fundamental sobre
os valores comuns da ampla massa. É evidente
que esta estratégia só deu certo porque Collor contou
com o apoio decisivo e estratégico da Rede Globo
e de setores importantes do grande empresariado.
No 2o turno, quase toda a mídia do país, particularmente
as centenas de rádios e jornais do interior,
deram suporte a Collor, permitindo-lhe combinar a
sua imagem primeiro com o discurso conservador
e, depois, anticomunista.
Esse apoio decisivo do poder econômico e dos
meios de comunicação permitiu a Collor concentrar
sua ação na consolidação do eleitorado popular,
desdenhando publicamente o apoio dos empresários,
dos militares e de políticos comprometidos com
o governo Sarney, partindo do princípio, correto, de
que teria o apoio das classes dominantes e da classe
média conservadora no 2o turno, por imposição do
enfrentamento contra um candidato de esquerda.
Para preservar o eleitorado das classes C, D e E e do
interior. Collor combinava a adesão conservadora da
classe média com o voto do povão, explorando os
preconceitos de classe contra Lula e os medos da
classe média. Na base do anticomunismo, da exploração
da religiosidade e de sentimentos nacionais
164
QUASE LÁ
inconscientes – a imagem da bandeira nacional –
somava a maioria do eleitorado conservador do país
e criava as condições para unificar em torno de si,
no 2o turno, a direita e todos os setores sociais temerosos
da esquerda.
Quanto ao PT e à esquerda, suas deficiências estruturais
ficaram evidenciadas na falta de um nível
mais elevado de organização, no pequeno enraizamento
nos setores populares mais pobres da classe
trabalhadora e nas cidades pequenas do interior, na
insuficiência de nossa rede de jornais e boletins, simplesmente
ridícula frente ao poderio dos meios de
comunicação à disposição das elites dominantes. A
ausência de um jornal nacional foi desastrosa para
nosso partido, A própria estrutura de direção de
nosso partido é artesanal e amadora, o que se revelou
fatal na disputa do 2o turno, quando a tensão e a
rapidez dos ataques do adversário não encontraram
na estrutura da direção do partido e da campanha
meios materiais e condições de trabalho que otimizassem
nossa capacidade de resposta rápida e correta,
independentemente dos erros políticos que cometemos.
Causas particulares ou conjunturais
Apesar da vitória que significou para nosso partido
obter quase 17% dos votos em nível nacional no
1o turno, na coligação Frente Brasil Popular com o
PSB e com o PCdoB, estava evidente que não havíamos
nos preparado para a possibilidade real de passar
para o 2o turno. Já no primeiro turno havíamos
165
QUASE LÁ
enfrentado graves problemas com a demora na entrada
das direções e da estrutura do partido na campanha
eleitoral, revelando que a própria experiência
de Comitês de Campanha à parte da direção partidária
precisa ser reavaliada.
No segundo turno não fomos capazes de definir
uma estratégia para a agenda e mesmo para a TV e o
rádio com rapidez e precisão. A direção política do
partido envolveu-se na articulação das alianças com
o PDT, PCB, PSDB e setores progressistas do PMDB,
assim como dos setores sociais que haviam apoiado
outras candidaturas no 1o turno, demorando em
encontrar uma linha de programação para a TV e
particularmente para a agenda do companheiro Lula,
se bem que as indefinições do PSDB e as dificuldades
com o PDT também tenham sido responsáveis
por estas falhas.
Nossa estrutura de direção mostrou-se débil e
amadora nas respostas às necessidades do 2o turno.
Demoramos a avaliar o perfil do voto no 1o turno e
os objetivos político-eleitorais – de voto – no 2o turno,
o que explica em parte os vaivéns da agenda e
nosso erro ao sobrecarregar a agenda do Lula às vésperas
do debate final.
Nossa política em relação ao rádio e à TV avançou
consideravelmente em comparação com as eleições
de 82,85, 86 e 88, inclusive porque nos beneficiamos
das experiências e avanços dos anos anteriores.
