247 – O grupo da Comissão Nacional da Verdade dedicado a apurar a atuação das igrejas cristãs durante a ditadura militar (1964-1985) poderá convocar a depor religiosos que de alguma forma apoiaram a repressão. O coordenador do grupo, o ex-preso político metodista Anivaldo Padilha, informou que está sendo apurada a atuação, por exemplo, dos capelães militares, ministros autorizados por padres ou pastores a fazer celebrações e prestar assistência em quartéis.
"A medida que nós conseguirmos identificar pessoas das igrejas que tiveram uma ligação direta com a repressão, nós vamos chamá-las para depor. Um exemplo de algo que estamos investigando é o papel dos capelães militares. Sabemos que eles acompanharam e estavam lá nos quartéis do DOI-Codi [Destacamento de Operações de Informações-Centro de Defesa Interna]. Certamente tinham informação sobre o que ocorria nos porões da ditadura, e alguns deles chegaram a acompanhar presos políticos".
O grupo de trabalho ouviu na manhã de hoje (18) mais dois depoimentos sobre a atuação das igrejas durante a ditadura. "Os depoimentos confirmaram a visão que nós já temos no grupo sobre o papel das igrejas, que foi um papel contraditório. Tivemos setores que participaram ativamente na criação do clima que possibilitou o golpe e apoiaram a ditadura, foram coniventes e negligentes em relação às graves violações dos direitos humanos. E, ao mesmo tempo, tivemos setores que resistiram bravamente. Temos pessoas ligadas diretamente às igrejas que estão entre os mortos e desaparecidos".
A justificativa para a convocação das igrejas, no entanto, não foi até agora aplicada às mídias, apesar de o grupo editorial fundado por Roberto Marinho ter explicitamente admitido apoio ao episódio.
Quase meio século depois do golpe militar de 1964, a poderosa Globo fez um mea culpa histórico em editorial do dia 31 de agosto deste ano. Reconheceu que errou ao apoiar a ditadura, mas disse que seu erro foi compartilhado por outros meios de comunicação, como Folha e Estado de S. Paulo. "À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original", diz o texto, divulgado hoje pelo grupo editorial da família Marinho.
Com Vinícius Lisboa, repórter da Agência Brasil