Mesmo assim falhamos ao não dar ao rádio a importância
devida, particularmente para atingir o eleitorado
de baixa renda e as cidades do interior – e isto
foi grave.
166
QUASE LÁ
No caso da TV, apesar da disposição e integração
da equipe de TV com as direções políticas do PT e
da FBP, faltou muitas vezes o acompanhamento político
por parte dessas direções.
Por outra parte, se é verdade que, comparativamente
ao PDT e PSDB, passamos para o 2o turno
por nossa estrutura partidária nacional, militante e
articulada com os movimentos sociais mais organizados,
entre outras causas, também é verdade que as
falhas existentes nessa estrutura partidária pesaram
como fator conjuntural. Representaram insuficiências
graves no curso da campanha, em particular, nossa
ausência nas cidades pequenas e no eleitorado de
baixa renda e a falta de um jornal nacional.
Foram igualmente importantes e precisam ser
destacadas as falhas da direção nacional do partido
e da campanha no final do 2o turno, particularmente
nossa incapacidade em responder aos vários ataques
do adversário. A direção dispersou-se em tarefas
específicas, falhando na estruturação de um comando
central ou na organização da direção de tal
forma que ela fosse capaz de fazer a avaliação estratégica
da campanha e do adversário sem cair no
ativismo e no tarefismo que caracterizaram o final
da campanha. Estes erros prejudicaram consideravelmente
a preparação dos programas de TV, da linha
política da campanha e do debate final.
Avaliamos mal a estratégica do adversário, depois
de sua derrota no debate de 4 de dezembro. Iniciamos
a última fase da campanha supondo que Collor
e sua equipe estavam em crise e perdidos quando na
verdade eles superaram a crise com uma linha de
ataque que subestimamos durante todo o 2o turno.
167
QUASE LÁ
Subestimamos o papel do anticomunismo, da exploração
do sentimento religioso de nosso povo, de
seu sentimento nacional expresso em nossa bandeira
e principalmente a exploração caluniosa que Collor
fez de nosso programa econômico, propagando
por todo o país que expropriaríamos a propriedade
individual dos cidadãos e sua poupança e estatizaríamos
toda a economia.
Falhamos ao não responder de forma mais global
e articulada a esses ataques do adversário, seja nos
programas de TV, seja na linha da propaganda, do
discurso da campanha e particularmente no último
debate.
Mais grave foi nossa incapacidade de capitalizar e
explorar ao máximo aquilo que para o PT é uma confirmação
de nossas avaliações sobre o socialismo e
os regimes da Europa Oriental e mesmo da URSS.
Nosso partido nasceu sob o signo do socialismo democrático
e do repúdio ao stalinismo e ao socialismo
burocrático. Apoiou o Solidariedade na Polônia
e não tem compromissos com a ortodoxia ou com
os modelos de partido único, imprensa oficial e burocratização
do poder com a fusão do partido com o
Estado. Sempre defendemos as liberdades e os direitos
políticos e civis e foi por isso mesmo que nos
opusemos firmemente à repressão dos novos mandarins
de Pequim.
As mudanças na Europa Oriental e na URSS deveriam
ter sido expostas na campanha e especialmente
na TV como uma verdadeira revolução popular,
com todo o apoio do PT e da FBP. Nossas definições
ideológicas, a subestimação do anticomunismo e,
168
QUASE LÁ
em certo sentido, nossa aliança com o PCdoB nos
levaram à defensiva. Não nos apresentamos com nitidez
para a classe trabalhadora com relação a que
tipo de socialismo defendemos para o Brasil.
Outra questão que precisa ser analisada em âmbito
nacional com mais atenção e espaço é a das
alianças no 2o turno. É evidente que ela foi, de maneira
geral, correta. Entretanto, erramos ao deixar
que fosse apresentada pela imprensa e por nosso
adversário como uma aliança que nos levava a abandonar
o programa de governo da FBP e nos levava a
abandonar o programa de governo da FBP e nossas
diferenças com os adversários do 1o turno, depois
aliados.
A linha de ataque que Brizola desenvolveu no 1o
turno contra a candidatura Lula acabou por dar argumentos
e credibilidade aos ataques de Collor a
nossa aliança com o PDT no 2o turno. O próprio comportamento
de Brizola com relação ao nosso vice,
senador Bisol, criou condições para um ataque frontal
de nosso adversário, que atingiu seu ponto alto
no último debate.
Ao lado de tudo isso, se é verdade que Brizola,
Arraes e Roberto Freire nos apoiaram no 2o turno
sem exigências ou condições, também é verdade que
a posição do PSDB foi dúbia – particularmente em
São Paulo sua direção não entrou na campanha –,
ficando a reboque das bases do PSDB em todo país e
mesmo de suas bancadas e lideranças intermediárias.
O atenuante para esta posição é o caráter antipetista
conservador e anticomunista de parte do eleitorado
do PSDB, amedrontado com o terrorismo
169
QUASE LÁ
barato promovido por Collor e pela mídia de São
Paulo, em especial os jornais da família Mesquita e o
programa Ferreira Neto.
É preciso também avaliar o peso das alianças regionais
e locais no 2o turno, já que nem sempre soubemos
articulá-las de acordo com nossos objetivos
eleitorais e políticos nacionais.
Por fim, devemos sempre destacar e denunciar o
papel relevante do apoio que Collor recebeu da direita
conservadora, da Rede Globo e do poder econômico
na última semana. Foi este apoio que possibilitou
sua campanha difamatória contra Lula e o
uso da edição do debate pelo Jornal Nacional para
reforçar uma imagem negativa do candidato do PT e
da FBP. A exploração do episódio Miriam Cordeiro,
do seqüestro do empresário Abílio Diniz e o apoio
obtido por Collor da maioria dos meios de comunicação
foi decisivo para reverter a tendência do eleitorado,
particularmente dos indecisos e da classe
média.
O debate final merece uma avaliação à parte e particular,
mas fica registrado que erramos na estratégia
de abordagem do adversário e a linha do debate,
além de sobrecarregarmos a agenda do companheiro
Lula nas 48 horas que antecederam o evento.
Para concluir, é preciso avaliar o papel das prefeituras
na sucessão presidencial, sem desconsiderar o
cerco, boicote e ataque da maioria da imprensa e
das forças políticas às nossas administrações. De
maneira geral, não há evidência de que as administrações
municipais petistas tenham pesado de maneira
determinante no voto do 1o turno ou que o
170
QUASE LÁ
eleitorado tenha votado no 2o turno em função de
sua atitude frente a essa administração. Com exceção
da cidade de São Paulo, onde se concentrou todo
o ataque contra as administrações petistas, não parece
que estas foram um fator importante na decisão
do eleitorado, o que não exclui a análise do papel
que poderiam ter tido no crescimento da candidatura
Lula no 1o turno e mesmo na disputa do eleitorado
de baixa renda das capitais e grandes cidades
que governamos, particularmente no estado de São
Paulo.
O importante é não misturarmos a avaliação necessária
das administrações petistas e o balanço
político em nível municipal com a discussão e avaliação
da campanha eleitoral e cairmos no simplismo
de atribuir o resultado eleitoral à questão municipal.
Isto não pode, entretanto, fazer com que deixemos
de considerar o nosso desempenho eleitoral nas
cidades onde dirigimos as prefeituras. É preciso levar
em conta que a votação de Lula, tanto no 1o quanto
no 2o turno, não foi boa nessas cidades, com as
exceções conhecidas.
Esse fato deve nos levar a tentar analisar, nessas
cidades, os fatores particulares – desempenho das
prefeituras, organização e funcionamento do PT e
atuação local do movimento sindical e popular – que
influíram negativamente nos resultados eleitorais.
Em alguns locais é inegável que o desempenho real
ou propagandeado da prefeitura teve efeitos negativos.
Mas também é inegável que em outros o PT perdeu
força em áreas e zonas específicas, comparativamente
aos resultados de outras eleições, o que
171
QUASE LÁ
indica erros e deficiências de construção partidária,
organização e atuação política do partido.
Conclusão
Sem desconsiderar os erros políticos que cometemos
e a derrota no campo eleitoral, é necessário
que nossa avaliação qualifique nossa participação na
disputa presidencial como importante vitória política.
A partir de agora nossa referência histórica passa
a ser os 16% obtidos no 1o turno e nossa capacidade
de reunificar o campo da esquerda, democrático
e progressista, na luta contra a direita.
O que se coloca para o PT é dar-se conta do significado
dessa capacidade, vencendo os novos desafios
que estão postos diante de si.
Diretório Nacional
27 e 28 de janeiro de 1990
173
QUASE LÁ WLADIMIR POMAR nasceu em Belém do Pará, a
14
de julho de 1936, filho de Pedro Pomar e Catarina Torres.
Desde os cinco anos, conheceu a vida da clandestinidade,
pela perseguição que a polícia do Estado Novo
de Vargas movia às atividades do Partido Comunista
do Brasil (PCB), do qual seu pai era membro.
Começou a trabalhar aos doze anos, como aprendiz
de linotipista, ao mesmo tempo que fazia o ginásio.
Depois trabalhou como repórter e redator nos jornais
Tribuna Popular e Classe Operária. Foi colaborador do
jornal Movimento, diretor do Correio Agropecuário,
além de repórter e diretor editorial de Brasil Extra.
Adquiriu formação técnica e trabalhou como técnico
de planejamento e manutenção de máquinas pesadas
da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em
Volta Redonda (RJ) e Conselheiro Lafaiete (MG). Foi
engenheiro de serviços da General Eletric, no setor
de locomotivas, tendo trabalhado junto às estradas de
ferro Leopoldina (RJ) e Leste-Brasileira (BA). Também
trabalhou como engenheiro de manutenção da
Cerâmica do Cariri.
SOBRE O AUTOR
174
QUASE LÁ
Militante político desde 1949, quando ingressou no
PCB, Wladimir Pomar atuou inicialmente no movimento
estudantil secundarista. Em 1951, estudou ajustagem
mecânica no Senai, trabalhou na Arno e participou
no movimento sindical metalúrgico.
Em 1962, fez parte do movimento que deu origem
ao PCdoB. Em 1964, foi preso na Bahia, por ação de
resistência ao golpe militar. Solto no final deste ano,
devido a habeas corpus, foi julgado e condenado à revelia.
Depois de 1964, colaborou com a imprensa partidária
e desenvolveu suas atividades políticas principalmente
no interior de Goiás e do Ceará, aqui entre os
sindicatos de trabalhadores rurais.
Viveu na clandestinamente até 1976, quando foi
preso novamente. Desta vez, durante uma ação militar
que assassinou três dirigentes do PCdoB, no bairro
da Lapa (SP), um dos quais seu pai.
Foi libertado pouco antes da Anistia, em 1979. Neste
mesmo ano, desligou-se da direção do PCdoB e ingressou
no Partido dos Trabalhadores.
Entre 1984 e 1990, integrou a executiva nacional
do PT, onde foi responsável pela secretaria nacional de
formação política, atividade que acumulou com a coordenação
do Instituto Cajamar. Em 1986, participou
da coordenação da campanha de Lula a deputado federal
constituinte. Durante as eleições presidenciais
de 1989, foi coordenador-geral da campanha Lula.
Wladimir Pomar é autor de diversos estudos e livros
sobre a China, entre os quais O enigma chinês: capitalismo
ou socialismo (Alfa-ômega); China, o dragão do
século XXI (Ática); A revolução chinesa (Unesp); Chi175
QUASE LÁ
na: desfazendo mitos (Editora Página 13 & Editora
Publisher).
É autor, também, de uma trilogia sobre a teoria e a
prática das tentativas de construção do socialismo, ao
longo do século 20: Rasgando a cortina (Brasil Urgente),
Miragem do mercado (Brasil urgente) e A ilusão
dos inocentes (Scritta).
Outra vertente de suas obras aborda a história do
Brasil e da esquerda brasileira. É o caso de Araguaia,
o partido e a guerrilha (Brasil Debates) e de Pedro
Pomar: uma vida em vermelho (Xamã); Quase lá, Lula
e o susto das elites (Brasil Urgente) e Um mundo a
ganhar (Viramundo); O Brasil em 1990 e Era Vargas:
a modernização conservadora (Ática).
Nos últimos trinta anos, publicou e deu entrevistas
para diversos jornais e revistas, colaborando regularmente
com o Correio da Cidadania e com a revista
Teoria e Debate.
Grande parte de seus textos ainda não foi organizado
para consultas, nem publicado em formato de livro.
É o caso do romance inédito O nome da vida. No prelo,
uma coletânea de seus textos políticos. Nos planos
de médio prazo, um estudo sobre a dialética marxista.
Casado com Rachel, é pai de três filhos, avô de 11
netos e 2 bisnetos.
176
QUASE LÁ
Livros de Wladimir Pomar
Araguaia, o partido e a guerrilha. São Paulo: Brasil
Debates, 1980.
O enigma chinês: capitalismo ou socialismo. São Paulo:
Alfa-ômega, 1987.
Quase lá, Lula o susto das elites. São Paulo: Brasil
Urgente, 1990.
Rasgando a cortina. São Paulo: Brasil Urgente, 1991.
A miragem do mercado. São Paulo: Brasil Urgente,
1991.
A ilusão dos inocentes. São Paulo: Scritta, 1994.
O Brasil em 1990. São Paulo: Editora Ática, 1996.
China, o dragão do século XXI. São Paulo: Editora
Ática, 1996.
Um mundo a ganhar: revolução democrática e socialista.
São Paulo: Viramundo, 2002.
Pedro Pomar: uma vida em vermelho. São Paulo: Xamã,
2003.
Era Vargas: a modernização conservadora. São Paulo:
Editora Ática, 2004.
A revolução chinesa. São Paulo: Unesp, 2004.
Pedro Pomar: um comunista militante. São Paulo: Expressão
Popular, 2007.
China: desfazendo mitos. São Paulo: Editora Página
13, 2009.
Neste livro, Wladimir Pomar é o narrador de um momento único
da história política brasileira, em que pela primeira vez os de baixo,
liderados por Lula, ameaçaram a hegemonia das elites representadas
por Collor na segunda e definitiva rodada eleitoral.
Quase lá é uma análise política e ideológica da campanha eleitoral
de 1989, uma reflexão de classe, elaborada pelo coordenador
nacional da campanha Lula Presidente. Na condição de quem viveu
cada minuto da batalha de uma posição estrategicamente privilegiada,
Wladimir Pomar narra o ziguezague, erros e acertos das
forças envolvidas na disputa, tornando públicos aspectos e fatos
que escaparam ou não chegaram ao conhecimento da imensa maioria
dos eleitores e mesmo da militância petista.
O autor demonstra que o Império – o domínio dos muito ricos,
das elites que tudo podiam – sofreu um abalo e viveu instantes de
pânico diante de uma virtual vitória de Lula. Demonstra, também,
que apesar da vitória de Collor este país mudou e passou por um
processo de politização sem precedentes. A esquerda, liderada pelo
PT e unida como nunca esteve, encostou o Império na parede.
As duas primeiras edições de Quase Lá foram publicadas em 1990.
Esta terceira edição, comemorativa aos vinte anos da campanha
de 1989, contribui para preparar o Partido dos Trabalhadores
e demais forças da esquerda partidária e social para as eleições
presidenciais de 2010, momento igualmente decisivo na história
brasileira.